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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Textos ilustrativos

 

Parte II — Capítulo 4

 

O caráter simbólico de todos os aspectos da realidade

 

1. As percepções simbólicas de Plinio Corrêa de Oliveira

Adolpho Lindenberg: Dr. Plinio, desde criança, comentava prazerosamente o olhar de sua mãe, os gestos e a postura de seus tios, a finura ou a carência dela neste ou naquele visitante, etc. Ele tinha também um gosto todo especial pelas pedras — suas cores, seu luzir, suas transparências, seu mistério, sua capacidade de simbolizar valores espirituais. Com efeito, quando a contemplação chega aos píncaros de seres meramente naturais, o espírito caminha para um sentimento religioso. Por exemplo, quando o Cardeal Merry del Val visitou a Suíça e contemplou aqueles cumes nevados das montanhas, tirou o chapéu e cantou o Magnificat.

O vermelho dos rubis, quintessência da grandeza, da força espiritual, da glória em seu estado puro; o verde da esmeralda, sua transparência lembrando a pureza da alma, seu lusco-fusco encobrindo mistérios e profundidades a serem desvendados; os diamantes, símbolos da supremacia, da realeza; seu brilho é a matriz de todas as luzes.

Se assim ele discorria sobre o simbolismo de seres materiais inanimados, o que dizer de suas dissertações sobre seres vivos? Por exemplo, gatos, cachorros e, sobretudo, cavalos?

Ao se referir às pessoas, sua atenção, como seria de se esperar, concentrava-se no olhar. O porte, a classe, a segurança — numa palavra, a presença — também pesavam; mas a impronta, como dizem os espanhóis, é manifestada pelo olhar.

O olhar tanto pode ser o símbolo da alma, da vida, da virtude da pessoa, como também do vício ou da apatia.*

* Catolicismo, nº 670, outubro de 2006.

 

2. O teorismo vazio do século XIX e a civilização da imagem

Plinio Corrêa de Oliveira: O simbolismo tem uma importância imensa à vista de duas coisas: os resquícios ainda enormes do teorismo vazio do século passado [séc. XIX], de um lado; e de outro, os desvarios da civilização da imagem.

Para a civilização da imagem, o símbolo é algo que satisfaz o sensível sem ser imagem. Há a tendência para uma reação ao teorismo vácuo que, por exemplo, se via em certas faculdades. Certos professores de Faculdade eram sinônimos de teorismo vácuo e se gabavam disso. Eram homens que tinham limpado clinicamente, de qualquer conotação da realidade, a abstração, para poderem apresentá-la «limpa e digna» de entrar numa sala de aula.*

* Reunião de 13 de março de 1974.

 

3. Através dos símbolos, o homem pode exprimir algo que a linguagem não exprime

Plinio Corrêa de Oliveira: O homem não poderia compor, através de símbolos, algo sobre o qual a linguagem pode dizer algo, mas do qual é possível dizer muito mais?

Por exemplo, a música. Ela, debaixo de certo ponto de vista, é o complemento da linguagem. E, debaixo de outro, é o contrário.

Em Fra Angélico, uma certa parte das impressões místicas que os quadros dele causam é por causa das cores. Porque ele era um exímio compositor de tintas, e compôs tintas que serviriam de ocasião para uma meditação.*

* Reunião de 2 de agosto de 1880.

 

4. O pequeno sino do Cremlin

Plinio Corrêa de Oliveira: Há um fato que me encheu de alegria quando li, e tenho certeza de que os senhores todos vão gostar. O fato é sobre a Rússia czarista.

Em geral, o primogênito do Czar nascia no Cremlin — hoje tão conspurcado [pelo comunismo]. E, naquele recinto constituído por muitos palácios, igrejas, fortalezas, mosteiros etc. — é uma espécie de Vaticanozinho dos Czares — quando nascia o primogênito, o aviso era dado por um sino de uma igreja velhinha que lá havia, datada de não sei que século. Esse toque repercutia nos sinos majestosos do Cremlin, depois por todos os de Moscou. E, de proche en proche, por todos os sinos da Rússia.

Que o ponto de partida fosse dado por este velho sininho representando uma tradição, e que tanta coisa forte, atual, nova, se dobrasse reverente diante dessa coisa ancestral, fraquinha, mas carregada de todos os valores da História, há nisto algo de simbólico, algo de uma realidade mais profunda, que se pode explicitar.

Esta realidade é espiritual, e tem um sentido divino. Por isto este símbolo a nós nos enche de alegria.

Um revolucionário diria: «Para que isto? Por que não toca uma sirene elétrica?» Nossa vontade é gritar: «Fora com o revolucionário!».

Ora, nesta questão de sinos e sirenes, dir-se-ia que não há nada de religioso. O espírito de Hollywood e algum progressista diriam que se trata de um aggiornamento, que é preciso tornar-se mais atual. Entretanto, nós dizemos que é precisamente o contrário. Há aqui algo de espiritual que é o princípio da ordem do universo, que é uma causa que vibra no seu próprio centro e daí se difunde pelos seus graus até o último. É um princípio metafísico da causa que dá seu primeiro movimento pequeno, mas que por ser a causa grande, se reproduz depois por movimentos sísmicos periféricos enormes.

Em última análise, são regras metafísicas profundas que indicam as propriedades intrínsecas do ser. E que, por isso, indicam algo do ser criado que tem seu fundamento na essência divina. Portanto, falam algo de Deus.

O sino grande, tocando por ordem do sino pequeno porque este representa algo de espiritual, que é a Tradição, é um símbolo do presente que obedece à continuidade histórica. É também um símbolo da matéria, que obedece ao espírito.

Enfim, há mil outras coisas que se poderiam dizer e que fazem parte da exuberância de simbolismo que é próprio de uma civilização como a concebida por nós, e que é completamente o contrário da civilização de alumínio, da matéria plástica, prática e pasteurizada, do mundo moderno.*

* Reunião sem data especificada.

 

5. O simbolismo do vinho

Plinio Corrêa de Oliveira: Uma comemoração se faz mediante vinho mais do que, por exemplo, através de um banquete, porque, de todos os alimentos do homem, o mais honesto é o pão, porém, o mais honrado, o mais honorifico é o vinho.

Há uma honestidade no pão que é de comover: «O pão nosso de cada dia nos dai hoje». Mas há, ao lado disso, uma honra do vinho.

A Sagrada Escritura* diz que o vinho módico alegra o coração do homem justo. É propriamente isso: com moderação o vinho faz bem à alma do justo.

* Cfr. Sl 103, 15.

Notamos em muitos trechos de literatos, de poetas, a afirmação reiterada de que o vinho produz sobre a degustação humana um determinado sabor que tem um conteúdo espiritual. Naturalmente está contido aí um elogio do vinho. E nesse elogio os senhores devem ter pensado no pão, e na Ceia entre todas augusta, onde pela primeira vez Nosso Senhor Jesus Cristo o consagrou e Se ofereceu.

É evidente que o pão e o vinho têm um simbolismo qualquer por onde não se poderia encontrar alimento mais belo em tese para considerar.

O vinho filho da uva e o pão filho do trigo: há na uva e no trigo qualquer coisa de simbólico que não se sabe bem dizer o que é, mas que todos sentem. Quando pela primeira vez se ouviu falar ou se leu que Nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e o consagrou, tomou o vinho e o consagrou, é impossível que não se sinta, no fundo, algo como se se dissesse: «Que bem escolhidos o pão e o vinho para este ato!»

Isso significa que na degustação, mais notavelmente do vinho do que de outros alimentos, pode haver certo sentido simbólico, certo sentido moral que alegra a alma do homem.*

* Reunião de 23 de julho de 1978.

 

6. O simbolismo de uma simples serraria

Plinio Corrêa de Oliveira: A certa distância de meu quarto de dormir, havia uma serraria.

Lá, se põe a tábua, ela vai entrando e a serra vai abrindo o caminho para ela. A fricção da tábua com a serra fazia um barulho: uóóóummm…! Eu estou ainda mais desafinado do que de costume e não consigo reproduzir esse barulho.

Era um barulho muito bonito, muito interessante. Desagradável por alguns lados, mas muito interessante por outros, e eu gostava de ouvi-lo. Ele me dizia uma série de coisas que então não sabia explicitar, mas com o tempo soube fazê-lo.

Uma das coisas que eu gostava era perceber a inflexibilidade do aço. Entrava naquelas toras de madeira, e o aço, cantando, serrava uóóóummm…! Está acabado!

Tinha estado na serraria um pouco a la menino travesso que entrava sem licença, mas eles toleravam, e eu via o aço. Desconfio que limpavam muito o aço; ele ficava rutilante. Depois que passava pela madeira, ficava ainda mais rutilante.

Então uma coisa rútila, clara, inflexível, que é feita para rachar, e racha mesmo, e canta quando vence!

Assim eu chegava a uma percepção do alcance simbólico de um objeto; no caso concreto, o aço e a ação do aço. E assim me parecia chegar a um desfecho, a um ponto de repouso. Donde uma sensação de segurança. De maneira que se então eu soubesse me exprimir, diria isto.*

* Reunião de 22 de setembro de 1994.