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Instituto Plinio Corrêa de Oliveira

 

A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo

no pensamento de

PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

 

 

© 2008 - Todos os direitos desta edição pertencem ao

INSTITUTO PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA

Dezembro de 2008

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Parte II

 

Capítulo 12

 

O futuro do mundo

é uma civilização sacral

 

1. O mundo nunca mais voltará a ser como antes?

Às objeções anteriores, poder-se-ia acrescentar uma dificuldade final:

— «O mundo nunca mais voltará a ser como este livro propõe!».

Se assim fosse, ter-se-ia o triunfo definitivo e completo do mal sobre o bem. Qualquer esforço em sentido contrário seria inútil. Não haveria que pensar numa restauração da civilização cristã.

Há fundamentadas razões para crer que não será assim.

 

2. Uma civilização cristã é possível

Imagine-se — diz Santo Agostinho — «um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, cônjuges, pais, filhos, senhores, servos, reis, juízes, contribuintes e cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem [os pagãos] ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada».*

* Epist. 138 ad Marcellinum, cap. II, nº 15, Opera omnia, tomo II, Migne, col. 532.

Não é o que se vê hoje em torno de nós! Mas pode-se desejar que isso aconteça, conforme o exemplo de Nossa Senhora, de quem foi dito que «acelerou por seus desejos a salvação do mundo».*

* Ladainha do Imaculado Coração de Maria.

Até o fim dos tempos, a Terra será um desterro. Nisso se configura um castigo. Mas ‘faz parte das misericórdias de Deus que o castigo bem aceito fique resplandecendo como uma cicatriz gloriosa e se torne um adorno, quem sabe mais belo do que se não existisse’.[1]

A restauração de uma civilização cristã, como Santo Agostinho a descreve no texto acima, supõe, é claro, uma conversão do mundo atual. Mas por que julgar que esta conversão jamais ocorrerá?

— A linguagem da fé é outra.

Em nossos dias, ‘há um anseio imenso por outra coisa, que ainda não se sabe qual é. Mas, enfim — fato talvez novo desde que começou, no século XV, o declínio da civilização cristã — o mundo inteiro geme nas trevas e na dor, precisamente como o filho pródigo quando chegou ao último da vergonha e da miséria, longe do lar paterno’.[2]

Esse algo novo, do qual não conhecemos os contornos exatos, pode-se entretanto delinear em termos gerais, como já o fazíamos em 1959, quando lançamos nosso ensaio Revolução e Contra-Revolução: ‘Se a Revolução é a desordem, a Contra-Revolução é a restauração da ordem. E por ordem entendemos a paz de Cristo no reino de Cristo. Ou seja, a civilização cristã, austera e hierárquica, fundamentalmente sacral, antiigualitária e antiliberal’.[3]

Ora, precônio do Reino de Cristo é o estabelecimento do Reino de Maria, do qual falam algumas assinaladas profecias.

 

3. O século de Maria ou Reino de Maria

A perspectiva da vinda de um tal reino — o «século de Maria», ou «Reino de Maria» — foi admiravelmente descrita por São Luís Maria Grignion de Montfort, no seu famosíssimo Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.

‘Diz o grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora: «Ah! quando virá este tempo feliz — diz um santo de nossos dias, todo dado a Maria — quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar? Então, coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas de graça. Meu caro irmão, quando chegará esse tempo feliz, esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo? Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino, ‘Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae’».*

* Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº 217.

«Que venha o Reino de Maria, para que assim venha o vosso Reino» — isto é, o de Jesus Cristo. Tal é o pensamento que perpassa todo o Tratado da Verdadeira Devoção, e que é aqui expresso em termos de clareza e ardor inexcedíveis.

‘A devoção que São Luís Maria Grignion de Montfort preconiza é a escravidão de amor à Santíssima Virgem, tema desenvolvido no Tratado.

‘Esse século de Maria, ou Reino de Maria, do qual fala o Santo, a TFP o compagina com o triunfo do Imaculado Coração de Maria, anunciado por Nossa Senhora em Fátima, e essa ilação é de primeira evidência.

‘O mundo de hoje está pejado de crimes, di-lo sem ambages a Mensagem de Fátima, a qual acrescenta, logo depois, que dia virá em que o Imaculado Coração de Maria há de triunfar. Tal se deve entender obviamente no sentido de que a Santíssima Virgem estabelecerá o seu império sobre as almas, e portanto sobre as instituições, as nações e sobre todo o mundo.

‘Por isso, o Reino de Maria será especificamente, na perspectiva de Fátima, o Reino do Imaculado Coração de Maria. Isto é, um reino de pureza e de bondade do coração materno da Mãe de Deus, reino de grande esplendor, tanto na sociedade temporal como na Igreja, pela abundância das graças derramadas pelo Espírito Santo’.[4]

 

4. Novos céus e nova terra

‘Em face do conceito cristão de um cosmos modelado pela sapiência criadora de Deus e, portanto, unitário, ordenado e harmônico, ergue-se, talvez distante na seqüência dos séculos, a previsão de um solene desfecho, quando «em novos céus e nova terra» (cf. 2 Ped 3,13), no «tabernáculo de Deus com os homens», Deus «habitará com eles... lhes enxugará todas as lágrimas dos olhos; e não haverá já morte, nem luto, nem clamor, nem mesmo mais dor, porque as primeiras coisas terão passado» (Apoc 21,1-4); em outras palavras, terão sido eliminadas as presentes desarmonias’.[5]

‘Para além das fuligens da ignomínia, do asco e da confusão dos dias de hoje, para além das tormentas, das trevas e dos clarões dos acontecimentos previstos em Fátima, nossa esperança parece ouvir cânticos angélicos que descem sobre a terra, sinos que carrilhonam festivamente, multidões que com cânticos Vos celebram [ó Maria!]’.[6]

Os pães da multiplicação foram tão mais numerosos que a multidão levou canastras do que sobrou. ‘A insuficiência deu em um milagre e depois na super-abundância’. Assim também faz Nossa Senhora conosco: ‘Ela nos tira algo, eu diria como que obrigada pelas nossas faltas, mas depois Ela dá com uma abundância que nos deixa desconcertados’.[7]

No Reino de Maria ficarão provavelmente muitas cicatrizes do castigo de que fala a mensagem de Fátima, mas a misericórdia de Deus nos levará ainda muito mais alto.

Esse pensamento traz um pouco de luz e calor para nossa triste Terra. Serve para alimentar espirituais saudades, ordenar as idéias e nos aproximar de Deus.

Que a lembrança dessas fundadas esperanças dê alento — e mais do que alento, entusiasmo — ao benévolo leitor.

 

Fontes de referência:

[1] 23-6-1977. [2] Plinio Corrêa de Oliveira, Primeiro marco do ressurgimento contra-revolucionário, Catolicismo, nº 86, fevereiro de 1958. [3] Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, Parte II, cap. II, 1. [4] Plinio Corrêa de Oliveira, Guerreiros da Virgem — A Réplica da Autenticidade, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1985, p. 228. [5] 8-10-1957. [6] 13-10-1968. [7] Junho de 1977 (dia não especificado).