Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo no pensamento de PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA |
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Ao Leitor
No centenário do nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), emerge de nosso passado recente a imagem do intrépido combatente contra os erros do mundo moderno, e especialmente contra o que ele denominou Revolução, isto é, o processo multissecular que vem destruindo a civilização cristã, eximiamente descrito na obra-mestra desse insigne líder e pensador católico — Revolução e Contra-Revolução. Indômito lutador em prol da Cristandade, com justiça foi designado pelo estudioso italiano Prof. Roberto de Mattei como O Cruzado do século XX, em excelente e muito traduzida biografia.Como é natural, muitas pessoas gostariam de saber como era Plinio Corrêa de Oliveira na intimidade. Os que tiveram o prazer de com ele conviver, puderam apreciar seu modo todo peculiar de ser e de pensar: acessível, sereno, bem-humorado; de trato extremamente cordial; reflexivo em tudo. Era um homem de cultura vastíssima, porém não livresca, dotado de incomum capacidade de penetração psicológica e de senso de observação da vida, com grande aptidão para relacionar entre si os vários aspectos da realidade e de explicitar as regras que Deus estabeleceu na Criação, particularmente as que norteiam o comportamento humano. Acima de tudo, podia-se admirar nele o católico fervoroso, movido por uma tendência quase inata de contemplar os mais altos páramos da fé, por vezes a partir de coisas até muito corriqueiras.
1. Plinio Corrêa de Oliveira, um contemplativoPode-se afirmar tranqüilamente que Plinio Corrêa de Oliveira foi, de certa forma, um contemplativo. Esse aspecto de sua personalidade, pouco conhecido, não escapava à percepção dos que conviveram mais proximamente com ele. — «Mas, contemplativo? Um homem de ação como ele, cheio de sociabilidade e de vigor?» — poderia perguntar alguém. E indagará, talvez, como da mesma pessoa se possa dizer que foi um cruzado e um contemplativo. A reação de quem não o conheceu pode ser de surpresa. Ocorre que, para Plinio Corrêa de Oliveira, uma atitude meditativa diante da vida não era o contrário da ação, mas sua fonte. Assim sendo, ele era — cumulativamente — contemplativo e eficiente homem de ação. Ele mesmo dizia que a contemplação «é o bê-a-bá da ação...». Mostrava que a contemplação se torna bela, quando vista em função da luta, e que a luta fica bela, vista em função da contemplação. E comentava: «Como se completam esplendidamente essas duas coisas!»[1] Ele foi, portanto, um lutador enquanto contemplativo e um contemplativo enquanto lutador. E os que esta obra publicam aproveitam a ocasião para desfazer uma possível falsa impressão de que, discorrendo sobre a contemplação, os discípulos de Plinio Corrêa de Oliveira, 13 anos após sua morte, estão colocando de lado a luta, para perder-se em considerações espirituais, estéticas ou meramente culturais. Pelo contrário, a meditação de temas plinianos — como, por exemplo, os deste livro — estimula em nós, como em toda pessoa bem orientada, a disposição de batalhar. Era na reflexão que Plinio Corrêa de Oliveira buscava força e motivos para suas lutas. Se chegou a ser grande batalhador, foi porque, antes de tudo e desde a primeira infância, tornou-se um contemplativo. Não um místico voltado sobretudo para os horizontes do estritamente sobrenatural ou da mística, nem um sonhador romântico mergulhado em si mesmo; mas um profundo observador do mundo, analisado e saboreado em sua realidade concreta, e depois utilizado como trampolim para subir até realidades superiores. Ele ressaltava que é preciso ter o hábito de considerar tudo de grande altura: «... não só os fatos da vida pública, mas também os da vida privada, e ter um olhar habitualmente contemplativo e meditativo a respeito das coisas que se vê, para ser um contemplativo da vida terrena, quer dizer uma pessoa que olha a vida terrena e é capaz de contemplá-la».[2] Assim, contemplando a vida terrena, ele obteve forças para as proezas de combatividade que o caracterizaram. «É durante a tempestade que se conhece o bom piloto», diz o ditado. Ele triunfou galhardamente de 13 estrondos publicitários de âmbito nacional que teve de enfrentar e, ao mesmo tempo, da agitação que os acompanhava. Mesmo na refrega, não perdia a tranqüilidade de espírito e não deixava de observar, analisar e contemplar tanto quanto possível.
2. Conjunto doutrinário de notável envergaduraAs contemplações maturavam na mente de Plinio Corrêa de Oliveira e davam origem, por vezes, a conjuntos doutrinários. E, sendo muito expansivo, ele discorria com freqüência sobre aquilo que pensava. Desse modo muitas de suas reflexões chegaram até nós. Ele explica, de maneira leve, como deve ser a contemplação séria: «Assim como um homem, sendo bípede, não faz a força necessária a um quadrúpede para ficar sobre duas patas, assim também o homem, quando é sério, não faz esforço para sê-lo. Essa seriedade não é esforçada, não é carrancuda, não é agitada; ela é, com naturalidade, o que deve ser». E acrescenta: «A seriedade conduz a um desdém em relação ao fragmentário, ao quebrado, ao soez, ao arbitrário, ao caprichoso; mas um desdém levado até à exclusão completa. [...] A seriedade não deve conduzir à fantasia sentimental: é preciso ver a realidade como ela é. E a realidade, vista assim, é benigna, é afável, ela gosta de se explicar; não é comparativa, não é exclusiva. Ela, de boa mente, até sofre tudo».[3] Esta seriedade desfechava em verdadeira execração «ao efêmero, ao fragmentário, ao banal», como dizia. Assim, de maneira natural, percorria o caminho que separa a contemplação da doutrina. A leitura de livros — e ele lia muito — tinha algum papel, mas estava longe de ser preponderante. A elaboração de sua obra mestra Revolução e Contra-Revolução, por exemplo, foi o fruto não apenas do estudo da História — em particular da Revolução Francesa (1789) — mas também da observação atenta dos homens, desde os mais ilustres até o «homem da rua» e os modestos serviçais que trabalhavam em sua casa. Seu pensamento a respeito dos problemas da atualidade pode sem dúvida ser encontrado nos 16 livros, com numerosas edições e várias traduções, e nos mais de 2500 artigos, manifestos e outros escritos seus publicados. Mas, ao fechar os olhos em 3 de outubro de 1995, ele deixou, além dessas publicações, um conjunto doutrinário de notável envergadura, fruto de seu espírito meditativo. Muito pouco desse acervo veio a lume porque Plinio Corrêa de Oliveira, como Neemias e seus companheiros, segundo se lê no Antigo Testamento, «una manu sua faciebat opus et altera tenebat gladium».* Pois sua terrível luta contra a Revolução, e a necessária defesa face à perseguição movida pelos revolucionários contra sua pessoa e sua obra, absorviam todo o tempo disponível. * «Os que edificavam os muros, e os que transportavam, e os que carregavam, com uma das mãos faziam a obra, e com a outra empunhavam a espada» (II Livro de Esdras 4,17). Em conseqüência, as urgências da luta desigual e extremamente árdua em que estava envolvido impediram-lhe de dar forma de publicação ao grande acervo de ensinamentos que deixou. Ficaram à espera de outros dias, mas continuam sendo postumamente um dos principais fatores de estímulo e alimento intelectual para seus seguidores em todo o mundo. É o que sentimos especial alegria em reconhecer, no que diz respeito aos 13 anos em que, protegidos por Maria Santíssima, continuamos a proclamar seus ideais e a impulsar a mesma luta que empreendeu em vida.
3. Duas harmonias básicas da Criação: da alma humana e do universoNeste ano, em que se completam cem anos do nascimento de Plinio Corrêa de Oliveira, pensamos em dar a lume ao menos uma parte deste acervo. Não é nossa pretensão expor exaustivamente tais temas, mas oferecer ao público uma primícia deles. Tendo em vista escolher alguns tópicos para essa primícia, sentimos verdadeiramente o que os franceses chamam de l’embarras du choix (o embaraço da escolha) pois, considerando apenas o período em que dirigiu a TFP (1960-1995), há várias centenas de reuniões e conversas. Deixamos para outra oportunidade assuntos muito de seu agrado, como a sociedade, a opinião pública, o paraíso terrestre, etc. Optamos por divulgar seu pensamento a respeito de duas harmonias básicas existentes na Criação, e que são, por assim dizer, uma o eco da outra: a harmonia da alma humana — que se manifesta na inocência; e a harmonia do universo — que encerra em seus refolhos a sacralidade. A esse respeito, Plinio Corrêa de Oliveira observa: «Como diz Pio XII *, a alma humana é harmonia e o universo também é harmonia. A estética que há no universo é uma realização, no universo, de uma harmonia que também há na alma humana». * Alocução de Natal de 1957. E acrescenta: «A estética do universo pode ser vista, portanto, de dois pólos diversos. Esses dois pólos não estão situados em órbitas diferentes: um é o centro em torno do qual gira o outro. O homem é o centro do universo e a ordem que há nele (homem), é como que o centro e a mais alta realização dos princípios de ordem e beleza que existem fora dele».[4] O tema deste livro é, pois, o estudo — ainda que em traços necessariamente breves — desses dois pólos, dessas duas harmonias: a interna, da alma — com destaque para sua concepção de inocência; e a externa, ou seja, a harmonia do universo — que postula uma contemplação sacral por parte do homem. A primeira parte será, portanto, dedicada a analisar alguns aspectos e tendências da alma humana: a harmonia da inocência e a busca da felicidade. Na segunda parte, serão explanadas diversas vias propostas por Plinio Corrêa de Oliveira para se chegar à contemplação sacral da harmonia do universo: — A virtude da admiração; — A análise dos ambientes, costumes e civilizações; — O senso do simbolismo; — A procura do absoluto; — A transparência e a transcendência; — A percepção das sublimidades do mistério; — O mundo dos possíveis; — A noção de trans-esfera. Como ele mesmo observou, trata-se de «janelas por onde o espírito humano vê o ápice da realidade».[5]
4. Interlocução: papel fundamental na elaboração doutrináriaQuais as fontes compulsadas para a confecção desta obra? A pergunta cabe, pois, como foi dito, não existem textos relativos aos temas aqui abordados, preparados diretamente por Plinio Corrêa de Oliveira para publicação. A resposta nos leva à consideração de uma peculiaridade de sua elaboração doutrinária e da maneira como conduzia a atividade de seus discípulos e seu convívio com eles. As fontes utilizadas na preparação deste livro não são constituídas por textos escritos ou ditados pelo próprio autor, e sim transcrições das fitas gravadas de conferências, discursos, conversas ou reuniões. Era grande a facilidade de Plinio Corrêa de Oliveira para a conversação, inclusive — coisa difícil! — sobre temas doutrinários. Essa sua aptidão para bem conversar faz lembrar o que se dizia de seu tio-avô, o conselheiro do Império João Alfredo Corrêa de Oliveira: bom na tribuna, excelente na conversa geral, incomparável na conversa particular. Dir-se-ia que esta sua inclinação para a boa conversação estava no sangue! Para Plinio Corrêa de Oliveira, as conversas não eram apenas um meio de comunicar seus pensamentos, mas também de os elaborar, aprofundar e ampliar. A interlocução era fundamental para ele. Há várias maneiras de refletir. Há quem pense pensando, e há quem pense escrevendo: o que é inteiramente legítimo. Aristóteles pensava andando. Plinio Corrêa de Oliveira pensava conversando. E era assim que discorria sobre o senso do ser, a ordem do universo, a estética da História, etc. Ele era, além de notável orador e celebrado escritor, cultor e mestre da arte de conversar. Sua interlocução era marcada por algo de aristocrático. Mesmo no que se refere ao jornalismo — por conseguinte, à palavra escrita — ele valorizava a conversa. Costumava dizer que o pleno êxito de uma matéria para jornal se atingia quando ela tinha o estilo de um diálogo com o leitor; ou seja, era um artigo «conversado». Comparando as conversas de Plinio Corrêa de Oliveira com as dos salões do Ancien Régime*, havia analogias, mas também uma diferença digna de menção: a prosa dele era muito característica do modo brasileiro de ser, o que lhe conferia uma nota original. Esta consistia especialmente na amenidade e no caráter cordial com que transcorriam, mesmo quando, em temas opinativos e circunstanciais, surgiam divergências de pontos de vista. Resguardados sempre os princípios, primava a tendência de conciliar as discrepâncias, mediante uma inclinação em compreender bem a posição dos outros participantes daquele convívio. * Marcadamente nos séculos XVII e XVIII. Além disso, nas conversações que faziam o charme dos salões do Antigo Regime, anteriores à Revolução Francesa, os temas, embora normalmente elevados, não transcendiam, via de regra, o campo natural, enquanto nas conversas plinianas predominava a focalização sobrenatural, mesmo quando se abordavam assuntos corriqueiros do dia-a-dia. Tal visualização da conversa explica o conceito que o ilustre pensador católico tinha da arte de conversar: era uma forma de elevatio mentis ad Deum (elevação da mente a Deus); isto é, uma peculiar oração. Até em grupos ou comissões convocados para finalidades específicas — e havia muitos em torno de Plinio Corrêa de Oliveira — o modus operandi eram as conversas. Em sua sala de trabalho não havia mesas, apenas poltronas, o que é um dado eloqüente por si só. Assim, enquanto as tempestades de areia da Revolução grassavam no ambiente brasileiro, ele e seus discípulos refletiam e conversavam, movidos por uma nobre inconformidade e por nobres desejos. Eram, desse modo, conversas tranqüilas e elevadas em meio a renhido combate contra-revolucionário.
5. Reuniões de conversa sobre temas doutrináriosAlgumas das conversas sobre temas doutrinários eram genericamente denominadas «reuniões». Certas conversas tinham dias e horários certos. Outras surgiam inopinadamente, de acordo com as circunstâncias. E Plinio Corrêa de Oliveira a elas comparecia em geral sem preparação prévia especial. Mesmo suas conferências e reuniões raramente eram preparadas com antecedência. E, quanto a discursos, nunca eram lidos; leu apenas um na vida: o primeiro! — Era então jovem estreante na Congregação Mariana de Santa Cecília, em São Paulo. As conversas, muitas vezes à bâtons rompus (isto é, descontínuas, sem seqüência, segundo a apetência dos participantes), não obedeciam a nenhum tipo de planejamento. Contudo, por vezes assuntos semelhantes voltavam à tona. Neste caso, formavam-se séries sobre determinadas temáticas, as quais poderiam durar muitos dias, por vezes semanas e até meses. Como já foi observado, Plinio Corrêa de Oliveira explicitava então seu pensamento sobre o tema em foco. Também chamavam-se «reuniões» as exposições — sempre com alguma feição de prosa — para o público interno da TFP. Ou seções para responder a perguntas. No que toca a este livro, recorreu-se sobretudo a reuniões, como dizia ele, en petit comité. Ou seja, para grupos variados, mas não muito grandes; geralmente entre cinco e dez pessoas, especialmente interessadas no gênero de tema a ser tratado. Por vezes, Plinio Corrêa de Oliveira indicava, ao fim de uma reunião, a pitorescamente por ele denominada «ponta de trilho», ou seja, o elemento de ligação com a reunião seguinte. Nesta, alguém lia a «ponta de trilho», e bastava isso para se iniciarem os comentários, devidamente encadeados com a reunião anterior. Plinio Corrêa de Oliveira, sempre muito ocupado, tinha receio de não se lembrar em que altura do assunto se estava; a rememoração da «ponta de trilho» evitava esse inconveniente. Se as conversas eram o veículo, os temas variavam muito. Plinio Corrêa de Oliveira consagrou várias séries a diversos temas, entre os quais os dois de que nos ocuparemos nesta obra: a inocência primeva e a contemplação sacral. Procuramos conservar o quanto possível, neste livro, o caráter coloquial dessas dissertações, tão saboroso, autêntico e cheio de charme. Obviamente, o texto participa das necessárias limitações que esta forma de se comunicar traz consigo, sobretudo no que diz respeito à expressão. Pois o causeur — sobretudo se for um bom causeur — não diz sempre o que deseja, mas escolhe como assunto de preferência o que seus interlocutores gostariam de ouvir ou de perguntar naquela ocasião concreta. Assim, especialmente em temas teológicos e filosóficos, uma prosa não tem — nem poderia ter — a precisão terminológica, a ordem lógica, a preocupação didática de uma aula, de uma conferência, de um livro ou de um tratado. Essa peculiaridade deve ser levada em consideração. Em seu livro Em Defesa da Ação Católica, Plinio Corrêa de Oliveira dizia que «todo ensino correto não deve apenas proporcionar ao aluno a posse da verdade, mas educá-lo para o esforço intelectual, habituar sua inteligência ao panorama largo das exposições doutrinárias de grande fôlego, aos vastos sistemas de idéias encadeados entre si e constituindo estruturas ideológicas imponentes e fecundas».* Era precisamente o que ele apresentava nessas conversações. * Op. cit., Editora Ave Maria, São Paulo, 1943, p. 274.
6. «Vir catholicus, totus apostolicus, plene romanus»Plinio Corrêa de Oliveira admirava particularmente os ensinamentos de Santo Tomás de Aquino, como os Papas recomendam, o que ele quis tornar patente já na primeira frase de seu Auto-retrato filosófico*: «Sou tomista convicto». * Catolicismo, nº 550, outubro de 1996; ver Apêndice I deste volume. Acrescente-se que a preocupação dominante de Plinio Corrêa de Oliveira era de que sua elaboração doutrinária estivesse sempre inteiramente de acordo com o Magistério da Igreja. Em sua lápide funerária lê–se a frase que resume sua vida: «Vir catholicus, totus apostolicus, plene romanus» (Varão católico, todo apostólico, plenamente romano). E a mesma fidelidade nota-se também em seu testamento, transcrito nos apêndices finais deste livro. Com freqüência, nas reuniões, ele se declarava disposto a renunciar prontamente a qualquer de suas teses, «desde que se distancie, ainda que de leve, do ensinamento da Santa Igreja, nossa Mãe, Arca da Salvação e Porta do Céu».* * Revolução e Contra-Revolução, Conclusão.
7. Peculiaridades deste trabalhoÉ, pois, com alegria que, no centenário de seu nascimento, publicamos desse acervo verbal um expressivo segmento. Uma comissão, composta por Leo Nino Daniele (relator), Antonio Augusto Borelli Machado (revisor) e José Antonio Ureta (pesquisador), analisou, selecionou e compilou parte dessas conversações, explicitando-as quando necessário para facilitar sua intelecção. O pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira é assim exposto, neste livro, em forma concatenada e contínua. Aliás, ele mesmo desejava que se fizesse isso quando, de futuro, se desse a público o teor dessas conversas.
8. Diálogos não inteiramente lapidados, como um «cabochon»Este conjunto inédito, ao lado dos livros superiormente burilados que publicou, seria comparável a um cabochon, ou seja, uma pedra preciosa polida, não facetada, não lapidada inteiramente, porém com forma regular, que, segundo os entendidos, possui um charme todo especial, superior — sob certos aspectos — à própria jóia facetada. O cabochon, por não ser lapidado, é autêntico, forte, original. É como um jorro d’água na própria nascente. Tem algo da riqueza da própria mina. Por isso — dizia Plinio Corrêa de Oliveira — o cabochon, comparado às jóias correntes, habituais, «de longe brilha menos, mas guarda mais luz dentro de si. Essas pedras são pequenos reservatórios de luz».[6] É o que sucede precisamente com esses diálogos plinianos, não inteiramente «lapidados» na forma — em razão de sua própria natureza — mas densos de luz em sua substância. Os que agora são aqui estampados, mesmo não tendo sido revistos por ele — e, portanto, não carreando sua plena responsabilidade intelectual — certamente surpreenderão a não poucos, por se tratar de um pensamento notavelmente claro, profundo e, em muitos pontos, novo e original. Sobretudo muito oportuno para nossos dias. Essa peculiaridade do presente volume não obsta a que a autoria intelectual da doutrina aqui exposta seja atribuída, como de direito, a Plinio Corrêa de Oliveira, e não aos discípulos que tiveram a alegria de trabalhar nesta compilação. Se alguma imprecisão for notada, com gosto procederemos à devida retificação. O que não podíamos era manter este tesouro escondido, ou atribuí-lo a outro que não ao seu legítimo autor, por receio de termos cometido algum lapso ou eventuais imprecisões.
9. O pensamento de Plinio Corrêa de OliveiraFeitas estas ressalvas, estamos convictos de que, embora não tenha sido escrita por ele, no sentido acima explicado, esta obra exprime fielmente — tanto quanto nos foi possível captar — o pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira. E assim era um ponto de honra para nós que tal fato constasse, com o devido realce, no frontispício do presente volume. Não nos admiraríamos se, com o desenrolar do século XXI, se assistisse a um grande incremento dos estudos plinianos, pois a envergadura do que pensou extravasa a época em que viveu. Tendo em vista essa possibilidade, entregamos ao público o presente volume, sob a égide do recém-fundado Instituto Plinio Corrêa de Oliveira.
Paulo Corrêa de Brito Filho Coordenador da Comissão de Redação
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