Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ao Leitor

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Na fuligem de um Brasil submerso em uma nuvem de corrupção obsedante, dentro de um mundo de cor cinza dominado pelo prosaísmo, pela ambição e pelo vício, há bem no fundo de muitas consciências um sentimento de mal estar. Ao mesmo tempo, um desejo de algo mais elevado, que explique o que está acontecendo no mundo. Em última análise, existe uma espécie de saudade do idealismo.

O verdadeiro idealismo é uma maneira de ser não egoísta, não interesseira, generosa, elevada. Ou seja, o contrário da nuvem cinzenta maldita que assola o Brasil e o mundo. Em uma palavra: uma maneira de ser nobre.

Nobre! Esta palavra, mesmo neste tempo de democracia, é prestigiosa. Horário nobre, bairro nobre, metal nobre, prato nobre etc., são expressões que atestam a saliência da palavra.

Existe, entretanto, nobre e nobre. O substantivo nobre tem um matiz muito diverso do adjetivo nobre. O substantivo nobre é sinônimo de fidalgo, de aristocrata. É palavra adequada para poucos, que foram enaltecidos por exemplo na obra “Nobreza e elites tradicionais análogas”, de Plinio Corrêa de Oliveira. Já o adjetivo nobre independe do nível social da pessoa: até o último dos plebeus pode ter um sentimento nobre, um gesto nobre.

Que qualificativo utilizar, por exemplo, para o sentimento do humilde soldado que, na Primeira Cruzada, substituiu Tancredo, filho de Bohemonde? Ao vê-lo tomar uma escada nas muralhas de Jerusalém, para ser provavelmente o primeiro a morrer naquele ataque, destroçado pelas espadas e lanças do inimigo que o aguardavam no alto, exclamou com sublime idealismo: “Senhor, deixai que eu vá em seu lugar, pois vossa morte será mais chorada que a minha!”.

Tancredo era nobre de nascimento. Já o humilde guerreiro que pediu para morrer em seu lugar tinha nobreza de alma, mas provavelmente não de nascimento. Nesta narrativa podem ser vistos, lado a lado, os dois sentidos da palavra: a fidalguia e a nobreza de sentimentos.

Foi um gesto nobre de alma. Poder-se-ia dizer também: idealista.

Dizia Dr. Plinio: “A matriz de tudo quanto é nobreza está nesse fundo da alma humana, pelo qual ela é capaz de amar tudo pelo amor de Deus, e até a si mesma pelo amor de Deus. De maneira a adquirir um destacar-se deste amor animalesco que o homem tem por si mesmo, que é a matriz de toda a vulgaridade, de toda a baixeza de alma, de toda a torpeza” (ver p. 193).

O verdadeiro idealismo — e não o idealismo espúrio de um guerrilheiro subversivo ou do fundamentalista de uma falsa religião — parte de uma visão do mundo como ele realmente é: com aspectos belos e lados torpes. Aspectos belos que devem ser apreciados e enaltecidos. Lados torpes, que devem ser rejeitados e combatidos.

Além de nobre, o idealismo verdadeiro é jovem, em todas as idades. “É uma das mais notáveis características da segunda fase da adolescência; o idealismo do jovem é lendário. O zelo, a convicção, o ardor e o sacrifício são virtudes comuns na luta pelos ideais, e isso explica em grande parte a possibilidade de que certa mudança cultural seja estimulada e até mesmo iniciada pelo adolescente”.1

Mas esta chama pode ser conservada acesa, e deve mesmo ser aumentada ao longo de toda a vida. A chamada “venalidade da idade madura” deve ser repelida com desdém.

Plinio Corrêa de Oliveira observou que, “se uma vela pudesse pensar, o momento de maior alegria seria aquele em que ela acabasse de se consumir nas mãos de quem a carrega. Ela pensaria: ‘Fui criada para iluminar, e nas mãos de quem tem a vocação de me conduzir. Meu pavio, minha cera, meu fogo, tudo queimou. Eu vivi!’”.2

A imagem da chama e da vela, aliás, é muito própria para representar a biografia desse ilustre católico brasileiro, o que faz dele um homem especialmente indicado para discorrer sobre o tema. Ele foi um idealista. Ele teve nobreza de alma.

São dele todos os excertos que transcrevemos a seguir, com rápidas introduções, convenientemente assinaladas por apresentação gráfica distintiva.

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