Plinio Corrêa de Oliveira

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

 

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21 de julho de 1981

Ziguezague

Impetuosa e açodadamente agro-reformista em seu comunicado de Itaici-80, a CNBB parece ter recuado surpreendentemente no comunicado de Itaici-81. Mas, em impressionante vaivém, elementos de destaque da entidade iniciaram em junho p.p. uma violenta rajada reformista de caráter publicitário. Foi o que descrevi em meu último artigo, "Começa a rajada", no qual registrei o primeiro estampido da série, detonado por declarações, no Rio Grande do Sul, do Sr. D. Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia.

Também fizeram declarações de sabor agro-reformista D. Edmundo Kunz, bispo-auxiliar de Porto Alegre (cfr. "Zero Hora", 30-6-81); D. Clemente Isnard, bispo de Nova Friburgo e vice-presidente da CNBB (cfr. "Jornal do Brasil", 11-7-81); e D. José Rodrigues, bispo de Juazeiro (cfr. "Jornal do Brasil", 15-7-81).

Como não podia deixar de ser, D. Quirino Schmitz, bispo de Teófilo Otoni, também se pronunciou: "Quando as famílias pobres estão cada vez mais pobres e os ricos afirmam (...) que está tudo bom, o povo deve utilizar meios agressivos de reivindicar seus direitos". Pouco antes, o prelado sublinhara que "São Tomás de Aquino (...) fala nas perspectivas de conflitos civis armados, como estratégia para o restabelecimento da justiça e liberdade".

É ir longe, não acha, leitor? Talvez por o ter sentido, o Sr. D. Quirino Schmitz acrescenta logo em seguida que acha que "a solução não é a violência". Um passo atrás, portanto. Ou melhor, simplesmente meio passo: ele afirma pouco depois que compreenderia a atitude de revolta do povo, a quem "não faria nada para impedir (...) de defender a sua vida".

Mas, depois desse avanço, vem novo recuo. Pois logo em seguida o Sr. D. Quirino afirma que "não é o clero que incentivará o povo a lançar mão de meios agressivos". E, ziguezagueando entre a cautela e a imprudência, eis o Sr. Bispo de Teófilo Otoni a insinuar que, em certos casos, o clero deve aplaudir a violência, por exemplo na Nicarágua, para a derrubada de Somoza. E adverte, por fim, que em nosso país o povo já está "perdendo a paciência" (cfr. "Jornal do Brasil", 6-7-81). O que faz alguém – povo ou indivíduo – quando deixa escapar a paciência? Insulta, ameaça, agride...

O uso desta linguagem não importa em ziguezaguear à beira do abismo? Como explicar esse ziguezague?

Quem procurar resposta para essas perguntas certamente não as encontrará na recente palestra feita em Porto Alegre, por ocasião do encerramento do seminário da Frente Agrária Gaúcha, por D. Ivo Lorscheiter, bispo de Santa Maria e presidente da CNBB. Ante os trabalhadores rurais reunidos, não duvidou este em afirmar que, "em casos extremos, a única solução para a conquista de mudanças sociais (...) é a luta armada, e a Igreja deve aceitar esta situação como inevitável".

Mais adiante, assevera que o clero "não pode ficar de braços cruzados (...) à espera de que as coisas aconteçam, precisa ser combativo". Tirada temerária! Porém, segundo o novo estilo do agro-reformismo progressista, o Sr. D. Ivo acrescenta logo em seguida que "ser combativo" não importa em "incentivar atos violentos". É o ziguezague. Recuando ainda mais um pouco, o prelado acrescenta que a Igreja condena "toda espécie de violência (...). Queremos uma luta ativa, mas não violenta".

Contudo, no vórtice do recuo, ele se volta para a frente, pois afirma ser possível que, em determinados casos, o clero apoie movimentos armados contra regimes ditatoriais.

Como assim? D. Ivo pensa em pegar em armas? Certamente não. Ele prefere ficar meditando, "analisando", na retaguarda. Com efeito, o prelado adverte que obviamente "não serão os padres e os bispos que irão para a linha de frente. (...) Esta solução extrema precisa ser profundamente analisada". Quem, então, adotando a "solução extrema", irá "para a linha de frente"? O povo. Ele, D. Ivo, e provavelmente outros que pensam como ele se instalarão na retaguarda, a "analisar", "antes que o povo parta para o confronto radical".

Não creio que jamais sua ênfase esquerdista tenha chegado tão longe. Porém, no vértice agora do avanço, ei-lo que mais uma vez recua. É o ziguezague. Lembra ele que São Tomás considera os conflitos civis armados a "derradeira estratégia para o restabelecimento da justiça e liberdade", e pondera: "O que nos garante que estão esgotadas todas as formas pacíficas de negociação com os regimes de força?" Ou seja, talvez (note o leitor: talvez) no Brasil ainda não seja a hora de o povo pegar em armas.

Assim, talvez seja a hora para tanto... Fica a critério de qualquer um decidir. Se alguns – ou muitos – acharem que sim, marchem então para a frente. O presidente da CNBB não os desestimulará.

Mas vem logo um recuo. Para o Sr. D. Ivo será necessário que se aguarde "no mínimo mais cem anos para que se conclua que são inviáveis os meios pacíficos de mudança de nosso sistema". Pode haver algo mais ambíguo? Mais de cem pode ser 101, como pode ser mil. "No mínimo mais cem" o que quer dizer nesse contexto? Tem-se a impressão de que, gracejando assim com o "non-sense" ou com o absurdo, o Sr. D. Ivo quer esporear as impaciências que ele acaba de exasperar em tópicos anteriores.

Finaliza ele dizendo que, antes dessa data vaga, é "uma precipitação muito arriscada falar em luta armada" ("Jornal do Brasil", 5-7-81).

Ora, o que acaba ele de fazer, senão de falar de luta armada? Quando ele recua, contra quem procura o Sr. D. Ivo acobertar-se? Por que não o diz? De claro só há, em suas palavras, um ponto: a identidade de quem ele procura atacar.

Isto é, hoje, os proprietários rurais. Os proprietários urbanos amanhã, conforme o documento de Itaici-80.

Por que todo esse ziguezaguear que, a partir de fevereiro de 1980, vem sacolejando, em ritmo mais lento de início, e nos últimos trinta dias em ritmo frenético, a opinião católica do Brasil?

A opinião católica do Brasil! O Brasil inteiro, portanto...


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