Capítulo III
Os
Religiosos, que por obrigação de estado,
|
|
166. O Antigo Testamento já ressaltava o desapego que deve ter o ministro de Deus em relação à própria família Quando Moisés, antes de morrer, abençoou os filhos de Israel, disse estas palavras a propósito da tribo sacerdotal de Levi: "A tua perfeição e a tua doutrina (ó Deus) são (confiadas) ao teu homem santo, que tu provaste na tentação, e julgaste nas águas da contradição. Que disse a seu pai, e sua mãe: Eu não vos conheço; e aos seus irmãos: Eu não sei quem vós sois; e não atendeu aos seus próprios filhos. Estes observaram a tua palavra, e guardaram o teu pacto" (Deut. XXXIII, 8-9). 167. Na vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, um exemplo augusto Do Tratado sobre o Evangelho de São Lucas, de Santo Ambrósio (340-397): * "Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a praticam' (Lc. VIII, 19-21). "É próprio do mestre oferecer em sua pessoa um exemplo aos demais, e ao ditar preceitos, ele mesmo começa por cumpri-los. Antes de prescrever aos outros que quem não deixa seu pai e sua mãe não é digno do Filho de Deus (Mt. X, 37; Lc. XIV, 26), Ele se submete primeiro a essa sentença; não que condene a piedade filial com respeito a uma mãe, pois é dEle que vem o preceito de que "quem não honra seu pai ou sua mãe, é réu de morte' (Ex. XX, 12; Deut. XXVII, 16), mas porque Ele sabe que deve consagrar-se aos mistérios de seu Pai mais que aos piedosos sentimentos para com sua Mãe. Os pais não são injustamente descartados, mas Ele ensina que a união das almas é mais sagrada que a dos corpos" (Obras de San Ambrosio, BAC, Madrid, 1966, pp. 306-307 / Imprimatur: Angel, Ob. aux. y Vic. Gen., Madrid, junio de 1966). 168. O desapego completo da pátria, da carne, do sangue, condição necessária para a vida religiosa De uma conhecida biografia de São Luís Gonzaga (1568-1591): "Quem quer ser religioso, deve sê-lo inteiramente: ora, a primeira condição necessária para a vida religiosa e sobretudo para a vida apostólica, é o desapego completo da pátria, da carne, do sangue e de todas as coisas do mundo. "O próprio Salvador, tão indulgente com os Apóstolos noutras coisas, é inexorável neste ponto: "Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres e segue-Me' (Mt. XIX, 21). "Deixa os mortos enterrar os seus mortos; tu, vai e anuncia o reino de Deus' (Lc. IX, 60). "Aquele que mete mão ao arado, e olha para trás, não é apto para o reino de Deus' (Lc. IX, 62). É isto o que exige a mesma natureza e essência da vocação, que reclama o homem todo com todo o seu tempo. Exige-o também a salvação do próximo. Como levar os outros à prática do desapego necessário, senão pelo sacrifício e pelo exemplo? "Exige-o enfim Deus e o cumprimento da sua santa vontade, que deve ser o objeto primário do nosso amor: "Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim' (Mt. X, 37). "O religioso não tem para com a família os mesmos deveres que os homens do mundo; pelo contrário, está isento de todas as obrigações, incompatíveis com o seu estado. A regra é para ele a expressão da vontade de Deus; e Deus é o seu pai, mãe, tudo. Isto em certas circunstâncias é um sacrifício muito penoso; mas Deus é suficientemente rico para recompensar tudo" (M. MESCHLER SJ, S. Luís Gonzaga, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1953, pp. 159-160 / Pode imprimir-se: Mons. Pereira Lopes, Vig. ger., Porto, 11-5-1953). 169. "O coração não pode dar-se totalmente a Deus, se não está livre de qualquer outro amor" De Dom Columba Marmion, famoso beneditino belga de inícios deste século: "Outra condição da sinceridade de nossa busca é a exclusividade. Procuremos unicamente a Deus (...). Viemos para o mosteiro só por Deus; nossa busca não será "verdadeira', como quer São Bento, não será agradável a Deus, se nos apegamos a algo que está fora de Deus. "Quando buscamos as criaturas, quando nos afeiçoamos a elas, é como se disséssemos a Deus: "Meu Deus, não encontro tudo em Ti'. (...) "Não vos esqueçais desta verdade de suma importância: enquanto sentirmos a necessidade de uma criatura e nos afeiçoamos a ela, não poderemos dizer que buscamos "unicamente' a Deus, e Deus não se dará a nós plenamente. Se queremos que nossa busca seja sincera – "Si revera quaerit' –, se queremos encontrar a Deus com plenitude, devemos despojar-nos de tudo aquilo que não é Deus e que entorpeceria em nós a ação da graça. Esta é a doutrina dos Santos. "Escutai o que dizia Santa Catarina de Siena em seu leito de morte. Sentindo que seu fim se aproximava, reuniu à sua volta toda a sua família espiritual e lhe deu as últimas instruções, as quais seu confessor, o Bem-aventurado Raimundo de Cápua, recolheu: "O seu primeiro e fundamental ensinamento foi que todo aquele que entra no serviço de Deus deve necessariamente, se quer realmente possuir a Deus, arrancar de seu coração todo afeto sensível, não só para com as pessoas, mas também em relação a qualquer criatura, e lançar-se em direção a seu Divino Criador na simplicidade de um amor sem divisões. Porque o coração não pode dar-se totalmente a Deus se não está livre de qualquer outro amor, e se não se abre numa franqueza que exclui toda reserva' (Vida, por Raimundo de Cápua)" (Dom COLUMBA MARMION, Jesucristo Ideal del Monge, Editorial Difusión, Buenos Aires, 1951, pp. 17-18 / Con las debidas licencias). 170. "Sai do teu país, deixa a parentela, abandona a casa de teu pai, e vem à terra que te mostrarei" Trechos selecionados dos comentários sobre a Sagrada Escritura, do famoso exegeta Pe. Cornelio a Lápide SJ (1567-1637), em obra do Pe. Barbier: "A vós é dito como o foi a Elias: "Egredere et sta in monte coram Domino' (III Reg. XIX, 11 – "Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor'); e como a Abraão: "Egredere de terra tua, et de cognatione tua, et de domo patris tui et veni in terram quam monstrabo tibi' (Gen. XII, 1 – "Sai do teu país, deixa a parentela, abandona a casa de teu pai, e vem à terra que te mostrarei'). "Cassiano aplica esta tríplice ordem a uma tríplice renúncia. A primeira é o nenhum caso que se deve fazer das riquezas e das vantagens que oferece o mundo: – Egredere de terra tua. "A segunda importa no afastamento dos vícios, das inclinações, das afeições da alma e da carne: – Egredere de cognatione tua. "A terceira consiste no afastamento em relação ao espírito de todas as coisas presentes e visíveis, no desejo e na contemplação das futuras e invisíveis: – Egredere de domo patris tui (Collat. III). "Por estas três separações, da pátria, da parentela, da casa paterna é que se nos ensina, diz Alcuíno, que devemos sair do homem terreno e carnal, do apego a nossos vícios, do mundo, que é a casa do demônio (Quaest. CLIV, in Genes.)" (Pe. BARBIER, I Tesori di Cornelio Alapide, Libreria Salesiana, Parma, 1900, 2a. ed., vol. VIII, p. 633). 171. Quando o afeto aos parentes separa o homem do termo da perfeição Do Evangelho de São Lucas: "E, quando chegou aos doze anos, indo eles a Jerusalém segundo o costume daquela festa, acabados os dias (que ela durava), quando voltaram ficou o Menino Jesus em Jerusalém, sem que seus pais o advertissem. E, julgando que Ele fosse na comitiva, caminharam uma jornada, e (depois) procuravam-nO entre os parentes e conhecidos. E, não O encontrando, voltaram a Jerusalém em busca dEle. E aconteceu que, três dias depois, O encontraram no templo sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam estavam maravilhados da sua sabedoria e das suas respostas. E, quando O viram, admiraram-se. E sua Mãe disse-Lhe: Filho, por que procedeste assim conosco? Eis que teu pai e eu Te procurávamos cheios de aflição. E Ele disse-lhes: Para que Me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-Me nas coisas de meu Pai? E eles não entenderam o que lhes disse" (Lc. II, 42 a 50). Glosando este trecho, São Tomás de Aquino transcreve, em sua célebre Catena Aurea, este comentário do Grego, ou Metaphrastes: "Nisto podemos aprender coisas de grande utilidade. Respondendo o Senhor a Maria porque O tinha buscado entre seus parentes, nos sugere o desprendimento do sangue, manifestando que quem se acha ocupado com as coisas corporais, não pode chegar ao termo da perfeição, da qual se separa o homem pelo afeto dos parentes" (São TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea – São Lucas, Cursos de Cultura Católica, Buenos Aires, 1946, t. IV, pp. 68 e 71-72). 172. É preciso rechaçar todas as afeições humanas capazes de pôr obstáculo à perfeição Das Regras de São Basílio (329-379), o principal organizador da vida monástica no Oriente: "– Deve-se primeiramente renunciar a tudo, antes de assim se consagrar a Deus? "– Nosso Senhor Jesus Cristo insistiu frequente e vivamente: "Se alguém quer vir a Mim, que se renuncie a si mesmo, tome sua cruz e Me siga' (Mt. XVI, 24), e ainda: "Quem não renuncia a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo' (Lc. XIV, 33). Ele parece, pois, exigir de nós a renúncia mais completa. "Decerto já renunciamos antes de tudo ao demônio e às paixões da carne, nós que recusamos os pecados ocultos, os parentescos de sangue, a convivência humana e qualquer hábito oposto à prática perfeita e salutar do Evangelho. "Coisa mais necessária ainda: renunciou-se a si mesmo aquele, que "se despojou do homem velho e de seus atos' (Col. III, 9), porque "ele se liga para sua perda aos desejos enganosos' (Eph. IV, 22). Ele rechaça pois todas as afeições mundanas capazes de pôr obstáculo à perfeição que busca, ele considera como seus parentes verdadeiros aqueles que o engendraram em Nosso Senhor pelo Evangelho (I Cor. IV, 15), e como seus irmãos aqueles que receberam o mesmo Espírito de adoção; enfim, ele toma as riquezas como coisa alheia a si, como elas de fato o são. "Numa palavra, como poderia ainda entrar em preocupações mundanas aquele para quem o mundo está crucificado e que está ele próprio crucificado para o mundo por causa de Nosso Senhor? (Gal. VI, 14). Pois Ele quis até ao extremo, o desprezo de sua vida e a renúncia a si, quando disse: "Se alguém vem a Mim sem odiar seu pai e sua mãe, sua esposa e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo' (Lc. XIV, 26). "A renúncia completa consiste pois em não mais importar-se com a vida, mas considerar-se sempre como um condenado à morte, de modo a não mais fazer caso de si (II Cor. I, 9). "Ela começa pelo abandono das coisas exteriores, como as riquezas, a vanglória, a companhia dos homens, a atração pelas bagatelas. "É disto que nos deram exemplo os santos Apóstolos de Nosso Senhor: Tiago e João que deixam seu pai Zebedeu e a própria barca, seu ganha-pão; Mateus, que se levanta de sua banca para seguir a Jesus, não somente em detrimento de seus interesses, mas até desprezando as penas que o ameaçavam a ele e a seus próximos, por parte dos magistrados, porque deixava indevidamente inacabada a arrecadação dos impostos; quanto a Paulo, o mundo estava crucificado para ele, e ele o estava para o mundo (Gal. VI, 14). "Assim, aquele que está animado de um imperioso desejo de seguir a Jesus, não pode mais dar importância a seja o que for nesta vida: nem à afeição dos parentes e amigos, quando ela é contrária aos preceitos do Senhor, pois é aí então que se aplicam as palavras: "Se alguém vem a Mim sem odiar seu pai e sua mãe' (Lc. XIV, 26); nem ao temor dos homens, quando ele se afasta do verdadeiro bem, como fizeram excelentemente os santos que disseram: "Deve-se obedecer a Deus antes que aos homens' (Act. V, 29); nem enfim às zombarias com as quais os ímpios cumulam os bons, porque não nos devemos deixar vencer pelo desprezo" (São Basílio, Les Règles monastiques, Éditions de Maredsous, Bélgica, 1969, pp. 68 a 70? Imprimatur: F. Toussaint, Namourci, 101969). 173. O afeto carnal aos pais constitui o impedimento mais perigoso e prejudicial para a perseverança do Religioso De uma obra sobre o Espírito da Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria escrita pelo Pe. José Xifré (1817-1899), um dos primeiros companheiros de Santo Antonio Maria Claret na fundação da Congregação dos Cordimarianos e terceiro Superior Geral da mesma: "O principal obstáculo para perseverar na diviníssima vocação à vida apostólica, que impede uma maior cooperação ao chamado de Deus, que mais tem ocasionado desedificantes apostasias, é o amor mal entendido à carne e ao sangue, e sobretudo aos pais. "Jesus Cristo Nosso Senhor, que por ser Homem-Deus tudo sabe, ao formar sua Congregação de Misssionários, preveniu-os e fortificou-os contra esse perigoso obstáculo. "Quem ama o pai e a mãe mais do que a Mim, disse, não é digno de Mim'. "Quem não odeia o pai e a mãe', isto é, quem deixa de seguir meu chamado para não desgostar os pais, "não pode ser meu discípulo, não terá parte comigo, não possuirá o reino que lhe tinha prometido'. O que dizem São Jerônimo e outros Santos Padres "O Doutor da Igreja São Jerônimo e os demais Santos Padres dizem que o impedimento mais perigoso e prejudicial para seguir e perseverar na vida religiosa é o afeto carnal aos pais naturais. "Eles (os pais), em via de regra, são os primeiros que se opõem à vocação religiosa. São eles que, depois de seus filhos haverem ingressado, trabalham com maior atividade para obter a apostasia deles. "Os pais são os que, por meio de cartas, parentes e amigos, exageram ou fingem necessidades, desgostos, perigos e desgraças para impedir o ingresso, e para retrair e arrancar do Instituto religioso aos que nele professaram. Tristemente realizam não poucas vezes sua fatal pretensão, com grave perigo de condenação para tais filhos. "Os verdadeiramente santos têm fugido de toda correspondência com os pais" "Até a correspondência epistolar do Religioso com os pais e parentes é enormemente prejudicial à santidade que compete ao Missionário. As notícias daqueles, sejam boas, sejam más, afetam e interessam de tal modo que matam o recolhimento, a devoção e o amor verdadeiro a Jesus Cristo e à Religião, que é sua verdadeira Mãe. "O Religioso que ocupa seu coração na carne e no sangue, expõe-se a muitas tentações, com perigo próximo de nelas sucumbir. Por isso os verdadeiramente santos têm fugido de toda correspondência com os pais. "Se tendes o coração dividido, sois rejeitados por Jesus Cristo" "Irmãos caríssimos, para a verdadeira santidade do Missionário se requer um coração reto, puro e ocupado única e exclusivamente com Deus. Se amais o mundo, não está em vós a caridade do Pai. Se o tendes dividido, ainda que seja com os pais, sois rejeitados por Jesus Cristo, que diz com palavras peremptórias que ninguém pode servir a dois senhores. Evitai, pois, esse obstáculo, conforme Deus manda, como o evitaram os Apóstolos, e como, com enérgicas sentenças, afirmam os teólogos juntamente com São Tomás, São Ligório e demais Santos Padres" (Pe. JOSÉ XIFRÉ, Espíritu de la Congregación de Misioneros Hijos del Inmaculado Corazón de María, Imprenta de las S. E. de S. Francisco de Sales, Madrid, 1892, pp. 38-39). 174. Para a perfeição espiritual, convém mortificar o amor natural que sempre existe entre parentes De São João da Cruz (1542-1591), Doutor da Igreja: "Instrução e cautelas que deve seguir quem deseja ser um verdadeiro religioso e atingir a perfeição: "A primeira (cautela) é que acerca de todas as pessoas tenhas igual amor e igual esquecimento, sejam ou não teus parentes, de uns e outros desapegando o coração; e de certa forma ainda mais dos parentes, por temor de que a carne e o sangue se avivem com o amor natural sempre existente entre parentes, o qual convém mortificar para a perfeição espiritual. "Considera a todos como a estranhos, e assim procederás melhor com eles do que se depositares neles a afeição devida a Deus" (São JOÃO DA CRUZ, Vida e obras, BAC, Madrid, 1964, 5.} ed., p. 948 / Imprimatur: José María, Ob. Aux. y Vic. gen., Madrid, 11-5-1964). 175. "É preciso primeiro que vos separeis para em seguida vos consagrardes" De uma obra de Mons. Charles Gay (1816-1892): "Como Jesus, também vós (religiosas) sois consagradas; como Ele, vós sois separadas; mas primeiramente separadas: é a ordem. "Jesus que vem do alto (Jo. VIII, 23), é antes de tudo consagrado, e é isto mesmo que O separa. Para vós, que vindes de baixo, já que, tendo-vos tirado do nada, Deus vos tira ainda do pecado, é preciso primeiro que vos separeis para em seguida vos consagrardes. Esta ordem se encontra por toda a parte nas relações da criatura com Deus. E é o que São Paulo mostra dizendo: "Deus nos arrancou ao poder das trevas, e Ele nos transferiu para o reino do Filho de seu amor' (Col. I, 13). (...) "Vós deixais vossa família e, na medida traçada pela mão da Igreja, tão sábia, tão santa, tão segura, tão discreta e tão boa para todos, vós dela ficais desligadas temporariamente. "Quanto à vossa pátria, a mesma coisa. Vós não a renegais; é também uma mãe. Vós também não a esqueceis; vós a servis à vossa maneira, e melhor que muitos outros; mas vós a excedeis e viveis mais alto do que ela, na pátria interior, na Jerusalém mística, na cidade universal, onde não há mais nem judeu, nem gentio, nem grego, nem bárbaro, mas onde todos são um só em Cristo (Gal. III, 28)" (Mgr. CHARLES GAY, De la vie et des Vertus Chrétiennes, Librairie H. Oudin, Éditeur, Paris, 1883, 10a. ed., t. I, pp. 112 e 114 / Com um breve de S. S. Pio IX). 176. A perfeição exige o inteiro desapego, de corpo e espírito, em relação aos parentes Fala o grande Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787): "A entrada para a vida religiosa exige também o inteiro desapego de corpo e de espírito, em relação aos parentes; pois, a observância regular exige que se pratique no mais alto grau o desapego dos parentes, para seguir em tudo a doutrina de Jesus Cristo, que declarou ter vindo trazer sobre a terra não a paz, mas a espada, e separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe: "Non veni pacem mittere, sed gladium; veni enim separare hominem adversus patrem suum, et filiam adversus matrem suam' (Mt. X, 34). "E em seguida Ele deu a razão disto, acrescentando que, com relação à salvação, nós encontramos inimigos em nossa própria família: "Et inimici hominis, domestici ejus'. "Como fizemos notar mais acima, é particularmente em matéria de vocação religiosa, quando se trata de deixar o mundo, que se encontram os maiores adversários entre os parentes, que, por interesse ou por paixão, preferem mais expor-se à inimizade de Deus opondo-se à vocação de seus filhos, do que consentir nela. "Ah! quantos infelizes pais serão condenados no vale de Josafá, por terem feito perder a graça da vocação a seus filhos ou a seus sobrinhos! e quantos infelizes filhos serão igualmente condenados, por terem faltado para com sua vocação e para com sua salvação, querendo contentar seus pais e permanecer ligados a eles! "É por isto que o Divino Mestre nos advertiu de que todo aquele que prefere a Ele seu pai ou sua mãe, não pode ser seu discípulo: "Si quis venit ad me, et non odit patrem suum, et matrem..., non potest meus esse discipulus' (Lc. XIV, 26). "Para entrar numa comunidade de perfeita observância e ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo é preciso, pois, decidir-se a se despojar de todo e qualquer apego para com seus parentes. Não voltar a pôr os pés na casa dos pais "Saibamos, além do mais, que após a profissão (religiosa) será necessário continuar a viver com o mesmo desapego. Não se poderá mais colocar os pés na casa dos parentes, exceto no caso de doença mortal de seu pai ou de sua mãe, ou de alguma outra necessidade urgente, e isto, bem entendido, sempre com a permissão do superior. Seria, na vida religiosa, uma falta grave e escandalosa ir à casa dos pais sem uma permissão expressa; e já seria notavelmente repreensível solicitar esta permissão, ou somente manifestar o desejo de ver seus parentes ou de falar com eles. "São Carlos Borromeu dizia que, quando visitava a família, voltava sempre menos fervoroso. "Um religioso que vai visitar os parentes por sua própria vontade, e não por obediência positiva dos superiores deve, pois, estar persuadido de que se encontrará, ao retornar, ou tentado ou com o fervor arrefecido. Provação de São Vicente de Paulo, após ter visitado a família "São Vicente de Paulo não consentiu senão uma vez em rever sua terra natal e sua família, e por pura necessidade. Ele dizia que o apego a nossa terra natal e a nossa própria casa é um grande obstáculo ao progresso espiritual. " "Muitos, acrescentava ele, que voltaram à sua terra, passaram a tomar parte nos interesses de sua família e nos sentimentos de tristeza e de alegria dela, e se embaraçaram nisto como moscas que caem na teia de uma aranha, donde não conseguem livrar-se. " "Eu me cito a mim mesmo como testemunha desta verdade: tendo passado oito ou dez dias com meus pais para informá-los das vias de sua salvação, e afastá-los do desejo de possuir bens, chegando a dizer-lhes que não esperassem nada de mim, entretanto, no dia em que parti, tive tanta dor em deixar meus pobres pais, que não fiz senão chorar ao longo de todo o caminho. A estas lágrimas sucedeu o pensamento de ajudá-los e de colocá-los em melhor estado. Fiquei durante três meses com esta paixão importuna. Pedi a Deus para me livrar desta tentação, e rezei tanto que enfim Ele teve piedade de mim' (Vie, par Abelly, l. 3, c. 39). Não escrever aos pais sem permissão e sem mostrar a carta ao superior "É necessário saber ainda que ninguém pode escrever a seus parentes ou a seus amigos, sem ter obtido permissão para tal, e sem mostrar a carta ao superior. Agindo de outro modo, um religioso se tornaria culpado de uma falta muito grave, que não pode ser tolerada, e que se pune rigorosamente; pois daí poderiam nascer mil desordens que levariam a comunidade à ruína. "Os que são recentemente admitidos sobretudo, não devem ignorar que, no ano do noviciado, esta regra é observada ainda com maior rigor; dificilmente se permite aos noviços falar ou escrever a seus parentes. Estando doente, não se tratar em casa "Enfim, caso alguém caísse doente, seria uma falta relevante pedir permissão ou manifestar o desejo de voltar para a sua família, para aí ser mais bem tratado e para respirar o ar natal. O ar da casa paterna é quase sempre, e até sempre, nocivo e pestilencial para a alma de um religioso. E se ele dissesse que quer ir tratar-se em casa de seus pais, para não pesar à comunidade e para lhe poupar despesas, esteja persuadido de que, na vida religiosa, os doentes são objeto de todos os cuidados que inspira a caridade mais generosa. "Se o ar do lugar onde eles se encontram lhes é pouco conveniente, os superiores tomem as medidas cabíveis para enviá-los a outra casa. Quanto aos remédios, vender-se-ia antes a biblioteca, do que deixar que eles faltem aos doentes. Eles não têm que temer, pois, que a Divina Providência lhes falte. "Mas quando, enfim, o Senhor quer que não se curem, devem-se conformar com a vontade de Deus, sem falar de retorno para a sua família. "Para um religioso, nada é mais desejável do que morrer, quando Deus o queira, na casa de Deus, assistido por seus irmãos em religião, e não no século em meio a seus parentes" (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Oeuvres Complètes – Oeuvres Ascétiques, Casterman, Tournai, 1881, 5ª. ed., t. III, pp. 428 a 431 / Imprimatur: Tornaci, 15-9-1858, A.P.V. Descamps, Vic. Gen.). 177. "Se o apego aos parentes não fosse muito nocivo, Jesus Cristo não nos teria recomendado tanto que nos desapegássemos destes" De outra obra de Santo Afonso, dirigida a Religiosas: "Se o apego aos parentes não fosse muito nocivo, Jesus Cristo não nos teria recomendado tanto que nos desapegássemos destes. "Noutra parte Ele declara que veio separar o filho de seu pai, e a filha de sua mãe: "Veni enim separare hominem adversus patrem suum, et filiam adversus matrem suam' (Mt. X, 35). "Mas, por que este ódio em relação aos pais, e este esforço para nos separar deles? Nosso Salvador dá Ele próprio a razão disto: "Et inimici hominis, domestici ejus': É porque, em matéria de salvação, os homens, e especialmente os religiosos, não têm piores inimigos que seus pais; já que são os pais os que mais se opõem a seu bem espiritual, segundo o que diz São Tomás: "Frequenter amici carnales adversantur profectui spirituali' (II-II, q. 189, a. 10). "Propinqui carnis, in hoc proposito, amici non sunt, sed potius inimici' (Contra retrah. a relig. a. 9). "E isto bem se vê pela experiência. O próprio São Carlos Borromeu, que era tão reservado em sua conduta e tão desapegado de seus pais, confessava que, quando ia para casa, voltava menos fervoroso e menos unido às coisas de Deus. Todos os mestres de vida espiritual exortam aqueles que querem caminhar na via da perfeição a fugir de seus parentes "Daí decorre que todos os mestres da vida espiritual não fazem senão exortar os que desejam caminhar nas vias da perfeição, a fugir de seus parentes, a não se imiscuir em seus negócios, e a nem mesmo querer saber notícias deles, quando se encontram distantes. "Qual pode ser a devoção de uma religiosa que quisesse ter sempre seus parentes a seu lado; que, se não os vê, manda carta após carta, e não cessa de chamá-los; que, enfim, se eles não vêm, se inquieta e multiplica suas cartas de queixas? Como é que ela poderia alguma vez estar estreitamente unida a Deus? É necessário absolutamente fugir dos parentes para se unir ao Pai comum, que é Deus "São Gregório diz: "Extra cognatos quisque debet fieri, si vult Parenti omnium verius jungi' (Mor. l. 7 c. 18): É absolutamente necessário fugir de seus parentes, para estar verdadeiramente unido ao Pai comum, que é Deus. "E São Bernardo, falando da Santíssima Virgem que, tendo perdido o Menino Jesus, O procurou entre seus parentes, durante três dias, sem O encontrar, conclui daí que entre parentes, jamais se encontra Jesus Cristo: "Jesus inter cognatos non invenitur' (Epist. 107). Ao que Pedro de Blois acrescenta que o amor do sangue logo nos priva do amor de Deus: "Carnalis amor extra Dei amorem cito te capiet' (Epist. 134). "Moisés, moribundo, nos deixou como lembrança esta palavra notável, que diz respeito especialmente às pessoas consagradas a Deus: "Qui dixit patri suo et matri suae: Nescio vos; et fratribus suis: Ignoro vos;... hi custodierunt eloquium tuum, et pactum tuum servaverunt' (Deut. XXXIII, 9). Isto significa que a religiosa que diz a seu pai e a sua mãe: Não vos conheço; – e a seus irmãos: Não sei quem sois; é aquela que defende sua vocação, e que observa o pacto que fez com Deus na sua profissão (religiosa), quando o Senhor lhe fez ouvir estas palavras, que Ele dirige a toda alma que se consagra ao seu amor: "Audi, filia, et vide, et inclina aurem tuam, et obliviscere populum tuum et domum patris tui; et concupiscet Rex decorem tuum' (Ps. XLIV, 11 – "Escuta, minha filha! sabe como serás feliz, se tu me obedeces; presta, pois, ouvidos ao que te vou dizer: esquece a tua pátria e a casa de teu pai; então, eu que sou teu Rei e teu Esposo, amarei tua beleza'). "Esquece a tua pátria e a casa de teu pai..." "A esse propósito, São Jerônimo exclama: "Grande proemium parentis obliti: Concupiscet Rex decorem tuum!' (Ep. ad Furiam) – Bem grande será vossa recompensa, pois por esse meio vos tornareis agradável a vosso Senhor, que vos fará feliz nesta vida e na outra! "É precisamente o que deu a entender nosso próprio Salvador, quando disse: "Omnis qui reliquerit domum, vel fratres, aut sorores, aut patrem, aut matrem..., propter nomem meum, centuplum accipiet, et vitam aeternam possidebit' (Mt. XIX, 29 – "Quem tenha deixado seus pais, não somente de fato, mas ainda de afeição, possuirá a felicidade eterna na vida futura, e receberá o cêntuplo na vida presente'). "A religiosa deixa poucas irmãs no mundo, e encontra muitas no convento; ela deixa um pai e uma mãe, e tem a Deus por Pai e Maria por Mãe, que a amarão e a tratarão sempre como sua filha abençoada. Os Santos, sabendo do agrado que com isto se faz a Deus, cuidaram ao máximo de se afastar de seus parentes "Os Santos, conhecendo o prazer que davam a Deus desapegando-se de seus parentes, tiveram o cuidado de se manter afastados deles o mais que podiam. "São Francisco Xavier, partindo para as ndias, e devendo passar perto de sua terra natal, não quis ir ver sua Mãe e seus outros parentes, apesar de lho terem pedido de modo importuno, e sabendo bem que não os veria mais. "A irmã de São Pacômio tendo vindo para vê-lo, ele lhe mandou dizer: "Vós sabeis que eu ainda estou vivo; ide em paz'. "Alguns Santos nem mesmo quiseram ler as cartas de seus parentes. São João Clímaco narra que Santo Antão Abade, após ter passado muitos anos no deserto, recebeu cartas de seus parentes; mas ele disse então consigo mesmo: "O que é que eu posso esperar da leitura destas cartas, se não conceber inquietudes, e perder a paz da qual eu gozo?' Com este pensamento, jogou-as ao fogo, dizendo: "Afastai-vos de mim, lembranças de minha terra, de medo que eu volte ao que deixara. Cartas, sede queimadas, de medo que eu seja queimado por vós'. (...) "Enfim, preservai-vos sobretudo de vos comprometerdes nas questões temporais de vossos parentes, como casamentos, contratos, despesas, e outras coisas parecidas, que vos fariam perder inteiramente a paz e o recolhimento, e talvez até a alma. Quanto mais uma religiosa tem pena dos seus parentes, tanto mais se torna ímpia para com Deus "É o que deplora São Jerônimo: Quantos religiosos, brada ele, por terem tido pena de seus pais, perderam sua alma! "Quanti monachorum, dum patris matrisque miserentur, suas animas perdiderunt!' (Reg. Monach. de laude Relig.). Ele acrescenta noutro lugar que, quanto mais uma religiosa tem pena dos seus, tanto mais ela se torna ímpia para com Deus: "Grandis in suos pietas, impietas in Deum est' (Ep. ad Paulam). "Com efeito, qual não é a impiedade de uma religiosa que, para servir seus parentes, negligencia o serviço de Deus, a oração, os sacramentos, e se lança em mil distrações, como acontece inevitavelmente a quem quer que se embarace nos negócios do mundo! "São Basílio chama este tipo de cuidados de cuidados diabólicos, e exorta os religiosos a fugirem dele: "Fugiamos illorum curam tamquam diabolicam' (Const. Mon. c. 21). "Santo Inácio de Loõla não quis ocupar-se do casamento de sua sobrinha, apesar de ser a herdeira de sua casa. "Assim também, São Francisco de Borja recusou pedir ao Papa uma dispensa, que facilmente teria obtido para o casamento de seu filho com uma parente, apesar de se tratar de uma magnífica herança. "Tremamos; pois o Senhor declara que, se após nos termos colocado a seu serviço, ainda olhamos para as coisas do mundo, não somos aptos para o paraíso: "Nemo, mittens manum suam ad aratrum et respiciens retro, aptus est regno Dei' (Lc. IX, 62). "Escusai-vos, pois, junto a vossos parentes" "Portanto, quando vossos parentes vos quiserem envolver nos negócios do século, escusai-vos polidamente. "Considerai a advertência feita por Jesus Cristo ao moço, que tendo sido chamado para segui-Lo, respondeu que queria ir antes enterrar seu pai; o Salvador lhe disse para deixar os mortos enterrarem seus mortos: "Sine ut mortui sepeliant mortuos suos' (ib. 60). "Eis o que eu vos digo a vós mesma, minha querida Irmã: deixai as pessoas do mundo, que são como mortos aos olhos da Fé, ocupar-se dos negócios do mundo; para vós, que o vosso único negócio seja amar a Deus e santificar-vos. "Escusai-vos, pois, junto a vossos parentes, dizendo-lhes que tais cuidados não convêm a vosso estado. Quando a Santíssima Virgem, reencontrando seu Divino Filho no Templo, Lhe expressou a inquietude e a dor nas quais sua ausência tinha mergulhado seus pais, Jesus lhe respondeu: Não sabíeis que Eu não me devo ocupar senão das coisas que interessam à glória de meu Pai? "Nesciebatis quia, in his quae Patris mei sunt, oportet me esse?' (ib. II, 49). Se os pais vos censurarem de que sois inimiga de vossa família, respondei com firmeza que estais morta para o mundo "Do mesmo modo, se vossos pais se lamentarem de que vós vos recusais a ser-lhes útil, mesmo se eles vos censurarem por não mais os amardes, por serdes ingrata para com eles, inimiga de vossa própria família, respondei-lhes com firmeza que vós estais morta para o mundo, e que vós vos deveis ocupar unicamente no serviço de Deus e de vosso convento. "Eu termino com esta palavra do Bem-aventurado José Calasans: "Uma religiosa não saiu do mundo, quando ela permanece apegada a seus parentes' (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Oeuvres Complètes – Oeuvres Ascétiques, Casterman, Tournai, 1882, 6ª. ed., t. X, pp. 291 a 294, 299 a 301 / Imprimatur: Tornaci, 22-7-1867, J.-B. Ponceau, Vic. Gen.). 178. O locutório do convento, local especialmente perigoso Da mesma obra de Santo Afonso: "Santa Teresa dizia: "Eu não compreendo que consolação pode achar uma religiosa junto a seus parentes. Além de seu apego desagradar a Deus, ela não pode gozar de seus prazeres, e toma, inevitavelmente, parte em seus dissabores' (Cam. da p., c. 10). "Para que servem as visitas de vossos parentes? Apenas para encher vosso coração de inquietudes, distrações e faltas" "Ó minha Irmã!, como esta reflexão vos convém! Quando vossos parentes vêm à grade (do locutório), não vos podem fazer participar de seus prazeres mundanos, pois estais encerradas e não vos é permitido ir a eles. O que vêm, pois, fazer no locutório? Eles não vêm senão para conversar convosco sobre suas dificuldades, seus sofrimentos, e suas necessidades. E para que serve isto? Não serve senão para vos encher o espírito e o coração de inquietudes, de distrações, e de faltas. De maneira que após cada visita de vossos parentes, vós ficais, durante muitos dias, completamente distraída e inteiramente perturbada na oração e na comunhão, pensando em tudo o que eles vos disseram. "Como, pois, vós que deixastes o mundo para vos santificar, desejais tanto que vossos parentes vos venham visitar? É para que eles vos façam frequentemente perder a paz e o fruto de vosso isolamento? E que loucura é acreditar que não podeis viver feliz, sem ver amiúde vossos parentes! "Oh! se vós vos mantivésseis afastada deles, quanto Jesus Cristo vos consolaria e tornaria melhor vossa felicidade! Não há lugar em que o demônio ganhe tanto como no locutório "Santa Maria Madalena de Pazzi dizia que o fruto principal que as religiosas deveriam tirar de suas comunhões, é o horror ao locutório. Com efeito, não há lugar onde o demônio ganhe tanto sobre ela, quanto no locutório, como confessou um dos espíritos malignos um dia à venerável irmã Maria Villani. Eis porque Santa Maria Madalena de Pazzi evitava até passar pelo locutório; ela o detestava a ponto que não o podia ouvir nomear. E quando, às vezes, era obrigada a ir lá, vertia lágrimas por causa disto e dizia a suas noviças: "Minhas filhas, rezai a Deus por mim, que estou sendo chamada ao locutório'. Além disto, ela lhes recomendava de vir livrá-la o mais cedo possível, sob algum pretexto. Não seria procedimento exorbitante, mas pelo contrário motivo de edificação, renunciar a receber os parentes no locutório do convento "Mas vós direis: o que devo fazer? Devo renunciar a ver meus parentes? e quando eles me vêm visitar, é preciso que eu os rechace, e que não vá mais ao locutório? – Escutai: eu não pretendo isto; mas, se vós o fizésseis, faríeis mal? Seria um procedimento exorbitante, do qual nenhuma religiosa jamais usou? Viu-se mais de uma tomar esta resolução e colocá-la em prática. (...) "Vós não podereis, pois, seguir este exemplo, e renunciar para sempre ao locutório? Objetareis talvez que, se quisésseis tomar uma tal resolução, vosso superior ou vosso confessor não o permitiriam. Mas, por que é que eles se oporiam, se vissem que nisso seguis a inspiração divina, e que a coisa é em si mesma um grande motivo de edificação, que não poderia senão levar as outras religiosas a serem menos apegadas a seus parentes e ao locutório? "Contudo, se a superiora não vo-lo permite, e vos obriga a ver vossos parentes, eu vos aconselho a obedecer; entretanto, eu vos exorto a imitar nesta ocasião São Teodoro, discípulo de São Pacômio; querendo seu Abade que ele se fosse apresentar a sua mãe, que tinha vindo para vê-lo, ele lhe disse: "Meu Pai, vós me ordenais ir falar com minha mãe; mas, vós me garantis que minha alma não sofrerá nenhum dano?' "Estas palavras abalaram o Abade, que retirou imediatamente sua obediência (Surius. 14, maii. Vit. S. Pach.). "Os superiores e os confessores devem considerar a este propósito que deverão certamente prestar contas disto ao Senhor quando sem uma causa justa, mas unicamente por capricho, ou por respeito humano, ou por interesse próprio, ou pelo incômodo de dever se ocupar disto, eles embaraçam o progresso duma religiosa que deseja tomar impulso em direção a Deus. (...) "Tratai de encurtar a conversa..." "Jamais convideis vossos parentes para vos virem ver; e quando eles vierem, tratai de encurtar a conversa, ou de vos retirar sob qualquer bom pretexto, como alegando que vós deveis vos ocupar de vosso serviço, cumprir uma obediência, assistir a um doente, e outras coisas parecidas. Quando se quer, encontram-se facilmente escusas convenientes. Desta maneira, eles compreenderão que sua presença não faz senão vos incomodar e virão menos frequentemente. "Persuadi-vos disto: quanto menos durarem suas visitas, menos faltas tereis a vos recriminar, e quanto mais elas forem raras, tanto mais vivereis recolhida e sereis consolada por Jesus Cristo. "A venerável irmã Catarina, cisterciense, que, por ter abraçado o estado religioso contra a vontade de seus pais, por eles fora abandonada, dizia: "Eu não invejo minhas irmãs pelas visitas que recebem de seus parentes várias vezes ao ano; pois, quando eu o quero, vou ter com Jesus, meu verdadeiro Pai, e Maria, minha querida Mãe, e eles me inundam de consolações' " (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Oeuvres Complètes – Oeuvres Ascétiques, Casterman, Tournai, 1882, 6ª. ed., t. X, pp. 294 a 299 / Imprimatur: Tornaci, 22-7-1867, J.-B. Ponceau, Vic. Gen.). 179. "Esquece o teu povo e a casa de teu pai, e o rei cobiçará a tua beleza" De uma célebre carta dirigida por São Jerônimo a Santa Eustóquia (sec. V), filha de Santa Paula Romana: * "Escuta, minha filha, olha, presta atenção, esquece o teu povo e a casa de teu pai, pois o rei cobiçará a tua beleza'. No salmo XLIV, Deus fala à alma humana e a convida, a exemplo de Abraão que sai de seu país e de sua parentela, a abandonar os Caldeus (nome que se traduz por: quase demônios). (...) "Mas não te basta deixar tua pátria, se tu não esqueces teu povo e a casa de teu pai, se, desprezando a carne, tu não te juntas aos abraços do esposo. "Não olhes para trás, diz ele, e não pares em toda a região vizinha; foge para a montanha, de medo de seres aprisionada'. "Quando se tomou o arado, não convém olhar para trás, nem voltar do campo a casa, nem, após ter revestido a túnica de Cristo, baixar para tomar outra veste. Grande maravilha! Um pai exorta sua filha: "Não te lembres de teu pai!' "Vós outros, tendes o diabo por pai e quereis realizar os desejos de vosso pai', é dito aos judeus, e noutro lugar: "Quem comete pecado vem do diabo'. Engendrados antes de tudo por um tal pai, nós somos negros; tornados penitentes, mas não tendo ainda subido ao cume da virtude, dizemos: "Eu sou negra, mas bela, filha de Jerusalém!' " (SÃO JERYONIMO, Lettres, Société d'édition "Les belles lettres", Paris, 1949, t. I, pp. 110-111). 180. "Foge até de teus familiares, separa-te de teus amigos e íntimos" Diz São Bernardo (1090-1153), ao comentar um trecho do Cântico dos Cânticos: "Vós, pois, que ouvis isto; vós que quereis aproveitar-vos do que está escrito para vós, e que eu agora explico para vosso proveito, se estais animados de moções do Espírito Santo e ardeis em desejos de fazer vossa alma Esposa de Jesus Cristo (Thren., III, 28) (...). Não tenhais relações com o resto dos homens. Esquecei vosso povo e a casa de vosso pai, e o Rei se enamorará mais de vossa formosura (Ps. XLIV, 11-12). "Alma santa, permanece só, a fim de pertencer apenas ±quele a Quem escolheste entre todos. Foge de aparecer em público, foge até de teus familiares, separa-te de teus amigos e íntimos, e mesmo daquele que te serve. Não sabes que tens um Esposo sumamente modesto e que não te quer honrar com a sua presença diante de outro, seja quem for? "Retira-te à solidão espiritual se não podes desfrutar da corporal; permanece solitária pela intenção, pela devoção interior e pelo espírito; pois Jesus Cristo, que te quer honrar e deleitar com a sua presença, é puro Espírito e pede solidão espiritual, não corporal; se bem que é preciso procurar também a esta na medida do possível, sobretudo no tempo de oração, segundo aquele conselho do divino Esposo: "Quando rezares entra em teu aposento e, fechada a porta, ora em segredo a teu Pai' (Mt. VI, 6)" (São BERNARDO, Obras Completas, BAC, Madrid, 1955, vol. II, p. 281 / Imprimatur: José María, Ob. aux. y vic. gen., Madrid, 20-1-1955). 181. "Não sei o que é que deixamos do mundo se não nos afastamos do principal, que são os parentes" Diz Santa Teresa, a Grande (1515-1582), na sua obra Caminho de Perfeição: "Oh! se nós, as religiosas, entendêssemos o dano que nos causa o tratar muito com parentes, como fugiríamos deles! Deixando de lado o que diz respeito a Deus, e considerando apenas o nosso sossego e descanso, eu não entendo que consolação é esta que eles dão, pois de suas diversões nem podemos nem nos é lícito desfrutar, mas padecer as dificuldades, sim, já que nenhuma delas deixa de nos fazer chorar, e, às vezes, até mais do que a eles próprios. "Sabei pois, que se algum presente trazem ao corpo, paga-o caro o espírito. Disto já estais livres, pois que, como tendes tudo em comum, e nenhuma pode receber presentes particulares, assim a esmola que os parentes fazem é geral para todas, e ficais livres de lhes dar este contentamento, já que sabeis que o Senhor vos há de prover a todas juntas. "Fico pasma com o dano que causa tratar com eles (os parentes), e não creio que se acredite nisso sem que se o tenha experimentado. E como, nos dias de hoje, parece esquecida esta perfeição nas Ordens Religiosas! Não sei o que é que deixamos do mundo, nós que dizemos que deixamos tudo por Deus, se não nos afastamos do principal, que são os parentes. "A coisa chegou a tal estado que até é considerado falta de virtude da parte dos religiosos não estimar os próprios parentes, tratar muito com eles, e ouvir o que dizem e as razões que alegam" (Santa TERESA DE JESUS, Camino de Perfección, in Obras Completas, BAC, Madrid, 1967, 2ª. ed., p. 224 / Imprimatur: José María, Ob. aux. y vic. gen., Madrid, 12-4-1962). 182. Evitem quanto possível conviver com os parentes... os encontros sejam muito raros e breves De uma vida de Santa Teresa de Ávila, a Grande: * "Desde a morte de meu irmão tenho sido tão perseguida pelos parentes que só queria não ter de lutar mais com eles' (Carta CCCXVI). "A Madre Teresa chegara a este grau de desânimo a propósito de uma família exigente. Não, os Cepedas e os Ahumadas nem todos eram exemplares: privaríamos Teresa de Jesus duma parte da sua grandeza se a incluíssemos arbitrariamente numa linhagem de pequenos santos. (...) "Todos esses Ahumadas, esses Cepedas, os seus filhos legítimos, as suas filhas naturais, esmagavam a Carmelita (Santa Teresa) com seus problemas, suas exigências. As preocupações por eles causadas não deviam ser alheias à atenção que lhe mereceram, ao redigir as Constituições da Ordem, as relações das freiras com a família. * "Evitem, quanto possível, conviver com os parentes; pois além de ser inevitável que tomem a peito os seus interesses, há de ser-lhes muito difícil não falar com eles de coisas do século' (CONS p. 9). * "Acautelem-se de conversas com pessoas de fora, mesmo que sejam parentes diretos; e, quando eles não mostrarem gosto de falar das coisas divinas, que os encontros sejam muito raros e breves...' "A recidiva, depois de dois avisos, em conversas sem fruto espiritual, podia provocar um castigo de nove dias de prisão, com flagelação no refeitório no terceiro dia: "Porque isto é da maior importância para a Ordem' (idem)" (MARCELLE AUCLAIR, Santa Teresa de Ávila, a dama errante de Deus, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1959, pp. 424-425 / Imprimatur: Florentinus, Ep. Aux., Portucale, 4-9-1958). 183. "Afastêmo-los da memória tanto quanto possamos" De uma vida de Santa Teresa de Jesus (1515-1582), escrita pelo conhecido historiador William Thomas Walsh: "Autorizava os parentes a visitar (o convento de) São José por seu próprio desejo, não pelo das freiras. Que a irmã chegue a se considerar imperfeita, não desapegada, doente, não verdadeiramente livre em espírito e necessitando de um médico se não se cansa de seus parentes na segunda visita. "A única cura para ela é a de não voltar a vê-los, a menos que, por força de orações, tenha adquirido a graça de se sentir inteiramente desligada deles, de ter que suportá-los como uma cruz. Em tal caso poderá vê-los, com toda a segurança, de vez em quando, para o próprio bem deles. "Enquanto se sinta profundamente atingida por suas contrariedades e se regozije com seus êxitos, pode estar certa de que se prejudica a si mesma e não lhes faz bem algum. "Assim, escreveu: "Nesta casa, minha filha, muito cuidado em encomendá-los a Deus (depois do que diz respeito a sua Igreja) pois é conforme à razão. Quanto ao mais, afastêmo-los da memória tanto quanto possamos.' (...) "Segundo a opinião de Teresa, o desapego não é tanto uma questão de separação de corpos, "mas em que, determinadamente, a alma se abrase com o bom Jesus, Nosso Senhor' " (WILLIAM THOMAS WALSH, Santa Teresa de Ávila, Espasa-Calpe, Madrid, 1960, 3ª. ed., p. 284). 184. Como não serão repreendidos os que visitam as casas dos que deixaram no mundo? Do Evangelho de São Lucas: "E um outro disse-Lhe: eu, Senhor, seguir-te-ei, mas permite que vá primeiro dizer adeus aos de minha casa. Jesus, respondeu-lhe: Ninguém que, depois de ter metido a sua mão ao arado olha para trás, é apto para o reino de Deus" (Lc. IX, 61-62). Glosando este trecho, São Tomás de Aquino cita São Cirilo (444) e São Beda (735): São Cirilo afirma "Esta oferta é admirável e digna de louvor; porém, querer dispor do que está na sua casa, para renunciar a isto, mostra que aquele que ainda não se tenha proposto em sua mente o ódio cabal destas coisas, está, de certo modo, dividido no serviço de Deus. Porque o querer consultar a seus parentes, que não hão de consentir nesse propósito, é mostrar-se vacilante. Por isso o Senhor desaprova seu oferecimento, e prossegue: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus'. Põe a mão no arado quem se encontra disposto a seguir o Senhor; mas olha para trás, quem pede tempo para encontrar ocasião a fim de voltar a casa e conferenciar com seus parentes. São Beda conclui "Se, pois, o discípulo que ia seguir ao Senhor, é repreendido porque quer dar conta disto na sua casa, que será daqueles que, sem utilidade nenhuma, visitam as casas dos que deixaram no mundo? (São TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea – São Lucas, Cursos de Cultura Católica, Buenos Aires, t. IV, 1946, pp. 237 e 240). 185. "Ninguém é escolhido para Sacerdote se não diz a seu pai e a sua mãe: ignoro quem sois" De uma obra ascética de Santo Afonso de Ligório (1696-1787): "É preciso renunciar ao apego pelos parentes: "Se alguém vem a Mim, e não odeia seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e até a sua vida, não pode ser meu discípulo' (Lc. XIV, 26), disse Jesus Cristo. Mas como devemos odiar os parentes? Devemos cessar de conhecê-los, diz um douto autor, sempre que se oponham a nosso bem espiritual. Se impedem – são palavras suas – que um filho sacerdote conforme sua vida à disciplina eclesiástica, se pretendem obrigá-lo a tratar de seus assuntos temporais, então deve odiá-los e fugir deles como de inimigos que o afastam dos caminhos de Deus ("Si prohibeant ne vitam secundum ecclesiasticae disciplinae normam instituat, si negotiis saecularibus eum implicent, tunc eos, tamquam in via Dei adversarios, odisse et fugere tenetur', ABELLY, Sacr. chr., p. 4.} c. 6); que é o que dissera São Gregório: "Os que se opõem a que caminhemos pelos caminhos de Deus hão de ser considerados como estranhos e até temos que odiá-los e fugir deles' ("Quos adversaris in via Dei patimur, odiendo et fugiendo nesciamus' – In Ev., hom. 37). "Quem deseja servir a Deus há de separar-se dos seus" "Pedro de Blois escreve: "Ninguém é escolhido para Sacerdote se não diz a seu pai e a sua mãe: ignoro quem sois' ("Nec in domo Domini sacerdos eligitur, nisi qui dixerit patri et matri: Nescio vos' – Ep. 102). "Santo Ambrósio escreve que "quem deseja servir a Deus há de separar-se dos seus' ("Suis se abneget, qui servire Deo gestit' – De Esau, c. 2). * "É certo que se deve honrar aos pais, porém antes é preciso obedecer a Deus', diz Santo Agostinho ("Honorandus est pater, sed obediendum est Deo' – Serm. C. de verb. D.). "E, segundo São Jerônimo, "querer testemunhar aos seus grande afeto, com prejuízo da obediência a Deus, não é piedade filial, mas impiedade para com Deus' ("Grandis in suos pietas, impietas in Deum est' – Ep. ad Paulam). "Evitemos, como tentação do demônio, encarregar-nos dos bens de nossos parentes" "Nosso Redentor declarou que viera à terra para nos separar de nossos pais: "Porque vim separar o filho do seu pai, e a filha da sua mãe (Mt. X, 35). E por quê? Pelo que acrescenta: nos assuntos espirituais, nossos parentes são nossos maiores inimigos: "Inimici hominis domestici eius' (Mt. X, 36) – "Os inimigos do homem são os seus próprios domésticos'. "São Basílio nos adverte, portanto, que "evitemos, como tentação do demônio, encarregar-nos dos bens de nossos parentes' ("Fugiamus illorum curam tamquam diabolicam', Const. monial., c. 21). "Como dá pena ver o Sacerdote, que poderia salvar tantas almas, completamente preocupado pelos assuntos domésticos, em economias domésticas, no cuidado dos animais e outras coisas similares! "Como! escreve São Jerônimo, "o Sacerdote há de deixar o serviço do Pai celestial para comprazer ao pai da terra?' Diz o Santo que, quando se trata de ir servir a Deus, o filho há de passar, se for preciso, sobre o corpo de seu pai. "Por causa de meu pai, se pergunta São Jerônimo, terei que desertar das bandeiras de Cristo? O que fazes na casa paterna, soldado efeminado? Por que não te encontras nos campos e nas trincheiras? Ainda quando vejas teu pai prostrado em terra no umbral da casa, haverias de passar sobre ele para voar, com os olhos secos, rumo ao estandarte da cruz. O único modo de demonstrar nisto a piedade é mostrando-se cruel' ("Quid facis in paterna domo, delicate miles? Ubi vallum? ubi fossa? Licet in limine pater iaceat, per calcatum perge patrem, siccis oculis, ad vexillum Crucis evola. Solum pietatis genus est in hac re, esse crudelem' (ib.). Se não nos desapegarmos de nossos parentes, o amor do sangue logo apagará em nós o amor de Deus "Conta Santo Agostinho que Santo Antão Abade lançava ao fogo as cartas que recebia dos seus, dizendo: "Queimo-vos para não ser queimado por vós' ("Comburo vos, ne comburar a vobis', Ad Fratr. in er., serm. 40). "É preciso se desapegar dos parentes, diz São Gregório, se se deseja estar unido a Deus ("Extra cognatos quisque debet fieri, si vult Parenti omnium verius iungi' – Mor., l. 7, c. 18). A não ser assim, acrescenta Pedro de Blois, o amor do sangue logo apagará em nós o amor de Deus' ("Carnalis amor extra Dei amorem cito capiet' – Ep. 134). "Dificilmente acha-se Cristo entre os parentes, o que fazia São Boaventura perguntar: "Como Vos encontrarei eu entre meus parentes, bom Jesus, quando não fostes encontrado entre os vossos?' ("Quomodo te, bone Jesu, inter meos cognatos inveniam, qui inter tuos minime es inventus?' – Spec. Disc., p. 1, c. 23). "Quando a Mãe de Deus encontrou a Jesus no templo e Lhe perguntou: "Filho por que fizeste assim conosco?' respondeu o Redentor: "Pois, por que me buscavas? Não sabias que Eu devia estar em casa de meu Pai?'(Lc. II, 48-49). "Assim deve responder o Sacerdote a seus parentes quando queiram lhe encarregar dos assuntos domésticos: "Sou Sacerdote e só posso me ocupar com as coisas de Deus; a vós, que sois leigos, cabe atender às coisas do século'. Precisamente isto deu a entender o Senhor ao jovem a quem chamou para segui-Lo quando Lhe pediu permissão para ir enterrar seu pai: "Deixa que os mortos enterrem seus mortos' (Mt. VIII, 22)" (Santo AFONSO MARIA DE LIGÓRIO, Obras Ascéticas, BAC, Madrid, 1954, t. II, pp. 282 a 284 / Imprimatur: José María, Ob. Aux. y Vic. Gen., Madrid, 13-3-1954). 186. "Para agradar a nossos pais, não devemos fazer nada que possa embaraçar o exercício do nosso ministério" Do Compêndio de Teologia Ascética e Mística do Pe. A. Tanquerey, obra publicada em 1923 e logo traduzida para dez idiomas: "Entrando no estado clerical, deixamos o mundo e, até certo ponto, a família, para sermos membros da grande família eclesiástica, e nos ocuparmos desde esse momento, em primeiro lugar, da glória de Deus e do bem da Igreja e das almas. "É certo que os nossos sentimentos interiores de respeito e afeição para com os pais não mudam, antes se depuram; mas a sua manifestação exterior será, desde então, subordinada aos nossos deveres de estado: para agradar a nossos pais, não devemos fazer nada que possa embaraçar o exercício do nosso ministério. "O nosso primeiro dever é ocupar-nos das coisas de Deus; se, pois, as suas maneiras de ver, os seus conselhos ou exigências se encontram em oposição com o que de nós reclama o serviço das almas, com toda a suavidade e afeto, mas com não menor firmeza, daremos a entender que, em nossos deveres de estado, não dependemos senão de Deus e dos nossos superiores eclesiásticos (A. CHEVRIER, Le véritable disciple, 1922, pp. 101-112). Continuaremos, porém, a honrá-los, a amá-los e a assisti-los em tudo o que for compatível com os deveres do nosso cargo. "Esta mesma regra se aplica, e com mais forte razão, aos que entram numa Congregação ou Ordem Religiosa" (Pe. A. TANQUEREY, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1955, 5ª. ed., p. 323 / Pode imprimir-se – Porto, 11-5-1953, M. Pereira Lopes, Vig. Ger.). 187. Em matéria de zelo, os parentes são os piores inimigos do Sacerdote Da já citada obra pedagógica de Santo Antonio Maria Claret (1807-1870), destinada à formação de Sacerdotes: "Teu zelo e caridade para com os próximos, mesmo que não sejam paroquianos, devem estar ordenados por estas quatro regras: "1º.) Não farás nada sem conselho. "2º.) Hás de ser firme, constante e perseverante em tuas resoluções, por maiores que sejam as dificuldades que se te apresentem e por maiores que sejam as perseguições que se levantem. "3º.) Não consultes os teus parentes nem os escutes, porque eles, em matéria de zelo, são os piores inimigos. "4º.) Quando com teu zelo não possas remediar os males que vês, reza, chora, e espera, e terás muito boa paga" (Santo ANTONIO MARIA CLARET, El Colegial o Seminarista Teórica y Prácticamente Instruido, Editorial del Corazón de María, Madrid, 1924, t. I, p. 917 / Imprimi potest: Nicolaus García CMF, Spr. Matriti, 16-7-1924). |