Plinio Corrêa de Oliveira

 

HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO


1936


Colégio Universitário

anexo à Faculdade de Direito da

Universidade de São Paulo

 

 

 

Bookmark and Share

Parte XVI

Idade Moderna e Contemporânea

 

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é cópia ipsis litteris das apostilas para o curso de "História da Civilização". Portanto, os erros de ortografia, falta de palavras, eventuais acréscimos ou omissões são da responsabilidade de quem taquigrafou e datilografou ditas apostilas. Texto não revisto pelo Prof. Plinio.

A invenção da imprensa

Os séculos XIII e XIV marcam grande esforço intelectual na Europa, entretanto este desenvolvimento era detido pelo preço elevado dos livros. Dois fatos concorriam para que tal se desse: 1) a falta de material; 2) a dificuldade do trabalho. Este último fator era tão importante que tinha permitido a criação de uma classe social inteiramente dedicada a copiar livros; eram os copistas.

A introdução do papel pelos árabes, e sua expansão graças ao uso das roupas brancas, veio sanar uma parte do mal. Porém permaneceu a outra, aliás a mais importante: a mão-de-obra. Foram feitas então muitas tentativas para a simplificação dos trabalhos. Todas se guiaram neste sentido: procurar um meio de realizar um molde, com auxílio do qual se pudessem tirar muitas cópias. Este modelo, ou melhor, o material para ele, apresentava dificuldades. As tentativas então se fizeram em madeira, e chegou-se a imprimir com o auxílio deste material. Os primeiros a trabalhar com madeira foram os chineses, em épocas remotas. Usaram-se também dois tipos de madeira já conhecidos no Egito, mas apresentava dois defeitos: 1) gravava-se página por página em pranchas de madeira, e o trabalho só servia para aquele livro; 2) quando um pequeno defeito aparecia em uma letra, perdia-se toda a prancha. 

As tentativas foram então no sentido de conseguir tipos isolados. Para isto ainda não servia a madeira, pois ela não apresentava resistência e durabilidade, e as experiências de Laurens Janszoon Coster não deram resultado. Foi então que se procurou material para substituir a madeira. Segundo a maioria dos historiadores, foi encontrado por Gutenberg, na liga de chumbo e antimônio. Há historiadores que dão como descobridor desta liga Johan Fust, capitalista que subvencionou os trabalhos de Gutenberg por algum tempo.

Ainda não estava resolvido o problema, pois eram necessários moldes, em que os tipos isolados feitos com a nova liga fossem fundidos. Foi o holandês-alemão Parest que os inventou. Graças a estas matrizes puderam ser fundidos os tipos isolados em liga de chumbo e antimônio. Depois destes trabalhos, feitos com grandes sacrifícios, no ano de 1455 a Bíblia foi impressa no novo sistema.

Apesar de tudo o que dissemos, dá-se a Gutenberg a glória da descoberta. Isto por causa da sua persistência e dedicação a este trabalho, que tantos benefícios traria à humanidade. Há a respeito de Gutenberg muitas discussões. Assim, enquanto Mogúncia quer que ele seja seu filho, Estrasburgo pensa da mesma maneira.

Expansão da imprensa - A imprensa rapidamente se expandiu por toda a Europa. Em 1470, G. Fichst, reitor da Universidade de Paris, montava uma tipografia da universidade. Nela trabalharam três ilustres impressores: Gering, Friberzert e Kaantz. Esta tipografia imprimiu em dois anos 21 trabalhos, clássicos de preferência. Em 1500, só na Itália, 54 cidades já possuíam tipografias, e assim a imprensa desenvolvia-se de maneira vertiginosa.

Consequências da invenção da imprensa - Profundas foram as modificações operadas no mundo graças a este invento. Sob o ponto de vista social, ela revolucionou as classes, determinou o desaparecimento dos copistas e fez com que o movimento intelectual suplantasse todo o imaginável. Rapidamente as elites de sangue começaram a ser suplantadas pelas elites intelectuais. Muitas mentalidades aparecem, e é indiscutível o papel que a imprensa desempenhou no advento do Renascimento. A Bíblia foi espalhada por toda parte, e isto deu margem a discussões em torno de sua interpretação, preparando a Reforma protestante em alguns espíritos. O livro baixou de preço, e então a cultura esteve ao alcance de qualquer bolsa. Também no terreno político e no econômico a influência foi grande. As idéias políticas e as experiências econômicas puderam ser, através do livro e do jornal, conhecidas por todos. Desta expansão, profundas consequências deveriam surgir durante a idade moderna e contemporânea.

Descobrimento da América

Enquanto os portugueses procuravam o caminho das Índias avançando pelo Sul, para contornar a África e encontrar uma passagem para Leste, os espanhóis avançaram com o mesmo objetivo e descobriram, sem o supor, um novo continente — a América. Este feito foi realizado por Cristóvão Colombo.

Cristóvão Colombo - Colombo era Genovês, nasceu em 1451. Seu pai possuía pequena fortuna, e Colombo desde cedo mostrou grande interesse pela navegação. Contam alguns que a sua primeira viagem realizou-se aos 14 anos, porém parece que ainda aos 21 era operário em Gênova. Viajou muito, e pôde escrever aos reis católicos: "Tudo que se navegou até aqui, eu também naveguei". Conheceu a Inglaterra e Islândia, e esteve nas costas da Guiné. Em 1478 se estabeleceu em Lisboa, onde continuou seus estudos de geografia e astronomia, casando-se com a filha de um nobre.

Foi durante sua estadia em Portugal que parece ter surgido o projeto, que assim formulou: "Procurar o Oriente pelo Ocidente, e passar por Oeste para chegar aonde crescem as especiarias". Parece que sua obra foi inspirada no livro de Pierre Daily, e também por sua teoria a respeito da esfericidade da terra, o que era comum em muitos sábios da época. Sabe-se assim que Vasconelli, com quem Colombo teve correspondência, já em 1474 tinha escrito ao rei de Portugal sobre essa tese. Isto parecia fácil a Colombo, principalmente porque os geógrafos julgavam que a Ásia fosse muito maior do que é, e davam à terra um tamanho menor que o real.

Colombo insistiu para que o rei de Portugal lhe permitisse a expedição, o que lhe foi negado. Dá-se também como real uma verdadeira peregrinação de Colombo pelas cortes européias, porém isto não está francamente demonstrado. Sabe-se que em 1484 Colombo expôs seus projetos aos reis católicos, pedindo o auxílio espanhol. Esperou 7 anos pela resposta. Diz-se que, por influência do confessor da rainha, foi aceito o projeto no fim desse prazo. Foi firmado um tratado entre Colombo e a Espanha, que lhe dava o título de Grande Almirante e Vice-rei das terras que descobrisse, o monopólio do comércio, etc. Forneciam-se-lhe navios e uma subvenção de 300 mil francos. O resto da quantia necessária, mais ou menos 700 mil francos, foi fornecido por um armador de Palos e, em pequena parte, pelo próprio Colombo.

Primeira viagem - Colombo partiu de Palos em 3 de agosto de 1492, com três caravelas — Santa Maria, Pinta e Niña — e 120 homens de equipagem. Fez escala nas Canárias, donde partiu a 9 de setembro. No dia 10 de outubro os marinheiros não queriam mais continuar. Diz-se que Colombo respondeu que "tinham partido para ir às Índias, e que continuariam até lá chegar".

No dia 11 de outubro Colombo percebeu à noite sinais de terra, e na madrugada do dia 12, quase de manhã, a terra apareceu distintamente. Chegava Colombo à ilha de Guanaani, que foi denominada São Salvador. Era uma das Lucaias, nas Antilhas. Fala-se que durante três meses Colombo procurou o rei da Zupanga, para lhe entregar as cartas do rei da Espanha, isto por estar convencido de ter chegado às Índias. Nestas explorações, conheceu Cuba e São Domingos. Tendo porém perdido uma caravela, retornou à Espanha para anunciar suas descobertas. Chegou a Palos em 15 de março de 1493, sete meses após a partida, sendo recebido triunfalmente.

Outras viagens de Colombo - Foram realizadas ainda 3 outras viagens, em que descobriu o resto das Antilhas. Na terceira, chegou mesmo ao próprio continente, e na quarta tocou a América Central, vindo a morrer na Espanha em 1506. Depois da sua segunda viagem, perdeu toda a popularidade. As descobertas não deram, de momento, tudo o que se esperava. Uma tentativa de colonização de São Domingos fracassara. Colombo foi tido como responsável por esses desastres, e os reis católicos resolveram afastá-lo do posto de vice-rei.

Seu sucessor, sem ordem para tal, o aprisionou e enviou à Espanha. Porém, Fernando e Isabel repararam esta afronta, não sendo entretanto Colombo restituído ao antigo cargo. É certo que pouco antes da morte lhe foram contestados alguns direitos que o tratado da Santa Sé lhe concedera, não sendo contudo muito verdadeira a versão de que Colombo tenha morrido na miséria. Morreu ele com a convicção de ter descoberto as Índias. Logo depois começou-se a supor que se tratasse de outras terras, o que se confirmou com as viagens de Balboa (1513) e Magalhães (1519). Os espanhóis se expandiram rapidamente por todo o continente graças a Cortês, Pizarro, Almagro e outros conquistadores.

Consequências do descobrimento - As grandes descobertas têm tido sempre maiores ou menores repercussões na vida dos povos. Deixaram de ser próprias das nações descobridoras (Espanha e Portugal) para passarem a ter caráter universal. Profundas foram as consequências, quer nos campos econômico, social e político, quer no científico.

A América, em grande parte de seu território, não pôde desde o primeiro momento contribuir para o comércio, agricultura ou indústria. É que suas terras estavam ainda em estado selvagem, e a maioria de seus habitantes se achava em baixo grau de civilização. É real que em algumas partes (México e Peru) os espanhóis encontraram civilizações bem desenvolvidas, das quais tiraram proveito.

Mas a América, de modo geral, foi fornecendo novos elementos para a agricultura: terras fecundas se abriram à exploração dos que chegaram; plantas e animais desconhecidos forneciam agora elementos para a subsistência. Seria longo enumerar todas as espécies que o homem europeu conheceu, ao entrar em contato com a América: milho, batata, mandioca, etc.

O comércio só se desenvolveu, de modo geral, depois de uma época de preparação, isto é, depois que emigrantes europeus começaram a produzir suficientemente, e também comprar. Para algumas colônias espanholas, este comércio surgiu mais rapidamente pela presença do ouro e outros metais. Pode-se dizer que aos poucos ia-se formando na América um novo núcleo de comércio, e assim o mundo deixava de ter dois núcleos comerciais (Extremo Oriente e Mediterrâneo, com toda a Europa) para admitir um terceiro, que se formava nestas terras.

A primeira indústria foi a extrativa. É verdade que grande parte dos tesouros daqui levados pelos espanhóis foi produto do confisco por eles feito aos tesouros dos incas e astecas. Entretanto, a indústria extrativa progrediu rapidamente, se bem que primitiva. Aos poucos a América foi se tornando o empório de abastecimento de matérias-primas: madeira, algodão, açúcar (principalmente do Brasil), e ainda muitas outras que seria extenso enumerar.

Do ponto de vista social a influência foi grande, isto se levarmos em conta que na época medieval a riqueza era fundamentada na terra, e que na idade moderna o comércio, em grande parte americano, permitiu o progresso rápido da burguesia.

No campo político criaram-se novos problemas coloniais, e nota-se um desenvolvimento dos países descobridores (Portugal e Espanha).

Não foi menor a colheita feita pela ciência. A geografia ganhou em extensão e profundidade. As ciências naturais conheceram novos elementos. A etnografia, a antropologia e todas as ciências relativas ao homem vieram encontrar na América problemas, alguns dos quais estão até hoje por resolver. A descoberta da América contribuiu de outro modo para os desenvolvimentos da navegação, astronomia, medicina. Afirma-se, pois, que este acontecimento teve repercussões em todos os campos da atividade humana.

A Renascença

Conceito de Renascimento - Chama-se de Renascimento a grande transformação e evolução das letras e das artes que se deu no século XV e primeira metade do século XVI.

A Idade Média, como vimos, não foi completamente inútil quanto às artes e letras, por isso o termo Renascimento é impróprio, pois nos dá a entender que as artes e as letras tinham desaparecido durante aquele período, o que não se deu na realidade. Houve uma grande transformação e um grande desenvolvimento, porém as artes, letras e ciências aparecem sempre na Idade Média (século XIII e XIV).

Causas - Foram várias as causas a atuar nestas transformações e evoluções. As principais são:

1) o grande desenvolvimento intelectual atingido nos séculos XIII e XIV, e portanto o aparecimento de homens notáveis, que são os precursores do Renascimento;

2) as descobertas de objetos de arte na Grécia fornecem novos modelos e elementos para estudos;

3) a queda de Constantinopla determina a saída dos sábios que lá residiam, dirigindo-se para a Europa, com isso desenvolvendo extraordinariamente o chamado humanismo;

4) a causa mais importante, que foi o desenvolvimento econômico.

Nos fins do século XIV, graças à ação dos cruzados, a Europa retornava ao comércio do Mediterrâneo. Nesta época os navios de Gênova e Veneza singravam este mar, pondo em contato a Europa com o Oriente. O desenvolvimento do comércio fez desenvolver a situação econômica, começando a ser acumulados grandes capitais. Os príncipes e a Igreja puderam então proteger os artistas e literatos, os mecenas apareceram por toda parte. Já na Idade Média começava esta proteção, haja vista os Valois, os Médicis, os Visconti e outros.

Precursores do Renascimento - Não se pode isolar o Renascimento dos grandes escritores e artistas que o precederam, pois foram de grande influência. Citam-se na França: Joinville, autor da "História da vida de São Luís"; Froissart, autor de "Crônicas".

Na França existiam grandes artistas e escritores, porém a maioria deles é anônima. Citam-se: Claus, Jeanfan, Eicy, Jean Fouquier. Na Itália já se observavam, nos séculos XIII e XIV, grandes vultos que seriam precursores, como Dante, Petrarca e Boccaccio. Na Itália os nomes dos artistas são conhecidos: Brunelesco, Gilberto Della Robbia, Giotto e outros. Os artistas italianos já apresentavam trabalhos diferentes dos seus contemporâneos — era a influência greco-romana que se fazia sentir.

Renascimento - Já no pré-renascimento se observava uma grande influência das artes antigas. Os artistas que na Itália foram precursores da Renascença eram já influenciados pelos trabalhos que encontravam nas ruínas romanas. Entre os artistas já se começava a chamar a arte gótica de bárbara. Aos poucos foram se restaurando todos os ornamentos gregos; apareceram os capitéis dórico, jônico e coríntio, voltando assim à arte greco-romana. As ruínas de Roma, com os baixos-relevos e as colunas trajanas, foram as fontes de modelo.

Sabe-se que, de 1.500 em diante, felizes pesquisas revelaram inúmeros trabalhos gregos, que seriam mais tarde utilizados pelos artistas. A Religião cristã foi também uma fonte notável de motivos, e os artistas do Renascimento foram versados em assuntos religiosos e mitológicos. Conheciam Homero e Virgílio, mas também a Bíblia.

Interessante é observar que alguns artistas decoravam igrejas com motivos pagãos. Mais que as artes, exerceu influência a literatura antiga de todos os gêneros: prosa, poesia, história, ciência etc. Foram restaurados nos séculos XIV e XV as obras de Cícero e Tácito, que foram encontradas principalmente nos conventos. Boccaccio e Petrarca foram estudiosos do assunto. Platão foi conhecido no século XV. Após a tomada de Constantinopla, inúmeros sábios fugidos para a Itália trouxeram e espalharam o gosto pelos estudos gregos e romanos, e rapidamente formou-se a classe chamada dos humanistas, isto é, estudiosos do grego e do latim.

A Renascença era, assim, uma verdadeira restauração do espírito antigo. Deve-se ter bem em conta o papel desempenhado pelos mecenas da época. Muitos poderosos, entre os quais alguns chefes de Estado, fizeram construir monumentos, palácios, etc. Compravam estátuas e quadros, sempre avivando o gosto pelas artes. Criavam bibliotecas e concediam pensão aos estudiosos, procurando assim, e por todos os meios, desenvolver as artes e as letras. Lourenço de Médicis fez de Michelangelo o companheiro de seus filhos e sobrinhos. O papa Leão X queria dar a Rafael o título de cardeal. Cellini foi absolvido de um assassinato, porque o papa Paulo III entendia que "homens únicos na sua arte não devem estar submetidos às leis". Na Itália destacaram-se, como protetores, os Médicis em Florença e muitos papas. Na França, Francisco I.

Renascimento na Itália - O Renascimento literário na Itália no século XVI destaca-se pela obra de quatro notáveis escritores: Ariosto, Tasso, Maquiavel e Guichardin. Ariosto é autor de "Orlando Furioso"; Tasso escreveu "Jerusalém Libertada"; Maquiavel é autor de "O Príncipe", onde fixa a análise realística duma sociedade política, e a palavra maquiavelismo entrou para todas as línguas com o significado de política habilmente inescrupulosa; Guichardin fez a história das guerras da Itália; podemos ainda salientar os nomes de Giordano Bruno, de uma prosa vigorosa, e Galileu Galilei.

Entre todos os artistas, incontáveis por certo, podemos destacar cronologicamente: Bramante, Leonardo da Vinci, Rafael, Michelangelo, Benvenuto Cellini e Paulo Veronese. Bramante é o maior arquiteto da Renascença; Leonardo da Vinci praticou todas as artes, conheceu muitas ciências, foi físico, músico e engenheiro. Michelangelo é considerado o gênio mais poderoso do Renascimento, pintor, escultor e poeta. Em escultura, produziu "Pietà", "Moisés", o célebre túmulo dos Médicis e as estátuas "Aurora", "Dia", "Crepúsculo" e "Noites"; são notáveis suas pinturas da Capela do Vaticano, "Profetas" e "Juízo Final", como obra arquitetônica temos a cúpula da Igreja de São Pedro em Roma.

Rafael é o maior dos pintores de seu tempo. São obras suas: "Escola de Atenas" (em que resume a história da filosofia), "O Parnaso", "A Disputa do Santo Sacramento" (em que resume a história da Igreja). As obras de Rafael caracterizam-se pela beleza das imagens, pelas graças de expressão e ciência das composições. Foi pintor idealista, o que bem se constata nas "Madonas".

Renascimento na França - Na França o renascimento é posterior ao da Itália. Enquanto o Renascimento Italiano se fez no fim do século XV e na primeira metade do XVI, o Renascimento francês se fez durante o século XVI. É verdade que o Renascimento francês, principalmente artístico, é inferior ao italiano. Nele faltam quase completamente pintores notáveis. Entre os escultores, podemos citar Marot, Ronsard, du Bellay e os prosadores Rabelais, Calvino e Montaigne. Os três primeiros são os criadores da poesia francesa. Rabelais escreveu "Pantagruel", sua obra máxima; é um livro burlesco; em suas aventuras, passa em revista burlescamente, mas com verdade humana, a vida da época, toda sorte de homens vêm à cena, especialmente os das profissões liberais; padres e advogados levam a sua dose de pancadarias. Calvino escreveu a "Instituição Cristã", e Montaigne "Ensaios". Foi ele quem criou esta forma de literatura; entretanto outros apareceram antes, se admitirmos como ensaios os discursos de Aristóteles e Cícero.

As artes praticadas com mais destaque foram: A arquitetura, onde se destacam Pierre Lescot e Jean Bullant; na escultura, Germain Pilon e Goujon; foram todos trabalhos realizados na época de Henrique II e Catarina de Médicis. Lescot deixou "Louvre" e "Santa Eustáquia"; Goujon deixou alguns trabalhos célebres, como "Diana" (esculpida para o palácio de Annet) e as ninfas das "Fontes dos Inocentes". Germain Pilon é autor das 8 estátuas do túmulo de Henrique II e do grupo das "3 graças". A Renascença francesa é antes de tudo sentida na arquitetura. Os edifícios construídos são quase sempre monumentos civis. No século XVI, com raras exceções, construíram-se só palácios. Há duas escolas na arquitetura da Renascença francesa: uns são continuadores da arte medieval, outros há que recebem influência clássica e italiana.

Renascimento alemão - A Renascença alemã se fez mais ou menos na época da italiana. É verdade que não teve seus fulgores no início, e só se desenvolveu propriamente depois do século XVI. Entre os artistas destaca-se Albert Durer, gravador, porém distingue-se como retratista a óleo.

Na Holanda temos o escritor Erasmo, o maior humanista da época. Na Península Ibérica temos na Espanha Cervantes e o poeta Lope de Vega, e em Portugal o Poeta Luís de Camões.

O regime colonial no século XVIII

Países colonizadores - Os primeiros países a criar colônias no fim da Idade Média foram Portugal e Espanha. Porém, muito não demorou para que a Holanda lhes seguisse os passos. As guerras de independência dos Países Baixos deram motivos para isto. Também a França cuidou do problema. A Inglaterra, depois de Isabel, e principalmente após o "Ato de Navegação de Cromwell", se tornou potência marítima e colonizadora.

O novo conceito de colônia - Tem o termo colônia, na idade moderna, conceito diferente do que se observa na antiguidade, e mesmo, sob muitos aspectos, distingue-se da colônia contemporânea de um modo geral. Colônia, na antiguidade (Fenícia e Roma), eram fundações em regiões desabitadas.

As colônias contemporâneas, quando não para satisfazer um excesso demográfico (italianos etc.), assumem sempre o aspecto comercial. São mercados que se buscam para a produção (ingleses etc.). A colônia moderna é uma fonte de exploração. Estabelecidas entre povos incultos, as nações europeias faziam toda sorte de extorsões, estabelecendo sempre, como mais prático meio para se chegar a este resultado, o regime do monopólio. Era a colônia nos tempos modernos um feudo do Estado, por isso que em geral a extorsão se fazia em benefício do Estado Metrópole.

É real que muitos particulares se enriqueceram nesta época à custa das colônias, porém eram eles sempre arrendadores ou enviados do Estado. É a este sistema de colônia (extensão no máximo, domínio do Estado, regime de monopólio) que se convencionou chamar regime colonial, no século XVIII.

Companhias de comércio - Muitas vezes impossibilitado de a fazer por si, cedia o Estado a exploração comercial a particulares. Era o sistema das "encomendas", entre os espanhóis, e das companhias de comércio. A primeira companhia originou-se na Holanda, com o nome de "Companhia das Índias Orientais", e tinha como fito prejudicar o comércio espanhol e português no Oriente.

Foi esta a companhia típica. Tratava-se de uma sociedade, e os acionistas compunham-se de particulares, cidades e governo. A sua exploração era realizada por meio de esquadras, porém eram organizadas por navios de particulares. A companhia fornecia uma frota de guerra, que protegia a esquadra comercial.

Inúmeras companhias se foram formando. Com as mesmas características fundou-se ainda na Holanda a companhia de comércio das "Índias Ocidentais", visando ainda prejudicar o comércio espanhol e português no Ocidente. Os países colonizadores cediam também a empresas particulares o comércio em determinadas regiões, imitando assim os seus adversários, com uma única diferença: nestes países as companhias de comércio eram formadas para explorar as regiões conquistadas, e não regiões a conquistar.

Alguns exemplos podem ser citados entre as inúmeras companhias que se formaram. Já vimos duas na Holanda. Na Inglaterra havia as da "América do Norte". Em Portugal originou-se a companhia de comércio do Brasil, outra do Grão Pará. Na França houve a das índias, a da Guiné, Cabo-Branco, etc. Em 1769 havia na França 55 companhias de comércio. Na Espanha prevaleceu principalmente o regime das "encomendas". Essas companhias de comércio deram altos dividendos.

Regimes coloniais

Colônias portuguesas - Os portugueses fundaram os seus estabelecimentos apenas com objetivo comercial. Seus navios de guerra eram ao mesmo tempo navios comerciais, porém este sistema era bastante caro. Os particulares não podiam ir às zonas de comércio, senão com autorização do Estado. Os funcionários, nomeados por 3 anos, procuravam se enriquecer rapidamente, administrando muitas vezes mal, impedindo os particulares de comerciar.

Na costa da África os estabelecimentos eram penitenciárias, para onde se deportavam os condenados. O porto de Luanda chegou a exportar em um ano cerca de 70 mil escravos. O Brasil, não possuindo população produtora, foi nos primeiros tempos abandonado. Foram condenados e alguns judeus que introduziram a cana de açúcar. Aventureiros exploravam as minas, e no século XVIII o governo português não conseguira impor orientação aos homens que haviam galgado o planalto. Mas assim que o Brasil se tornou uma colônia produtiva, foi o monopólio de comércio dado a companhias de comércio.

Colônias espanholas - O governo espanhol tinha-se tornado senhor de inúmeras possessões na América, porém não desejava criar uma nova Espanha povoada por espanhóis; queria ganhar os selvagens para a Fé cristã, aumentando os domínios. As colônias eram como que grandes propriedades. Para se vir à América tinha-se que obter autorização do Estado, os navios não partiam sem que seu comandante provasse que só levava gente autorizada. Para obter essa autorização era preciso um motivo justo, e ser de família católica. Assim mesmo, quase sempre a autorização era dada por dois anos.

Era assim dificultado o estabelecimento nas colônias. Em 1550 não havia mais do que 15 mil espanhóis, esta a razão pela qual o elemento índio forma grande parte das populações da América espanhola. O governo era exercido unicamente por espanhóis: de 160 vice-reis que teve a América espanhola até o século XIX, só quatro foram "crioulos", e de 369 bispos até 1673, apenas 12 foram "crioulos". A classe dos crioulos, para não poder agir em comum, era dividida pelos espanhóis em crioulos de sangue azul, gente de cor etc.

Todas as colônias eram organizadas da mesma maneira que a Espanha: sistema feudal com as "encomendas", pagamento de impostos nas mesmas bases usadas na Espanha, censura das publicações, ação plena da Inquisição. Em suma, uma sociedade velha em um país novo. Aos americanos não cabia direito nenhum. "Aprendei a ler — dizia um vice-rei —, a escrever e a dizer vossas orações, e isto é tudo que um americano deve saber". Como a América tinha sido descoberta e ocupada pela coroa de Castela, o comércio pertencia a ela, e naturalmente era realizado pelos seus portos. Todo navio que partia precisava passar em Sevilha. Mais tarde o monopólio se transportou para Cádis. Os navios formavam sempre caravanas, viajando juntos, e havia duas caravanas por ano.

Colônias holandesas - Tem origem na pesca do arenque na América do Norte. No século XVIII os holandeses possuíam a maior parte do comércio da Europa, porém exerciam de preferência o papel de intermediários, pois que pouco tinham a vender de seu. Suas colônias pertenciam às companhias de comércio, que as tinham conquistado em geral dos portugueses. Procuravam ser mais liberais no comércio, procurando relações amigáveis com os soberanos. Vendiam por um preço mais em conta e compravam também a bom preço. Seu princípio era: ganhar pouco, porém em grande quantidade. Não tinham despesas com o estabelecimento de ocupação, entretanto foram adotando os processos dos outros países: destruíram os holandeses os indígenas das Molucas. A guerra com a Inglaterra pôs fim a este comércio.

Colônias francesas - Eram organizadas como as províncias da França. Não podiam administrar-se por si, um intendente decidia todas as questões. Transportou-se à América a censura, e também a perseguição religiosa: os protestantes não eram recebidos nas colônias, e os colonos estavam em má situação; não tinham liberdades, o monopólio do comércio era dado todo a companhias que forçavam os seus produtos, era proibido instalar fábricas, as mercadorias eram vendidas bastante caras. Assim o estabelecimento na América tornou-se difícil.

Colônias inglesas - As tendências coloniais da Inglaterra começaram com Isabel, porém foi Cromwell, no "Ato da Navegação", quem mais profundamente tratou do problema. Tomaram uma direção diferente, estabelecendo o regime colonial que devia servir de modelo. Afastaram-se do monopólio, para procurarem a livre concorrência. Fundou-se a Companhia das Índias, que aos poucos foi criando feitorias. Mais tarde o Tratado de Paris trouxe grande quantidade de colônias para a Inglaterra.

Desenvolvimento do Império Otomano

Formação do Império Otomano - Durante a Idade Média as tribos turcas da Ásia organizaram-se sob a ordem de Osman. Este povo iniciou então um avanço para o Ocidente. Como Constantinopla resistisse, eles tomaram Galípoli, na Península Balcânica, onde fizeram sua residência. Em 1453 Constantinopla foi tomada pelos turcos. Rapidamente eles se expandem pelo sul da Península Balcânica e pelo Mediterrâneo. Estava assim, nas mãos dos turcos, um vastíssimo território, que compreendia na Europa grande parte da Península Balcânica, toda a Ásia Menor e grande parte da Ásia Central, e na África o Egito. A primeira invasão para o Ocidente foi detida em Belgrado, mas já os turcos estavam estabelecidos na Europa.

O império turco na Idade Média - A indisciplina dos janízaros, a tendência para o luxo, que acompanhava os sultões, e as intrigas de palácio começaram a enfraquecer o império. Também para tanto influía a pequena porcentagem de turcos, relativamente ao número de habitantes do império. Os primeiros-ministros (grão-vizires) foram os últimos conquistadores turcos. Foram até Creta, procurando se estabelecer na Hungria. Chegaram mesmo a ameaçar Viena, sendo porém batidos em São Gotardo. Mais tarde tomaram Creta, e após isto invadiram novamente o império austríaco. Sitiaram Viena, que quase se rendeu, mas foi socorrida pela Polônia, sendo obrigados então os turcos a recuar. Logo depois o Duque de Lasona vence-os em Budapest, e o Príncipe Eugênio mais tarde os desbarata completamente em Ponte de Zenta. Com estas derrotas os turcos perderam grande parte de seu território.

O império turco na Idade Contemporânea - Na Idade Contemporânea o império turco entra muito ameaçado. Ao lado de uma boa aparência, ele está entretanto minado no seu interior. De fato, a sua posição entre três continentes e sua grande extensão pareciam mostrar estarem os turcos ainda bem sustentados, interiormente. Porém sérios problemas existiam: não tinha sido possível a assimilação dos cristãos; os janízaros formavam elementos de indisciplina; os auxiliares do sultão possuíam grande poder; o desmembramento do império turco já estava preparado pela Áustria e Rússia, nos fins da Idade Moderna. Estas nações iriam forçar o desmembramento do Império Otomano.

Revoltas dos sérvios - Os sérvios, provocados pelos janízaros, se revoltaram, porém esta revolta era contra os janízaros, e não contra o império turco. Mas a pressão feita pelo sultão foi de tal modo violenta, que os sérvios se revoltaram mais tarde, conseguindo sua autonomia.

A Grécia e sua independência - O califa de Constantinopla entrou em luta com o Paxá, e pediu o auxílio dos gregos. Estes, reunidos, resolveram proclamar a sua independência. A Europa toda apoiava-os moralmente, mas o Paxá do Egito enviou seu filho Ibrahim contra os gregos. Os europeus responderam auxiliando materialmente a Grécia, e na batalha de Navarino a frota franco-inglesa destruiu completamente a esquadra turca. Esta batalha foi dada como acidental, e a França e a Inglaterra resolveram mudar de política, mas a Rússia arvorou-se então em defensora dos gregos. Os turcos foram batidos em diversas batalhas, terminando a campanha com a paz de Andrinopla.

Por este tratado a Grécia se tornava independente (a Grécia desse tempo não tinha as dimensões atuais, era menor). A Sérvia e as províncias rumaicas tornavam-se autônomas. A Rússia recebeu a foz do Danúbio e o direito de passagem no estreito. A Valáquia e Moldávia, que eram tributárias da Turquia, foram ocupadas pelos russos como pagamento das dívidas da guerra.

Guerra turco-egípcia - O Paxá do Egito entrou em conflito com o sultão. Os turcos foram batidos em vários combates, e os russos pretenderam auxiliar a Turquia, mas apesar disso os egípcios tornaram-se independentes. Foi novamente preparada uma segunda guerra (pela Turquia), para reconquista dos territórios perdidos, sendo novamente vencida. A Inglaterra e a Áustria, temendo prejuízos com a aliança russo-turca, resolveram negociar o "Tratado de Londres", em 1840. A guerra da Criméia veio em auxílio da Turquia, salvando-a do desmembramento completo, isto é, da ameaça russa. Foi assinada depois a paz de Londres, que introduziu várias modificações, e o império turco foi garantido pela França e Inglaterra. A questão do Oriente permaneceu sem incidentes até a guerra franco-prussiana.

Guerra russo-turca - Os sérvios se revoltaram por volta de 1875. A Rússia, valendo-se deste incidente, invadiu a Turquia, que se encontrava desorganizada, impondo-lhe um tratado pelo qual a Rússia recebia a Bessarábia. A Sérvia e a Bulgária tornavam-se independentes, e a Rumânia recebia o sul do Danúbio. Era o desmembramento quase completo da Turquia. A Rumânia tornou-se autônoma, a Áustria recebeu alguns territórios e a Sérvia ficou independente. Em 1911 deu-se a guerra ítalo-turca, pela qual a Turquia perdeu o que lhe restava no Norte da África e várias ilhas no Mediterrâneo. De 1912 a 1913, aproveitando os embaraços da Turquia, os países balcânicos atacaram-na. Gregos, sérvios e búlgaros combatiam pela independência da Macedônia. Pela paz de Londres, à Turquia só restou Constantinopla e pouco mais. Na Primeira Guerra Mundial, vencida pelos aliados, teve que assinar a paz. Por esta só lhe restava na Europa Constantinopla, com pequeno território, daí a mudança da capital para Angorá, e na Ásia seus territórios diminuíram. Depois, com o governo de Mustafá Kemal, foi-lhe restituída Andrinopla pelo tratado de Lausanne.

A indústria moderna

Os últimos 80 anos da Idade Contemporânea se caracterizam por um grande desenvolvimento econômico, industrial ou comercial. Concorrem para isto fatores vários, destacando-se entre eles o desenvolvimento científico. As ciências, mormente as experimentais, fizeram durante a segunda parte da Idade Contemporânea progressos surpreendentes. Máquina a vapor, eletricidade, aviação, automóveis, rádios, telefone, motores de explosão etc., deram ao homem grandes vantagens na produção industrial. A indústria procura aproveitar-se de toda inovação científica, e as descobertas são logo utilizadas. Infelizmente, este grande desenvolvimento industrial e material tem feito, em geral, com que o homem abandone em grande parte o espírito.

Formação da grande indústria - As transformações econômicas e o grande desenvolvimento acarretaram a organização de um novo tipo de indústria. A indústria na Idade Moderna era de domicílio, e em geral dispersa. Na Idade Contemporânea a formação de grandes capitais e companhias empreendedoras tem feito com que a indústria se concentre, isto é, que se localize em pontos mais favoráveis.

Nesta concentração a indústria tem sido uma das causas do povoamento e desenvolvimento de certos centros urbanos. Surgiu também um novo problema: os grandes industriais, não podendo estar em contato com os operários, tornou-se necessária a criação de órgãos intermediários. E o desconhecimento mútuo, cada vez maior, entre as classes operárias e patronais, teve como consequência o aumento da "luta de classes".

A tendência para "criar" necessidades - A propaganda industrial e a necessidade da venda dos produtos têm determinado o aparecimento de inúmeras "necessidades". Dado o desenvolvimento industrial, o homem torna-se, dia a dia, mais exigente.

Desenvolvimento do comércio contemporâneo

O comércio, na segunda metade da Idade Contemporânea, sofreu como a indústria, e ao lado dela, uma grande transformação. O "comércio mundial" tornou-se muito mais importante do que o "comércio local", que era a forma preferida anteriormente. Deve-se esta grande transformação principalmente à evolução dos meios de transporte. De fato, as descobertas científicas e o desenvolvimento da ciência em geral acarretaram grande facilidade nos transportes.

Transportes terrestres - O primeiro em importância, dos meios de transporte terrestres, foi a estrada de ferro, que sofreu grande evolução. Como se vê, todos os países têm contribuído para o seu aumento e aperfeiçoamento, a perfeição das locomotivas, a sua eletrificação, etc. Ainda vem aumentar o desenvolvimento dos transportes terrestres a invenção do automóvel, que muito se tem aperfeiçoado nos últimos tempos.

Transportes marítimos - A navegação fez notáveis progressos. Em 1838 colocava-se a hélice nos navios, em 1877 construíam-se navios de aço, em 1890 surgiam os submarinos, e modernamente a construção dos motores diesel. De sorte que desde a metade do século passado puderam ser fixas as rotas e respeitados os calendários marítimos. Contribuiu também para o desenvolvimento da navegação a abertura de vários canais, como Suez e Panamá.

Navegação aérea - Com a invenção do aeroplano e dos dirigíveis, cuja definitiva aceitação se estabeleceu em 1929 com a viagem do Conde Zeppelin, as comunicações também ganharam bastante. Também com a invenção do telefone, do telégrafo, dos cabos submarinos, etc. O aumento comercial deu-se em três sentidos: 1) Extensão do campo, isto é, aumento das relações; 2) Entrada de novas mercadorias; 3) Intensidade de circulação.

Consequências comerciais - O desenvolvimento do comércio trouxe o aumento de produção e consumo, e o desenvolvimento industrial trouxe o progresso comercial, cuja grande expansão mais fez aumentar e desenvolver a indústria. Os novos campos de comércio exigem o desenvolvimento industrial, isto é, aumento de produção e barateamento dos produtos. O desenvolvimento industrial produziu consequências em todos os campos da atividade humana.

Consequências econômicas - Economicamente, permitiu o aumento da troca, a formação de grandes capitais e maior consumo. A população do globo tem aumentado, e também seu poder de produção. O comércio, entretanto, nem sempre tem-lhe dado saída, acarretando sérios problemas oriundos da super-produção, o que aliás tem preocupado quase todos os governos.

Consequências sociais - O afastamento das classes tem acarretado lutas entre elas, e sabe-se que nas grandes indústrias este problema precisa ser bastante considerado. Importantíssima é também a transformação demográfica, que a indústria tem produzido. Sabe-se que há populações cuja média de crescimento tem sido fantástica. Os Estados Unidos servem como exemplo: em 1850 havia 23 milhões; em 1929, 120 milhões. A própria Europa, que em 1850 possuía 260 milhões, em 1929 alcançou 460 milhões. Ainda demograficamente observa-se um outro fenômeno: o aumento da população urbana em detrimento da rural.

Outros fatores se têm criado, como o sério problema dos desempregados, motivado pelo uso descontrolado da máquina. Mais econômico, sem dúvida, que o braço humano, porém com grande prejuízo para este.

Do ponto de vista da família, podemos dizer: a família do trabalhador praticamente não existe, mormente nos grandes centros, onde a vida é difícil, e por isso os filhos, desde os primeiros anos, são atirados à procura dos meios de subsistência. A esposa muitas vezes emprega-se em fábricas, na maior parte dos casos deixando ao abandono as crianças, que serão os homens de amanhã. Podemos considerar o vulto deste problema pelas atenções que lhe têm sido dispensadas — são os problemas de assistência social.

Consequências políticas - A grande produção requer também grande consumo, e daí a necessidade de mercados, isto é, a luta pelo imperialismo comercial, a maior ameaça à paz em nossos dias. As potências industriais têm necessidade de colônias que lhes garantam a compra e fornecimento de matérias-primas. Isto vem influir sobre a política, com as competições entre as grandes potências: a política dos protetorados, das conquistas, etc. As classes sociais vão aos poucos se interdependendo cada vez mais e estabelecendo concessões, colaborando assim para o desenvolvimento dos regimes democráticos e socialistas.

Países senhores do comércio mundial - O Japão surgiu como país comercial durante e depois da Grande Guerra, quando organizou suas indústrias. Domina hoje em grandes regiões do Pacífico e na Ásia, principalmente na China. A Itália entra agora no comércio mundial através de suas colônias, porém sua indústria ressente-se ainda da fraca organização.

A Democracia

Origem - As primeiras tentativas democráticas surgiram na Grécia, em Atenas. A República Romana, ainda que não fosse uma forma democrática (não havia limites de poder), apresentou alguma coisa neste sentido. Na Idade Média o feudalismo, e na Moderna o absolutismo, impediram o desenvolvimento das idéias democráticas. Porém na Idade Contemporânea, com a Revolução Francesa e revoluções nacionais, e em nossos dias com a Grande Guerra, se implantou decisivamente o poder democrático.

Conceito - Entende-se por democracia a organização política que dá oportunidades iguais aos indivíduos, em igualdade de condições.

Dentro das formas democráticas só há um poder, do qual emanam todas as outras funções: é a soberania da nação ou vontade popular. Esta soberania estabelece o limite do poder que ela concede às autoridades. Este limite do poder é a Constituição.

Como defesa desse limite é estabelecido o voto universal e a separação das funções, de maneira que uma regula a outra nas suas funções. Há dois tipos principais de democracia: liberal e social. Na democracia liberal visam-se interesses das pessoas, de preferência; na democracia social, o das coletividades. A democracia se baseia no poder da maioria, e tem fornecido oportunidade para excessos de individualismo.

A democracia na Europa - A grande tentativa para a implantação da democracia na Europa foi realizada em 1789, com a Revolução Francesa, procurando concretizar as idéias de Rousseau, Montesquieu e Voltaire. Com o Congresso de Viena, a democracia sofreu uma grande perda, mas ficaram latentes os seus ideais, como foi demonstrado mais tarde com a revolução de 1848. De fato a Europa, em 1848, foi sacudida por uma série de revoluções, que alguns historiadores já têm reunido com o nome de "Família de Revoluções Democráticas". Manifestaram-se elas mais acentuadamente na França, Alemanha, Itália e Áustria. Em muitos pontos foram os democratas vencidos pelo absolutismo, mas já a maioria das nações monárquicas evoluía para a forma democrática, pois já eram monarquias constitucionais. Em 1870, depois da guerra franco-prussiana, a democracia se acentuou definitivamente na França. A Grande Guerra se encarregou de destruir os últimos tronos absolutistas que permaneciam na Europa central (Alemanha e Áustria).

Democracia na América - As nações americanas adotaram logo após a sua independência a forma democrática. Mesmo o Brasil, que manteve a monarquia, estabeleceu também o regime constitucional. Os Estados Unidos fundaram desde logo uma república. O período áureo da democracia nos Estados Unidos se estende de 1829 a 1860. Depois disto os Estados Unidos foram dirigidos pela classe dos industriais, que desvirtuaram os princípios democráticos em benefício de uma política imperialista. Nota-se hoje nesse país uma grande reação democrática.

Modernamente as doutrinas democráticas passaram a ser combatidas, como incapazes de resolver os problemas político-sociais do mundo atual. A crítica, que provém dos extremismos, não tem entretanto encontrado suficiente eco na América, porém na Europa a democracia já perdeu algum terreno.

Índice

Atrás


Bookmark and Share