Catolicismo Nº 376 – Abril de 1982 ( www.catolicismo.com.br )
Já publicado em 24 dos maiores jornais de 11 nações do Ocidente
Na França: o punho estrangulando a rosa
O PUNHO E A ROSA…
Um punho, que parece mais próprio para o boxe, segura – prestes a espremê-la – a haste de uma rosa. Esta se abre no extremo da haste, leve e graciosa como se estivesse posta num jarro de porcelana. Não é fácil explicitar o significado desses símbolos “heráldicos” heterogêneos, máxime assim justapostos. – O operariado marxista conduzindo o país, que floresce na liberdade? – Talvez. Em todo caso, se eles tiverem sido concebidos para significar tal, dificilmente poderiam ser mais próprios. Pois exprimem bem as esperanças de liberdade que o “socialismo de face humana” se esmera em despertar. Mas há também nos símbolos algo de obscuro e de contraditório. Pois esse punho agressivo e brutal parece incompatível com a flor, como o murro o é com a rosa. Dir-se-ia que tal punho não poderia deixar de se pôr a estrangular a rosa. E que, se a rosa pudesse conhecer um punho como este, cessaria – sobressaltada – de sorrir e começaria a definhar. Não são outras as relações entre o socialismo e uma autêntica e harmoniosa liberdade. Por mais ênfase que ele manifeste em prometê-la, onde ele se instala, se põe a estrangulá-la. É o que se pode recear esteja acontecendo na gloriosa e querida França, bem antes de completado o primeiro ano do governo autogestionário. É oportuno pô-lo em evidência neste momento em que, com o apoio da coligação socialo-comunista, o governo Mitterrand empreende ativamente a propaganda da autogestão em todo o Ocidente. Um exemplo concreto parece ilustrar adequadamente essa apreensão. Diz ele respeito precisamente a uma das liberdades cuja preservação os ingênuos mais esperam do governo Mitterrand, isto é, a liberdade de imprensa. * * *
Como geralmente se sabe, as treze Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFPs – vêm publicando, a partir de 9 de dezembro p.p., em grandes cotidianos de quinze países (Alemanha, Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Portugal, Uruguai e Venezuela) uma Mensagem de alerta sobre a incompatibilidade entre os princípios perenes da civilização cristã, de um lado, e, de outro lado, a reforma autogestionária, na qual o PS prometeu engajar a França, quando das eleições de 1981. Reforma esta gradual, mas também total, demolidora do direito de propriedade sobre o solo, a empresa, a escola privada, invadindo a família para organizar os filhos contra os pais, e não poupando sequer, em seu termo final, os lazeres, o aménagement doméstico e a própria pessoa de cada francês. Em nenhum dos países mencionados encontraram as TFPs obstáculos para publicar, como matéria paga, sua Mensagem. De par em par, abriram-se para elas os órgãos de imprensa. E em nenhum momento estes se julgaram comprometidos, por tal, com um pensamento que, em parte ou no todo, não é o deles. Assim procedendo, tais órgãos foram estritamente coerentes com os princípios democráticos que proclamam como seus. Seria natural que nos grandes cotidianos franceses, ufanos de professar esses mesmos princípios democráticos, a Mensagem das TFPs fosse igualmente fácil de divulgar. Contudo, as TFPs fizeram, neste lance, a amarga experiência do contrário. E se julgam na obrigação de informar a esse respeito não só o público brasileiro, como o de cada um dos países em que a Mensagem vem sendo publicada. * * *
Abstração feita dos órgãos declaradamente socialistas ou comunistas, foi oferecida sucessivamente a seis diários franceses de grande porte, de tiragem superior a cem mil exemplares, a publicação do texto sereno e elevado da Mensagem das TFPs. Entretanto, todos esses órgãos se negaram a fazê-lo. Atitude esta a vários títulos inexplicável, pois: a) órgãos de publicidade ufanos de sua linha democrática – os quais, ademais, divergem entre si em vários pontos importantes – neste caso concreto convergem, com desconcertante unanimidade, nessa recusa. Ficam assim as treze TFPs privadas de publicar, em solo francês, seu pensamento oposto ao socialismo autogestionário; b) Acresce que dois desses jornais chegaram até a se comprometer formalmente a publicar a Mensagem das TFPs no dia 15 de dezembro p.p. (publicação adiada no último momento, por determinação da TFP francesa, pois a atenção do público estava então fortemente atraída pelo caso polonês). – Tão firme era tal compromisso que, na perspectiva de tal publicação, e de acordo com ambas as partes, uma agência publicitária chegara, no dia 11 de dezembro, a receber integralmente o preço estipulado. – Tudo isto não obstante, no dia 6 de janeiro p.p. essa agência prevenia às TFPs que os dois cotidianos em questão acabavam de se recusar a cumprir o compromisso assumido. Motivo alegado: nenhum; c) Como violação arbitrária do pactuado, expõe naturalmente a empresa proprietária de ambos os jornais a ser cobrada por perdas e danos. Mas nem sequer a perspectiva de tal prejuízo constituiu óbice a essa atitude; d) Do ponto de vista desta, e das demais empresas jornalísticas recusantes, a matéria paga é uma das fontes de ingresso mais correntes. A extensão da Mensagem convidaria especialmente a publicá-la. A recusa é, pois, contra a índole das empresas jornalísticas enquanto tais. * * * Uma pergunta se impõe aqui: qual a razão dessa frente única de recusas, para coarctar a liberdade das treze TFPs, na França? E nos confins do horizonte, só uma hipótese explicativa se delineia. Como organizações privadas que são, as entidades publicitárias donas desses diversos jornais podem ser postas, de um momento para outro, no rol das empresas autogestionárias, por deliberação legislativa da maioria parlamentar socialo-comunista. Caso no qual seus atuais proprietários passariam normalmente à situação meramente gerencial, ou perderiam até toda função dentro da empresa.
Assim, não será surpreendente que esses órgãos de imprensa se abstenham de facultar às TFPs uma liberdade de expressão que neles mesmos está, pelo menos potencialmente, golpeada de modo tão profundo. Qual a liberdade efetiva de expressão em um regime no qual, sobre a cabeça de cada dono de empresa jornalística, está uma espada de Dâmocles, suspensa por um cordel cuja extremidade se acha em mãos do Governo? Qualquer que seja o calor consentido de fato aos órgãos da oposição, a situação destes é, de jure, a de Dâmocles sob a espada.
Aliás, é perfeitamente admissível que as oposições calorosas não sejam tão incômodas para um governo quanto outras que, com cortesia e serenidade, focalizam certos temas delicados, dos quais nem todas as correntes de opinião se deram conta. Ora, a Mensagem das treze TFPs põe o dedo em certas chagas doloridas e ignoradas pelo compacto eleitorado católico, o qual foi peso decisivo pró-socialismo nas eleições de 1981. Por exemplo, quando ela focaliza o irremediavelmente incompatível de um regime autogestionário compulsório, com a verdadeira Doutrina da Igreja sobre o caráter naturalmente individual do direito de propriedade. Ou quando aponta a equiparação entre o matrimônio, a união livre e até a união homossexual, segundo a doutrina e o programa do Partido Socialista. Não é intuito das TFPs entrar em polêmica com essas folhas, assim condicionadas pelo moloch autogestionário socialista. Com a presente publicação, visam tão-só as TFPs fazer sentir ao público dos maiores países do Mundo Livre, quanto já parece confinada a liberdade, neste início do regime socialista autogestionário. O que deve levar cada cidadão do Mundo Livre a temer por sua própria liberdade individual, caso o socialismo autogestionário seja implantado no respectivo país. É-se assim levado a crer que uma cortina vai envolvendo a França de hoje. Não é ela de ferro, nem de bambu. É a cortina, como que impalpável, do silêncio publicitário que, inevitavelmente, caminhará para ser total. É este fato que as TFPs levam ao conhecimento de todo o Ocidente. A publicação do presente Comunicado será, por sua vez, solicitada aos mesmos jornais franceses. Contudo, ainda no caso de nova recusa coletiva, as TFPs esperam que a divulgação deste Comunicado fora da França consiga levá-lo ao conhecimento de boa parte do povo francês. E também que, de outro lado, abra os olhos do Ocidente para quanto há de contraditório e impraticável na promessa autogestionária de socialismo com liberdade. Esta constatação é de grande alcance. Pois abstração feita da promessa de liberdade, só resta no regime autogestionário o que ele tem de afim com o comunismo. * * * A Mensagem das treze TFPs sobre o socialismo autogestionário vai abrindo seu caminho largamente pelo mundo afora. E, ao longo deste, tudo tem encontrado: ódios furibundos, críticas infundadas, omissões inexplicáveis, velhas e luminosas solidariedades que nunca se deixaram desonrar pelo medo, incontáveis adesões novas, algumas das quais inesperadas e magníficas. Neste caminho, o presente Comunicado constitui um lance a mais. Consoante com a Mensagem, ele concerne não só o socialismo autogestionário, mas também o comunismo. De tudo isto – e do que ainda acontecer – se escreverá um dia a História. A História épica de um dos supremos esforços empreendidos “in signo Crucis”, a fim de evitar à civilização ocidental agonizante o soçobro final para o qual esta se vai deixando rolar. Depois das grandes campanhas – sempre doutrinárias e ordeiras – das TFPs contra o comunismo, este se cala. Não muito tempo depois, com base em deformações ou calúnias sem alcance doutrinário, têm surgido contra elas ofensivas publicitárias furiosas. Repetir-se-á isto agora? “Qui vivra verra”, diz o adágio popular francês.
São Paulo, 11 de fevereiro de 1982 Festa de Nossa Senhora de Lourdes
Pela TFP brasileira, bem como – com expressa delegação – pelas TFPs, e congêneres, da Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal, Uruguai e Venezuela.
Plinio Corrêa de Oliveira PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE
Do livro “Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira” ( Parte II, Segunda seção, 12. Socialismo autogestionário: denúncia da TFP atinge 33,5 milhões de exemplares e é publicada em 52 países )
Países e jornais onde o Comunicado foi publicado
Alemanha Federal: “Frankfurter Allgemeine” Brasil: “O Estado” (Teresina), “Jornal Pequeno” (São Luís) e “O Progresso” (Dourados) Canadá: “The Globe and Mail” (Toronto) e “La Presse” (Montreal) Espanha: “Hoja del Lunes” (Madrid, Barcelona, Bilbao, Sevilha e Valença), “Sur” (Málaga) e “Servicio” (Madrid) Estados Unidos: “The Washington Post”, “The New York Times”, “Los Angeles Times”, “The Dallas Morning News” e “L’Italo-Americano” (Los Angeles) França: “International Herald Tribune” e “Rivarol” (Paris) Inglaterra: “The Daily Telegraph” (Londres) Itália: “Il Tempo” (Roma), “Giornale di Sicilia” (Palermo) e “Gazzeta del Sud” (Messina) Luxemburgo: “Luxemburger Wort” Nova Caledônia (território francês além-mar): “Corail” (Numea) Portugal: “O Comércio do Porto” e “O Dia” (Lisboa) Suíça: “Tribuna de Genebra” Uruguai: “El País” (Montevidéu) |