"Catolicismo" Nº 166 - Outubro de 1964
CONTINUA ACESA A POLEMICA EM TORNO DE “A LIBERDADE DA IGREJA NO ESTADO COMUNISTA”
Plinio Corrêa de Oliveira
Sob o titulo de “Ne chinoisons pas TC” o Sr.
Henri Carton replicou a um comentário que a conhecida revista de
Paris, “Témoignage Chrétien”, fez a propósito de sua “Carta Aberta ao
Sr. Czajkowski”, da qual demos um resumo em nosso ultimo numero.
Como se lembram os leitores, o Sr. Henri Carton saiu a campo, pelas paginas de “L'Homme Nouveau”, em defesa da tese sustentada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no estudo “A Liberdade da Igreja no Estado Comunista”. Essa tese fôra atacada por uma “Carta Aberta” publicada na revista “Kierunki”, de Varsóvia, subscrita pelo jornalista polonês Sr. Zbigniev Czajkowski, do grupo “Pax”. “Témoignage Chrétien”, órgão, como se sabe, de orientação “católico-esquerdista”, deu-se por escandalizado com a argumentação do Sr. H. Carton e publicou, em seu numero 1035, um editorial assinado por A. V. e intitulado “Nous avons nos chinois”, em que procura refutá-la. Começa esse editorial por dizer que não são somente os comunistas russos que têm seus “jusqu'au-boutistes” chineses: “também os católicos têm os seus extremistas, prontos a partir para uma moderna Cruzada, substituindo o sabre e a armadura antiga pela bem mais eficaz bomba termonuclear”. Transcreve então o Sr. A. V. o trecho do artigo do Sr. H. Carton em que este convém com o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em que é mais grave para um país a perda da fé do que todo o extermínio que uma hecatombe nuclear possa causar. E brada que esse “marchandage” — a fé e a bomba termonuclear ou a paz e a apostasia, lhe parece “atrozmente inaceitável”. Depois de afirmar que o seu “desejo profundo de paz não é covarde desistência diante do materialismo ateu”, o articulista de “Témoignage Chrétien” procura contornar o problema dizendo: “Não cremos que a fé possa ser salva à força de bombas atômicas. Tudo seria, sem duvida, tão mais simples se se dividisse o mundo definitivamente em bons e maus. Aniquilar-se-iam os segundos e os primeiros permaneceriam”. Mas, conclui, essa concepção está bem distante do ensinamento de Nosso Senhor, que censurou os Apóstolos por terem proposto fazer descer o fogo do céu sobre uma cidade que não O quisera receber. A resposta do Sr. H. Carton é vazada nos seguintes termos, transbordantes de verve: • “Obrigado, Sr. A. V. de “Témoignage Chrétien”: se eu lhe evoco os comunistas chineses, o Sr. me faz, não obstante, a honra de me comparar aos Apóstolos que propunham a Jesus Cristo fazer descer o fogo do céu sobre uma cidade hostil. “Se eles não tinham razão, ao menos não lhes faltava fé e combatividade. “Mas não mereço verdadeiramente esta lisonjeira comparação: de um lado sou repreendido por “Témoignage Chrétien”, o que de qualquer maneira é menos grave do que o ser por Nosso Senhor, e, de outro, nunca propus fazer cair o fogo do céu sobre os “maus”. Pelo contrario, termino o meu artigo pondo os comunistas em guarda contra o perigo da violência dos mártires, bem mais terrível que a dos carrascos. “Quando tomo a defesa do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, professor de História na Universidade Católica de São Paulo, contra o Sr. Czajkowski, redator-chefe de um diário de “Pax”, limito-me a dizer, como o professor, que se o triunfo do comunismo significa a perda da fé, é melhor correr o risco de uma guerra atômica do que entregar sem combate o mundo inteiro ao comunismo. Não me faça pois dizer que prego uma guerra nuclear preventiva: amo a paz tanto quanto o Sr., mas receio a exploração do medo [e] pânico da guerra, desse medo que faz dos pacifistas hipnotizados os melhores cúmplices dos belicistas. “O Sr. me faz também a honra, Sr. A. V., de me pôr do lado de um homem violentamente atacado por “Pax”, classificado entre os “belicistas” pelas mesmas razões por que o Sr. entre eles me classifica. “Mas, posto que o Sr. participa desta “etiquetagem”, não me acuse de dividir os homens em “bons” e “maus”. O Sr. mesmo divide os cristãos em “belicistas” e “pacifistas”. “De minha parte eu teria evitado de criticar TC se o Sr. mesmo não me tivesse obrigado a responder. E por que pretende o Sr. que eu suspeito malevolamente o seu “desejo de paz” de não ser senão “covarde desistência diante do materialismo ateu”? Por favor, não tome como um belicismo sangrento o meu desejo de salvaguardar a fé. Cristão, o Sr. deve reconhecer comigo que a perda da fé num mundo dominado pelo comunismo é um mal tão grande que, para afastá-lo, é preciso estar pronto a correr todos os riscos. “A menos que o Sr. afaste o dilema, a transação como o Sr. diz. Mas esta transação não sou eu que lha imponho, Sr. A. V.: é o comunismo. Não me impute pois a responsabilidade dela. “O Sr. poderia também negar o dilema e achar que seria possível uma acomodação no caso de se tornar inevitável o domínio mundial do comunismo; o Sr. pode achar que seria possível, nesse mundo ateu, salvaguardar a fé, talvez até purificá-la das contingencias temporais, sob a condição de dar provas de boa vontade no que se refere à construção de uma sociedade mais justa segundo o plano socialista. “Neste caso eu compreenderia que a situação polonesa lhe pareça interessante e válidos os argumentos do Sr. Czajkowski”.
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