Plinio Corrêa de Oliveira
Sim, nada menos que 150 sacerdotes, pertencentes ao Clero Secular ou a Ordens Religiosas, publicaram há pouco, em Paris, um corajoso Vade-mecum contendo esclarecimentos e conselhos para uso dos católicos franceses, expostos às investidas furiosas do progressismo.
Entre os sacerdotes, são numerosos os doutores em Teologia e Direito Canônico. Quase todos se dedicam ativamente, como Párocos ou Capelães, à cura das almas. Nem todos são franceses: timbraram em apoiar, com suas assinatura, o precioso Vade-mecum, sacerdotes da Holanda, Bélgica, Suíça, Itália, Espanha, Inglaterra, Canadá, Argélia e Dahomey. Noto alguns nomes da Argentina e um do Brasil. Até na Iugoslávia esmagada sob a bota de Tito, um sacerdote valente quis inscrever-se nesta gloriosa lista. O opúsculo também contém palavras de firme aprovação do ilustre arcebispo francês Mons. Marcel Lefèbvre.
O objetivo do Vade-mecum está bem definido nas seguintes palavras, inscritas à maneira de subtítulo na própria capa: “Em vista da tramada destruição da Igreja, 150 padres lembram os princípios essenciais da vida cristã”. Qual – segundo o Vade-mecum – o objetivo dessa sinistra trama demolidora? É esgueirar velhacamente dentro da Igreja uma “Religião Nova” (precisamente como quer o Pe. Comblin). Com efeito, os 150 Padres falam textualmente de uma “Nova Religião”, a qual “por toda a parte estende suas devastações”, tentando arrastar os católicos. Essa trama, essa “Religião Nova”, essa “Grande Heresia” (as palavras são também do Vade-mecum), em quanta coisa deste mundo a fora fazem pensar…
Sigamos rapidamente o itinerário da preciosa pequena brochura.
Começa ela – e quão sintomaticamente – por recomendar certas devoções que já em 1943, em meu livro “Em Defesa da Ação Católica“, denunciei estarem sendo astutamente combatida em certos ambientes religiosos de esquerda: o Rosário, a meditação da Paixão, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, e as visitas ao Santíssimo Sacramento. Ao folhear das páginas, vão aflorando os erros da “Religião Nova” que os 150 Padres denunciam formalmente. Mencionarei alguns:
1 – Deve-se rezar sem sinais externos de adoração: assim, por exemplo, deve-se omitir até mesmo uma simples genuflexão antes ou depois de ter recebido a comunhão;
2 – Deve-se abolir inteiramente o latim na Missa. O Vade-mecum lembra, contrariamente a esse erro, as palavras incisivas do Concílio de Trento: “Se alguém afirma que a Missa deve ser celebrada só em vernáculo, seja anátema” (Sess. XXII, Can. 9);
3 – Os fiéis são obrigados a dialogar a Missa em alta voz, e portanto nenhum tem o direito de conservar um recolhido silêncio durante o Santo Sacrifício.
4 – É-se obrigado a ir cantando à Mesa eucarística, e é proibido conservar-se em mudo recolhimento nessa ocasião.
O Vade-mecum é prático. Ele não se contenta com denúncias, mas sugere atitudes. Por exemplo: nas igrejas em que a aplicação de máximas errôneas, como as acima indicadas, perturbar a legítima liberdade dos fiéis, estes “se acham dispensados de dar seu óbolo” para a manutenção do Culto.
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Entretanto, o ponto capital do Vade-mecum parece-me estar nesse tópico, que peço vênia ao leitor para transcrever na íntegra:
“1 – Se, no decurso de uma Missa ou ofício religioso, os fiéis se sentirem chocados por afirmações inadmissíveis, revolucionárias ou ímpias, ou por ritmos inconvenientes ou blasfematórios para o recinto sagrado, cumpre-lhes o dever de protestar ou retirar-se ostensivamente. Mais vale faltar à Missa, mesmo em dia de Páscoa, do que acumpliciar-se com o que ofende à honra de Deus. Neste caso extremo, o fiel deverá compensar a privação da Missa com orações particulares.
“2 – Os fiéis que se hajam sentido perturbados em sua fé, e a fortiori se hajam escandalizado, com as homilias de certos pregadores, têm o dever de, nessas Paróquias, só chegar à Missa depois da homilia. Cumpre a cada qual preservar, a todo o preço, a sua fé e a de seus filhos.
“3 – Nenhum fiel é obrigado a assistir a uma missa que, por razões teológicas, seja provavelmente inválida”.
E o opúsculo acrescenta: “Cerrai fileiras, quanto possível em torno dos bons Padres, desertai as igrejas do Clero modernista, não hesiteis diante consideráveis sacrifícios para ir aos ofícios celebrados dignamente”.
Ainda mais adiante, o Vade-mecum acusa o “Fundo obrigatório” catequético de “falsear para todo o sempre, no espírito das crianças, certas verdades de nossa fé”, e menciona a título de exemplo a Santíssima Trindade, a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Virgindade de Maria, a Maternidade Divina, o pecado original, o pecado mortal, a graça, o juízo final, o inferno, o purgatório, os Anjos, a Presença real, o sacramento da Ordem, a Extrema Unção etc.
O Vade-mecum acusa também o “Fundo obrigatório” catequético de apresentar a Fé “como uma pesquisa orientada para o mundo, a Religião como uma experiência sensível ou uma forma de humanismo, a Salvação como a realização progressiva do homem na construção do mundo” etc. E, depois de acrescentar que “nenhuma autoridade humana, ainda que eclesiástica, pode impor um catecismo que não seja conforme a Fé”, conclui que, quando uma instituição eclesiástica adota um tal catecismo, é melhor que os próprios pais se incumbam da instrução catequética no lar.
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Por estas palavras se entrevê a que extremo chegaram, na França, os atrevimentos do erro. É compreensível que, ipso facto, se tornem ali necessárias, ao mesmo tempo, tão nobres e santas audácias da Fé.
A atitude destes 150 denodados sacerdotes de Jesus Cristo honra a Igreja e é sumamente proveitosa à França. À França, sim, dizemos, à França enquanto Nação. Pois a um país, considerado em sua natureza essencialmente temporal, nada é mais nocivo do que as pregações revolucionárias que o Vade-mecum denuncia…