Reunião de 5 de agosto de 1975, Terça-feira
A D V E R T Ê N C I A
Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios da TFP, não tendo sido revista pelo autor.
Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
“Católico apostólico romano, o autor deste texto se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.
As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.
…parece que determinou um certo interesse na reunião de sábado, e vários participantes da reunião me pediram que desenvolvesse essa matéria aqui hoje à noite. E a questão é o problema da tragédia dentro da vida humana.
Antes de tudo eu quereria tratar do sentido em que eu tomo aqui a apalavra “tragédia”. Eu cheguei a… comigo essa precaução é raríssima, eu sou muito, eu gosto de ler, mas não consulto quase dicionários, nem livros para tirar citação, nem nada. Mas eu fiz uma exceção dessa vez e ontem à noite eu consultei o “Larousse” para ver exatamente quais eram os limites demarcatórios entre tragédia, comédia, drama etc., e não encontrei nenhum limite verdadeiramente demarcatório, preciso.
E por isso resolvi adotar para a palavra tragédia a significação, que é do português corrente, e o sr. Fernando Antunes me disse que é também do castelhano, na linguagem corrente que é a seguinte: uma peça de teatro que explore um infortúnio, que exponha e trate, elabore e aborda a questão de um infortúnio se chama um drama. Quando o infortúnio é um infortúnio enorme que cria uma situação crítica, cria uma crise com desenlaces violentos etc., isso se chama uma tragédia.
De maneira que então, também na vida corrente, um drama e uma tragédia na linguagem corrente há uma certa diferença. O drama na vida de alguém é alguma coisa, vamos dizer por exemplo, seria uma tragédia se, por exemplo, de repente se encontrasse nele um câncer e ele estivesse às portas da morte, um câncer inesperado que aparecesse, vamos dizer, coincidindo com a data, não sei, das bodas de prata dele, esta situação poderia ser chamada uma tragédia.
Tomada a palavra tragédia neste sentido, eu sustentei a tese seguinte que… eu desenvolvo um pouco a tese que eu sustentei.
Que há um erro muito frequente hoje em dia a respeito da vida terrena, que consiste na seguinte convicção a meu ver largamente espalhada por aí por fora – mas larguissimamente espalhada, vamos dizer que ela é mesmo a muito grande generalidade das pessoas pensa assim – que a existência terrena oferece, em princípio, ao homem meios para ter um contentamento enorme e durável, de maneira que o homem bem sucedido na vida é aquele que se arranja de maneira a conquistar esse contentamento se ainda não o possui; a conservá-lo e aumentá-lo se já o possui.
Mas, resumindo, se bem que todo mundo saiba que a felicidade perfeita não é desta vida e que haverá sempre pessoas que sofrem – todo mundo sofre por alguma coisa – tem-se a convicção corrente de que para as pessoas felizes o sofrimento é francamente secundário em relação ao deleite, de maneira que a vida vale largamente a pena ser vivida, para os felizes, para os que têm – vamos usar a expressão errada doutrinariamente – para os que têm “sorte”. A vida vale largamente a pena ser vivida. Primeiro ponto.
Segundo ponto: é certo que a felicidade nesta vida não é eterna, porque o homem morre. Mas é certo também que há pessoas que conseguem obter a felicidade para a vida inteira, ou para períodos da vida tão grandes que a bem dizer dominam a vida.
Vamos dizer que um homem que se mantenha muito feliz desde que nasceu até aos 60 anos, e depois aos 61 anos tenha um derrame cerebral e morre aos 62 anos, esse se poderia chamar um homem muito duravelmente feliz. O período de infelicidade que ele teve foi um período pequeno que ele teve em comparação com o período da felicidade. A felicidade absorve a infelicidade, também debaixo desse ponto de vista.
De maneira que a convicção geral é de que com jeito, com o “savoir faire” [saber fazer, habilidade, n.d.c.], manobrando habilidosamente as coisas, um homem com sorte ou ajudado pelos santos, sobretudo certos santos – São Judas Tadeu e outros, ou então Antoninho Marmo e outros no cemitério da Consolação etc. – ou os espíritas com as sessões espiritas – eu estou longe de dizer que o Antoninho Marmo tenha sido espírita – os espíritas das sessões espíritas e tal, conseguem ajudas extraterrenas que o apoiam à conquista dessa felicidade, e que essa felicidade é possível nesta Terra.
A partir do momento de que se tem essa convicção – mais ainda, há muitas pessoas que tem a convicção de que essa felicidade em muitos casos é obtenível sem pecado – então a partir desse momento a impostação da pessoa na vida é a seguinte: “a razão de ser da vida é eu conseguir essa felicidade. Eu me esforçarei, eu me empenharei etc., de maneira a obtê-la uma vez que ela é obtenível”, primeiro ponto;
Segundo ponto: “serei um fracassado se eu não obtiver para mim essa felicidade; eu terei sido um tipo errado que não soube vencer as circunstâncias da vida; ou terei sido um “azarado”, um tipo perseguido por Deus, mal visto pelos fados, mal visto pelo destino e que foi esmagado, mas de si eu, por mim, devo procurar essa felicidade quanto possa”.
“Se me acontecer uma desventura eu considerarei isto uma coisa do outro mundo, uma coisa inaceitável, uma coisa revoltante e procurarei arrastar a minha vida na tristeza, no aborrecimento, ou procurando uma micro felicidade dentro da desventura, porque mesmo aí a micro felicidade é possível. O homem vive para pegar a felicidade”.
Esta tese tem como corolário a seguinte posição face ao Céu: “desde que eu pegue a felicidade nesta Terra e eu pegue um lugarzinho no Céu, eu peguei no Céu uma continuação dessa felicidade”.
“O Purgatório é um episódio aborrecido; mas há indulgências, Nossa Senhora liberta… Depois estando no Purgatório já é certo que eu vou para o Céu, de maneira que o grande problema é eu, na Terra, não ir para o Inferno e gozar a vida como puder”.
“O binômio desta existência é eu não ir para o Inferno e gozar a vida como puder. Depois eu caio no Purgatório…, mas também de lá, por mais que dure o Purgatório, de lá eu saio para uma eternidade tão feliz… por último que seja o lugar que eu pegue no Céu, que eu ainda construí bem a minha existência”. Pensam os que têm restos de fé.
Então também vem os tais cálculos: “eu vou pecar para conseguir a felicidade terrena, mas eu me confesso depois, eu me arrependo depois, de maneira que eu não vou para o Inferno, quem sabe até se nem vou para o Purgatório…”
Então, para uns, esse raciocínio incita a viver no limite mínimo do estado de graça; para outros incita a viver numas alternativas entre o estado de graça e o estado de pecado; e para outros por fim, o delírio de obter a felicidade na Terra incita a viver em estado de pecado mesmo, dizendo: “Bem, eu à última hora me arrependo, ou se não me arrepender, eu vou para o Inferno, eu nem sei se existe Inferno, o que eu quero é me divertir”… E imerge na “vida boa” e depois vai para o Inferno…
Ora, em função desta concepção levanta-se também uma concepção do homem: o homem perfeito é o que soube vencer na vida, ou seja, obteve para si esta felicidade. Pelo contrário, o homem fracassado foi o que não soube obter para si esta felicidade.
Então quais são as qualidades que um homem deve ter? O conjunto de qualidades pelas quais ele vence. O “santo”, quer dizer, o homem perfeito da era moderna, o santo perfeito da era moderna é aquele que vence na vida, que tem as qualidades para vencer na vida. Pelo contrário, o réprobo, o condenado da época moderna é aquele que não tem condições para vencer nesta vida e, portanto, é o torto e o errado. E está terminado o horizonte.
Para a doutrina católica, qual é o pensamento, qual é o ensinamento na doutrina católica que recebem os homens a respeito disso?
Primeira coisa é a seguinte: é que o homem de fato podia ter nesta Terra uma vida feliz. E que ainda mais, se bem que ele fosse mortal por natureza, esta vida feliz terminaria para ele não na morte –– que é uma coisa que arrepia, que assusta, é uma destruição do ser –– mas uma apoteose. E era, se o pecado original não tivesse sido cometido e os homens vivessem no Paraíso.
No paraíso terreno, de fato, o homem não tinha desventura nenhuma. Ele era mortal, mas quando tivesse terminado a sua vida terrena, em que a fidelidade à virtude não era para ele penosa porque ele não tinha a apetência desregrada para o mal; bem, ele tivesse terminado segundo os desígnios de Deus, a vida terrena, quer dizer, quando ele tivesse atingido o grau de virtude que segundo Deus ele deveria atingir, em vez de ele morrer, Deus aparecia para ele e ele era glorificado, presumivelmente na presença de todos os outros homens e levado para o Céu e presumivelmente todos os outros homens assistiriam a glorificação que Deus faria daquele, na Terra, à espera da glorificação que ele receberia ato contínuo no Céu.
Os senhores sabem que é também da doutrina católica que se não tivesse havido pecado original os homens teriam desenvolvido uma civilização na Terra. Que eles teriam desenvolvido a natureza de maneira a lhes servir perfeitamente. Eles teriam cidades, eles teriam nações, eles teriam leis, eles teriam justiça, eles teriam tudo quanto tem um povo ultra organizado, altamente “culturado”, os homens teriam.
E então nós poderíamos imaginar o que é que seria num jornal do Paraíso Terrestre –– se é que no Paraíso Terrestre haveria jornais e não arautos, –– o que seria um jornal do Paraíso Terrestre a secção necrologia? Seria a seção glorificação e o título, o cabeçalho poderia ser eventualmente: “Deus Nosso Senhor se dignificou de elevar esplendorosamente em sua glória, ontem à tarde, o senhor fulano de tal. O arcanjo São Gabriel, seu patrono, apareceu. São Miguel estava ao lado dele. Apareceu tal e tal outro santo. O coro celeste entoou a mesma canção que tradicionalmente entoa quando os membros dessa família são chamados ao Céu, mais tal antífona da glorificação pessoal dele. Todo mundo que o conheceu estava de joelhos neste ato augusto que se realizou no lado externo da Igreja de tal, depois de ele ter recebido a Sagrada Comunhão. E ele subiu ao Céu a tantas horas, com uma alegria geral. A família espera felicitações”…
Esta seria a necrologia desta, quer dizer, nem era necrologia, não havia morte, havia uma despedida, mas uma despedida feliz, no gáudio geral. Essa seria a vida terrena.
A vida terrena assim seria inteiramente feliz, e ela nem sequer tinha o lado triste de ser provisória, porque ela emendava com uma vida ainda mais feliz. Ela era de fato limitada, mas para desembocar numa vida ainda mais feliz e o homem portanto levava, no Paraíso Terreno, uma existência inteiramente feliz.
Mas a doutrina católica nos ensina também que em virtude do pecado original e de tudo quanto se lhe seguiu, a vida do homem passou a ser infeliz. Mas passou a ser fundamentalmente infeliz. E que não há um homem na Terra que leve uma vida durável que ele possa chamar de autenticamente feliz. Quer dizer, a felicidade da vida –– se nós por felicidade entendermos a satisfação de todas as apetências do homem, de maneira, e eu falo das apetências legítimas, de maneira a proporcionar ao homem um contentamento físico e espiritual inteiro –– isto nesta terra não existe.
Nos estudos do MNF nós andamos lendo um filósofo, [Edgar] De Bruyne [1898-1959], filósofo da estética [autor de “L’esthétique du Moyen Âge”], que imagina este estado de felicidade para o homem: um homem que esteja num ambiente onde ele está vestido com o traje que ele gostaria mais de ter; na sala em que ele gostaria mais de estar; no móvel que ele reputaria mais honorífico, mais cômodo e mais belo; ouvindo a música mais agradável; sentindo os perfumes mais deliciosos para ele e mais em harmonia com essa música; tendo diante de si o alimento mais delicioso e mais em harmonia com essa música; e, vamos dizer, passando as mãos sobre o tecido mais aveludado e mais sedoso que ele poderia imaginar; conversando com as pessoas de melhor conversa que ele poderia querer, ele teria um determinado momento em que uma felicidade inteira o tocaria.
E era uma felicidade da alma e do corpo. Do corpo porque o corpo estaria todo –– imaginamos esse homem em perfeita saúde –– o corpo estaria todo ele penetrado por elementos de felicidade. Da alma, porque esses elementos materiais de felicidade eram símbolos de valores espirituais, e de valores espirituais capazes de contentar a alma dele inteiramente. Então, esse homem poderia realizar na Terra a felicidade. Está bem.
Mas se ele realizasse essa felicidade ela seria provisória, ela seria até fugaz, não seria durável, porque o homem é feito de tal maneira que a partir do momento em que ele está nesse estado, ele caminha para uma sensação de saciedade. E a partir do momento em que ele caminha para a saciedade, ele caminha para a náusea e caminha para o desejo de uma mudança, ele quer uma coisa que não é aquilo. E mais ainda, não é dizer, que ele queira uma coisa um pouco diferente, mas ele tende para uma coisa que é totalmente o contrário daquilo. Quer dizer a grande saciedade de alguma coisa leva a desejar, por saciedade, o contrário daquilo que se tem.
De maneira que ao cabo de algum tempo o homem quereria outros companheiros, ele quereria outros alimentos, outros trajes, outras músicas, outro lugar também. Ele não se contentaria com qualquer coisa de fixo, porque a natureza humana por defeito, se tornou fugidia, ela se tornou mutável e ela procura sempre uma coisa diferente.
Em segundo lugar acontece o seguinte, e é o mais triste: é que o homem sabe que esta felicidade que ele teria fugazmente e que ele abandonaria para procurar outra coisa, ele depois não conseguiria aquela outra coisa a não ser com muito esforço e de um modo incerto, e de modo incompleto. Porque esse estado que o De Bruyne figura é um estado quase inimaginável, tão raro na existência dos homens, que ele é um estado quase inconcebível. Nem se acredita, nem se toma a sério, que a pessoa possa estar nesse estado, ou se puder estar, esteja mais do que algumas horas, e para falar em algumas horas e não falar em alguns momentos…
E como o homem percebe a fugacidade disso, ele já por aí, fica angustiado. O medo de perder, o medo do que virá depois cria nele uma perplexidade. E a simples perspectiva da luta, da dor, do infortúnio já lança o homem na luta, na dor e no infortúnio. De maneira que nesta Terra, mesmo no ápice da felicidade, o homem é perseguido pela sombra da infelicidade.
Para não ir mais longe basta considerar o aspecto saúde. Em todos os homens se verifica essa definição de saúde dada por um francês –– eu li numa revistinha francesa e achei primorosa, nunca mais me esqueci: “a saúde é um estado precário que termina mal”.
Vamos dizer que um homem morra com 110 anos, saudável a vida inteira. Tem a velhice, com os mil achaques da velhice, mas não é só isso, quando chega a 110 anos termina mal o negócio porque ele morre. E ele sabe que vai morrer.
Os franceses também dizem: “on entre on crie, c’est la vie; on crie on sort, c’est la mort ; entra-se, dá-se um grito é a vida, a criança nasce chorando; grita-se e sai-se, é a morte”. O resto é um hiato entre uma coisa e outra, com as suas alternativas, é verdade, mas sem aquela continuidade que é a condição para a felicidade.
Mas a coisa, se nós formos examinar bem de frente, a coisa é ainda mais profunda, a coisa é a seguinte: todo homem, e isto foi disposto por Deus desta maneira: todo homem nesta vida tem, diz São Tomás de Aquino, um “unum” pelo qual, no total, a sua pessoa deseja um bem, uma vantagem e um deleite espiritual e um deleite material, unos. Que por assim dizer compendiam todo o deleite espiritual e todo o deleite material que ele possa querer. E que tem uma correspondência com o modo de ser dele.
Então, um por exemplo, sonha com o poder; outro por exemplo sonha com a riqueza; outro sonha com a glória; outro sonha com os deleites da intimidade. Eu vi uma vez uma pessoa dizer: “Eu sou muito feliz”… Ninguém na sala tinha ideia porque ela era tão salientemente feliz. Comumente feliz, ou seja, comumente infeliz, entrava pelos olhos. Então alguém disse para ela, por amabilidade, porque ninguém se interessava muito pela pessoa, alguém disse para ela: – “Mas porque é que você é tão feliz assim?”
Disse ela: “é porque eu tenho muitos filhos e são todos medíocres“.
Um pouco de surpresa, não é?
Disse ela: “o prazer na vida está na mediocridade. Se eu estivesse um filho muito inteligente, uma filha muito bonita, uma qualquer coisa assim, já começava a torcida, porque começava a desejar carreira. Meus filhos não, todos se instalaram na situação medíocre e sólida e todos vivem mediocremente, eu não tenho susto nem esperança, eu vegeto. A vida é vegetar. Meus filhos vegetam também, meus netos vegetam também, viver é vegetar“.
Quem não percebe que por detrás se exalava uma tristeza? E que era um modo de tirar uma desforra da mediocridade própria e da mediocridade dos seus. Quem não percebe uma coisa dessas? E que havia no fundo um pranto pela mediocridade? Porque todo mundo compreende que a inteira mediocridade com o espetáculo da felicidade dos outros, não pode produzir felicidade.
Imaginem se eu tenho, por exemplo, uma casa medíocre. Um homem terreno, vivendo só para a vida terrena; e então com uma filharada medíocre, chega o domingo nós fazemos a refeição da mediocridade, numa prosa medíocre, ó tédio…, bem, em que ninguém diz nada de notável nem nada saliente, comenta a chuva e o bom tempo, o reumatismo que deu aqui no cotovelo, o outro que está com a vista meio perturbada e precisa trocar de óculos, assuntos “sensacionais” desse gênero…
Bem, em frente [de minha casa] é um palácio e vão oferecer um banquete, e a gente vê os automóveis suntuosos que entram, de repente é uma orquestra que começa a tocar e coisas dessas…, escangalha o almoço do medíocre! Quando termina o almoço, a família medíocre está toda na janela olhando a refeição da família não medíocre, ou fecha as janelas e sai. Mas sai amargurada dizendo: “estes tipos aí em frente são uns orgulhosos”.
Por quê? Porque a mediocridade não sacia o homem, é uma mentira. A mediocridade pode evitar ao homem muitos dissabores, mas deixa uma porção de apetências insatisfeitas. E assim nós podemos imaginar as mais variadas formas de vida, elas sempre fazem transparecer algo que o homem quereria e que ele não tem e com o que ele sonha.
Eu dou um exemplo que é clássico, e é curioso que eu nunca vi ninguém fazer essa observação, e, entretanto, salta aos olhos: o lobo do mar antigo, o pirata, o corsário. O gosto da vida dele era o mar, e o mar ora calmo, esplêndido, ora encapelado, furioso. A figura famosa do corsário no meio da tempestade enfrentando batalhas etc., e feliz, com o seu chapéu de filtro com uma pena etc., é uma figura que ficou banal de tão clássica.
Ora, no que consistia a felicidade do corsário quando ficava velho? Era de morar numa cidadezinha pequena, ter um dinheirinho e levar a vida mais caseira que se possa imaginar… Indo toda a noite ao restaurante do lugar para contar mais ou menos exageradas pela mentira as suas aventuras, e o resto do tempo levando uma vida de gato junto à lareira. O que deixa transparecer que durante a vida inteira aquele aventureiro teve um lado da alma dele que sonhou com aquela vida “chacunierosa” [neologismo para vida enormemente acomodada, proveniente da palavra francesa “chacunière”, n.d.c.] e que nos auges das lindas tempestades ele imaginava como seria bom uma caminha aconchegada. E mostra aos senhores, a duplicidade de aspectos da natureza humana.
Pelo contrário, quanto homem há que chega à noite, se deita numa cama aconchegada, suspira e diz: “deixe agora eu ler a vida do corsário…” E então vai ler a vida do corsário tal que foi à tal ilha, que fez tal coisa… Quem não percebe que há um lado da alma dele que geme e chora por não ser o contrário do que ele é?
Quer dizer, há algo no próprio eixo de sua vida, no próprio “unum” de sua vida, que o homem nunca consegue realizar; quando consegue realizar, enjoa, “enoja”; quando não consegue, constitui um elemento constante de infelicidade.
De um modo ou de outro, nesta vida terrena o homem, se ele não for católico – e nós vamos daqui a pouquinho falar da felicidade do católico – nesta vida terrena, o homem, se não for católico, é for-ço-as-men-te infeliz. E quando nós cruzamos pela rua [com] uma pessoa que nos parece feliz, e nós acreditamos que essa pessoa é feliz, nós cometemos uma infidelidade. A pessoa pode estar feliz de passagem, ser feliz ela não é, porque a felicidade Deus não permite que exista nesta terra, mas absolutamente não permite.
Às vezes a gente vê, nesta existência, certas pessoas que são cercadas de tudo quanto pode tornar a vida agradável. Tomem cuidado: eu tenho pena quando vejo uma pessoa assim, porque em geral acontece que toda infelicidade que não foi distribuída ao longo da vida dela, fica à espera dela como uma taça amarga numa determinada hora. Em certa hora a pessoa tem que beber aquela taça.
Eu conheço o caso de uma senhora que dava gargalhadas saborosíssimas, – era uma senhora muito engraçada, muito animada, muito alegre etc., – essa senhora parecia só ter felicidade. Inclusive a felicidade rara de ser casada com um marido tão bom que ela dizia que ela preferia perder todos os filhos juntos a perder o marido. Ora, encontrar um marido assim não é coisa freqüente. Bem, digamos para a penitência do sexo masculino.
Um dia, infortúnios começam a cair em cima dessa senhora. E eu, numa ocasião, por questão de cortesia, tive que chegar perto dela e dizer: – “olhe, eu lhe desejo muita felicidade” etc. Ela estava de luto cerrado. Ela me disse o seguinte: –
“Nunca me deseje felicidade porque depois do que me tem acontecido o meu coração é negro como este vestido de luto. Para ele não existe mais alegria nenhuma, não existe felicidade nenhuma, é a tristeza até o fim dos dias”.
Vou dizer mais. Disse de tal maneira, com tanta razão que eu não tive jeito de dizer uma dessas banalidades: – “não, isso passa, melhora”, ou qualquer dessas coisas. Não tive jeito de dizer. Porque estava entendido que ela sabia e que eu sabia também que isso nunca mais seria assim. E que seria grosseiro, seria pouco amável, seria estúpido eu dizer a ela uma coisa dessas formas de cortesia que todo mundo, aliás, sabe que não são senão cortesia.
Muitas e muitas vezes na minha vida eu tenho assistido cenas assim e, por causa disso – eu, não! muito mais do que por isso – pela análise do que é a vida do homem nesta terra, se chega à conclusão de que a vida é esta. E que não há coisa que mais faça mal, em certo sentido, aos homens, do que a convicção de que a felicidade se pode obter nesta Terra.
Quando os senhores analisam a sua própria vida interior, meus caros, os senhores de algum modo ou de outro encontrarão no “substractum” da vida interior, esse fato: muitos dos senhores acreditam na felicidade terrena. E acreditam que nesta vida muita gente é feliz. E embora resolvam por uma decisão heróica passar a vida na luta, os senhores acham que os senhores poderiam talvez gozar da felicidade, e que os senhores estão renunciando não a uma miragem, mas a uma coisa real. E a apetência dessa coisa real devora a muitos dos senhores. De maneira que com graça de Nossa Senhora os senhores não apostatam, mas grande parte do dinamismo com que os senhores voariam para a mais alta santidade fica comprometido por esta crença e esta nostalgia de uma felicidade terrena.
Os senhores não serão como pássaros que caem no chão, mas os senhores serão como pássaros que voam com chumbo nas asas. E que, portanto, voam baixo, voam difícil, e com o risco de que de repente uma ventania coloque por terra.
Quer dizer, é preciso ter bem em mente essa ideia: a felicidade terrena não existe, mas tê-la a fundo, cravada a fundo. Tê-la cravada a fundo, mais ainda como eu vou mostrar daqui a pouco, é no fato de que a felicidade terrena não existe, que o homem encontra uma relativa felicidade na terra. Mas essa felicidade segue um rumo inteiramente diverso do que nós poderíamos imaginar.
Se algum dos senhores crê na felicidade terrena e não expungiu da alma essa ilusão, creia-me: é a metade, a terça parte, ou a décima parte do que poderia ser como membro do Grupo. Porque essa é uma ilusão daninha e é uma ilusão fomentada pela Revolução.
A Revolução faz com que as pessoas andem na rua com ar de que são felizes, ao menos até arrebentar a “Bagarre parda” [refere-se à crise do petróleo em 1973, n.d.c.] era assim, a impressão geral era de felicidade.
Os senhores tomem por exemplo um país que vive ainda em larga medida em “Bagarre azul” (…) tudo ali é feito para alimentar a ideia que um homem nesta terra pode ser feliz e de que portanto ele precisa lutar e tornar-se feliz nesta terra. Tudo é feito nessa direção.
Esta impostação perde as almas numa quantidade incalculável! E eu acho de uma importância primordial para a vida espiritual, antes de tratar propriamente da tragédia, de mostrar aos senhores que isso é completamente errado.
Agora, então, eu passo à tragédia. Qual é que é a tragédia?
Acontece que nesta vida o homem deseja, qualquer homem que seja, deseja continuamente uma coisa que ele não tem. Mas não é desejo de dizer o seguinte: “eu agora estaria com vontade de beber uma guaraná e não tenho”, não é uma coisa infantil dessas, não. Ele desejaria ser quem ele não é; ele desejaria ter o que ele não tem; ele desejaria levar uma vida que ele não leva. E continuamente há qualquer coisa no homem que apetece a isto. E apetece de uma apetência que vem do fundo da alma, e que constitui uma tragédia porque isto ele não pode ter.
E ele precisa então, ter uma luta contínua contra essa apetência, ele precisa estar dizendo a si, “não” desde a manhã até à noite, e organizando a sua vida nesta terra de maneira a ser aquilo que apenas incompletamente quereria ser; de maneira a fazer aquilo que apenas incompletamente quereria fazer; de maneira a conviver com as pessoas com as quais apenas à meias ele gostaria de conviver, porque o seu sonho, se ele desse atenção ao seu sonho, caminharia para o outro lado.
Ele tem que dizer: “o sonho é impossível, essa meta não se realiza, eu tenho que tomar a minha a vida como ela é, tenho que me tomar a mim mesmo como eu sou, com as limitações que eu vejo que eu tenho, com as impossibilidade que eu vejo que me cercam, e tenho que fazer eu esta vida, sem nostalgia vãs, sem apetências tontas, arcando com a aceitação deste destino que era o meu, mas que não me satisfaz. Arcando com essa aceitação, com coragem, para realizar o bem, para cumprir o dever e ser não o que os meus sonhos quereriam que eu fosse, mas o que Deus quis que eu fosse, que é completamente diferente dos meus sonhos. Para depois, na outra vida, eu então ter a plena e completa realização de tudo quanto eu quereria”.
Isto é uma espécie de recusa de si mesmo, violenta. É um tormento que acompanha o indivíduo desde que ele começa a ter o seu uso da razão até o momento em que ele exala o último suspiro. E que é a tragédia da vida de um homem.
Independente do homem ser feliz ou não em negócios, em casamento, em dinheiro, em glória, em honra, no que os senhores queiram, independente disso, é for-ço-so que esse estado de espírito acompanhe o homem de A até Z. E que o homem mais bem coroado de êxito nessa vida, o homem chegue de vez em quando – mas um de vez em quando frequente – e sinta a insuficiência e a estupidez daquilo que ele tem.
Eu nunca tive uma vida que eu possa dizer uma vida que possa chamar de sorte, mas uma vez aconteceu uma coisa que faria sonhar e delirar quase todos os moços de minha geração. Eu fui eleito deputado aos 24 anos e os senhores sabem bem disso. Tudo quanto é rapaz de 24 anos no Brasil olhou para mim: 24 anos, 24 mil votos, que para a população eleitoral do Brasil daquele tempo era um colosso. Mais ainda: vitória limpa de homem de consciência tranquila, que tinha enfrentado a impiedade, tinha vencido a impiedade e era elevado aos galarins da glória.
Mais ainda: parecia que um futuro brilhante me cercava. Havia pessoas que tinham ilusões a respeito da minha inteligência, me consideravam muito inteligente, com muito futuro. Havia pessoas que tinham ilusões a respeito dos meus dotes oratórios e consideravam que eu já era um grande orador, e daí por diante. A ideia era que daí para a frente o futuro mais brilhante me esperava, a começar por algum casamento super rico.
Eu não posso me esquecer do dia em que se inaugurou a Assembleia Constituinte para a qual estava eleito. Eu e toda a bancada paulista e só a bancada paulista, o que é bem paulista, de fraque. Todos os outros de traje de passeio. A Assembleia toda enfeitada. A figura aristocrática, nobre, inteligente do Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidindo, descendente do José Bonifácio, e fino, um homem “accompli”, mineiro, esperto, presidindo a Assembleia.
Músicas, senhoras da sociedade na galeria vestindo trajes bonitos etc., para mim mais do que isso, minha irmã e minha Mãe na galeria para ver a inauguração da Assembleia. Eu pensava comigo: está aqui um momento em que todos os brasileiros de 24 anos pensam: ‘Plinio, que felizardo!’ Eu olho para dentro de mim e a ideia que eu tenho é a seguinte: “Quando termina toda esta sessão que está cacetérrima para eu ir tomar um sorvete?” É uma coisa estúpida porque afinal de contas sorvete sempre esteve ao meu alcance e talvez esteja sempre a vida inteira. Nem isso é verdade porque fiz uma promessa de não tomar sorvete a não ser circunstâncias especialíssimas. Bem, o sorvete está sempre ao meu alcance e ser deputado nessas condições, é uma coisa impensável, entretanto eu só estou pensando no sorvete. E não adianta pensar que é estúpido, não adianta pensar em nada, a minha alma inteira como um bramido gritava: “sorvete!” Enquanto todos os outros diziam: “deputado!”
Era assim… Quer dizer, o momento que seria um momento delicioso, fraudado por uma obsessão física estúpida. Mas assim é feito o homem, e essas coisas acontecem comigo. Meus caros, não levem a mal que eu lhes diga que acontece com os senhores…
Eu me lembro que numa ocasião neste período que eu estava no Rio, fomos a um pontão, não sei se os castelhanos sabem o é um pontão? Eu não sei bem que é um pontão, é espécie de jangada se quiserem, amarrada em terra firme, uma coisa assim onde encostam navios etc., e era uma dessas tardes do Rio de Janeiro lindíssima. O mar estava entre o anil e a esmeralda e não havia uma polegada de mar onde não refletisse um pouquinho de sol. Um vento que tinha o que a natureza tropical tem de mais aliciante, um zéfiro que me batia no rosto.
Aquela história que não é atarraxada na terra, ela sobe e desce assim, subia e descia agradavelmente. Eu não sei o que é que eu estava fazendo lá, mas tinha uma turma de deputados e homens importantes, estávamos todos conversando e tinha ali um banco de madeira dos mais ordinários, feito para um qualquer que puxa a corda quando encostava o barco, fazer atracamento, qualquer coisa.
Eu estava pensando com os meus botões: “Se tivesse um homem sentado ali, ele gostaria tanto de ser eu. Eu tenho uma tal vontade de sentar nesse banco e ficar me deixando ondular por essa história até à noite, que eu tinha vontade de ser esse homem do barco… E é uma estupidez porque sei que é uma besteira, a tal ponto é besteira que eu vou conversar com esses homens, vou voltar para casa com eles e à noite ainda estava dentro da alma para aquele sol que eu perdi…” Com uma séria tentação: “não era melhor meter um pontapé em tudo isso e ser um “Zé Ninguém” que faz o que entende, do que estar sujeito a esses horários, essas regimes, essa inutilidade dessa coisa toda?”
Isso são experiências pessoais minhas num fugaz momento de alegria que eu tive. Eu tive alguns momentos de glória tão fugazes na minha vida.
Um outro foi quando eu, eu já contei isso aos senhores, vou até resumir, quando eu fui a Roma no fim do Pontificado de Pio XII, e eu recebi de manhã, eu estava dormindo veio um telefonema:
– Qui parla, parla – mas é um “parla” [aqui fala] – Domenico, “portier” do Vaticano.
– Sim senhor. E o que é que o senhor quer?
Disse: “há um lugar marcado para o senhor para uma audiência com o Santo Padre etc., a tantas horas assim, etc., etc., e tem que mandar pegar já”.
Cheguei ao Vaticano. A audiência na sala ducal que fica em cima da entrada da Basílica. Subo, apresento o meu bilhete: “é mais na frente”, dizem. Quando chego bem na frente o sujeito me disse:
– O seu bilhete dá direito a sentar-se ao lado do trono do papa, o primeiro lugar à esquerda do trono papal é seu. O senhor suba.
Eu estava vestido discretamente como seria no tempo do Pio XII, já não se usava fraque, uma roupa azul-marinho, mas estava ali discreto, estava normal. Subi, sentei-me. Daqui a pouco eu começo a olhar aquela sala imensa, e cânticos etc., e perto de mim um hindu com turbante num lugar pior do que o meu, um hindu com turbante todo enfeitado, gente rica, a gente via que tinha gente muito importante, eu era certamente, aliás – a isso eu estou habituado – o mais pobre da roda em que eu me encontrava.
Nisso eu vejo de dentro da multidão, de cá e de lá uns braços de brasileiros dizendo “adeus” para mim. Entre eles, um senhor que quase não conhecia, que era um célebre aqui no Brasil, mas que queria mostrar para a circunvizinhança que recebia um adeusinho de compatriota muito importante que estava sentado à esquerda do lugar destinado ao Papa. Eu cumprimentei de longe, mas com aceno distinto porque eu entendia que era preciso respeitar o lugar onde estava.
Aí chega o Papa e os vivas, os aplausos etc., e eu comecei a prestar atenção na audiência. Mas prestei e disse de mim para comigo: “Quantos da sala estarão com inveja desse lugar tão bom”. Era uma espécie de pequena glória interna aos olhos dos meus compatriotas que estavam lá.
Os senhores sabem qual era a verdade? Eu estava achando aquilo uma… mas se eu estivesse no meio do povo eu ficaria louco para estar sentado no lugar em que estava junto ao Papa.
Porque assim é feito o homem. Mas não é que o homem seja feito assim, a vida humana é tecida de coisas assim, ela tem isto do começo a fim, se nós tomamos não a vida sugerida pela vocação, mas o que o homem gostaria de ter e fazer e aquilo que as circunstâncias lhe permitem.
E a grande tragédia do homem consiste nisso: em dizer “não” para tudo isso, e dizer: “não senhor, a minha vida é tal, eu sei que o desígnio de Deus a meu respeito é assim; esse desígnio eu cumprirei. E passarei a minha vida inteira não só não tendo o que eu quereria, mas não pensando no que eu quereria, não me perguntando a mim mesmo se eu quereria, fugindo da imagem do que eu quereria, para só pensar naquilo que eu devo fazer. Para conseguir, por esta forma, fazer inteiramente o que eu devo e assim servir a Deus Nosso Senhor, servir a Nossa Senhora, servir a Santa Igreja Católica!”
Mas isto é um sacrifício de todos os instantes, é um sacrifício de todos os dias, de todos os meses e de todos os anos, que só cessa no momento em que o homem expira. E é preciso o homem se dar conta disso, frontalmente. É preciso o homem se dar conta disso sem fechar os olhos para a realidade. A realidade é esta e o que não for isto é lorota.
A isto se soma, então, ao combate interior para ser fiel a isto, ao combate em que a gente não imagina: “eu poderia ter tal coisa”, sonha com olhos abertos nem nada, mas faz o que deve e mais nada, a este combate se soma uma outra coisa que é o seguinte: os reveses. De vez em quando lá vem um insucesso, e vem uma coisa com o que a gente não contava.
Na minha vida por exemplo, frequentíssimos os reveses. E a pessoa tem que aceitar o revés como normal, a vida humana é feita de reveses, e o revés é o normal e a gente deve aceitar o revés como normal, e enfrentar o revés e meter o peito no revés. Seja como for, de que maneira for, eu vou lutar e vou enfrentar! Pode ser que eu morra esmagado, não tem conversa, eu morrerei então esmagado. E esmagado eu morrerei realizado, porque eu morrerei no caminho onde Deus quis, onde Nossa Senhora quis e morrerei se Deus quiser, no momento em que eles terão querido, mas eu vou para frente!
Eu me lembro por ocasião desse meu recente desastre de automóvel [a 3 de fevereiro de 1975, n.d.c.] eu vi o que a Providência queria de mim.
Porque quando eu dei acordo de mim, eu – todo o resto eu esqueci – eu estava esticado numa cama do Instituto Santa Catarina, tratado – eu volto a dizer e espero dizer até o fim dos meus dias – com um carinho e com uma bondade pelos senhores e, sobretudo, por aqueles que estavam mais no caso de me prestarem essa assistência, de um modo simplesmente admirável!
Bem. Mas eu me dei conta [de mim mesmo] na cama e com a ideia de que eu tinha sofrido um desastre de automóvel. Eu me lembro da situação. Eu perscrutei os meus órgãos internos e percebi que nesta caixa, daqui até aqui, tudo corria normal. E pensei com os meus botões: “Esse desastre que eu sofri não deve ter afetado os meus órgãos fundamentais”. Vi a vista, estava olhando quase bem e pensei: “isso é alguma perturbaçãozinha explicável – e como era mesmo – no acidente e que normalmente se recompõe – eu continuarei a ver. Notei que eu falava bem, me exprimia bem, notei que havia uma falta de dentes etc., mas que eu me exprimia bem.
Pensei com os meus botões o seguinte: “o grande problema vai ser de eu ser tratado e de eu não prejudicar o tratamento que eu receber. Eu estou vendo como eu estou sendo tratado, e estou vendo que em torno de mim não falta absolutamente nada. É preciso eu corresponder a tanta coisa que a Providência me dá em torno de mim mantendo o estado de espírito mais favorável à minha cura, não só para corresponder, mas porque minha obrigação é viver, e levar a minha vida até os últimos limites possíveis de minha existência.
“Eu tenho que conduzir isto com uma calma, com uma confiança, com uma tranquilidade que seja o elemento decisivo da minha cura. E por isto desde já confiança em Nossa Senhora, vamos tocar para frente! O que é preciso é viver. Pode ser que eu fique aleijado, pode ser que eu tenha que andar numa cadeira de rodas, pode ser que eu fique deitado na cama a vida inteira, mas uma coisa é positiva: eu penso, falo, respiro, logo vivo. Enquanto eu pensar e falar eu serei nocivo à Revolução, em alguma coisa eu serei. Sendo nocivo à Revolução eu quero viver, porque eu quero fazer a ela todo o mal possível e à Contra-Revolução todo o bem possível.
“Ainda que eu fique um contra-revolucionário encostado num canto de um hospital e a quem, uma vez por ano, um outro contra-revolucionário vá visitar e peça um conselho, eu quero viver para dar esse conselho. Ainda que eu passe o resto do ano abandonado e sozinho e inútil, eu não quero que ninguém tenha tombado no caminho em que Nossa Senhora nos chama porque esse conselho faltou. Eu viverei para ser talvez o mais inútil dos contra-revolucionários, mas se eu puder ser de uma utilidade assim, esta utilidade eu a quero a favor do Reino de Maria e contra a Revolução! E, portanto, vamos começar ponto a ponto a viver, a curar, na medida do que for possível”.
Quer dizer, os senhores estão vendo aqui a impostação dirigida para o fim, sem vontade de espernear – qualquer um teria vontade – de se fazer de coitado, de protestar, de fazer perguntas inoportunas, de se afligir com a demora, com o vai-e-vem das coisas. Nada! Isto tem que ser aguentado por inteiro, até o fim. Se eu não aguentar eu digo a Nossa Senhora e peço a Ela que me ajude. Mas se eu aguentar, isso tem de ser aguentado até o fim. Assim se vive!
Isso não é apenas para um acidentado na cama. Todo homem é como se fosse um acidentado. Ele levou tais trombadas nas suas aspirações, tais trombadas nas suas esperanças, de tal maneira a coisa é como ele não queria, que ele tem a bacia partida, mas para todo o sempre. Mais ainda, a espinha partida, mas para todo o sempre. E isso ele tem que aguentar assim! mas assim! Ele tem que pedir auxílio a Nossa Senhora, tem que pedir forças a Nossa Senhora e tocar para a frente. Nossa Senhora ajuda.
Esta situação de algo que se desejou e que não se tem, algo que se queria ser e que não se é etc. etc., ela produz na alma um efeito muito curioso.
Nesses desejos do homem que ele não realiza, tem muito de errado e tem alguma coisa de certo. E essa coisa de certo que o homem quereria ter, e que ele não tem, tem qualquer coisa de sublime que chora dentro dele e que chora um hino, e que constitui uma espécie de luz que ilumina a vida dele inteira.
Eu vou me tornar mais claro e assim eu me tornarei mais inteligível pelos senhores. Os senhores me perdoem de estar alongando tanto, mas é que eu quero deixar o assunto tratado definitivamente.
Eu vou exemplificar com uma coisa que eu nunca tive vontade de ter, nem de ser, de maneira que é fácil exemplificar.
Os senhores imaginem que eu tivesse como ideal ser um pintor fantástico. Nunca me passou isto pela cabeça. Em matéria de desenho, até os desenhos escolares infantis eu fazia com um corte feio, uma mão trêmula e errado, o mais diferente possível da realidade. Eu sou o homem completamente falho de qualidades pictóricas, mas rombudamente falho. Eu ganharia um concurso, entre milhares, de homens que não tem jeito para a pintura e para o desenho. A perspectiva como é que a gente produz, e a sensação de fundo numa tela chata para mim é um mistério, eu não compreendo como é que se faz isto. Mais ainda, uma vez uma pessoa empreendeu de me explicar. Eu tive uma impressão curiosa de tontura e náusea, aquela história de uma coisa que punha mais alto, dá impressão de não sei o que, comecei a me sentir com o chão pouco firme debaixo dos meus pés e interrompi imediatamente a lição.
Mas é nobre querer ser pintor, é uma coisa nobre. E querer ser um grande pintor por amor à arte, porque Deus Nosso Senhor é a perfeição Incriada da qual a arte é um reflexo, é uma coisa que até pode ser santificante. Se eu quisesse ser pintor e nunca em minha vida fosse pintor, e oferecesse a Deus o holocausto de não ser pintor, mas “chauffeur” [motorista] de ônibus, ali! no duro! porque foi a única coisa que eu consegui ser, e tivesse no fundo da alma aquela tristeza de não ter podido dar a Deus o que eu queria, aquela tristeza nimbava a minha vida santamente resignada, nimbava-a de uma luz especial:
“Eu dei a Deus a magnificência daquilo que Deus não me deu, e aceitando de ser um simples motorneiro eu, entretanto, compreendi o que é que seria ser um grande pintor e passei a minha vida inteira sem amar a nostalgia, mas com a boa tristeza de não ter glorificado a Deus como pintor”.
No fim de minha vida se encontraria uma pintura, e uma pintura tão bonita que seria pintada por mão de Anjo: era a pintura em mim, daquilo que eu não fui e que eu ofereci a Deus para não ser. Eu teria toda a grandeza de alma do grande pintor que eu não fui, e eu me teria assim realizado! Eu não sei se eu me exprimi bem ou se está bem claro isto.
E aí estaria o melhor da tragédia, o lado nobre e bonito daquilo que eu fui obrigado a não ter, esse lado nobre e bonito sublimou-se, depurou-se, elevou-se e me marcou. E ao aparecer aos olhos de Deus, eu teria pintado na minha alma todas as pinturas que eu não fui capaz de pintar em tela nenhuma.
Quer dizer, a tragédia do homem tem assim uma espécie de sublimação que eleva o homem a uma altura não imaginável, e que faz realmente do mistério da vida humana uma verdadeira beleza. E é assim que o homem verdadeiramente se realiza.
Eu não sei, meus caros, se eu fui claro no que eu disse ou não fui, enfim, se eu torno inteligível o que está minha alma a esse respeito.
Os senhores dirão: “Mas Doutor Plínio, há um engano nisso, o senhor está dizendo que o indivíduo não deve nem pensar nisso. Como é que o Sr. fala dessa aspiração?”
Não. Ele não deve estar pensando gostosamente, deleitado, não. Ele deve pensar só por amor de Deus. Quando ele aceita seu papel real inteiramente, é possível que ele possa sem temeridade, pensar nisso só por amor de Deus.
Que emoção nós teríamos se um dia nós estivéssemos diante do Museu do Prado em Madrid, por exemplo, e vendo um velho motorneiro que atravessa a rua, entra e começa a olhar. E um de nós dissesse para ele:
–– Mas o que é isso, você gosta tanto de pintura?
E ele dissesse:
–– Meu senhor, eu vou lhe contar a minha vida. Eu toda vida admirei, ao último, Zurbarán. E gostaria de ter pintado um quadro mais bonito do que o do Zurbarán, representando Nossa Senhora. Não pude, mas todos os domingos eu venho ao Museu do Prado para ver os quadros de Zurbarán e para oferecer a Nossa Senhora a minha dor. Eu não sou Zurbarán, nem pinto como Zurbarán, eu guio ônibus pela cidade, dentro do mau cheiro da gasolina, dentro da barulheira da cidade super desenvolvida, eu guio este ônibus com resignação, porque dentro da minha alma há alguma coisa: eu quereria ter sido, Nossa Senhora não quis, eu ofereço a Ela essa renúncia e essa nostalgia.
Nós não daríamos um abraço neste homem? Eu por mim daria um abraço neste homem e nesse dia eu não visitaria o Museu do Prado. Eu voltaria para o meu hotel para pensar. Porque eu teria visto uma coisa mais bela do que todas as telas do Museu do Prado!
É assim que está em relação ao homem essa renúncia que ele faz. Eu não sei se eu fui claro no que eu disse ou não.
E está o lado nobilitante desta renúncia firme, íntegra, completa e desse ideal sobrenaturalizado, a coisa tem que ser assim e não tem conversa!
Para terminar há um outro aspecto da questão. O homem tem uma necessidade de lutar e de sofrer. Se ele não luta e não sofre, ele dá um frustrado. Porque há nele uma produção de forças maior do que a vida nhonhô e a vida comum, consome. E todo homem fica com uma sobra de vitalidade, uma sobra de capacidade de produção, uma sobra de si mesmo, fica sobrando dentro de si mesmo, enquanto ele não teve ocasião de lutar luta dura, luta de lobo do mar, cercado de perigos, de riscos, olhando no horizonte, combatendo, mas nessa agudíssima peleja, gastando-se.
É só quando o homem se gasta inteiramente é que ele sente o alívio das energias que não sobram dentro dele, das energias que não constituem uma espécie de fermento que o leva a explodir, e por isto o homem tem uma espécie de capacidade de sofrer – assim como ele tem uma cogitativa ele tem uma “sofritiva” – e nada faz o homem sofrer tanto do que a sua capacidade de sofrer não esgotada. Não sei se este pensamento está claro.
E muitas vezes o homem que sofre assim se sente realizado porque ele soltou de dentro de si essa super capacidade. Quando ele chega em casa extenuado, ou quando se deita exausto e ele pode dizer: “Meu Deus, gastei tudo por vós, estou sem fôlego” – ele está muito melhor do que um homem que tenha passado o dia sem fazer nada. É a sensação de sua própria utilidade, de sua própria razão de ser, de sua própria finalidade atingida. Isto constitui para ele a felicidade. Se ele não lutou, ele verdadeiramente é um miserável, ele é um infeliz.
Eu me lembro deste fato: eu ia descendo a rua Dona Veridiana e encontrei dois amigos que subiam de automóvel em sentido oposto. O dono do automóvel era um amigo que eu há muito tempo não via, um homem uns quatro ou cinco anos mais moço do que eu. Mas eu tinha naquele tempo o que… uns 50 anos, talvez, e ele tinha uns 46 anos assim. E ele passou, os dois desceram, ele me fez muita festa etc. etc., e depois então ele quis me levar onde eu ia, a um barbeiro no largo Santa Cecília. E eu disse a ele que não, que eu queria ir a pé. Ele disse:
– Mas você anda a pé?!
– Eu disse: Mas como anda a pé? É claro!
Ele disse: “olhe, eu já não faço isso. Mais moço do que você, eu me poupo de maneira que todo esforço inútil eu não realizo, para poder viver o maior tempo possível” (sovina de dinheiro e sovina dos próprios recursos de saúde)…
Eu dei uma risada, abracei e disse: “olhe, fulano, eu não. Eu me gasto à vontade. Deus que me chame quando quiser“. Desci a pé.
Algum tempo depois, eu recebo um aviso: ele tinha morrido. Ele tinha saído da fazenda dele de automóvel e o automóvel se tinha posto debaixo de um caminhão que tinha estraçalhado.
Quer dizer, a gente se poupa quanto quiser, Deus leva quando entender. Não adianta a gente estar se poupando. O verdadeiro é o contrário, é gastar-se.
Os senhores me dirão:
– Mas Doutor Plínio, o que é que resta da vida? A vida então é um inferno?
Não. É o contrário. Quando a gente aguenta tudo isto e tem a consciência de estar fazendo o que deve, há no fundo – e apesar de todos os horrores pelos quais a gente possa passar – uma sensação de algo que está realizando o fim para que existe; de algo que está chegando ao termo a que deve chegar. Uma sensação profunda de ordem, uma sensação profunda de asseio, uma sensação profunda de lógica e de coerência, que dentro de todo o mal estar e de todas as provações, dá um fundamental bem estar, que é a ideia de que nós somos segundo Deus, de que Deus no alto do Céu nos ama, que Nossa Senhora nos ama, e que um dia Os veremos por toda a eternidade.
Esta ordem já é um prenúncio dessa situação em toda a eternidade.
Se alguém quiser compreender o que é isso leia as memórias de Cardeal Mindszenty na parte em que ele faz parte do campo de concentração. É uma coisa admirável e de arrepiar. Vestido de palhaço; apanhando sova todos os dias; sujeito a interrogatório que davam medo a ele porque podia cometer pecado durante o interrogatório; alimentando-se pessimamente; tratado por médicos russos que entravam todo dia na sala dele, iam examiná-lo porque não era do interesse do governo russo que ele morresse, e que anunciaram a ele que ele estava tuberculoso e que iam sará-lo e sararam… Oito anos, se não me engano, sozinho nesse tormento.
A certa hora quando anoitecia, ele como todos os sentenciados, tinha que ir para a cama e ficar deitado até a hora de ter sono, no escuro, não podia acender a luz nem nada. E no pior inverno, com as mãos do lado de fora para que o vigilante quando entrasse na cela visse que eles não estavam tramando qualquer coisa.
Ele mesmo conta a tristeza das noites de Natal dele, quando ele via os sinos de Budapeste tocarem e que ele se dava conta que era Natal, e que para ele estava sozinho, perdido por tempo indeterminado, no meio de inimigos que o odiavam, vestido como palhaço, dentro da sujeira e da fome. Comendo pouco da pouca comida que ele tinha por que ele tinha medo que lhe dessem remédios que estragassem a saúde e, sobretudo, o tornassem demente, e que ele dissesse coisas que ele não deveria dizer ao tribunal e portanto provocasse escândalo.
No meio de tudo uma ou outra rara consolação.
Um dia ele encontrou no móvel um pequeno cálice com um líquido. Ele veio cheirar, cheirou e percebeu que era vinho. Era por assim dizer, umas gotinhas de vinho, e ele percebeu que uma alma caridosa tinha deixado vinho ali para ele celebrar, na hora em que entrasse o pão. Quando entrou o pão ele consagrou e quando ele esteva sozinho, comungou do vinho. Isto era por meses e por anos e por anos, a única comunhão.
Está bem, a gente nota que ele equilibrado, razoável, “compos sui” e disposto a tocar a vida para a frente. Tão para a frente que quando arrebentou a revolução húngara e o vieram buscar na prisão para o levar para ele tomar parte nos acontecimentos, ele tomou. E quando ele fugiu para a embaixada americana ele continuou outra vida, de tal maneira ele, pela graça de Deus, fora senhor de si naquelas circunstâncias trágicas.
A gente vê que não ele tinha nada, mas não tinha nada! E parece até, e eu com isso termino a conferência, que ele entrava numa “trombada” violenta com São Tomás de Aquino. Porque São Tomás de Aquino diz que um mínimo de felicidade o homem precisa ter nesta Terra, do contrário ele fica destruído, fica aniquilado. Ora, ele não tinha nada. Os senhores sabem o que ele tinha? O que o homem tem quando ele sacrifica tudo a ponto de não ter nada. Ele tem essa sensação interna da ordem, do dever cumprido, do seu nexo com Deus, da esperança na vida eterna, era só o que ele tinha.
Mas ele era incomparavelmente mais equilibrado e mais plenamente homem do que qualquer folião que se diverte em Paris: mas sem tem termo de comparação! E era o grande desventurado, o grande infortunado daqueles anos em que ele vivia.
Quer dizer, a tragédia faz emergir do fundo da gente um solo maravilhoso, um elemento maravilhoso, um tesouro maravilhoso que produz tudo quanto a gente quer, na dor e na tristeza, mas é a única forma de felicidade que existe nesta vida. Sublimada pela beleza que toma a alma quando ela sacrifica tudo, mas ela tem a certeza de que sacrificou por Deus e aquilo que ela sacrificou brilha em cima dela e a transforma.
Aí nós temos a verdadeira felicidade.
Meus caros, para que tudo isso que foi tão longe? Foi até escandalosamente longe? Para ver se ajuda os senhores a duas coisas:
Primeiro: a não andarem pelas ruas dessa cidade com a apetência de uma felicidade que os outros não tem. Não tenham essa ilusão. Os senhores olhando-se uns aos outros aqui, não imaginem que outros são felizes. No sentido de terem conseguido a felicidade nesta vida, não imaginem, é mentira. Andando lá fora, sobretudo, não imaginem que os outros são felizes, é mentira também. Na Terra só existe esta felicidade, a felicidade do holocausto, a felicidade do sacrifício.
Façam o holocausto por inteiro e os srs. terão essa felicidade; se os senhores não fizerem, os senhores serão os infelizes nesta vida e depois na outra vida.
… fazer da tragédia própria o que foi a árvore do Bem e do Mal no Paraíso, está no centro da vida. É isto que é precisar fazer, e tocar para a frente. Pedindo forças a Nossa Senhora. Sem auxílio de Nossa Senhora ninguém aguenta isso.
Esta própria conferência é inaguentável, ela destroça e arrebenta sem o auxílio de Nossa Senhora. Com o auxílio de Nossa Senhora faz-se tudo, chega-se a tudo e chega-se até o fim. Isto é o que eu tinha que dizer aos senhores.
Me perdoem a extensão exagerada da conferência, mas é uma expansão com algumas reminiscências.
Fica aqui para receber os bilhetes, as perguntas que os senhores queiram fazer em outra reunião. Para a reunião de hoje eu proponho que nós destinemos todas as orações, além das intenções comuns, à Nossa Senhora afazer frutificar isso em nossa alma, dando-nos a nós, a cada um, o conhecimento, o senso da própria tragédia, e a deliberação de a viver por inteiro. É o que se chama carregar a Cruz e seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo. É o sentido da palavra. E com isso encerramos a reunião de hoje.
(Aparte: está aqui a relíquia de Garcia Moreno, parece que amanhã é centenário da morte dele. Queria pedir que rezássemos no sentido de…)
Com muito gosto. Nós podemos acrescentar na oração de hoje, fora, porque não pode ser misturado com os Santos já canonizados, uma oração para ele. E eu farei isto.