Carlos Magno: o Imperador mariano santamente terrível, iluminado pelo sorriso de Nossa Senhora

Auditório São Miguel, Sábado, 15 de dezembro de 1990, Santo do Dia

A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras “Revolução” e “Contra-Revolução”, são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro “Revolução e Contra-Revolução“, cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de “Catolicismo”, em abril de 1959.

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Eu acho esse trecho muito bonito, muito rico em ensinamen­tos, etc., mas que me sugere – apesar da hora muito adiantada em que estamos – adotar um processo especial para ajudar aos senhores a interpretarem e a entenderem bem aquilo que nós poderíamos chamar a engenharia de um texto bem pensado e bem escrito. Então, ao mesmo tempo em que nós vamos comentar a personalidade de Carlos enquanto descrita por esse homem [Eginhard], nós vamos comentar o trabalho desse escritor como foi, como é que ele foi pondo em ordem as idéias, e pondo em ordem a narração, de maneira a sair uma coisa muito bem feita que dá gosto de ouvir.
Então, eu vou dizer, assim em linhas muito gerais, porque o texto é longo, eu posso ter esquecido de algum pormenor, mas em linhas muito gerais o escritor segue o seguinte método:
Ele toma primeiro o personagem de Carlos e descreve a pessoa como foi. Descrevendo a pessoa, ele procurar pôr em evidência aquilo que é a grande qualidade de Carlos que é a força.
A gente pergunta se é verdadeiramente católico pôr em evidência de tal maneira a força de um personagem; dir-se-ia que o próprio do católico – muito “heresia branca” diria isto – é ser manso, humilde, misericordioso, bom, etc., etc., tratar dos doentes, tratar dos velhos, etc., e que, portanto, para uma tal personalidade, convém ser muito compassivo, muito terno, muito afável, muito ameno, com um sorriso muito atraente, muito apazi­guan­te, etc., etc., que são as características de muitos santos, mas que não se pode saber bem como é que o homem que é apresenta­do como um ministro do Deus da paz, do Deus da misericórdia, de Nosso Senhor Jesus Cristo Homem Deus que disse de Si mesmo: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e vós encon­trareis a paz para as vossas almas”, como é que se pode imaginar um homem que, entretanto, é venerado como santo com o consenti­mento da Igreja, na diocese de Aix-la-Chapelle [Aachen], onde ele jaz; onde visitamos a igreja detidamente, osculamos o trono dele, osculamos o caixão dele, vimos o famoso busto dele, que dá a impressão de o ver vivo com a magnificência de sua personalidade, como é que esta força pode se manifestar num santo de Nosso Senhor Jesus Cristo?
Ora, não há contradição nenhuma porque nas virtudes car­deais, nós sabemos que as virtudes teologais são: Fé, Esperança e Caridade. Nós sabemos que as virtudes cardeais são: a Prudência, a Fortaleza, a Temperança e Justiça.
As virtudes teologais indicam o nosso rumo. As virtudes cardeais indicam os meios e os modos pelos quais nós devemos alcançar o rumo que nós queremos.
Então, nas virtudes cardeais figura a virtude da Fortaleza, e a fortaleza é ser forte. Se diria de um homem que possui, como um santo deve possuir, a virtude da fortaleza, que ele é uma fortaleza.
* Carlos Magno procurou praticar a virtude da Fortaleza com a perfeição com que os outros santos procuraram praticar outras virtudes
Vários heróis medievais procuraram tomar fortalezas como emblema de seu próprio escudo, e nós vemos na heráldica que nos mostra os escudos, brasões da Idade Média, um sem conta de escudo e brasões com emblema da fortaleza.
E Carlos Magno procurou praticar a fortaleza com a perfeição com que os outros santos procuraram praticar as outras virtudes. Todos os santos praticaram em sua vida em grau heróico as três virtudes teologais e as quatros virtudes cardeais, mas em grau heróico, não basta ter praticado bem, mas em grau heróico. E nessas condições, entretanto, cada santo é chamado pela graça para um determinado tipo de virtude. E nós sabemos bem disso, temos falado disso, por exemplo, São Francisco em ser exímio na prática de virtude da pobreza. Santo Inácio de Loyola, exímio na prática da virtude da obediência, entre outras. De São Francisco de Sales a virtude da doçura, e assim por diante.
Carlos Magno que em Aix-la-Chapelle é venerado como santo, não foi um santo canonizado pela Igreja porque falta documentação, e a Igreja é extremamente exata, muito exigente de provas etc., antes de canonizar alguém, mas Ela vê com bons olhos que na arquidiocese de Aix-la-Chapelle onde está o corpo dele, se tenha um culto litúrgico por ele; e é uma pessoa, portanto, em alto grau de apreço pela Igreja e que os católicos podem e devem tomar como exemplo.
Carlos Magno esteve para a Fortaleza, como São Francisco para a pobreza etc., etc. Então, era missão dele, considerando a virtude da fortaleza apaixonar-se por ela, entusiasma-se por ela, e levá-la ao último ponto que deveria ser levada.
* Para que aparecesse o modelo da fortaleza, era bom que aparecesse um homem que tivesse uma personalidade ao mesmo tempo muito rica na fortaleza, mas com todas as virtudes que constituem o contraforte da fortaleza
Agora, acontece que a virtude da Fortaleza, por causa do pecado original no homem, pode facilmente ser confundida com defeitos do homem. E um homem, por exemplo, muito forte e muito capaz de impor a sua vontade, facilmente pode tornar-se um brutamonte, pode tornar-se um violento; com isso um homem injusto, um homem de trato desagradável, sem caridade etc., etc., porque de tal modo a força confere uma superioridade ao homem, que ele pode abusar dessa superioridade facilmente.
Então, para que aparecesse o modelo da fortaleza, era bom que aparecesse um homem que tivesse uma personalidade ao mesmo tempo muito rica na fortaleza, mas com todas as virtudes que constituem o contraforte da fortaleza.
O nosso escritor não diz isto, mas os senhores analisando o trabalho que ele faz, ele no apresentar a figura de Carlos Magno, nos apresenta o homem forte em tudo, mas que em cada ponto tinha um contraforte da fortaleza, de maneira que isto o tornava perfeito enquanto forte.
Então se poderia dizer: ele era forte, mas amável, mas alegre, mas acolhedor, mas isto, mas aquilo. Isto é um primeiro aspecto da Fortaleza.
Mas em segundo lugar, não é só o “mas”. A gente não diz: “São Francisco de Assis era caridoso, “mas” também….”; não, é caridoso! Não tem “mas”.
Então, em nenhum modo ele pratica a fortaleza sem “mas”? Pratica!
De que maneira ele pratica?
Ele vai começando, depois, lentamente – o escritor –, com muito jeito a apresentar a fortaleza de Carlos Magno, a destacar isto, depois de ter eliminado o receio de excesso de fortaleza, mostrando como o caráter dele não tinha esse excesso. E para pôr isto bem, ele vai mostrando – ele não diz assim como eu estou dizendo, é preciso a gente interpretá-lo para entendê-lo, mas é o pensamento dele. E é muito bonito a gente lendo um escritor, tomar o hábito de ver o que o escritor deixa entender sem dizer claramente, porque fica uma coisa agradável num trabalho literário, que o homem não diga claramente pão-pão, queijo-queijo, mas deixa esvoaçar um perfume da coisa para os mais espertos entenderem.
* Em Carlos Magno a virtude da Fortaleza era completada por um grande juízo, uma grande maturidade, um grande critério por onde fazia o uso muito inteligente, muito eficazmente, por onde sua força era a estocada certa, no homem certo
Então, ele toma a virtude da Fortaleza e mostra depois como essa virtude da Fortaleza era em tudo completada – já não é o “mas”, mas é o complemento – por um grande juízo, uma grande maturidade, um grande critério por onde ele fazia o uso muito inteligente, muito eficaz, por onde sua força era a estocada certa, no homem certo. E era a estocada dada no momento certo, do jeito certo, para liqüidar com o homem que deveria ser liqüidado. Mas que o homem ou o exército, ou a nação que deveria ser liqüidada merecia ser liqüidada. Então, porque que era ruim, o que é que fazia de mal etc., etc., etc. E depois então de mostrar Carlos Magno assim, o mostra como terrível. Quer dizer, então, é o homem no apogeu e começa a descrição dele na sua batalha.
Então, aqueles dois canalhas na torre que se querem opor a Carlos Magno e que vêem chegar o exército que não acaba. Um deles é um traidor, e o outro é um rei de uma nação que pouco mais ou menos foi destruída pela Providência, dos Lombardos. Uma nação muito “fassura”.
Aquela descrição do exército de Carlos Magno que chega de longe, que primeiro são esse, e depois são aqueles, depois são aqueles outros etc., e os dois que vão ficando com medo, e o rei dos lombardos que fica com vontade de se meter nas entranhas da terra…
Toma em consideração que os medievais achavam – e eu não estou longe de achar como eles – que o inferno fica no centro da Terra, e, portanto, meter-se no centro da terra é meter-se no inferno; quer dizer, fugir para o inferno de medo do que vai acontecer porque eles pecaram e agora vem Carlos o Forte, Carlos o Justo, Carlos o Santo, Carlos o Invencível, que chegou na hora para cumprir o desígnio de Deus.
Mas depois de ter apresentado Carlos assim, terrível na luta, numa vida de lutas e de sacrifícios, chegando até proezas daquela natureza, ele dá por mais ou menos narrada a história de Carlos – que de fato é muito maior do que esta; isto é um pontilhado, é uma coisa assim rápida – e o historiador levanta uma pergunta: “que prêmio teve isto?” Então, é a coroação de Carlos como imperador do Sacro Império Romano Alemão.
Bem, mas depois vem outra pergunta: “está bom, isso é um prêmio para ele, mas do que é que adiantou para a glória de Deus que ele ficasse imperador?”
* O Papa São Leão, instituindo o Sacro Império Romano, completava a coleção de duas espadas; e o prêmio de Carlos Magno foi de que a Igreja ficasse dotada da arma do ferro
Então, são as duas espadas, a espada temporal e a espada espiritual. A referência a essas duas espadas, o historiador não diz, mas os senhores vão perceber pelo que eu estou dizendo, facilmente qual é essa referência, é um trecho muito misterioso que narra algo de trágico e de enigmático que se passou na Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando vem aqueles homens para prendê-Lo, e perguntam a Ele: “Tu és Cristo Nazareno?” Ele responde: “Sou Eu!”, e que todos caem por terra. Em certo momento São Pedro pega uma espada e corta uma orelha de Malco.
A gente quando lê, fica com pena que fosse só a orelha, porém na realidade a coisa é outra. Nosso Senhor Jesus Cristo censurou São Pedro, e um pouco antes ou um pouco depois disso, Ele colou a orelha de Malco e ficou perfeita. E como é Nosso Senhor Jesus Cristo, a gente fica quieto admirando…
Nosso Senhor Jesus Cristo perguntou a São Pedro se ele tinha uma espada consigo, e São Pedro respondeu que tinha duas, e Nosso Senhor Jesus Cristo deu uma resposta curiosa, que não tem explicação: “Isto basta”.
O que é que ia fazer essa espada lá?
São Pedro quando cortou a orelha de Malco levou uma repreensão, era claro que a espada não estava lá para matar ninguém e nem para cutucar ninguém…
Os intérpretes do Evangelho diziam que são as duas espadas: a espada espiritual e a espada temporal que São Pedro como primeiro Papa devia ter. A espada espiritual é aquela pelo qual o Papa tem o poder de condenar com penas canônicas, espirituais terríveis àqueles que se levantam contra a Igreja, que blasfemam, etc., etc., ele excomunga, ele amaldiçoa, etc., etc., é uma pena tremenda!
E depois a espada temporal é o direito de dispor de exércitos para jogar sobre aqueles que se levantam contra Cristo Nosso Senhor. O Papa São Leão instituindo o Sacro Império Romano, ele instituindo esse império, ele completava a coleção de espadas: a espada espiritual São Leão já tinha, porque o Papa podia amaldiçoar etc., etc. Faltava a temporal que era o império; e o prêmio de Carlos Magno foi de que a Igreja ficasse dotada de mais uma arma, era a arma do ferro!
* Carlos Magno: o imperador mariano santamente terrível, iluminado pelo sorriso de Maria
Então, os senhores pensam que está terminada a coisa, não está. Há uma pergunta que é a seguinte: “Está bem, mas depois o que é que foi feito da memória desse homem?”
Então, o historiador desdobra a sua narração em duas partes: a primeira parte fala da sepultura dele, a catedral famosa de Aix-la-Chapelle que com seus mármores… Naquele tempo muito difícil de obter mármores porque os melhores mármores da Europa se encontram na Itália, mas Aix-la-Chapelle figura na Alemanha, se quiserem na França, há uma discussão sobre isso, mas enfim, não vamos entrar nessa questão; o fato concreto é que isso fica do lado de cá dos Alpes, e atravessar os Alpes com mármores da Itália, ou então, mais difícil ainda, mármores do Oriente que são lindíssimos, uma coisa caríssima, dificílima, cheia de possibili­da­de de desastre, estradas péssimas, então ia o cortejo e de repente caiu tudo com mármores, etc., em precipícios, etc. Ele conseguiu mandar vir um belo número de colunas de mármores que Napoleão mandou roubar, e construiu uma igreja em louvor da Virgem Santíssima.
E aí já ele prepara o último hino de glória a Carlos Magno. Ele ao longo da vida dele vai acentuando que Carlos Magno era um grande devoto da Virgem, Carlos Magno é apresentado por ele como indo para o caixão com uma imagem da Virgem junto ao peito dele, e afundando na morte, portanto, com a imagem daquela que é a Mãe do Autor da vida. E a Catedral de Aix-la-Chapelle é em louvor de Nossa Senhora, era o imperador mariano, sobre cuja história santamente terrível está a iluminação do sorriso de Maria.
Depois, então, vem mais um passo, é como a posteridade considerou Carlos Magno. E é a aclamação dos povos para o homem enorme que ele acaba de descrever, e assim como se fosse um bimbalhar de sinos que não acabam mais, a história acaba assim…
Não sei se os senhores não acham bonito dissecar uma história, porque a gente compreende muito melhor aquela sucessão de fatos, que a gente não entende bem por que é que é, por que é que estão ali etc. Mas quando se faz a dissecação daquilo, depois de reler, fica muito mais bonito.
Nós, infelizmente, não vamos ter tempo de executar meu desejo que era de fazer a releitura completa para ir mostrando aos senhores em que cada ponto se realiza. Mas poderíamos pôr um ponto desses ou dois, do começo e ir lendo, simplesmente eu vou ter que interromper a toda hora.
* A quem Deus dá predicados extraordinários, Deus tem para aquele um desígnio especial
“Personalidade tão rica em predicados que nele se pode reconhecer um enviado poderoso do Senhor.’
Então, é a introdução, como por exemplo, e põe numa festa de teatro; vai entrar um personagem, a narração anterior prepara a entrada do personagem para se compreender quem é. A entrada é: rico de predicados, tão rico que nele se pode reconhecer um enviado do Céu.
Há um princípio muito interessante: a quem Deus dá predicados extraordinários de qualquer natureza, por exemplo, um grande músico, um grande pintor, um grande poeta, um grande qualquer coisa, quando aqueles predicados são extraordinários, freqüentemente, quase sempre, não ouso dizer sempre, talvez seja sempre, Deus tem para aquele um desígnio especial.
De maneira que os senhores observem um grande homem ou é uma benção, ou é um flagelo. Então se compreende que vendo muito o grande homem se diga: “Deus teve sobre ele desígnios especiais”.
Ele introduz com esta frase a sua descrição de Carlos Magno. Está bem pensado. Agora, os senhores vão ver como a bobina se desenvolve bem.
* O homem extremamente equilibrado e que exerce um efeito equilibrado sobre os outros, afugenta, incute medo, mas atrai
“Era de corpo grande e robusto”;
A força!
“…formosos cabelos cobriam-lhe a fronte altaneira e emolduravam uma serena e alegre fisionomia”;
Os senhores vejam então: é um homem de corpo robusto, mas que tem alguma coisa de formoso, ele tem os cabelos formosos que formavam uma moldura para o rosto dele. Mas para não dar um ar efeminado, ele acentua que emolduravam a sua fisionomia altiva. Altaneira quer dizer isso. Portanto, os formosos cabelos de que a Providência o tinha dotado, eram para tornar aprazível de olhar um homem que, entretanto, era terrível.
Então, este “aprazível” colocado junto ao “terrível” formam uma combinação que se chama equilíbrio, e que atrai o homem que pela sua grandeza poderia afugentar. Então, é um homem extremamente equilibrado e que exerce um efeito equilibrado sobre os outros; ele afugenta, ele mete medo, mas ele atrai.
A fisionomia dele é uma fisionomia alegre. A palavra “alegre”, se abusa muito da palavra hoje, dando a impressão que é um animal qualquer que se deleita em ouvir coisas de televisão, não é isso. A palavra “alegre” quer dizer uma fisionomia de pessoa feliz, de pessoa que tem a consciência tranqüila e que vive alegre de viver porque sabe que se cumprir os Mandamentos vai para o Céu; é a alegria católica, não é a alegria desses palhaços que andam por aí.
* Carlos Magno é digno e impõe respeito na paz e a guerra
“… sentado ou de pé, sempre sua figura era de uma aparência em extremo digna e imponente”.
Algum dos senhores poderia dizer: “Por que é que conta que assim era sentado e assim era de pé? Não bastava dizer que sua figura era em extremo [digna e imponente]?”
Não! Porque há uma dignidade e uma imponência de quem está de pé, e há outra dignidade e imponência de quem está sentado. E nem sempre as pessoas são bastante dotadas para reunirem as coisas em si; ela impõe muito de pé e não sentadas, ou impõe muito sentadas e não de pé, e das duas posições está ser imponente é mais ou menos assim: ele é digno e impõe respeito na paz e a guerra, porque o homem que está de pé, lembra mais o homem que vai para a luta, e o homem que está sentado está para a reflexão. A meditação está para a decisão… um rei manda sentado; comanda de pé ou a cavalo.
Os senhores estão vendo como esse homem portanto, escreve bem, ele sabe pôr bem direito… mas para quem é capaz de ler bem; se o sujeito ler como tanta gente que não sabe ler, costuma ler toda espécie de bolostroca, isso não quer dizer nada, mas se ele sabe dissecar – e eu estou dizendo isto com intuito de que os senhores tenham vontade de saber dissecar, é para esse efeito – se ele sabe dissecar, ele aí aprecia a coisa, porque assim é agradável ler.
* O varão é o homem apresentado na sua força
“… Seu passo era firme, suas atitudes varonis, clara era sua voz”.
Vejam bem, sempre a idéia do equilíbrio: “passo firme”, ele não se contentou em pôr o homem parado, em pé ou sentado, mas de mostrar como andava; “atitude de homem”, de varão. O que é o varão?
Para simplificar as coisas para esses efeitos aqui, é o homem apresentado na sua força. Agora, “clara era a sua voz“. Os senhores imaginem só o seguinte: que ele tivesse uma voz cava e soturna, feita para conspirar e não para proclamar, eu pergun­to: o homem não ficava meio diminuído para os senhores? Se os senhores fossem falar com Carlos Magno e saísse uma voz: Óoouuhh!, os senhores não ficariam mal à vontade? Como ele tinha uma voz clara… “clara era a sua voz”, a gente fica compreen­dendo o todo deste homem que era um…
* Ser devoto da Santíssima Virgem é ser devoto da doçura das doçuras
“Desde sua mais tenra infância Carlos teve uma profunda devoção à Santíssima Virgem e nunca cessou, ao longo de seu reinado, de propagar em seus domínios o culto à Rainha dos Céus…”
Depois de apresentar Carlos, ele apresenta uma nota da men­talidade dele de uma doçura suprema. Ser devoto da Santíssima Virgem é ser devoto do doçura das doçuras, é evidente!
O que é que se aprende de Nossa Senhora? É possível aprender alguma coisa dEla sem ao mesmo tempo aprender doçura? É impossível. Então é doce, mas que gigante doce!!
Não é verdade que isto dá os senhores mais sabor numa leitura do que que uma leitura a galope? E como eu desconfio muito que nos colégios já não se ensina dissecar nem nada disso, o resultado é que é melhor vermos isso aqui.
* Carlos Magno encheu o império da luz dessa doçura, propagando a devoção a Nossa Senhora
“… erigindo em seu louvor incontáveis mosteiros e igrejas”.
Então, ele dá o primeiro passo depois de descrever a personalidade de Carlos Magno e sempre com a preocupação de mostrar o equilíbrio em Carlos Magno, equilíbrio sem o qual a força é um flagelo, ele mostra esse traço de doçura não só pessoal dele, mas como ele encheu esse império da luz dessa doçura, propagando a devoção a Nossa Senhora, fundando inúmeros mosteiros etc. E no império desse homem que era forte como um sol, entretanto, ele punha o brilho de Nossa Senhora a qual diz a Escritura que é “Electa ut luna”. Os senhores estão vendo, tudo muito bem pensado nesse negócio.
* O lutador que espalhava o terror e a doçura
“À sua poderosa intercessão atribuía ele as vitórias de todas as suas empresas..”
Não era mega, não dizia que ele era a causa: “Olhe aqui meu braço!” Não. “Eu pedi a Ela e Ela deu”.
Eu acho estupendo esse quadro como equilíbrio!
“Seus exércitos, não tendo por finalidade senão propagar a fé e vencer os pagãos…”
Vem outra nota dele como lutador. Então, é o lutador que por seu lado espalhava o terror e a doçura. Agora, de outro lado, eram exércitos que não tinham por finalidade saquear, nem roubar, nem ficar mais rico, nem ficar mais poderoso, nem nada; tinha como única finalidade defender a Santa Fé Católica, portanto, o mais alto dos ideais.
Esse homem que podia fazer para si uma vida gostosa, agradável, tranqüila, fez uma vida de batalhas incessantes porque ele queria que o reino da Fé se espalhasse por toda a Terra. Um guerreiro assim a gente venera.
“…os colocou sob a proteção de Maria, cuja imagem tremulava em seus estandartes”.
Os senhores imaginem aquele exército que meteu medo em Didier, com estandartes com imagens de Nossa Senhora…
“De sua ardente devoção a Maria era também complemento perfeito uma ardente devoção ao Papado…”
Outro ideal. O Mons. Segur, que era um prelado francês eminente, que viveu no século passado, dizia que as três rosas dos bem-aventurados, quer dizer, dos que vão ser chamados para o Céu etc., eram a devoção à Sagrada Eucaristia, a devoção a Nossa Senhora e a devoção ao Papado. Isso está perfeitamente bem pensado. Ele não falou da Sagrada Eucaristia, e ele agora vai falar do papado. E ele mostra essa força a serviço de que ideal estava, e com isto vai nos fazendo amar a força.
“… resplandecendo entre seus títulos o de “Doctor fideique minister” – doutor e ministro da fé.
“A valentia de Carlos, sua tenacidade e prudência…”
Agora vem propriamente a guerra. Mas eu acho que a guerra podíamos ver num outro sábado.
Eu tenho uma reunião ainda e não há remédio.
(Pergunta: Se o senhor pudesse dizer como Carlos Magno, se vivesse hoje, não faria outra coisa senão ser membro da TFP…)
Nós nos ajoelharíamos diante dele para nos aceitar no exército dele, e dado que ele era tão forte, tão forte, tão poderoso e ao mesmo tempo tão afável… Mas adiante tem uma passagem muito bonita sobre o amor paterno dele, como era terno, como era afável, eu estou certo que ele tiraria uma flâmula do peito de algum de nós e poria no peito dele.
Ele não teria medo, de tão forte que ele era, ele não teria medo de diminuir o seu poder usando uma flâmula de uma organização que o infame Gorbachev acaba, num discurso, de chamar de “corpúsculo que estava se metendo dentro das coisas da Rússia”. Mete mesmo e está acabado! Desde que seja segundo as leis de Deus e dos homens, mete mesmo! E das leis dos homens que estão conformes à de Deus.
Então eu posso imaginar o grande Carlos aqui, nós todos de joelhos diante dele e ele ultra comprazido e nos perguntaria se nós queríamos alguma coisa dele. E nós diríamos: “rezai à Virgem Santíssima por nós e conduzi-nos para a batalha”…
Salve Regina…
(Pedem uma sugestão para a semana)
Recomendo a todos que peçam a Nossa Senhora em grau heróico e perfeito todas as virtudes de Carlos Magno para si individualmente e para todos da TFP, de todas as TFPs. Para isso rezar todos os dias uma Ladainha Lauretana diante do Santíssimo Sacramento.

Nota: Clique aqui para consultar a coletânea de documentos do Prof. Plinio sobre Carlos Magno.

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