Reforma Agrária - Questão de Consciência


Secção I

A investida do socialismo contra a propriedade rural

Título I

A "Reforma Agrária" e nossa realidade rural

Capítulo III

"Reforma Agrária", falsa solução para um problema inexistente

 

Consideração equilibrada das falhas e problemas de nossa vida rural

O consenso geral do País reconhecia até há bem pouco que estes e outros senões, merecedores, sem dúvida, de remédios, alguns dos quais enérgicos e urgentes, não importavam em negar as reais benemerências da classe dos agricultores e do instituto da propriedade rural, nem justificariam uma medida como a reforma drástica da estrutura agrária, pela supressão das propriedades média e grande e a transferência das respectivas terras para os trabalhadores.

Esta solução lhe pareceria, e a justo título, tão inadequada e tão injusta quanto a de alguém que, à vista das lacunas freqüentes e graves que existem atualmente na vida do lar, resolvesse, não reformar os homens e seus abusos, mas abolir a instituição da família ou enfraquecê-la.

Os princípios fundamentais da propriedade privada, como os da família, derivam da própria natureza das coisas, e portanto de Deus, Autor da natureza (20).

Construir uma sociedade com menosprezo desses princípios é o mesmo que construir um edifício sem tomar em consideração as leis da Física.

Por isto mesmo, nas várias fases de infortúnio que teve de enfrentar – por exemplo, quando da grave crise do café em 1929 – o agricultor infeliz, opresso, quase diríamos perseguido, continuou cercado da estima e da consideração geral. A ninguém ocorreria ver nele a causa, mas sim a vítima da crise por que o País passava. É que, mais ou menos explícitas, as verdades que há pouco enunciamos, e em que se baseava o prestígio do agricultor, eram aceitas sem contradição.

 

O falseamento do problema

Esta visão ficou clara enquanto os princípios em que se funda a nossa estrutura agrícola tradicional estavam conscientes e vivos no espírito de todos os brasileiros.

O declínio religioso de que já falamos, e que afetou as cidades e os campos, foi deixando apagar-se gradualmente aqueles princípios. Poucos são, hoje em dia, entre nós os que os contestam. Mas, à força de não ouvirem falar deles, vão-se esquecendo ora de um, ora de outro, e com isto a firme estrutura ideológica antiga vai-se reduzindo à categoria de algumas convicções esparsas, alguns hábitos mentais, algumas velhas simpatias. Ficou assim aberta a porta dos espíritos para aceitar desprevenidamente princípios que contém em si, implícita ou explicitamente, a idéia de que o interesse público é oposto ao interesse particular, e que, em conseqüência, o proprietário rural não é um benemérito, mas um parasita. Descreveremos adiante o processo subtil dessa transformação.

A partir de uma visão assim transformada, não é difícil para o brasileiro médio tomar uma atitude de antipatia em face de nossa atual estrutura agrária. Pode parecer-lhe muito plausível que toda a crise atual decorra dessa estrutura. Fica configurado desse modo um problema rural inexistente.

Para esse problema inexistente, parece inteiramente natural uma solução falsa: a reforma igualitária da estrutura rural, isto é, a "Reforma Agrária".

Essa solução merece a qualificação de falsa sob dois pontos de vista. Em primeiro lugar, como é óbvio, porque imaginar em determinada situação concreta um problema inexistente é impor uma solução falsa, a qual, por sua vez, criará problemas autênticos. Em segundo lugar qualificamos de falsa essa solução porque ela é contrária, como veremos, aos princípios imutáveis de toda ordem humana.


Nota:

(20) Cfr. Título II, Capítulo II.


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