"Letras em Marcha", n.º 127, maio de 1982
Russos poderão aproveitar tensão nas Malivinas
"Na presente tensão anglo-argentina a propósito das Malvinas, paradoxalmente minhas simpatias se voltam a um tempo para a Inglaterra e a Argentina. Pois a crise das Malvinas não é bilateral como parece à primeira vista, mas trilateral. E o "tertius", o sinistro "tertius" a danificar simultaneamente as duas nações que aparecem no foco da publicidade, é a Rússia soviética. Com relação a esta, sim, sou contra. E julgo necessário afastá-la porque ela se camufla sorrateiramente em um segundo plano brumoso", declarou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.
"Com efeito – prosseguiu – a presença de uma força naval da Rússia no Atlântico Sul - tão distante de seus mares árticos - e precisamente nesta hora crítica, põe em xeque aqueles dois países, e não só eles como também a toda a América do Sul. E eventualmente pode lançar à guerra atômica as superpotências norte-americana e russa.
"Cabe lembrar a propósito o penetrante e perspicaz comunicado que a TFP argentina publicou em "La Nación" de 13 de abril p.p., e também na "Última Hora" do Rio, de 19 daquele mês, ponderando que "se a Argentina vier a se aliar com a Rússia ou a aceitar o apoio militar russo, teremos perdido muito mais do que ganho".
"Não valia a pena"
"Ao que parece – assinalou o ilustre pensador católico – o império britânico não renuncia às Malvinas por não querer dar a impressão de pouca capacidade na defesa dos interesses imperiais em outros lugares do globo, nos quais a situação é análoga, como Gibraltar. Por outro lado, a Venezuela reivindica grande parte do território da Guiana, membro da Commonwealth. Entretanto, se não podemos pedir à Argentina, Venezuela ou Espanha que renunciem às suas tradicionais reivindicações, é impossível não discutir a oportunidade da ocupação militar argentina, neste momento. A força naval soviética que se encontra na zona será provavelmente solicitada pela Argentina a prestar ajuda contra os ingleses. Se tal ocorrer, os soviéticos formularão inevitavelmente suas condições: por exemplo, um condomínio russo com a Argentina nas Malvinas e a participação das esquerdas argentinas no poder central da nação. Depois, se as tropas russas desembarcarem no país, sob pretexto de colaborar em sua defesa, quem obterá que o abandonem?"
E prosseguiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "Com muita ênfase formulo a pergunta que me parece vital: para efetivar agora seus direitos às Malvinas valia a pena para a Argentina pagar tão imenso preço político?
Como católico, como brasileiro, como sul-americano portanto, só passo responder: "Não valia a pena."
Desdobramentos
E acrescentou o antigo parlamentar paulista:
"A se verificarem as hipóteses sinistras a que me referi, uma ventania de entusiasmo e esperanças, carregando consigo os piores miasmas ideológicos, soprará em nossas raquíticas esquerdas políticas, no esquálido PCB, e também na esquerda religiosa, já tão potente na CNBB. Mas não é só. Há em nossa burguesia mais alta todo um setor tendente à autofagia sócio-econômica, que prega o desânimo e o "ceder para não perder" ante as reivindicações de todas as esquerdas.
Essas várias forças sociais haveriam de atuar em prol da capitulação dos elementos sadios inegavelmente existentes na burguesia rica, mais ainda na burguesia média e pequena, e muito mais ainda na grande classe conservadora que é, no Brasil, a dos trabalhadores manuais urbanos ou agrícolas."
Concluindo, observou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
"Com fenômenos análogos se desenrolando em toda a Ibero-América, o imperialismo soviético pode ir fazendo assim em nosso continente um imenso Vietnã, no qual os Estados Unidos se vejam obrigados por fim a intervir para sua própria salvaguarda. Com quanta vantagem neste caso para Moscou."