Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Quando se quer que oscile

o Pão de Açúcar

 

 

 

 

 

 

 

"Veritas", novembro de 1979

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De um extremo do País a outro, ouve-se falar hoje sobre a necessidade de "reforma nas estruturas sócio-econômicas". A insistência a tal respeito vai assumindo matizes com o vulto de genuína manobra de guerra psicológica revolucionária. Pois, bem examinada a fórmula – martelada com a insistência de um "slogan" – ela deixa ver que tem mão e não tem contramão.

Com efeito, a palavra "reforma" é aí empregada com amplitude indefinida. Não especifica se seu rumo é para a esquerda, ou para a direita. Porém, na realidade, quase todos os que a empregam, deixam ver que, por meio dela, têm em vista unicamente transformações igualitárias. Umas mais. Outras menos. Mas todas, enfim, igualitárias.

O clamor por tais reformas vai constituindo assim uma verdadeira "frente ampla" de opinião pública, que aglutina para a formação de um só impulso todos aqueles que desejam um mundo novo, menos distante do mundo comunista do que o atual. Essa diminuição de distância, uns a desejam rápida e radical, outros a desejam mais lenta e discreta. Outros, enfim, quase infinitesimal. Mas, em todos os casos, é uma diminuição de distância.

É como se se formasse, na cidade do Rio de Janeiro, uma aglutinação de impulsos físicos fabulosamente abarcativa para deslocar o Pão de Açúcar. Alguns dos "contribuintes" desse impulso global quereriam arredá-lo apenas de alguns milímetros. Outros, mais categóricos, de alguns centímetros. E, daí para a frente, até uma minoria que quisesse atirá-lo ao fundo do mar. Para esta última, todos os adeptos do deslocamento do atual equilíbrio do gigantesco monolito seriam indiscriminadamente aliados. Pois todos concorreriam para o essencial, que consistiria em inclinar, para qualquer lado que fosse, o colossal rochedo. Uma vez que ele se pusesse a cambalear, seria menos difícil aproveitar um bom momento para atirá-lo ao mar.

A atual ordem de coisas é comparável ao Pão de Açúcar. Para os que a querem atirar ao pélago comunista, o importante é fazê-la cambalear. E, para isto, pode concorrer admiravelmente o vozerio cru a favor das reformas de estrutura. Tanto mais quanto, como disse, esse vozerio enfatiza uma fórmula que só tem mão para a esquerda, isto é, para o igualitarismo, no extremo do qual está o comunismo.

Em nossos dias, em que a hierarquia sócio-econômica está sendo diluída, corroída e contestada até por muitos dos que nela ocupam altas posições, seria o caso de incluir no elenco das reformas pelo menos algumas medidas que reforçassem essa hierarquia. Mas quem propusesse isso numa reunião de "reformistas", teria contra si a frente única de todos os presentes. Precisamente como quem, numa rua muito movimentada, tivesse entrado de automóvel contra a mão.

Essas observações sugerem cautela em relação à atual onda reformista. Cautela que poderia consubstanciar-se em uma tomada de atitude muito simples, isto é, em um pedido a cada reformista para que defina claramente quais as reformas que deseja. O desacordo mútuo entre todos os reformistas tornar-se-ia então patente.

Seria o mesmo que quebrar a onda, e desfazê-la em mil gotinhas...

Ao propor tal tomada de atitude, devo por minha vez precisar minha própria posição. Pois não quero ser mal interpretado.

Antes de tudo, desejo afirmar que não sou hostil a toda e qualquer reforma. Quero, isto sim, que a reforma não seja entendida como meio para fazer justiça unilateral em favor dos pobres contra os ricos, ou dos ricos contra os pobres. Pois, diga-se de passagem, também os ricos têm direitos, inclusive... o de serem ricos. Uma justiça unilateral é tão absurda quanto uma balança da qual se tenha arrancado uma das conchas.

De outro lado, do fato de que todo regime igualitário é intrinsecamente injusto não concluo que toda desigualdade seja necessariamente justa. Penso mesmo que a estrutura sócio-econômica capitalista tende a constituir desigualdades tão imensas, que fazem o jogo do igualitarismo. Se todo o patrimônio privado de um país grande como o Brasil acabasse por pertencer a um núcleo de mil ou dois mil plutocratas, produzir-se-ia em conseqüência um desequilíbrio por via do qual, ou eles dominariam o Estado, ou este teria que dominá-los. A corda arrebentaria naturalmente do lado mais fraco. A multidão, desinteressada da manutenção do princípio da propriedade individual, se manteria indolente ou talvez até se manifestasse entusiasta, caso o Estado arremetesse contra este microcosmo de supernababos. E quanto seria fácil ao Estado fazê-lo, armado com os mil meios que lhe proporcionam hoje as técnicas de pressão publicitárias, financeiras, fiscais e policiais! O auge da desigualdade seria assim o último passo para a igualdade completa. E nada há de mais útil para a manutenção das desigualdades legítimas, do que conservá-las íntegras e pujantes, porém proporcionadas à ordem natural das coisas.

Isto ressalvado, é o caso, entretanto, de exigir dos reformistas que atualmente acompanham o "new-look" sócio-econômico, que sejam explícitos e atilados. Dentre eles, os que não queiram servir de "inocentes-úteis", ou "companheiros de viagem do comunismo", se retirem da onda. Os que queiram ser uma coisa ou outra, que o digam francamente. Neste caso, não tardarão em sentir quanto, de alto a baixo da escala social, haverá quem os repudie como cooperadores do inimigo máximo da civilização cristã.


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