"Letras em Marcha", novembro de 1976
Saudosa homenagem e razões de esperar
Mais um aniversário da intentona comunista de 1935. A data nos convida a uma homenagem repassada de admiração e reconhecimento. Tal homenagem, entretanto, nada significaria se não conduzisse à imitação do grande exemplo que nos foi legado pelos heróis da luta do anticomunismo de antanho. É, pois, em atitude espiritual de abnegação e destemor, que todos devemos nos postar nestes dias.
Cabe especificamente ao elemento militar, por imperativo de sua nobre missão, continuar o bom combate, pondo a força a serviço da lei e da ordem, contra as tramas e as agressões da subversão violenta.
A elas e a todos nós brasileiros incumbe, ademais, lutar a lado contra a guerra psicológica, cujas ondulações percorrem toda a América do Sul.
Este dever se apresenta muito mais urgente em nossos dias, do que nos longínquos idos de 1935. Pois, que então para cá, esta forma de guerra tomou o corpo e se expandiu de modo assustador.
Tal expansão apresenta aspectos multiformes. Sobre um destes, cuja importância cada vez mais se faz sentir, passamos a tecer algumas considerações.
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Em 1935, o proselitismo comunista se fazia principalmente pela apologia aberta da doutrina de Marx a fim de recrutar, formar e lançar à ação marxistas integrais. Hoje em dia a ofensiva doutrinária de cunho especialmente marxista continua. Mas sempre com resultados escassos e difíceis. Por isto, mais "rendoso" e mais importante tornou-se, para o marxismo, constituir largos setores de cripto-comunistas, paracomunistas e inocentes-úteis. A estes não cabe investir clara e diretamente contra nossa civilização, mas atuar gradualmente – e despercebidamente – sobre as grandes massas populacionais algum tanto átonas, transferindo-as de sua atual posição antimarxista, ou pelo menos a-marxista, para o campo comunista.
A par disso, o comunismo usa com amplitude jamais igualada, os artifícios psicológicos próprios a desnortear e desorganizar os setores de opinião pública militantemente refratários à propagada vermelha.
Todas essas diversas modalidades de ação, vemo-las empregadas de um modo ou de outro, em nosso País. E é obvio que elas constituem, em seu conjunto, o mais perigoso fator de êxito para a grande operação de conquista da opinião, que agora os comunistas estão tentando levar a cabo.
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Descreveremos essa operação em rápidos traços.
Em 1935, a maioria esmagadora, ou antes, a totalidade absoluta da opinião católica lutava contra o comunismo. Hierarquia, clero secular e regular, ordens e congregação religiosa masculinas e femininas, seminários, noviciados, faculdades católicas, associações de laicato católico destinadas à catequese, à formação espiritual, as obras sociais, jornais e revistas católicos, tudo enfim, dentro do campo católico, se alinhava para formação de um imensa muralha espiritual, contra cuja mole era impraticável a vitória dos vagalhões comunistas.
Era, pois, indispensável para Moscou solapar a muralha.
Por volta de 1940 teve início a infiltração esquerdista em meios católicos. Sob pretexto de aceitar a colaboração dos comunistas para a correção de inegáveis injustiças da atual ordem sócio-econômica, começou a se formar uma corrente de intelectuais e homens de ação católicos que, afirmando-se embora anticomunistas, alegavam a caridade cristã, o amor à paz e a necessidade da coexistência pacífica de modo a produzir um verdadeira desmobilização psicológica dos meios católicos, no que diz respeito ao comunismo. Aproveitando o terreno assim preparado, vieram em seguida os teólogos, filósofos e sociólogos que, asseverando recusar o ateísmo e o materialismo inerente à doutrina de Marx, puseram à cata de pontos de afinidade doutrinários entre o ensinamento da Igreja e o comunismo.
Ao longo dos anos chegou-se, desse modo, à aberração de bispos como os da Regional Sul II, do Estado do Paraná, os quais, antevendo a conquista do Brasil pelos os comunistas, já apregoam a todos os seus colegas aceitação da perseguição religiosa, e uma ativa colaboração com o regime vermelho.
Ou com o D. Pedro Casaldáliga, bispo de Félix de Araguaia, o qual se ufana de situar-se doutrinariamente ainda além do comunismo, e em suas poesias canta a luta de classes. Documentos escandalosos como esses circulam nos meios católicos sem a menor repulsa das autoridades. Pelo contrário, várias destas tomaram a defesa dos referidos bispos por meio de editais ou comunicados largamente difundidos pela grande imprensa do País.
Dificilmente podia imaginar mudança maior, se confrontando este quadro com o da opinião católica em 1935.
Para obviá-la, não faltou quem dirigisse as autoridades eclesiásticas brado de alerta.
Assim por exemplo, em 1968 a TFP promoveu um abaixo-assinado em que pedia a Paulo VI providências contra a infiltração esquerdista em meios católicos. Que saibamos, foi o maior de nossa história. Em 58 dias subscreveram-no 1.600.368 brasileiro dos mais diversos Estados. O apelo resulta em vão.
À vista da situação sempre mais trágica, a TFP publicou em 1970 o manifesto "A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas – Para a TFP: omitir-se? ou resistir?", no qual afirmava seu propósito de lutar desassombradamente, nos limites das leis canônica e civil, contra a "Ostpolitik" vaticana.
Mas a maré montante da infiltração comunista parece alastrar-se de modo irresistível.
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"Parece", dissemos de propósito. Pois a realidade é bem outra. A guerra psicológica revolucionária tem conseguido resultados desconcertantes em certos setores da Sagrada Hierarquia, do clero, das obras e associações católicas. A massa da população – e dizemos especialmente da população católica – devidamente alerta por vozes também católicas, das quais a TFP não é a única, continua porém firmemente anticomunista. Da grande muralha católica, certo número de pedras tem rolado espetacularmente. Mas a muralha continua em por pé, firme.
Esta não é uma afirmação lançada ao ar. Um fato que vale por verdadeira "enquête" de opinião pública o demostra.
A TFP iniciou a venda ao público do livro "A Igreja ante a escala da ameaça comunista – Apelo aos bispos silenciosos" em São Paulo, no dia 19 último. Essa venda prosseguiu depois no Rio, em Belo Horizonte, em Recife, João Pessoa, São Luís do Maranhão e outras cidades. E no momento está se fazendo metodicamente em vários pontos do Nordeste. Até aqui já foram vendidos do referido livro cerca de 20 mil exemplares, comprados quase sempre por católicos preocupados, ou até angustiados, com a guerra revolucionária que se vai desenvolvendo na Igreja.
Freqüentemente, o livro tem sido posto à venda na saída das Missas. Comentando o Evangelho, o Oficiante aproveita para falar contra livro. Ao deixar a igreja, são numerosos os fiéis que compram tranqüilamente. Ou quando não dispõem dos meios para adquiri-lo, passam cumprimentando cordialmente e risonhamente os vendedores.
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- O que deduzir do fato tão incomum?
- Nosso povo é ao mesmo tempo mais pacífico e dos mais lúcidos do globo. Pacífico, ouve ele sem protestos, ali e acolá, a pregação inautêntica de um comunismo, ou de um cripto-comunismo ou de um para-comunismo inculcado em nome do Evangelho. Lúcido, desconfia ele da mistificação, e adquire de bom grado o livro que o confirma na desconfiança que já vinha sentindo.
E assim os católicos brasileiros continuam – a despeito da ofensiva clérico-comunista – inabaláveis na profissão simultânea de sua Fé católica e de suas convicções anticomunistas.
De 1935 para cá, mudaram certos Pastores – não todos, graças a Deus. Porém não mudou o rebanho... Este continua fiel ao Bom Pastor.
Não nos iludamos, entretanto, sobre a estabilidade deste resultado.
Tal estabilidade tem seu preço. E uma das parcelas deste preço é a vigilância contínua, a ininterrupta contra-ação doutrinária, não violenta e estritamente legal.
Não violenta, afirmamos de passagem. Pois contra a guerra psicológica enquanto tal, reagir pela violência é inócuo como reagir a bofetadas contra gases asfixiantes.
Estes são importantes aspectos do panorama geral que se deverá ter em vista no transcurso do 41° aniversário da intentona comunista de 1935.
Deste panorama, uma nota ressalta. É que não há qualquer razão de desânimo. O povo brasileiro continua fiel à fé e à civilização herdadas dos maiores.
E a conseqüência é: para a luta! Para a luta valente, sim, dentro dos princípios da Moral cristã, e com inabalável confiança na ajuda de Deus.