"Diário de las Américas" (Miami) e "The Remnant", 27 de janeiro de 1976
A nova rede do comunismo
A "Biblioteca do Exército Editora", à qual o Brasil deve tantas publicações de inegável mérito intelectual e de relevante oportunidade, publicou a obra de J. Bernard Hutton, "Os subversivos". Por surpreendente que seja, só agora tomei conhecimento do impressionante trabalho, o qual me foi ofertado por um dileto amigo, oficial de incontestável relevo e belo futuro, de nosso Exército.
Impressionante? Será bem este o qualificativo a ser dado a tal livro? Sem dúvida, pelo menos no sentido de que o livro impressiona muito. Porém, a ação que ele exerce sobre o leitor vai muito mais longe. O livro fornece abundante matéria para reflexão. Uma reflexão que convida ao aprofundamento e conduz à formação de um panorama global sobre os problemas da propaganda comunista no Ocidente.
Neste sentido, é tal a riqueza da obra, que se torna difícil comentá-la num só artigo. E como o leitor moderno perdeu inteiramente o gosto dos artigos em série, tão do agrado de nossos ancestrais do século XIX, o crítico contemporâneo de uma obra de tal valor fica muitas vezes na impossibilidade de abordá-la no conjunto.
Assim, só me resta escolher a esmo um ponto qualquer da obra e comentá-lo.
É o que pretendo fazer, ajudando assim o leitor – inundado pelo fluxo publicitário torrencial que o cerca – a discernir, no magma da publicidade banal, este trabalho, que talvez ainda não tenha lido.
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Que ponto destacar?
Minha qualidade de presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) põe-me em luta constante contra a agressão ideológica e psicológica que o comunismo pratica infatigavelmente contra meu País.
A experiência dessa luta me leva a destacar especialmente o que J. Bernard Hutton diz sobre a rede dos "não comunistas" e dos "anticomunistas" a serviço do comunismo.
O tema tem o maior interesse prático.
Não pense o leitor que o "não comunista" ou o "anticomunista" aqui mencionado se confunde com um vulgar criptocomunista. Este último é simplesmente um comunista que, para difundir suas convicções, fazer agitações ou praticar atos de terrorismo, oculta sua verdadeira identidade ideológica. Nesse sentido, um miserável espião, por exemplo, seria também ele um autêntico espécime de criptocomunista.
O "não comunista" ou o "anticomunista" de que aqui se trata tem uma posição muito mais sofisticada.
Dada sua impossibilidade, mil vezes comprovada pelos fatos, de conquistar pela persuasão as grandes massas, o comunismo só encontra diante de si um meio legal de chegar ao poder nas democracias representativas do Ocidente. Consiste em adormecer a vigilância das maiorias, persuadí-las de que o comunismo deixou de ser um perigo, inspirar nelas a ilusão de que o comunismo contemporâneo não tem a agressividade imperialista de outrora, etc.
Postos em circulação estes mitos, torna-se fácil induzir a opinião pública a aprovar uma política inteiramente errada face ao comunismo. Consiste esta em persuadir os ocidentais de que a evolução do comunismo na era pós-staliniana poderá chegar a tornar inteiramente vão o perigo comunista, desde que saibamos agir com habilidade. Sorrisos, concessões, provas de amizade e até de confiança nos comunistas, acabarão por desarmá-los inteiramente. Eles se transformarão em bons amigos. Terá desaparecido no plano internacional o perigo da hecatombe nuclear. No plano nacional, o perigo das agitações, dos atentados e das revoluções. No plano das relações individuais, as desagradáveis fricções entre comunistas e anticomunistas serão substituídas por um edênico inter-relacionamento social, cultural e econômico.
Bem intoxicadas desses atraentes mitos, as massas apoiarão sempre a política que convém à minoria comunista. Pois a condição básica de êxito para uma minoria consiste em que a maioria adversa se torne imprevidente, boba, manipulável à vontade.
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Assim como a expansão do comunismo doutrinário tem sua rede própria de prosélitos, com técnicas específicas, do mesmo modo a expansão das ilusões, fraquezas e interesses que dão origem à mitologia otimista do burguês face ao comunismo supõe uma rede própria de agentes, com técnicas particulares.
Não se trata para estes de difundir veladamente idéias comunistas. Sua missão não é de fazer comunistas. É de fazer idiotas. Os encarregados dessa triste missão devem ocultar que são comunistas. E muitas vezes nem sequer o são.
Com efeito, mais do que o comunista convicto, serve para essa tarefa o burguês frívolo, que aproveita qualquer pretexto para meter, como avestruz, a cabeça na areia. Ou o intelectual vaidoso, que pressente os aplausos da imprensa se publicar algo a favor desses mitos. Ou o homem da rua comum, que nota os aplausos obtidos no clube ou no sindicato por quem veicule alguma das tolices a respeito do comunismo hodierno, que há pouco mencionei.
Basta olharmos em torno de nós, para percebermos a imensa extensão desta rede de agentes conscientes e subconscientes que fazem o jogo do comunismo. Não são apenas comunistas, mas "não comunistas" e "anticomunistas".
Para pôr em marcha as incontáveis legiões desses agentes, basta que o comunismo tenha à disposição – é uma questão de dólares, francos ou liras – gente que, através da televisão, do rádio e da imprensa, crie uma atmosfera favorável a essa maldosa e estúpida mitologia. E punhadinhos de corifeus que aplaudam, nos vários ambientes da vida política e social, os mitômanos. A metade da guerra está ganha. Pois Clausewitz, o famoso teórico alemão da guerra, escreveu que, para derrotar um povo, nem sempre é indispensável atacá-lo. Basta tirar-lhe a vontade de lutar.
E é por meio desta rede que se tira a um povo a noção do dever de lutar e se amortecem nele a coragem, a vigilância e os próprios reflexos do instinto de conservação.
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Quem são os agentes – não raras vezes agentes-vítimas – desse dantesco processo de putrefação? Riquíssimos e buliçosos homens de negócios, políticos à cata de votos, clérigos progressistas, calmos burgueses dispostos a todas as cegueiras para não perturbar as delícias do "week-end". Em suma, um imenso e confuso magma de pessoas com convicções escassas, caráter ainda mais escasso, e um senso hipertrofiado de seus interesses do momento. E, em meio deles, como discretos insufladores, pessoas cujas convicções são comunistas, cuja atuação se desenvolve conscientemente a favor do comunismo, e cuja eficácia em favor desta péssima causa pode ser muito maior que a de quantos comunistas declarados.
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Essas observações, extraídas todas de minha experiência pessoal, podem talvez levar o leitor a uma atitude de maior vigilância contra o comunismo. Para que essa vigilância seja coroada de êxito, aconselho-o a ler o livro de Hutton. Nele encontrará, não direi um livro sem carências, lacunas ou defeitos, pois tal livro só é a Bíblia (por exemplo, não compreendo porque Hutton faz caso omisso dos aspectos religiosos da infiltração comunista no Ocidente); mas, em todo caso, terão no livro dele um magnífico auxiliar para se equiparem com vistas à grande luta, a qual é uma questão de vida e de morte, e mais, incomparavelmente mais do que isso, um fundamental dever de consciência.