Publicado nos seguintes jornais: "Diário de Las Américas" (Miami), 18 de dezembro de 1975, "The Remnant" (Saint Paul – Estados Unidos), "The National Educator" (Los Angeles – USA) "Speek up" (Toronto, Canadá).

Numerosos artigos do Prof. Plinio foram transcritos nos mais diversos Países. Este é apenas um exemplo.

A serviço do colonialismo soviético

Notícia publicada na imprensa diária de São Paulo informa que o Conselho Mundial das Igrejas se reuniu em meados deste mês de dezembro na cidade africana de Nairobi. Em uma de suas sessões, o sacerdote suíço Jacques Rossel apresentou moção pedindo que o governo soviético aplicasse rigorosamente as cláusulas do acordo de Helsinque relativas aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.

A sugestão, entretanto, não teve aceitação unânime. Os representantes "ortodoxos" dos países de além cortina de ferro manifestaram-se contra a moção, na qual viam uma acusação categórica ao governo russo. Os eclesiásticos, temendo ser derrotados, lançaram mão do expediente clássico dos comunistas: a ameaça. Declararam eles que se retirariam caso a moção fosse aprovada. Segundo o telegrama deixa entrever, os eclesiásticos não comunistas também agiram segundo os estilos que lhes são habituais. Ou seja, cederam. Chegou-se assim a uma composição. O Conselho aprovou uma resolução denunciando a ausência de liberdades religiosas na Rússia. Parece deduzir-se do telegrama, contudo, que o documento aprovado não contém qualquer exigência concreta ao governo de Moscou.

Como é óbvio, dessa moção nenhum resultado prático tirarão as vítimas das perseguições religiosas do Leste.

*

Não reconheço qualquer utilidade ou importância ao Conselho Mundial das Igrejas. Vejo nele uma espécie de ONU das religiões. Basta dizer isto para exprimir quanto o considero pretensioso, inútil e até nocivo.

O episódio que acabo de narrar comporta, entretanto, alguns comentários que talvez sejam úteis para o público.

Antes de tudo, é digna de nota a coesão maciça das igrejas cismáticas dos países satélites, em torno da congênere russa.

Não há quem ignore que além da cortina de ferro grassa uma perseguição religiosa implacável. – Que prelados são esses que em lugar de agradecer os esforços feitos por um elemento do mundo livre para pedir a cessação dessas perseguições, se levantam, à uma, em favor do perseguidor? Eles se intitulam pastores. Na realidade conduzem-se como agentes do lobo...

Esta constatação leva a uma conclusão óbvia: todos eles obedecem a diretrizes provenientes de Moscou. Em outros termos, são propriamente agentes soviéticos.

Do ponto de vista religioso, não é preciso dizer mais nada.

*

Resta ainda fazer um comentário de índole política. A aspiração de independência é, nos países satélites, uma constante profundamente explicável e, mais do que isso, respeitável.

Fiel à missão que se atribui, o clero "ortodoxo" desses países deveria estimular, nos respectivos povos, esse nobre anseio de alma. Pelo contrário, ele se deixou de tal maneira permear pela influência russa, que age em cada país como agente do colonialismo soviético.

Ao lado da traição aos princípios religiosos, a traição aos deveres patrióticos. – O que mais dizer?

*

O mais importante, entretanto, vem agora. Como acabamos de ver, as representações cismáticas dos países detrás da cortina de ferro não têm a menor autenticidade, nem como organismos religiosos "autocéfalos", como costumam proclamar-se, nem como instituições nacionais.

O que faz, então, o Conselho Mundial das Igrejas, aceitando à sua mesa redonda eclesiásticos que só representam o marxismo intrinsecamente ateu? Imagina-se uma conferência diplomática que discutisse, votasse e fizesse tratados em torno de uma mesa redonda junto à qual se sentam vários embaixadores sem credenciais?

A pergunta que salta ao espírito é: que autenticidade tem o CMI? Mais ainda: o que pensar da postura em que se colocam os representantes genuínos das outras igrejas?

*

De outro lado, poderia o Conselho agir de outra forma? Seu princípio vital é o sincretismo, que considera mestras da verdade e pregadoras do bem todas as igrejas. Não conheço posição menos autenticamente religiosa do que essa. A partir de tal sincretismo, com que direito recusar na "ONU das religiões" qualquer igreja? A lógica impõe a aceitação de todas elas. Em conseqüência, também as igrejas títeres de além cortina de ferro. Pois se no terreno religioso se admite como axioma que todas as igrejas são verdadeiras e boas, como negar que o sejam algumas delas, sem com isto romper o axioma e aniquilar o Conselho?

*

Digo tudo isto, muito menos para externar minha rejeição do CMI, do que para convidar todos os católicos, meus irmãos na Fé, a uma mesma atitude. Pois vejo com tristeza que se propaga dentro da Santa Igreja Católica um sincretismo religioso que conduz exatamente à posição absurda do Conselho. Ou seja, a admitir como portadoras legítimas da verdade e do bem, igrejas falsas. E a negociar fraternalmente com o comunismo e seus agentes, abstração feita do fato de que este é exatamente o contrário da Igreja Católica.

Vai isto tão longe, que se contam hoje talvez pelos dedos da mão as altas autoridades católicas do mundo livre que tenham a coragem de tomar contra as perseguições religiosas atrás da cortina de ferro, pelo menos a pálida atitude do triste CMI.