"O Século", 1° de maio de 1932
A Nota da Semana
A intervenção dos católicos nas pugnas políticas do País, anunciada presentemente por alguns dos seus líderes, prejudicará o prestígio de que goza a Igreja perante o Governo e a população?
É esta uma das freqüentes objeções que se opõem a quantos pretendem organizar um largo movimento social católico, que projete sua influência no terreno dos problemas nacionais.
Sua solução deve ser subordinada a esta outra questão: qual o dever da Igreja? Moralmente, pode Ela continuar alheia ao que se passa em nossa vida pública?
Esta questão se reduz aos seguintes termos: pode a Igreja consentir, sem a menor veleidade de reação, que na Legislação se desconheça Deus, se impeça o ensino religioso, se neguem os efeitos civis ao casamento religioso, se dissolva a família pela adoção do divórcio e se destruam as poucas tradições religiosas que o cinema ainda não nos roubou?
Evidentemente, não. Se a Igreja, instituída por Cristo para a defesa de sua doutrina, não lutasse com armas lícitas contra tamanhas calamidades, sua inação implicaria numa abdicação virtual de sua missão sobrenatural.
Ora, tal abdicação a Igreja não a faria, por maiores que fossem os riscos a que se devesse sujeitar, e por mais prejudicial que fosse o injusto desprestígio com que A quisessem reduzir ao silêncio.
É próprio às instituições humanas, instáveis por natureza, recear os golpes fatais do desprestígio. Nunca o faria, porém, a Igreja, ciente da força sobrenatural que lhe confere seu mandato divino, e habituada a contemplar há dois mil anos o esboroar sistemático de todos os ataques humanos dirigidos contra sua organização divina.
Nunca seria a Igreja que se acobertaria sob a capa de uma inatividade criminosa, para se preservar do desprestígio passageiro que lhe lançaria uma geração que há de morrer.
Nunca seria a Igreja que se revoltaria contra a vontade de Deus, para ganhar algo na consideração dos homens.
Há terrenos em que a transação é uma infâmia. Este é um deles.
No entanto, a sabedoria inspirada da Igreja reconhece a necessidade de completar a intransigência com uma sábia prudência.
Daí o manter-se o Episcopado alheio às lutas políticas, e superior às contendas travadas em torno de alguns dos grandes problemas nacionais, atinentes aos direitos da consciência religiosa do País.
Os fiéis, porém, ficam obrigados, por um imperativo moral absoluto, a ligarem seus esforços para, dentro da caridade e da disciplina, lutarem pela doutrina de Deus, da qual são pela Fé depositários e defensores, impedindo que os nossos adversários reduzam a um vergonhoso estado de escravidão espiritual o Brasil, que se ufana de ser católico.
No momento atual, inação significa traição. Indolência significa crime. E indiferentismo significa pecado.