"O Século", 28 de fevereiro de 1932
A Nota da Semana
Enquanto culmina, no Extremo Oriente, a luta entre japoneses e chineses, convém acentuar alguns aspectos do conflito que a "grande imprensa", sempre parcial e facciosa, deixa intencionalmente na sombra.
Trata-se, primeiramente, da atitude estranha do governo soviético perante a invasão japonesa, que evidentemente fere os mais delicados interesses russos e bolchevistas na Ásia.
O lendário poder do exército soviético, ao que parece, se reduz a mais uma mentira política, lançada habilmente pelos bolchevistas que, se fracassaram em tudo, certamente não fracassaram na arte de iludir.
Efetivamente, bolchevistas e antibolchevistas, todos eram unânimes em salientar o imenso poder dos exércitos vermelhos, que, como nova horda de bárbaros, deveriam assolar um dia o mundo civilizado, para destruir o regime capitalista.
Couraçados ingleses, canhões alemães, submarinos yankees, fuzis franceses, tudo parecia inútil para conter a avalanche rubra que os comunistas ameaçavam jogar sobre a Europa.
No entanto, o Japão, pequeno país insulado no Pacífico, se atreve a zombar do poderio russo, e é secundado pela imobilidade da própria Rússia, que se conserva num silêncio e num indiferentismo que traem o medo!
Se fossem poderosos os exércitos vermelhos, nenhuma dúvida haveria: o Japão já teria tido diante de si uma Rússia que nunca consentiria na terrível humilhação que os soviets acabam de sofrer. Mas o fato é que a Rússia se trai: pelo que agora se vê, nem o próprio exército é organizado e capaz de combater, num país onde a inversão de todos os princípios básicos da sociedade acarreta uma incapacidade absoluta de organização de qualquer departamento que seja da administração pública.
Vamos agora ao outro aspecto. Nos círculos chegados ao Vaticano, vê-se, ao que parece, com muita simpatia o triunfo das armas japonesas. A China já não constitui propriamente uma nação. Grupos de generais, que se aliam freqüentemente a hordas de salteadores, dividiram o Império Celeste de forma a não ser mais possível a constituição de nenhum governo regular. E, coisa curiosa, todos ou quase todos os efêmeros governos regionais perseguem as populações, oneram-nas com tremendos impostos e destroem quase sistematicamente os estabelecimentos católicos.
A própria população chinesa, desejosa de viver em paz, vê com prazer o triunfo do Japão! Este, portanto, longe de ser o invasor iníquo e audaz, que alguns nos querem pintar, é um verdadeiro libertador do povo e da Igreja, contra as façanhas de um grupo de condottiere, em cujas mãos, desgraçadamente, a China caiu.