"O Século", 11 de setembro de 1932
A Nota da Semana
Plinio Corrêa de Oliveira
A identidade da Igreja a si mesma, através dos 20 séculos de sua História, é uma das mais palpáveis manifestações da assistência divina que a sustenta.
A luz do sol é, por toda a parte, a mesma, quer ilumine a lendária terra dos Faraós, quer doure as famosas margens do Ganges, as tumultuosas avenidas nova-iorquinas, ou as torres da gótica Notre Dame.
Assim também a influência da Igreja ilumina com esplendor uniforme as mais diversas civilizações fazendo renascer debaixo da couraça do cavaleiro medieval o mesmo heroísmo que afrontara feras e suplícios no Coliseu dos Césares, e haveria de animar futuramente a resistência contra os seus Neros modernos de todos os matizes, chamem-se eles Robespierre, Calles ou Lenin.
Demonstrou-o mais uma vez a Igreja com o recente apelo que o Episcopado de São Paulo, por intermédio de seu venerando chefe, acaba de lançar a todos os Príncipes da Igreja Brasileira.
Não sabemos o que mais admirar, neste documento tão cheio de elevação, se o primor da forma, a nobreza da atitude, ou a justeza dos conceitos nele contidos.
Só quem ponderar detidamente todas as dificuldades da situação que atravessamos, poderá dar seu devido valor às palavras com que o Episcopado acaba de aureolar de prestígio a revolução constitucionalista.
Por mais fortes que sejam nossas posições estratégicas, por mais aguerridas que sejam nossas tropas, por mais hábeis que sejam nossos generais, podem a qualquer momento surgir acontecimentos imprevistos, inevitáveis em qualquer guerra, e que venham alterar a marcha promissora que os fatos vem tomando.
Nesta hipótese, em que condições ficará o Episcopado, que tão nobremente acaba de apontar nos militares que atualmente sustentam a ditadura, os porta-vozes do comunismo moscovita no Brasil?
Qual a situação da Igreja em São Paulo, se se vir entregue à violência material dos agentes comunistas que, com tanta altivez, ela acaba de estigmatizar com sua censura desassombrada?
É evidente que uma era de perseguição religiosa se abriria, e que à semelhança do raio que fere de preferência as montanhas, as primeiras vítimas do movimento seriam os próprios Pastores que acabam de apontar a seu rebanho, com tanta energia, o lobo que se mascara em cordeiro.
O Episcopado acaba de dar, portanto, a São Paulo e à causa da constitucionalização brasileira, tudo quanto de mais precioso possui. Vincula, aos destinos da nossa causa, os da Igreja em São Paulo. Prestigia nosso movimento com o valor de sua simpatia. Expõe a tranqüilidade do rebanho e a vida dos Pastores, para que se salve a própria civilização cristã que São Paulo defende.
É, portanto, cheio da mais respeitosa e admirativa gratidão, que, em nome do "O Século", prestamos homenagem ao Episcopado e a seu ilustre chefe, solidarizando-nos absolutamente com eles na sua atitude, prontos a todos os sacrifícios, em todas as emergências!
Pro Ecclesia et pro Brasilia fiant eximia.