Plinio Corrêa de Oliveira
A Nota da Semana
O Século, 31 de julho de 1932 |
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A alma paulista tem o direito de se alegrar pela vigorosa colaboração que todas as classes sociais prestam ao movimento de libertação de São Paulo. Trata-se de uma solidariedade impressionante, que bem evidencia a repulsa de São Paulo aos métodos de governo socialistas do Coronel João Alberto, e positivistas do Coronel Rabello. São Paulo tem uma consciência cívica sorteada principalmente pelo sentimento da ordem, e da disciplina social. Todas as experiências governamentais, que venham de encontro a estes sentimentos, provocam uma reação veemente. Os fatos que agora se desenrolam bem o demonstram. No entanto, nunca será suficiente esclarecer as verdadeiras finalidades do presente movimento armado. Ele é constitucionalista. Não é separatista. É anticomunista. Não há melhores auxiliares da ditadura, do que certos paulistas – felizmente em pequeníssimo número – que pretendem desviar o movimento de Julho de suas legítimas finalidades, para lhe imprimir um cunho excessivamente regionalista, contrário à índole paulista, e contrário, sobretudo, às intenções dos animadores da atual conflagração. São Paulo tem queixas contra a atitude de certos Estados. O governo do Rio Grande do Sul põe suas forças militares à disposição de uma ditadura que ele parecia combater. Minas presta ao Governo Provisório um apoio inesperado e contrário a seus próprios interesses. Serão estes ressentimentos suficientes para legitimar certas recriminações injustas e imprudentes contra os nossos irmãos de outros Estados? Não. Todos sabemos que as populações civis de todos os Estados do Brasil acompanham com verdadeira e calorosa simpatia o movimento iniciado por São Paulo – atitude inesperada de certos elementos políticos e militares tira às populações civis que estão sob seu jugo todos os meios de traduzir suas simpatias em auxílios eficazes. Sua situação é absolutamente idêntica à de São Paulo em Outubro de 1930. A maioria da população (com ou sem razão, não vem ao caso) desejava a derrota do governo Júlio Prestes. No entanto, assumiu uma atitude de mera espectadora, pois que não pôde prestar ao exército revolucionário o menor apoio material. É idêntica a situação das populações de Minas e do Rio Grande do Sul. Limita-se a negar o seu apoio material a nossos adversários, não lhes fornecendo voluntários, e deixando ao cargo dos departamentos oficiais, sem colaboração alguma das iniciativas particulares, os encargos de combate aos paulistas. Que São Paulo vença, e nossos exércitos serão recebidos com iguais demonstrações de entusiasmo no Rio, em Belo Horizonte ou em Porto Alegre. A luta não é de São Paulo contra os Estados. É de São Paulo contra os interesses políticos indefensáveis dos militares e dos politiqueiros civis, cuja ambição é igualmente nociva à terra dos bandeirantes, como a todas as outras regiões do território brasileiro. Continuemos, portanto, a empunhar com entusiasmo e convicção a bandeira do Brasil Unido. Foi por ele, que nos atiramos à luta. Por ele, em seu benefício, para vantagem sua, é que será nossa vitória. O "Século", interpretando o sentimento unânime de todos os elementos representativos da vida social paulista, e especialmente o pensamento dos elementos católicos, tradicionalmente apegados à unidade brasileira, não poderia deixar de acentuar mais uma vez que São Paulo não se levantou contra a autoridade e o Brasil, mas contra a ditadura, e pelo Brasil. |