"O Século", 10 de julho de 1932
A Nota da Semana
Plinio Corrêa de Oliveira
Os católicos, no Brasil, são a grande massa. Ser brasileiro e ser católico são termos, entre nós, quase equivalentes.
Como se explica, então, o irritante ostracismo com que a Igreja se tem visto constantemente proibida de exercer qualquer influência sobre nossa vida pública?
O mal não nos vem tanto de nossos adversários, quanto de nós mesmos. Muito mais importante é, para nós, incutir nos verdadeiros católicos uma noção exata de seus deveres para com a Igreja, do que conquistar para esta algumas ovelhas desgarradas.
Os católicos brasileiros são a maioria, e no entanto são oprimidos como se constituíssem a mais insignificante minoria! Onde pode estar o mal, senão na timidez inviril, na indolência criminosa e no individualismo degradante que caracterizam bom número de fiéis brasileiros?
É certo que os católicos são a maioria. Mas do que vale a maioria, se ela se desagrega em um sem número de pequenos grupos estranhos ou hostis uns aos outros? Do que vale a maioria, se ela se pulveriza em uma multidão de pequenas associações, cuja rivalidade é a melhor arma do adversário comum?
Enquanto os católicos não forem unidos, não serão vencedores. E só serão unidos no dia em que, abandonando seu individualismo condenável, souberem sacrificar suas pequenas vaidades aos grandes interesses coletivos, e dobrar suas preferências pessoais e caprichos insignificantes ao jugo severo de uma autoridade forte e respeitada.
Não é possível que, em uma obra gigantesca, como seja o reerguimento religioso do Brasil, e a organização do laicato católico inteiramente incipiente, cada qual se julgue no direito de impor suas vistas, integralmente, a todos os seus colaboradores de apostolado.
É mister que um grupo, investido legitimamente de uma autoridade indiscutível, goze do direito de impor sem receio de desobediências, e ordenar sem perigo de insubmissões.
O Rio Grande e os Partidos Católicos
Existia, no Rio Grande do Sul, um Partido Católico, superiormente orientado pelos elementos religiosos locais, e que se destinava à defesa dos princípios sociais e religiosos da Igreja, na vida pública do Brasil.
Recentemente, o Episcopado Brasileiro, exprimindo seu pensamento por intermédio de seus elementos preponderantes, tem apoiado a Liga Eleitoral Católica. Como se sabe, esta agremiação nada tem de comum com os agrupamentos partidários, e se recusa formalmente a assumir qualquer coloração política ou partidária.
Os católicos, arregimentados e devidamente disciplinados, conjugarão seus esforços, sob a bandeira da Liga, para impor a aceitação de seus ideais religiosos, sem se imiscuir em pugnas políticas ou dissidências partidárias de qualquer ordem. A Liga não constitui, portanto, um partido católico, mas uma agremiação católica de finalidade eleitoral, e de cunho nitidamente extra-partidário.
Os católicos sul-riograndenses compreenderam imediatamente a superioridade deste novo plano, e distinguiram imediatamente a simpatia do Episcopado, através das numerosas provas de confiança que a nova organização vem recebendo.
Cedendo a seu elevado idealismo religioso, e ao seu temperamento nitidamente disciplinado, os católicos dos pampas transformaram imediatamente seu Partido em Liga Eleitoral. Deram, assim, uma prova da profundeza e correção de seus sentimentos religiosos, dobrando sua opinião pessoal aos seus sentimentos de solidariedade e profunda comunhão espiritual com os católicos do Brasil inteiro.
Exemplos como este merecem ser registrados e meditados.