"O Século", 3 de abril de 1932
A Nota da Semana
O programa do Clube 3 de Outubro
Plinio Corrêa de Oliveira
O mal de que padecemos é de origem exclusivamente moral. Este princípio é o ponto de partida de todas as nossas considerações, relativamente às crises políticas, econômicas e sociais que nos assoberbam.
Ora, um mal moral, só com um remédio de ordem moral pode ser curado.
Dado que o remédio moral por excelência é o Catolicismo, uma solução, e uma única, vemos nós, para os graves problemas com que lutam nossos estadistas: a recristianização do Brasil.
Daí nossa firme resolução de não encarar nossos problemas políticos, senão pelo ponto de vista estritamente religioso, fazendo assim obra de verdadeiros patriotas.
Se o "Século" tem lutado pela imediata convocação da Constituinte, é porque entende que os poucos princípios cristãos ainda vigentes em nossa organização político-social estão gravemente ameaçados pela campanha comunista que fervilha entre os elementos da chamada extrema-esquerda revolucionária.
O que nos leva a defender a Constituinte não é, pois, a esperança de encontrar nesta a solução para nossos problemas, mas apenas um meio de evitar que, às questões que atualmente desafiam a atividade e argúcia dos católicos brasileiros, outras se venham juntar, mais graves, e quiçá insolúveis, para um futuro mais ou menos próximo.
Força-nos, no entanto, a lealdade a declarar que alguns dos elementos da "esquerda revolucionária" têm feito ultimamente referências encorajadoras à influência do Catolicismo.
Sirva-nos de exemplo o Major Juarez Távora, geralmente conhecido como católico fervoroso, mas cujas idéias religiosas tinham sido, até agora, de uma pasmosa inoperosidade no terreno político.
Em recentes declarações, não somente propugnou o Major Távora abertamente pelos direitos da Igreja, como chegou a indicar nomes visivelmente simpáticos à nossa causa, como Tristão de Athayde e Plinio Salgado, para membros da comissão que deveria ser encarregada de elaborar o projeto da Constituição.
Por outro lado, prossegue no Norte, com sucesso sempre crescente, a grandiosa obra de recristianização empreendida pelo Tenente Severino Sombra, um dos mais brilhantes líderes católicos do Brasil.
Se os elementos empenhados na continuação da ditadura fossem, na sua maioria, adeptos das idéias externadas pelo Major Juarez Távora e por Severino Sombra, não seríamos nós, certamente, quem pleitearíamos a convocação de uma Constituinte, que viria devolver o Brasil a uma geração infelizmente liberal, no mau sentido da palavra, e da qual nada há que esperar, senão que, em virtude de seus preconceitos burgueses, nos sirva de provisório paredão contra o comunismo.
No entanto, é preciso salientar que, excetuadas a ação de Severino Sombra (ação toda localizada no Ceará) e as declarações do Major Távora, nada há que nos possa inspirar confiança, no chamado "Grupo dos Tenentes".
O próprio Major Távora, que parece agora mudar de orientação, nunca se interessou eficazmente pelo Catolicismo. Passou sem protesto seu o infeliz decreto laicista do Coronel Rabello. E até agora tal decreto permanece entre nós, quando seria suficiente uma simples intervenção do Major Távora, para determinar sua revogação.
O Coronel João Alberto, representante do Clube 3 de Outubro, governou entre nós graças ao prestígio que este lhe dispensou. No entanto, pôde o Coronel João Alberto favorecer abertamente a campanha comunista entre nós, pleitear acintosamente, através dos seus órgãos oficiais, o restabelecimento das relações comerciais com a Rússia soviética, e permitir que a própria Polícia fosse invadida por elementos comunistas, isto tudo sem um protesto sequer do Clube 3 de Outubro, do qual é agora candidato para a pasta do Trabalho.
Em discurso pronunciado pelo orador oficial do Clube 3 de Outubro, este declarou "não ter inimigos à esquerda", mas tão somente à direita.
Esta e outras manifestações provocaram nossa atitude, que continuamos a manter.
Se, porém, o Major Távora conseguir imprimir outro curso à atividade do Clube, se conseguir fazer aceitar unanimemente seus pontos de vista, e, principalmente, se reduzir a atos opiniões que até agora têm sido apenas teóricas, não seremos nós que combateremos a continuação da ditadura, da qual não nos afastam questões de princípio, mas apenas considerações de fato.