Plinio Corrêa de Oliveira

 

Devemos viver lutando contra a Revolução

em nós, nos outros, por toda a parte

 

 

 

 

Santo do Dia, 30 de novembro de 1994

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Para que haja a Contra-Revolução inteiramente eficaz é necessária uma ação da Igreja para esmagar o demônio. Nós não podemos fazer uma ideia desta ação assim como uma coisa vaga, indefinida, e que depende de circunstâncias que o espírito humano não conhece. Pelo contrário, o espírito humano conhece. Quer dizer, quem é a Igreja? Em supremo grau é o Papa. Se o Papa resolver achatar a cabeça do demônio, ele achata.

Daí também uma certa impressão que os senhores poderão ter lendo a História de algo de parecido com um “azar” -- o azar nós sabemos que não existe, é algo de parecido com o azar, algo de parecido com um fado, um destino -- que pesa sobre os movimentos contra-revolucionários, de tal maneira que eles nascem, dão uma certa esperança, a coisa anda, a gente tem impressão de que tocando a coisa para a frente ela vai e afinal de contas em última análise ela cai no chão e nós não temos um caso de restauração autêntica que tenha durado.

Por exemplo, os Bourbons, os irmãos de Luís XVI voltados ao trono depois da morte de Luís XVI, quer dizer, os reis da França, Luís XVIII e Carlos X subiram ao trono, mas demorou pouco. Napoleão caiu em 1815, e subiu ao trono Luís XVIII. Ele não teve filhos e morreu em 1824.

Em 1824 subiu ao trono o irmão de Luís XVIII e irmão também de Luís XVI, o Rei Carlos X. Esse teve um filho e uma descendência que se extinguiu no neto dele, o Conde de Chambord. Mas ele reinou apenas de vinte e quatro a trinta. Em 1830 ele foi derrubado por uma revolução de índole liberal e de psicologia muito mal veladamente republicana.

Mas essa realeza foi também de cascata em cascata, até que em 1870... Os senhores estão vendo, a Revolução Francesa rebentou em 1789, em números redondos são cem anos. Ao cabo de cem anos faz-se um plebiscito na França e a maioria do eleitorado ainda se manifesta a favor da monarquia. Mas quando chega a hora de votar qual é a forma de governo na Constituição, por uma série de coisas, de fatos e de circunstâncias que não é o momento de relembrar aqui nessa ocasião, a assembleia monárquica vota a república. E a partir de 1870 as tentativas de restauração [monárquica] na França fracassam.

A tentativa menos conhecida, mas que está hoje em dia arqui-documentada é a tentativa feita pela Gal. de Gaulle de restaurar na França a monarquia na pessoa do Conde de Paris, chefe atual da Casa de Orleans.

O Conde de Paris, por razões que não são muito claras, não quis aceitar a monarquia nas condições em que o de Gaulle lhe ofereceu e o resultado foi que a monarquia não se proclamou.

Os senhores não pensem nem um pouco que a razão principal dos insucessos da Contra-Revolução vem do fato de que a Revolução possui muito dinheiro, possui muita imprensa, muita TV, coisas dessas. Estas são coisas úteis, não são indispensáveis. Pode-se triunfar sem elas, pode-se triunfar contra elas. O que é essencial é que (se) quebre a cabeça da serpente!

Então nós temos que orientar as nossas orações neste sentido: "Adveniat regnum tuum - Venha a nós o Vosso reino".

Há pouco foi dito muito bem que o combate de Deus e do demônio se trava por meio dos homens e dentro dos homens. Portanto, é preciso que, segundo a vontade de Deus, os homens que querem fazer a Contra-Revolução batalhem e batalhem até à última gota de sangue, até à última gota de suor, até à última lágrima, mas que batalhem de fato.

Se todos tiverem dado tudo, não há de ser Deus que não dará tudo!

É preciso que nós, portanto, sejamos combatentes a corpo inteiro. Muito mais do que a corpo inteiro, à alma inteira. Nós devemos viver lutando interiormente contra a Revolução: contra a Revolução em nós, contra a Revolução nos outros, contra a Revolução por toda a parte onde a gente vê. A nossa vida seja um clamor contra-revolucionário que censura e que ataca tudo quanto vê e que é revolucionário.

Façamos isso. Ainda que os filhos da luz fossem só dez, desde que Deus queira, Ele vencerá. Mas é preciso de nossa parte a doação integral.

Notem bem que a forma mais sublime de coragem não é a coragem entretanto tão nobre e tão digna de reverência que é a coragem militar, mas é esta forma de coragem pela qual um homem não teme que se dê risada dele, não teme ser desprezado, não teme ser lançado de lado como um leproso, desde que ele diga a verdade para o demônio ouvir e faça recuar os asseclas da Revolução.

Esta hora deste heroísmo, ou militar, ou civil, ou talvez militar e civil, para usar a expressão do Edmond Rostand do qual o “Cyrano” (de Bergerac) [peça teatral composta por Edmond Rostand, no final do século XIX, na qual, ao lado de aspectos do romantismo da época, evocava sobretudo a figura de um heroico espadachim francês, que se deliciava em receber as "pistoladas" dos desprezos de seus adversários, n.d.c.] foi representado com tanta graça, tanto poder de evocação há dias atrás aqui. O Cyrano em certo momento dizia que ele era detestado por todos, desprezado por todos, por causa da coragem dele que metia inveja até nos medrosos. Ele então dizia que poucas coisas há de mais duras, mas ao mesmo tempo mais deliciosas, do que passear com ar altivo “sur la pistolade des yeux”, sob os tiros de pistola dos olhos dos outros.

A expressão é muito estilo Rostand e é muito interessante. A pistola era a arma de fogo do tempo de Rostand, era um exemplar avoengo do revólver contemporâneo. Andar sob o pistoleio, ou seja, sob o tiroteio dos olhares dos outros, era uma coisa que ao Cyrano causava entusiasmo.

Então nós devemos dizer, não pelas razões terrenas do Cyrano, mas por amor a Nossa Senhora, a nós católicos deve ser uma razão de ufania, portanto, de ânimo e de coragem de ataque, o viver, o estar constantemente sob o pistoleio do olhar cheio de ódio, cheio de desdém, cheio de rejeição dos outros.

Por quê? Porque esta é uma forma magnífica de coragem que nós devemos ambicionar em homenagear a Nossa Senhora.

Por exemplo, achei muito bonito um fato que houve em São Paulo, talvez há uns vinte anos atrás, não me lembro bem. Os terroristas mataram um delegado, a polícia pôs-se à cata dos culpados e pelo menos até à data em que foi enterrada a vítima não se tinham encontrado os culpados pelo crime. O crime estava, portanto, impune. Na hora de enterrar o delegado, todos os delegados de São Paulo que estavam presentes sacaram os revólveres e simultaneamente deram tiros para o ar, dando a entender desta maneira que em momento oportuno, que o Céu indicaria, essas balas cairiam sobre aqueles que tinham assassinado esse homem.

É uma coisa que nossas orações podem fazer muitíssimo. É pistolear no ar esses anjos da perversidade que andam voando de um lado  para outro, de tal maneira que eles levem as rajadas das nossas orações, fujam, sumam!

Nós não podemos nos consolar se numa noite, à hora de dormir, fazendo nós o nosso exame de consciência, de repente na voz silenciosa, mas quão expressiva de nossa consciência iluminada pela graça, nós ouçamos algo de interior que seja como que a voz do Anjo da Guarda que nos diria: 

Meu filho, eu te guardei hoje, o dia inteiro. Vou te guardar à noite. Mas quando completarem as 24 hs deste dia, o meu registro será que hoje NENHUMA VEZ você pistoleou os demônios”!

Daria para que o acusado se levantasse e passasse a noite inteira se ciliciando, se afligindo, chorando e pedindo perdão a Deus, porque o verdadeiro filho de Nossa Senhora vive para esse combate.

Mas a ele não basta saber que ele combateu um pouco; ele quer outra coisa. Ele quer aflitivamente perguntar ao seu Anjo da Guarda, pedir que seu Anjo da Guarda lhe faça conhecer de um modo ou de outro a realidade sobre o seguinte ponto:

1) Houve hoje uma ocasião em que eu pudesse combater o demônio e que não o tenha feito?

2) Na hora de eu combater o demônio, eu atirei contra ele toda a força dos armamentos espirituais que eu possuo?

3) Em terceiro lugar, terei aplicado nisso todas as minhas energias? Quer dizer, eu terei feito contra o demônio tudo?

Se foi tudo, foi um dia de luz na minha vida e eu durmo contente. Mas eu terei remorso medonho se na hora da minha morte aparecer o Anjo da Guarda e diz: "Lembra-te do dia tal. Faltou apenas isto para que a medida de esforço contra-revolucionário sua ficasse completa. Mas isso você não fez".

Eu teria vontade de, estando em estado de agonia, voltar à vida para fazer isto, completar e depois morrer.

Mas desde os primeiros tempos da história da Igreja Católica... Quais são os primeiros tempos? Serão pelos menos, pelo menos os tempos que existiram a partir da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Páscoa da Ressurreição. Não sei o que será. Seja como for, os primeiríssimos, os mais antigos tempos da Igreja, desde os primeiros tempos houve dentro da Igreja esta força de iniquidade. Este demônio ou esta conjuração de demônios, esse bando, esse exército, quase que essa nação de demônios esteve imbricada dentro da Igreja Católica.

As noções que a gente tem a respeito da Igreja nesta primeira fase, nós temos a ideia de que nos primeiros tempos da Igreja todo mundo era mártir, todo mundo se entregava de boa vontade ao cutelo dos facínoras que em nome do Império Romano matavam os filhos de Nosso Senhor Jesus Cristo. E que, portanto, quando a gente ia à catacumba, naquele silêncio, naquelas penumbras, naquela umidade de subsolo, naquela espécie de sepultura de gente viva, profunda sepultura de uma instituição que era uma sepultura para vivos como eram as catacumbas, a gente entra com a ponta dos pés com vontade de se ajoelhar e tocar com os lábios cada pedaço de chão porque pés de mártires tinham pisado naquilo, a gente tem impressão que tudo era santidade.

É que desde os primeiros tempos um princípio de ação, um elemento de ação do demônio entrou dentro da Igreja. E que esse princípio de ação ou demônio de ação, como se fosse um só homem.

Ou há mais especialmente um gênero de homens que dentro deste grande todo infiltrado na Igreja representava Judas e representava os outros traidores que foram vendendo a Igreja? Não sei se está clara a pergunta... Haverá uma genealogia espiritual de Judas dentro da Igreja? Haveria uma genealogia de Judas dentro da Igreja que odeiam por princípio o bem, amam o mal e estão dentro da Igreja para fazer o mal?

O que é que foi que esses católicos, portanto, esses Judas, entregaram ao demônio? É uma coisa misteriosa: as chaves da incredulidade e a corrupção de doutrinas.

Qual é esta chave por onde eles ficaram com um poder de por meio da incredulidade, espírito de dúvida, espírito de negação, e corrupção de doutrinas, portanto, fabrico de doutrinas que corrompem, que convidam a esses defeitos, com isto o demônio recebendo essas chaves entra na luta?


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