Plinio Corrêa de Oliveira

 

Para Deus, bastaram 5 pães e 2 peixes para alimentar a multidão

E Seu poder não diminuiu com o correr dos séculos...

 

 

 

 

 

Conferência para Correspondentes Esclarecedores, 9 de outubro de 1994

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


Cerca de um ano antes de seu falecimento, em conferência para Correspondentes Esclarecedores (de ambos os sexos) da TFP brasileira, Plinio Corrêa de Oliveira lhes explicou minuciosamente como se dedicar à causa católica e contra-revolucionária de modo eficaz. Se, no fim, o resultado for pequeno, recordemos o episódio narrado por São João Evangelista (6, 1-11): Nosso Senhor Jesus Cristo operou o milagre da multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes que um dos presentes possuía, dando a cinco mil pessoas quanto elas quisessem (https://bit.ly/3lEjhGs). Ofereçamos, pois, com despretensão ao Divino Mestre o que tenhamos conseguido com nossos esforços; de tudo o mais, cuidará a Divina Providência, por intercessão da Mãe da Divina Graça!

A respeito do almoço do qual participou o Prof. Plinio na "Folha de S. Paulo", ao qual ele se refere nessa Conferência, e que o próprio jornal intitulou em sua primeira página de "Encontro heterogêneo na FOLHA", e a vasta cobertura dada nas páginas interiores de sua edição de 11-1-1979.

 

* O que tem tradição que ver com família e propriedade?

Isso tudo tem um sentido muito bonito que nos faz apreciar especialmente a palavra tradição do trilema da TFP: Tradição, Família e Propriedade.

O que tem tradição que ver com família e propriedade?

Toda a família, modesta ou grande, nobre ou plebéia, deve ir acumulando as suas tradições. É por esta forma, pela conservação das tradições, pelo contar e pelo saber qual foi a história modesta ou ilustre dos antepassados, que a família tem o conhecimento das suas raízes, e que os netos podem nascer e formar-se com a semelhança psicológica com os seus antepassados.

Então é por esta forma que a família se perpetua através do tempo. Esse caráter tradicional nós vamos observar em mais uma muito bonita cerimônia desta série de triunfos mariais que está sendo narrada aqui. (...)

* É de uma gravidade extrema as divisões internas em conventos levadas pela penetração do progressismo

Os senhores vejam essa divisão interna num convento. Divisões assim há hoje em dia em conventos existentes no mundo católico inteiro.

Eu estou-me exprimindo com cuidado. Eu não quero dizer que em todos os conventos do mundo há essa divisão, eu estou dizendo uma coisa diferente, que há conventos destes onde existe essa divisão. Quer dizer, há também conventos onde não existe, onde a boa tradição antiga se mantém.

Mas é de uma gravidade extrema, nesta hora pela qual passa a Igreja, que nós estejamos em presença de uma divisão de tal natureza, e que é a mesma em todos os conventos onde ela existe. Não pensem os senhores, não pensem as senhoras que essa divisão de um convento em três correntes seja uma coisa típica desse convento. As causas da divisão sãs as mesmas em todos os lugares onde esses conventos existem.

Quais são as causas dessa divisão?

É a penetração no mundo de uma doutrina que nós poderíamos de maneira muito sumária chamar de doutrina progressista. É como eles mesmos se intitulam, [os] que são favoráveis a uma evolução da Igreja Católica em vários pontos.

* Se a Igreja se deixasse vencer pelo movimento progressista, dentro de alguns anos Ela estaria completamente confundida com o mundo

Quando os senhores vão acompanhar os pontos em que eles querem fazer essa evolução, em todos os pontos dessa evolução se trata de fazer com que a Igreja Católica vá parecendo mais com o mundo moderno, aquilo que é sagrado vá parecendo mais com aquilo que é profano, o que é eclesiástico vá parecendo mais com aquilo que é leigo, as formas de conduta proibidas ou desaconselhadas pela moral católica vão sendo atenuadas gradualmente de maneira a ficarem como formas de conduta cada vez mais toleradas e atenuadas entre os leigos. De maneira tal que os padres vão ficando cada vez mais laicizados, as freiras cada vez mais laicizadas.

Se ela se deixasse vencer por esse movimento, a Igreja dentro de alguns anos a mais estaria completamente confundida com o mundo. O que acabaria por dizer nesses termos ou naqueles termos que teria quebrado a promessa de Cristo Nosso Senhor, segundo a qual as portas do Inferno não prevaleceriam contra a Igreja Católica, o que quer dizer que a Igreja não se deixaria induzir em erro.

Ensinados por padres, por bispos e arcebispos e às vezes por cardeais, por religiosas e por religiosos, esses erros se espalharam pelo mundo inteiro, mas com uma circunstância que convém lembrar, porque é muito importante para o trabalho dos correspondentes esclarecedores da TFP no mundo inteiro. Portanto, também dos senhores, e notadamente dos senhores brasileiros, a quem mais diretamente falamos aqui nessa reunião e que tem a seu cargo ajudar a TFP – por uma graça especial que recebem, um chamado da Providência para isso, no país católico de maior extensão, de maior população e no qual existe o movimento católico de mais reação contra todas essas abominações, que vem a ser a TFP.

No fundo o que eu estou dizendo prepara o terreno para daqui a pouco eu entrar nesta questão: aos senhores que nestas condições da vida da Igreja, nestas condições da vida do Brasil e da Igreja no Brasil, os senhores que vivem assim, que vivem nos benditos arredores da TFP como uma família amiga mora na casa ao lado de outra família amiga, os senhores que são especialmente amigos da TFP têm uma tarefa nisso. Têm uma tarefa que é a tarefa da TFP adaptada às condições dos senhores, mas é preciso ter compreendido a situação em que está o mundo para os senhores terem bem em vista a importância dessa tarefa.

Daqui a uns minutos eu deverei estar entrando neste tema, e com isso nós podemos continuar. (...)

* Na crise em que a Igreja está há uma contradição curiosa: não há uma só pessoa ilustre que se associasse ostensivamente à glorificação de Nossa Senhora

Eu vou esquematizar um pouco o quadro que nos apresenta a Espanha, para os senhores depois fazerem a aplicação ao Brasil – aliás, já o passo do relato referente ao Brasil favorece muito isso – e os senhores compreenderem então, pelo exemplo do Brasil, pelo exemplo da Espanha e de tantos outros países onde a TFP existe, vinte e seis países hoje em dia nos quais a TFP hoje existe, e compreendermos bem por esta forma qual é a nossa missão de correspondentes da TFP.

Os senhores veem que na crise que a Igreja está há um paradoxo curioso, para não dizer uma contradição curiosa.

Consiste no seguinte:

Os senhores ouviram falar o jornal falado da Espanha, ouviram o jornal falado do Brasil. Os senhores não ouviram mencionar uma só pessoa ilustre, de alta categoria social, política, cultural ou econômica que se associasse ostensivamente a essas manifestações e que se incorporasse à glorificação de Nossa Senhora de Fátima.

Precisamente aqueles a quem Nossa Senhora distribuiu maiores bens na ordem temporal das coisas, bens de natureza diversa, intelectual, cultural, cívico, mas bens diversos, aqueles precisamente são os mais atingidos pela crise da modernidade contemporânea.

* O que visa o tufão da Revolução é uma conciliação entre a Igreja e o mundo

O tufão da Revolução de que eu falei ontem e que vai empurrando cada vez mais as populações modernas no sentido do mal, no sentido daquele extremo mal que chega a consistir em preparar uma cozinha do futuro onde o homem ejeta para ser industrializado aquilo que seu corpo rejeitou e que o homem vai comer de novo, coisa ultra-repugnante, ultradesprezível, uma civilização que já não é uma civilização mas é uma contra-civilização desta natureza, esta civilização atual está sendo empurrada para este estado de contra-civilização em uma movimento que se baseia em doutrinas muito confusas, mas intencionalmente confusas, e expostas nos livros de propaganda dessa doutrina de modo confuso também. De maneira tal que só as pessoas de muita cultura e de muito preparo chegam a compreender a complicação do que eles ensinam.

O que fica claro é que eles procuram uma conciliação entre a Igreja e o mundo moderno. É uma conciliação que não é feita nem um pouco para que o mundo moderno volte atrás de seus erros, de suas abominações, do casamento de homossexuais, por exemplo, volte atrás e volte para o bom caminho, mas é, pelo contrário, para que a Igreja, ela que é a esposa mística de Cristo, vá seguindo o caminho do mundo.

* As pessoas de categoria mais elevada são as que mais se sentem atraídas por esta doutrina nova de conciliação

Quer dizer, a Igreja deveria combater o mal, prostrá-lo ao chão, salvar do demônio os homens e levá-los a Deus. Ela se vê na dolorosa circunstância de ser penetrada por esse mal, de sofrer em si mesma o tufão desse mal e de muitas vezes os seus representantes, os seus dignatários, muitos dos quais, os mais qualificados, trabalharem para que o mal penetre na Igreja, para que ele se instale na Igreja e que, por esta forma, a Igreja seja arrastada ao que seria o fim dela se Cristo Nosso Senhor não tivesse prometido a ela a infalibilidade.

Então esta doutrina é mais compreensível para as pessoas de uma categoria mais elevada. Também acontece que em geral essas pessoas de categoria mais elevada dispõem de mais dinheiro pelo resultado natural de suas atividades, e, portanto, têm mais elementos para gozar os confortos e as pretensas delícias do mundo pagão moderno.

O resultado é que eles se sentem especialmente atraídos por uma doutrina nova que diz a eles que aquilo que a Igreja antiga dizia a eles que era pecado não é pecado, que pode perfeitamente admitir-se e aceitar-se, e que, portanto, eles não têm grande coisa a combater no seu interior contra as suas inclinações. Mais ou menos tudo está permitido, mais ou menos tudo é livre, hoje. Ontem dizia-se: "Tais e tais coisas são proibidas", hoje diz-se: "Não, mais ou menos elas são permitidas", amanhã dir-se-á: "Elas são permitidas inteiras".

* A situação do mundo contemporâneo é tal que mal se poderia crer que pudesse chegar até lá

Há um provérbio que está na Sagrada Escritura que diz que “um abismo atrai outro abismo”. Onde se abre um abismo criam-se condições para que a pessoa caia nesse abismo, depois caia em outro, e cai na cascata dos abismos.

Assim também essa marcha desta doutrina progressista abre abismos a partir dos quais se cai em outros abismos, e se chega à situação do mundo contemporâneo que é uma situação que nós mal considerávamos crível que o mundo pudesse chegar lá. Isto há cinco anos atrás nós mal considerávamos crível.

Eu volto a tratar do assunto infame do casamento de homossexuais e eu pergunto [digo] aos senhores: há cinco anos atrás se me dissessem que o Parlamento Europeu iria propor a instalação desse casamento – pseudo-casamento, isso não é casamento – no mundo inteiro, eu diria que era um absurdo, que não era possível, que era preciso esperar pelo menos uns dez anos para isto, que era de esperar que até lá a Providência interviesse e impedisse uma tal infâmia.

Em menos de cinco anos está essa infâmia proposta e já está sendo aplicada em vários países com leis municipais. A Espanha, aliás, é um deles.

Eu pergunto: quais são aqueles dos senhores aqui presentes que há cinco anos atrás achariam como eu impensável este casamento de homossexuais que viesse dentro de cinco anos?

Os que pensam assim levantem o braço. Os senhores estão vendo, é a sala.

Quer dizer, todos nós pensávamos que sobretudo para tão já era uma coisa que não aconteceria. Está nas portas, está batendo. É o tornar habitual o pecado que brada aos céus e clama a Deus por vingança, o pecado de Sodoma e de Gomorra, o pecado para o qual a mulher de Lot deu um pequeno sinal de condescendência olhando para trás para as cidades que ela abandonava e ela ficou transformada instantaneamente em estátua de sal. Quer dizer, punida por Deus com morte de um modo espetacular.

* Nas camadas mais modestas da sociedade ainda se conserva em favor da Religião muita coisa apreciável

Pelo contrário, nas camadas mais modestas este mal leva mais tempo para penetrar, pela sua própria confusão, pela própria dificuldade que há em apreender o que ele diz, e é preciso que as pessoas que entrem nisto tenham tempo para isto e tenham que estudar alguma coisa. E nas camadas onde a vida dura e a falta de tempo tornam mais ou menos impossível apreender coisas dessas, nós percebemos que, em favor da religião, ainda se conserva muita coisa apreciável, muitas zonas da população que ainda têm fé, que ainda têm piedade, que observam essa decadência geral, mas observam de lágrimas nos olhos. Isto quer na hierarquia da Igreja, quer entre os simples católicos, quer nas grandes cidades, quer nas pequenas cidades.

Como as grandes cidades são as que têm mais pessoas de representação, de estudo, nessas cidades os que passaram para o adversário são muito mais numerosos do que nas cidades pequenas.

Nas cidades pequenas as populações inteiras afluem para ver Nossa Senhora de Fátima, mas afluem com fervor, afluem com verdadeira piedade, com entusiasmo, com calor, dessas disposições de alma que não podem deixar de comover a Santíssima Virgem no mais alto do Céu.

Pelo contrário, nas cidades grandes em geral as manifestações de Fátima são cada vez mais frias, cada vez mais cheias de tédio, de desinteresse. E nas pequenas cidades mesmo a gente nota que existe muita gente que ainda tem fé, que ainda combate a moral de nossos séculos, que ainda tem vontade de viver segundo a lei de Deus, mas percebe-se que é uma parte só da cidade, que não é a cidade toda.

* Quanto mais se desce na escala social, tanto mais se encontra possibilidade de obter almas para Nossa Senhora; o mesmo se dá na estrutura da Igreja

Quando eles falam de que em tal lugarejo a cidade inteira – dizem aí no jornal falado – compareceu, a gente está entendendo que é um lugarejo realmente pequeno, porque nos lugares um pouco maiores a gente vê: menciona o lugar maior, em via de regra o número de pessoas é proporcionalmente maior. Se a cidade fosse imensa, o número de pessoas proporcionalmente é um número menor.

Quer dizer, quanto mais se desce, tanto mais se encontra possibilidade de obter almas para chamar a Nossa Senhora, para desviar do mal, para tentar salvar, e para formar com essas pessoas no plano espiritual um gigantesco exército religioso e espiritual, repito, que se levante com um só movimento para dizer a esta onda de infâmia que sobe: "Não, não e não!". [Aplausos]

Eu quero atrair a atenção dos senhores para um fenômeno correlato com esse e que fala inteiramente no mesmo sentido.

Os senhores sabem que na estrutura da Igreja as religiosas pertencem à igreja discente, à Igreja a qual pertencem os leigos. Os religiosos pertencem à Igreja docente, desde que sejam sacerdotes, e podem celebrar, podem ensinar. Se são meros irmãos leigos, pertencem à Igreja discente. As freiras, então, são da Igreja discente.

Os senhores notem a desproporção entre a colaboração de padres e de freiras nesse jornal falado. Freiras os senhores encontram por quase toda a parte dando um apoio entusiástico ao movimento. Padres os senhores encontram alguns. Destes alguns, alguns são até entusiasmados, mas os senhores encontram outros que são furiosos e que proíbem o movimento nas áreas em que eles têm jurisdição. De um modo geral os conventos de padres nem são mencionados no jornal falado porque eles com certeza foram recusados pelos sacerdotes em vários lugares e no final das contas preferiram nem mencionar. É provável que tenha sido isto.

Nos conventos de freiras, que são menos do que os padres, já há mais acolhida, já há mais atendimento, e assim mesmo os senhores notam entre as freiras conventos inteiros ou que em boa parte aderiram à heresia do progressismo. Então odeiam a TFP, não querem receber, boicotam de todos os modos. Em outros lugares, pelo contrário, como vimos, elas têm uma boa orientação e seguem com fervor a TFP.

Aparece também uma outra coisa que chama atenção. É o seguinte: entre os leigos eu não vi mencionar, a não ser de um modo não muito claro, de maneira que não entendi bem o que a coisa queria dizer, a referência a umas duas ou três associações que tinham uma especial simpatia pela TFP e que queriam colaborar com a TFP. Mas é muito pouco para um movimento que cobriu uma área tão grande e com uma população tão grande.

É que as associações são dirigidas em geral por sacerdotes, e os sacerdotes mesmo quando bons vivem no pânico dos respectivos bispos, os quais em sua maioria vivem no pânico dos arcebispos. Por quê? Porque quanto mais alto, mais o rigor do favor dado ao progressismo. Então eles têm medo e não se movimentam, ou aderem, estão de acordo e são contra nós.

O resultado é que as freiras ainda nos dão mais apoio do que dão os padres, e os padres religiosos que vivem em convento quase nenhum.

* De alto para baixo quanto mais se sobe, maior é a tendência esquerdista

Indica toda uma escalada que acaba sendo assim: de alto para baixo quanto mais se sobe, maior é a tendência esquerdista. Porque esse progressismo é uma escola teológica, mas que cuida também da aplicação da teologia moral na prática, e quando se trata da aplicação prática dos princípios, essa aplicação vai sistematicamente para a esquerda, é um movimento sistematicamente esquerdista. Fruto típico desse movimento o ex-Frei Boff, cujo escândalo, cuja ruptura prática com a Igreja os senhores todos tiveram a oportunidade de ler pelos jornais.

Ora – é um paradoxo, mas é assim – as classes mais altas são as classes que tendem a suicidar-se, tendem a se jogar na goela da esquerda. As classes mais conservadoras são as classes menores e que estão mais poupadas do mal que se lhe quer fazer.

No meio dessas classes modestas os senhores encontram um fenômeno emocionante. De vez em quando aparece alguém, um certo número de vezes um rapaz, outras vezes é uma senhora de idade e de condições muito variáveis que acaba dizendo que vivia isolada, que vivia incompreendida, porque tinha idéias idênticas às nossas e que por causa disso era combatida por todo o mundo, boicotada por todo mundo. Eles não dizem assim, mas é o que se entrevê, eles estavam no momento de desanimar de uma vez, de perder a fé de uma vez, porque não viam nada, tudo estava afundando. A gente não justifica, não coonesta, mas compreende o perigo de uma atitude de desânimo.

É de longe aparecer o facho de luz da TFP que essas almas espiritualmente em estado de agonia se levantam e dizem: "Quero caminhar com vocês, quero andar com vocês". [Aplausos]

Mais de uma comenta: "Nossa Senhora afinal ouviu os meus rogos e eu encontrei quem pensasse como ela, quem pensasse de acordo com a Igreja tradicional", e pedem o nosso endereço para escrever, para procurar, etc.

Para eles já é uma lufada de ar saber que em Madrid – a cidade mais importante do seu país, a capital do reino da Espanha – há uma associação, e o que mais espanta uma associação de moços, quer dizer, na idade onde as perdições são mais freqüentes, que se joga sem calcular perigos, sem calcular a inferioridade de forças nem nada, olhando apenas para Nossa Senhora se joga sobre o adversário e o vai fazendo recuar. [Aplausos]

Então, meus caros, a conclusão desse quadro que acabo de dar é o seguinte:

Um dos apostolados mais importantes da TFP não consiste em atuar nas cidades grandes, mas em atuar nas cidades médias e até nas cidades pequenas. Ninguém que esteja ao par de como é o mundo de hoje de verdade e não como os jornais o apresentam caia no erro de pensar: "Se pelo menos eu morasse numa grande cidade como o Rio de Janeiro, ou como São Paulo, ou como Belo Horizonte – para mencionar umas das chamadas cinco capitais clássicas do Brasil. Eu ao menos teria um grande ambiente onde falar e eu levaria muitas almas atrás de [mim]". Este se engana, porque isso não é verdade.

* Medo de arma tem o poltrão, medo de careta tem o tonto...

Na realidade, ele é feliz porque ele está num ambiente onde pode atuar, onde a ação produz resultados, desde que o que está atuando lá tenha coragem e não recue diante da careta dos adversários. Medo de arma tem o poltrão, medo de careta tem o tonto.

O nosso adversário faz contra nós careta que não impressiona ninguém. É só meter o peito e falar com energia que o nosso adversário recua. Os senhores têm aqui oitenta e cinco anos de experiência. [Aplausos e brado]

Desde meus tempos de menino no Colégio São Luiz até meus tempos de homem feito e de homem com uma idade já provecta eu nunca fiz outra coisa senão olhar de frente o adversário, dizer-lhes as verdades inteiras e avançar. [Aplausos]

Por exemplo, durante vinte anos eu fui colaborador da "Folha de São Paulo", que é o cotidiano de maior circulação em São Paulo. Essa colaboração cessou porque chegou à direção do órgão um jovem que é comunista declarado e confesso, que me significou que sendo eu um líder anticomunista do Brasil não havia lugar na folha dele para mim na modificação pela qual o jornal passava. É verdade e eu concordei, nem eu quero ter lugar aí. [Aplausos]

A "Folha de São Paulo" como todos sabem é um jornal leigo. Durante esses vinte anos – é só ter a paciência de percorrer os textos dos numerosíssimos artigos que eu escrevi para esse jornal, houve tempo que eu tinha menos ocupação do que hoje e em que eu escrevia semanalmente para o jornal, é só ler os textos – são os textos mais arrojadamente católicos, mais arrojadamente contra-revolucionários que se possa imaginar. Nem uma vez o jornal deixou de publicar meus artigos, mas nem uma vez.

Por quê? Porque ele sentia que o autor desses artigos metia o peito. [Aplausos]

De outro lado, uma vez houve na "Folha" um banquete de colaboradores do jornal, me convidaram e eu fui. No dia seguinte o jornal – em páginas de dentro – deu notícias do banquete. Na primeira página minha fotografia em letras garrafais bem maiores em lugar de destaque na página: "Plinio Corrêa de Oliveira comparece a um almoço na «Folha de São Paulo»".

Quer dizer, o fato mais importante não era que vinte ou trinta homens, alguns dos quais ilustres e de boa cultura, tinham comparecido lá, mas tinha ido um "Cruzado". [Aplausos]

O que eu espero, portanto – e com isso concluo a minha exposição –, dos correspondentes é o seguinte:

Eu estou supondo uma cidade onde não haja núcleo da TFP, onde existam apenas correspondentes. O que é que eu espero desses correspondentes?

* "Senhor, todo o mundo a quem me foi possível conhecer eu conheci, todos aqueles a quem foi possível dizer uma boa palavra, eu a disse"

O primeiro ponto é o seguinte: que a cidade inteira saiba que a TFP tem ali um correspondente, e que por causa disso se alguém quiser procurar o correspondente para encaminhar uma carta à redação para receber uma explicação de porque é que a TFP fez isso, porque é que fez aquilo, se for para mandar, por exemplo, pedir que na TFP os membros da TFP rezem por tal ou tal intenção, qualquer coisa, eles procurem o correspondente e o correspondente se incumbe de mandar tudo para nós para nós darmos andamento.

Nunca pensem o seguinte: "Minha cidade é tão pequenina que não vale a pena estar incomodando aquela gente tão ocupada de São Paulo por causa desse ninho de rato".

Não é ninho de rato, é um ninho de ouro, porque onde habita gente viva, habitam almas salváveis; e onde há almas salváveis, existe algo que custa muito mais que o ouro: custou o sangue infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, custou as lágrimas virginais, cristalinas, mas amargas de Maria Santíssima. [Aplausos]

Isso é o primeiro ponto.

Segundo ponto: o correspondente deve conhecer todas as pessoas da cidade mais ou menos do nível dele, e se ele percebe que uma tem simpatia por nossas idéias, ele deve começar o apostolado. É o correspondente ou a correspondente, pouco importa.

Suponham que ele ou ela é professor num colégio, ou é funcionário num colégio, ou trabalha numa repartição pública, ou num banco, ou em qualquer outra coisa, e percebe simplesmente na escrivaninha em que trabalha um colega, preso por um preguinho qualquer à madeira do bureau, percebe um santinho representando qualquer santo ou Deus Nosso Senhor Jesus Cristo etc.

Ele olha aquilo e diz: "Aqui tem coisa, aqui há um tesouro para acabar de salvar, um tesouro que está se perdendo porque não há quem não sofra a corrosão do mundo moderno e é preciso ajudá-lo contra isto".

É preciso então com toda a urgência começar o quê?

A procurar essa pessoa, sorrir, ser primeiro um pouco mais amável do que com os outros. Depois que as relações se entabularam um pouco melhor dizer com amabilidade: "Que santinho bonitinho é este que você tem aqui na sua mesa? Qual é esse santo?". Ou se é um santo muito conhecido e não tem propósito perguntar qual é, dirá:

– Ah, então é Santo Antônio? Você obteve alguma graça por meio dele?

– Não, foi minha senhora que deu – uma escapatória dessas de respeito humano.

Os senhores fingem que não é respeito humano, e dizem:

– Mas que bonita coisa. Com certeza sua senhora obteve alguma graça de Santo Antônio – e vem por aí falando coisas que aproximem um pouco.

Depois, em outro momento, quando ele tiver percebido que os senhores são católicos a conta inteira, ele vai-se sentir um pouco menos envergonhado de se afirmar católico, e vai concordando com os senhores num ponto, noutro ponto, noutro ponto.

Mais adiante ele fica concordando com quase tudo, desde que os senhores não criem embaraços para ele apresentando a ele a seus colegas como muito católico também. Essa é uma prova de coragem que ele deve dar quando estiver muito mais adiante.

Os senhores vão a casa dele, se tiver propósito e for conveniente para a formação das respectivas famílias apresentem a sua senhora, levem as crianças, estabeleçam esse tipo de relações que geram boa vontade. Gerando boa vontade, vão falando, vão modelando, vão ensinando.

Assim, aos poucos e aos poucos, conhecendo todas as pessoas utilizáveis na sua cidade, os senhores ou as senhoras terem feito um apostolado em virtude do qual se morrerem podem dizer a Deus Nosso Senhor no dia do Juízo: "Senhor, todo o mundo a quem me foi possível conhecer eu conheci. Todos aqueles a quem foi possível dizer uma boa palavra, eu a disse. Eu por eles não tenho responsabilidade, eu quis salvá-los e fiz o possível para isto".

Nosso Senhor – com fisionomia divinamente bondosa – lhes dirá: "O irmão que salva o seu irmão, salva a sua própria alma e brilhará no Céu como um sol por toda a eternidade. Entra, meu filho, as portas do Céu se abrem".

Então esta é a finalidade do correspondente.

Pode acontecer que a TFP empreenda uma campanha nacional. Então o correspondente é o agente natural dessa campanha naquela lugar. A gente manda cartazes, manda diretrizes, o correspondente publica, divulga, distribui, fala, etc. A cidade inteira fica sabendo que ali tem um, porque se houver outro, eles se juntam, e se houver mais outro eles fundam uma associação de correspondentes. Aí há um farol nessa cidade que distribui sua luz por todas as cercanias.

Quer dizer, nas cidades vizinhas saber-se-á: "TFP tem em tal cidade aí. Procurem lá, vão lá". A TFP começará a trazer para junto de si todas as pessoas isoladas, todas as pessoas ignoradas, mas para as quais a Providência se volta com amor especial porque elas suportam o isolamento, elas enfrentam a antipatia por a Deus e Nossa Senhora.

"Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição por amor à justiça", é uma das bem-aventuranças. Bem-aventurados são esses que são isolados, que são perseguidos, que são vistos com antipatia, porque eles são especialmente amados por Deus, sofrem por Deus, mas porque têm também... [Troca a fita]

* Maneira mais bela não há para morrer do que por martírio pela Santa Igreja

... em todas as circunstâncias, de toda a maneira. Se as circunstâncias se apresentarem até com risco da própria vida, porque modo mais belo não há de viver do que de viver combatendo pela Igreja, maneira mais bela não há para morrer do que morrer por martírio da Santa Igreja. [Aplausos]

É possível que algum dos senhores que esteja-me ouvindo, pouco habituado a essa luta diga: "Mas eu não tenho coragem para isso".

Eu digo: "Meu filho, eu adivinho bem, mas coragem não é coisa que se fabrica, a gente obtém, a gente pede. Pede a Nossa Senhora que nos dê força e Ela alcança isso do divino filho dEla. Não há virtude que se peça por meio dEla que a gente não consiga. Você é medroso hoje, reze para ser corajoso amanhã. Acabará um dia em que você será um leão ao serviço da causa da Civilização Cristã. Será um leão que terá impresso na sua alma o leão garboso da TFP". [Aplausos]

* Os lutadores da Contra-Revolução são como os pães e peixes do sermão das bem-aventuranças: ponhamos aos pés do Divino Mestre e Ele começará a distribuir-nos pela Terra

Alguém me dirá: "Mas, Dr. Plinio, juntando esta gente toda que o senhor quer juntar representa tão pouco. O senhor quer juntar estar gente e o senhor ainda tem coragem de lutar?"

Nosso Senhor no dia do sermão das bem-aventuranças exatamente para aquela multidão que estava faminta e não tinha que comer mandou recolher tudo quanto havia ali para depois distribuir àquela gente. Cinco ou sete, não me lembro, pães e peixes foi só o que veio. Ele não se incomodou, começou a distribuir: matou de fome a multidão e ainda muitos levaram para casa canastras com pães e peixes que sobravam.

Assim são os lutadores da causa da Contra-Revolução. Podem ser no momento cinco ou sete pães ou peixes: ponhamos aos pés do Divino Mestre e Ele começará distribuir-nos pela Terra. No fim Ele terá uma imensa falange de fiéis que lutará e implantará o Reino de Maria.

É o que eu vos desejo, é a grande ventura e a grande glória dessa felicidade. Nossa Senhora vos ajude. [Aplausos]


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