Plinio Corrêa de Oliveira

 

Relação entre admiração e calma

Procissão Corpus Christi, encerramento do Congresso Eucarístico em Viena, 1912

 

 

 

 

 

 

 

Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, 17 de agosto de 1994, Santo do Dia 

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

* Leitura de descrição da procissão do Santíssimo Sacramento, durante o Congresso Eucarístico de Viena, em 1912

“O Natal” ("Le Noël"), Paris, 3 de outubro de 1912. Congresso Eucarístico de Viena. Procissão do domingo, 15 de setembro de 1912

Portanto, dois anos antes da Primeira Guerra Mundial. Era em plena Belle Époque ainda

Nota da revista: Transcrevemos a narração deste triunfo eucarístico da publicação "A Semana Religiosa", de Paris.

Tinha ficado combinado que, em caso de intempérie, a grande procissão do domingo não seria realizada, e que tão-somente uma Missa seria celebrada pelo legado papal, na catedral de Santo Estevão, ante o imperador e toda a corte.

Apesar de tudo, no domingo de manhã, sem se preocuparem com a chuva que não cessava de cair, 80 mil homens que deviam tomar parte na procissão, estavam fielmente em seus postos, com estandartes, bandeiras e música à frente.

Por outro lado, ficamos sabendo que o imperador tinha declarado que era necessário que a procissão fosse feita custasse o que custasse:

– Os citadinos, disse ele, têm guarda-chuvas; os campesinos não temem a chuva, e o Santíssimo Sacramento irá de carro.

Apesar de sua idade avançada (84 anos), pretendia ele mesmo participar da procissão.

Às oito horas, a tropa já tinha tomado posição. O cortejo, composto exclusivamente de homens, saía do átrio da catedral de Santo Estevão, enquanto 150 mil mulheres e moças estendiam-se por duas alas desde a catedral até a porta monumental que dava acesso ao palácio imperial.

Eu chamo a atenção dos senhores para alguns pormenores. Aqui, por exemplo, é uma procissão do Santíssimo e uma procissão que evidentemente ia se realizar numa atmosfera de muito fervor, tudo estava indicando. Entretanto, com certeza seguindo uma velha tradição, estavam separados as mulheres dos homens.

Primeiramente avançam as paróquias de Viena, em seguida os magnatas húngaros, os tiroleses em número de oito mil, os bósnios, os checos, os moravos, os rutenos e os romenos.

* A política de casamentos dos Habsburgs fazia com que os povos assim incorporados não se sentissem conquistas, mas sim introduzidos numa família de povos

Todos ou quase todos esses povos faziam parte do império austro-húngaro, mas com a circunstância de que eram povos que tinham vindo parar sob a coroa do império da Áustria-Hungria, não por conquista militar, mas por casamentos. Era hábito da família imperial fazer um verdadeiro jogo de xadrez para ampliar por via hereditária e dinástica o território do império.

Então por essa forma, por exemplo, embora o Brasil fosse ainda uma colônia portuguesa, o casamento do imperador D. Pedro I com a imperatriz Dona Leopoldina, que era filha do imperador da Áustria, se fez precisamente com vistas a lançar um fio de simpatia e de relações, e de relações e simpatias de altíssimo nível, era a filha do imperador da Áustria que casava com o primogênito do rei de Portugal, Algarves e Brasil.

Então, esse casamento se dava por causa da vantagem de algum dia a coroa do Brasil por sucessão hereditária, acabar nas mãos de um príncipe da Casa d'Áustria. A preocupação era continuamente essa. Mas esses povos incorporados assim, não se sentiam conquistas, em que está o pé do conquistador em cima esmagando o que está embaixo, eles se sentiam introduzidos na família de povos. Porque tinha havido um casamento na dinastia que governava este povo, com a dinastia austro-húngara, eram reuniões de povos, formando famílias de povos, reunidas em cima por uma ligação com o que eles chamavam a arqui-família que era então a família imperial.

* A variedade de povos e de trajes tradicionais formando uma imagem da sociedade de antigamente

Então esses povos – eu não posso garantir que cada um, mas de um modo geral - tinham trajes regionais, e desfilavam com seus trajes regionais tradicionais. O que daria certamente uma beleza deslumbrante a essa procissão.

Eu vi uma ocasião – eu já contei isto aqui, creio que até mais de uma vez – o enterro do imperador Francisco José, no cinema eu vi isso. Era assim, a coisa era concebida com a variedade de povos, trajes tradicionais etc., e naturalmente a nobreza, o clero, as Forças Armadas, e a massa incontável do povo. Era uma imagem da sociedade de antigamente no que ela tinha não apenas de mais representativo, de mais importante, mas era a massa toda da população.

Oitenta mil pessoas para uma população de antes da Primeira Guerra Mundial é muita gente. Tomando em consideração sobretudo o fato de que chovia a cântaros, como os senhores vêem, e o pessoal provavelmente tocava música, a todo vapor, debaixo da chuva.

Eis a seguir as delegações estrangeiras: os franceses, distinguidos pelas bandeiras tricolores, que três de nossos compatriotas empunhavam alto e firmemente debaixo de um verdadeiro dilúvio; os espanhóis, os italianos, os ingleses, os alemães etc.

São onze horas e meia. O clero vai entrar em cena. Compõe-se de cinco mil sacerdotes e religiosos ordenados hierarquicamente:

Cinco mil padres! Imaginem o que isso significa.

...cinco mil sacerdotes e religiosos ordenados hierarquicamente: simples padres, curas de paróquias, monges de todas as Ordens, cônegos e, encerrando o bloco, duzentos bispos com capas, mitras e báculos.

Agora notem, hein! debaixo de chuva! É preciso notar isso.

Fanfarras de trompetes anunciam o terceiro cortejo ─ do Santíssimo Sacramento ─ que seguirá o do imperador-rei.

Na primeira linha estão escudeiros vestidos de vermelho escarlate; em seguida militares da corte, com penache branco, montados em cavalos cinzas de “toute Beauté”; os dragões e os hussardos.

* A fileira de cardeais em bonitas carruagens, com sua corte, davam um belíssimo aspecto à procissão do Santíssimo Sacramento

Ainda um esquadrão de cavalaria e eis que chegam os cardeais. Cada um possui sua carruagem particular...

Vejam que coisa bonita, não é? Não vai uma espécie de ônibus de cardeais. Cada cardeal tem sua carruagem. Vamos ver, eu não me lembro qual é o número de cardeais, mas é um bom número. Então aquelas fileiras de cardeais com bonitas carruagens e o purpurado ali com a sua corte. É uma coisa bonitíssima!

... e vem acompanhado a pé pelo encarregado de sua capela, levando seu crucifixo, seu báculo, o archote ritual e seu livro de orações. Sua Eminência o cardeal Amette...

Esse é o francês.

...vem sentado num admirável carro com relevos negro e ouro, atrelado por quatro cavalos. Ele não sofrerá com a chuva, mas manifesta-se preocupado pelos outros, e admira esta multidão que se apressa, desde a aurora, para honrar o Santíssimo Sacramento. Fanfarras ressoam, sinos tocam por toda parte...

Imaginem a cena, tudo junto, façam a montagem. Então esse desfile, tudo isso visto no mesmo golpe de vista. Então o desfile que vai passando, as tropas, as várias regiões do império, depois o clero. Agora, então vem a corte e vem o Santíssimo Sacramento.

* Para honrar o Santíssimo Sacramento, sai debaixo de chuva a carruagem da coroação de Maria Teresa, pintada por Rubens...

Fanfarras ressoam, sinos tocam por toda parte e ─ precedida por oficiais, camareiros e do grande marechal da corte ─ a carruagem da coroação de Maria Teresa, pintada por Rubens, penetra na Helden Platz, atrelada por oito cavalos negros.

Rubens era um desses pintores internacionais, de fama indelével, qualquer quadrinho dele, qualquer museu da Europa ou dos Estados Unidos compra por qualquer disparate de preço. Mas nem tem à venda, são preciosidades. Esta carruagem, do lado de fora, onde bate a chuva, era pintada por Rubens. Sai em honra do Santíssimo Sacramento. [aplausos]

A parte alta é quase toda de vidro e pode-se ver comodamente o legado papal, ajoelhado ante um altar no qual está o ostensório.

Dentro da carruagem. Transformada, portanto, numa como que capela ambulante, montado um altar, no altar está o Santíssimo Sacramento, e ajoelhado diante do Santíssimo Sacramento o cardeal – provavelmente era um cardeal – legado-papal. Quer dizer, enviado pelo papa como representante pessoal para a cerimônia.

A chuva cessa por um momento e o sol deixa entrever alguns pálidos raios.

Todo mundo tira o chapéu. Muitos caem de joelhos, sem se preocuparem com a lama. Aí então, num silêncio dos mais comoventes, passa o Deus da Eucaristia. Como Nosso Senhor deve ter abençoado estes humildes que se inclinam ante Sua passagem, e ouvido os ecos de sua comovida piedade! Depois da carruagem de Nosso Senhor, eis agora a do imperador.

Depois! Nosso Senhor acima de todos.

Depois da carruagem de Nosso Senhor, eis agora a do imperador. Numa carruagem atrelada por oito cavalos brancos e vestido com um uniforme azul, Francisco José olha fixamente o Santíssimo Sacramento, que ele acompanha. A seu lado está o arquiduque-herdeiro. Uma formidável e uníssona ovação é proclamada por esta imensa multidão, para acolher o imperador que chegava na Helden Platz.

Helden Platz quer dizer a Praça dos Heróis.

Sentia-se que os 100 mil católicos presentes queriam não somente honrar o soberano, mas sobretudo agradecer-lhe pelo exemplo de fé que ele dava e mostrar que todos os corações vibravam neste instante supremo. O cortejo termina por uma soberba cavalgada da guarda montada austríaca, da guarda montada húngara e pelas carruagens dos arquiduques. Desenvolve-se conforme o itinerário prescrito, mas é impossível celebrar a Missa na colonnade onde está montado o altar e nem mesmo ser dada a Bênção. Uma feliz idéia é enunciada pelo legado papal: ele se volta em direção à multidão perfilada e seu carro percorre de novo a imensa praça. Por meio da vidraça da carruagem aparece nitidamente o prelado levando o ostensório e benzendo a multidão. Todos ficam consolados por esta bênção suprema.

Precedendo ou seguindo o Santíssimo Sacramento, os bispos, os cardeais e o imperador entram então na capela do palácio imperial, o cardeal-legado celebra a Santa Missa, à qual assistem piedosamente o soberano e toda a sua corte.

É uma hora da tarde: a imensa multidão se dispersa. Estão felizes por terem honrado a Sagrada Eucaristia, apesar da hostilidade dos elementos da natureza. Uma dama austríaca dizia: Nosso Senhor quer nos mostrar que é preciso fazer face às dificuldades para segui-Lo.

É um pensamento dos melhores. O Deus da Eucaristia quis permanecer o Deus escondido, mas sem dúvida, quis receber estas homenagens dos grandes e dos humildes. [aplausos]

* A admiração é o melhor descanso

Eu peço para os senhores – é um comentário colateral, mas me parece muito oportuno – que se examinem no seu próprio interior depois de terem ouvido isso, e de terem participado desse entusiasmo geral, não é verdade que os senhores sentem um pouquinho mais repousados, um pouco mais descansados, um pouco mais distendidos do que antes de ouvirem isso?

Os que estão neste caso levantem o braço. É a sala inteira, sem nenhuma exceção.

Aqui os senhores veem bem o absurdo da civilização, ou daquilo que se poderia chamar cultura moderna. Sob pretexto de fazer igualdade, e de tornar os caminhos desimpedidos para todo o mundo e de fazer as coisas depressa, cria uma vida ultra tensiva, e uma vida a ser vivida por homens em cujo espírito a admiração não tem lugar. Que vivem num ambiente, numa cultura que não procura levar as pessoas para admiração.

O resultado os senhores sabem qual é? É o seguinte:

A pessoa não tendo o que admirar, e sendo uma alma que admira pouco, não tem o que descansar. O melhor repouso da alma é admirar. Quer dizer, por exemplo eu tenho certeza que se agora devesse passar – é impossível, porque é uma rua muito estreita para isso – mas se devesse agora passar esse cortejo todo aqui para nós vermos por essa rua, e eu convidasse aos senhores para irem à rua para todos vermos passar o cortejo, quando o cortejo tivesse acabado, os senhores diriam: "que pena que já passou, nós gostaríamos de ver mais e mais uma vez".

E se alguém dissesse: "mas olhe, o cortejo, se andarmos depressa, pegamos em tal rua ainda", iriam todos a pé e se preciso correndo para ver o cortejo mais uma vez.

Alguém dirá: "mas vocês não se cansaram?"

A resposta seria: "pobre imbecil, você não sabe que admirar descansa?"

Agora, daí partem dois efeitos. O admirar e o não admirar, viver na coisa rasa, chata, empoeirada, feia, ordinária, são o oposto uma da outra. Na perpétua feiura, no perpétuo tédio, na monotonia inexorável de certos ambientes, nós encontramos a ação do demônio; é propício para que o demônio entre, para que ele apareça, para que ele pegue as coisas dele, e fale, etc., as tentações dele, é propício.

* A procissão de "Corpus Christi": uma expansão do verdadeiro revide católico

Estas cerimônias assim, de um sentido religioso, desenvolvidas em adoração ao Santíssimo Sacramento com um intuito polêmico, porque as procissões do Santíssimo Sacramento não existiam antes de existir o protestantismo. Mas como arrebentou no século XVI na Europa, a primeira Revolução, que foi a Revolução protestante. Acontece que a Santa Sé, o Concílio de Trento acharam necessário dar um revide público à negação da presença real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento.

E então mandar no mundo inteiro onde houvesse organização católica para isso, quer dizer, clero, e eventualmente bispo, e, enfim, toda montagem religiosa, eclesiástica necessária para isso se fazer, e povo que compareça, fazer no dia da festa de Corpus Christi, exatamente Corpus Christi é o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, é o Santíssimo Sacramento em que está presente Nosso Senhor com corpo, sangue, alma e divindade.

Então fazer neste dia a procissão em revide ao protestantismo. Mas um revide com a nota católica. Quer dizer, o revide não consiste em conduzir pancartas escritas: "Morra Lutero, foste um cão abominável", uma série de frases dessas, mas que não é o auge do revide. Para alguém que me põe a língua, o auge do revide não é eu pôr a língua para ele. Ele é ele, ele exprime sua cólera pondo a língua. Eu talvez desvie o rosto, talvez faça outra coisa, mas pôr a língua não, porque eu não sou ele.

Assim também o revide católico nem está pensando direta e imediatamente em Lutero, está pensando no Santíssimo Sacramento: "Nós vamos proclamar agora aqui nossa fé no Santíssimo Sacramento. Proclamamos tão ostensivamente e tão magnificamente porque queremos encobrir o ruído imundo das blasfêmias protestantes com as melodias e as fanfarras, e a presença da tropa, do clero e da corte católica. Vamos fazer uma coisa admirável, a admiração vai sobrepujar o insulto".

Não sei se eu consegui tornar claro.

Que é o verdadeiro polemismo católico no que ele tem de melhor. Ele responde com força, mas responde num tom de dignidade serena que tem qualquer coisa que agarra mais do que um xingatório e ao qual se segue de outro lado outro xingatório.

Eu continuo claro no que estou dizendo?

* O livro sobre a Nobreza é o melhor gênero de revide contra a mentalidade da Revolução Francesa

Isso explica um pouco aos senhores o livro da nobreza em que eu que não sou literato procurei pôr, enfim, o que eu consigo de beleza de estilo, por quê?

Porque não se tratava de falar de Marat, de Danton, de Robespierre, dessa corja imunda, tratava-se de fazer em torno de um pontífice que a capa nos apresenta na Sedia Gestatória com a tiara, com os leques magníficos, chamados flabele, no meio de sua corte, ao mesmo tempo eclesiástica, laica e militar, que passa e que... então a glorificação do pontífice que deu aqueles ensinamentos, dos ensinamentos que ele deu, da instituição da nobreza que ele quis consolidar, e das elites análogas. Mostrar o que tem de belo, o que tem de bom, qual é a razão de ser. Implicitamente refuta o que a ralé disse.

Os senhores imaginem que se em vez disso, nós imaginarmos pôr na capa, não sei... Robespierre os senhores sabem que foi levado num daqueles últimos estertores do poder dele, ele foi preso e conseguiram tirá-lo – os revolucionários – da prisão onde ele fora encarcerado, e levá-lo para um outro prédio onde ele estava à vontade. Tinha partidários e ainda resistiu mais umas 24 horas, não me lembro bem.

Aconteceu que ele atravessou a multidão para ir de um prédio para outro acompanhado por uma escolta de marmiteiros e passou perto de algum bom contra-revolucionário que lhe meteu uma bofetada que destroncou o queixo de um modo monumental. É magnífico! Magnífico!

Fizeram lá para ele uma armação de madeira para o queixo não ficar caído, e assim ele poder falar um pouco e dirigir ainda a última resistência revolucionária.

Quando chegou a hora de ele ser morto guilhotinado, o carrasco se deu conta que aquela armação podia atrapalhar a queda da lâmina da guilhotina e fez a coisa na simplicidade. Quer dizer, em vez de maiores cerimônias, ele pegou a armação com queixo e tudo arrancou e jogou longe. Ouviu-se um urro medonho! Que era o contrário da dignidade com que morreram todas as vítimas dele.  Ouviu-se um urro medonho e a lâmina reduziu-o ao silêncio. (...)

* Um fator gerador da loucura no mundo de hoje é a ausência de coisas admiráveis

Os senhores sabem, não sei se estão informados disso, que a tendência hoje dos psiquiatras, e dos especialistas todos de coisas nervosas, é de não mandar para os hospícios senão os casos de pessoas que se tornam fisicamente agressivas, aí não tem remédio, se é um louco que morde qualquer pessoa que veja, tem que mandar para um hospício. Mas se o louco não é fisicamente agressivo, deve ficar na casa de seus parentes ou em algum outro lugar onde consiga ficar, porque os hospícios estão tão cheios que não há mais onde pôr os loucos. Isso, o louco furioso, não é louco gagá assim, porque isto aí nem se fala. Às vezes a gente se pergunta quem é que não terá alguma coisa de loucura hoje em dia.

Mas deixemos isso de lado, a questão é a seguinte: o porquê disto. Não é dizer só que os hospícios não chegam, é que o número de loucos cresce tanto que não há dinheiro para pôr tudo quanto é louco que aparece. Esta é a realidade. Mas é por quê?

Entre outras coisas porque nunca aparecem cenas dessas. As pessoas não admiram mais.

Essas coisas não descansam, irritam, cansam, decepcionam. A pessoa lê isso e depois vai dormir, vai dormir amargurado. A pessoa lê essa notícia aqui, é ou não é que tem um sono cor-de-rosa depois?

* A melhor cura para nervosos, para gagás e congêneres é a tranquilidade sobrenatural

Então a hierarquia, o esplendor, a nobreza, a sacralidade, todas essas coisas fazem bem para a alma. Mas por quê? Tem uma razão sobrenatural. São ocasiões de graças. É evidente, os senhores estão vendo pela leitura que o Santíssimo Sacramento difundiu graças ali em quantidade. Já para atrair aquela multidão, [que] não iria lá sem graças. E que com a graça vem a melhor forma de felicidade que existe na Terra. E a melhor cura para nervosos, para gagás etc., é a tranquilidade sobrenatural.

E enquanto não há isto não adianta vir com história de querer fazer uma cura psiquiátrica para uma zona de país onde tenha mais gagás. Ponha o Santíssimo, ponha Nossa Senhora, ponha o sobrenatural, os caminhos se abrem para resolver. Tirem, e sai essa história que está aí.

Isto está claro, meus caros?

* Também a nível temporal a beleza tem seu papel para a distensão do homem

Então também em nível “plutôt” (mais bem) temporal, tirem a verdadeira arte, tirem a verdadeira beleza, acabou a história. Porque elas são naturais para a distensão do homem.

Essa é uma tese que é muito importante para a TFP.

Se não fosse o fato de nós, graças a Nossa Senhora sermos muitos, eu arranjaria um jeito de num dia em que o Teatro Municipal está fechado, levar todos os senhores para verem o Teatro Municipal por dentro. É uma coisinha bem bonitinha para ver. Não tem a pompa de uma coisa dessa a perder de vista, mas é uma coisa digna, bonita etc.

Sobretudo se estivéssemos em condições em que pudéssemos falar à vontade para fazer comentários num alto-falante desses etc., um microfone, para ser ouvido para todos que vão, seria uma coisa muito interessante. Aí os senhores perceberiam ainda melhor o repousante do belo, do nobre e do elevado. Do sacral, é num plano mais elevado ainda, mas esse é irrealizável; é se pudéssemos visitar juntos a Sainte Chapelle. Ali é o “nec plus ultra”! Mas não falemos disso, e vamos passar para o livro.

Nota: É feito um pedido ao Prof. Plinio a fim de que comente mais minuciosamente esse relato. Ele atende ao pedido. Mas a postagem da continuação será realizada mais adiante.


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