Plinio Corrêa de Oliveira

 

Respeito humano:

exemplos e conselhos concretos para vencê-lo

 

 

 

 

 

 

Conferência para Correspondentes Esclarecedores da TFP, 15 de maio de 1994

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


(...) Pois bem, isto se parece de algum modo com as relações entre os que são verdadeiros católicos e os homens que pactuam com o modernismo, pactuam com o espírito da Revolução em nossos dias, com aqueles que pactuam com todos os erros de nossa época.

Os senhores veem, por exemplo, uma casa; a casa está bem arranjada, decorada, decente, será uma casa luxuosa, ou será uma casa digna, embora mais modesta, ou será uma casinha, mas um verdadeiro lar onde se adora Nosso Senhor Jesus Cristo e se cultua Maria. Na sala mais espaçosa da casa está entronizado o Sagrado Coração de Jesus, há uma imagem de Nossa Senhora. Tudo fala de fé, de dignidade, de alegria daquelas que têm fé, mas de firmeza daquelas que têm fé e que afirmam a sua fé.

* A perseguição ao bem é feita de todos os modos e em todos os ambientes

Vai uma pessoa visitar a dona da casa, conversa um pouco e diz:

– Ó Maria, mas como você ainda tem fé, como você acredita nessas coisas todas, essas imagens... Aquela imagem de que santo é mesmo?

– Fulana, não é nenhum santo, é uma santa que fez tal coisa.

– Ah, eu me lembro vagamente, quando eu era pequena minha avó me contava essas coisas. Como tudo isto passou, não é, Fulana?

– Não, não passou, está vivo, está aqui. Nessa casa quem manda são eles. É Nossa Senhora e são os santos que mandam.

– Mas como você está atrasada... Minha querida, você precisa mudar de posição, assim você não vai para a frente. Olha, você quer que eu te diga uma coisa? Outro dia em minha casa era uma festa de aniversário e havia conversas, a casa estava cheia, o rádio funcionando que era uma beleza, a televisão funcionando que era uma beleza, cantava-se, fazia-se música de todo o jeito. Nem tudo seria aprovado por você, eu sei, mas olhe, estava uma maravilha. Eu estava num canto ouvindo tudo como dona de casa e prestando atenção que tudo estivesse correndo bem, quando eu vi dois homens que conversavam um com o outro a respeito de seu marido, que estava na outra ponta da sala. E como eu quero muito bem a você – porque você sabe, benzinho, eu lhe quero muito bem... – eu tratei de prestar atenção. E o que é que saiu da conversa? Eram dois altos funcionários da firma qualquer coisa que conversavam, porque trabalham na mesma firma que seu marido, e que estranhavam que sendo ele um funcionário tão honesto e tão bom, ele, entretanto, não era promovido. Os mais antigos que ele eram promovidos, ele ficava sempre no mesmo lugar, ou se era promovido, é alguma promoçãozinha, é algum premiozinho, uma viagenzinha para a família dele para irem à praia.

Eles não gostam de praia. A firma dava uma viagenzinha para a praia e se não quisessem praia não tinham para onde ir. Ele ficava sempre de lado.

– E um perguntou para o outro: "Mas por que será isso?" E o mais graduado dos dois disse baixinho, eu acendi meu ouvido e tratei de ver o que era: "Você não sabe por que é? É carola, carola completamente. Vá ver a mulher dele na saída da missa, usa uma saia que chega não sei a quantos palmos abaixo do joelho, ela usa meia ainda. Os filhinhos são vestidinhos como se fossem personagens do tempo do Império. Ele está sempre de colarinho e gravata, parece até aquele pessoal da TFP. Assim vão todos à missa aos domingos e a diretoria não gosta disso."

 A diretoria de uma firma feita para ganhar dinheiro. A gente vai ver de repente, ela persegue a religião.

O que é que ela tem com isso? O que é que ela tem que ver com isso? É assim.

– Se você quiser ser promovida, se você gosta de seu marido, numa hora em que estejam os dois sozinhos, você diz para ele.

[E ela assim faz]:

– Fulano, você sabe que outro dia aqui em casa Sicrano e Beltrano conversaram sobre você?

O marido meio distraído, diz:

– É? E o que é que disseram?

– Eu vou-te dizer antes de tudo quem ouviu. Foi a Da. Fulana, esposa do diretor da firma.

Presta mais atenção:

– E o que é que eles disseram?

– Disseram assim, assim e assim. O que é que nós vamos fazer?

O marido se volta para ela e diz:

– O que é que nós vamos fazer? É não mudar nada. Eles dizem que não me mudam porque eu sou sempre o mesmo. Eu digo: eu fico no meu lugar porque eles são sempre os mesmos, não se convertem, não se alinham nem nada, estão sempre perseguindo os que são bons. Eu faço questão de ser dos bons e dos perseguidos. Que Deus me ajude, assim vamos para a frente. [Aplausos]

 

* Perseguição feita a rapazes da sede do bairro da Saúde (em São Paulo) em colégios

Essa perseguição se dá de todos os modos. Nós conhecemos casos de rapazinhos da Saúde em São Paulo que - é tremendo o que eu vou dizer - contam que nesta ou naquela escola onde vão, a professora na hora da aula se senta na mesa. Quer dizer, não se senta junto à mesa numa cadeira, não, ela se senta na mesa como se a mesa fosse uma cadeira. Ali toma as atitudes mais despudoradas que os senhores podem imaginar e diz para os alunos: "Vocês querem saber por que é que eu estou tomando esta atitude? Porque aquele e aquele são da TFP, eu quero escandalizá-los e por isso eu tomo essa atitude."

O rapazinho se levanta da sala e sai batendo a porta, o outro segue logo depois: gargalhada geral. Na hora do recreio gargalhada geral. Todo o mundo ri, só eles não riem, mas só eles não recuam, só eles avançam. [Aplausos]

Com isso acaba sendo que eles impressionam os que são seus colegas, impressionam aqueles que são seus amigos, e impressionam até seus inimigos. E no fim acaba sendo que eles são respeitados e considerados por todos.

* Avançar é o único jeito de não recuar. Vencer é avançar; ceder é perder

Avançar é o único jeito de não recuar. Vencer é avançar; ceder é perder. Nós, para conquistarmos o terreno, nós devemos avançar, quer dizer, devemos sempre estar falando, estar pregando. À mulher que diz para outra: "Olhe, meu benzinho, seu marido precisa ser promovido e para isso ele deve ser de tal jeito e não de tal outro, dizer: "Mas meu marido não está à venda como o seu. Seu marido é mercadoria, o meu não é mercadoria, o meu marido é filho de Deus". [Aplausos]

Assim ir conquistando terreno, proclamando as verdades, afirmando a sua posição com força. Quando alguém, por exemplo, elogiar o mal na presença dos senhores, por exemplo, quando fizer propaganda da televisão, avancem e digam:

– Não viram tal mailing que fala contra a televisão? Ah não viram? Pois eu vou mandar para você.

De fato ela viu, mas não quer dizer que não viu.

– Ah, não precisa, não se incomode não – quer dizer que ela viu.

– Não, mas eu vou mandar, é bom que você leia, porque diz tal coisa contra a televisão, diz tal outra, diz tal outra.

– Mas então vocês... hehehe! vocês não ligam televisão em casa?

– Não, não ligamos. Nós somos católicos apostólicos romanos e não queremos que esse instrumento de imoralidade penetre em nossa casa. Ali fica trancado ou não tem, não existe.

– Qual, vocês são atrasados mesmo...

Graças a Deus. Nós somos civilizados de uma civilização chamada a Civilização Cristã. Vocês que não são mais cristãos não têm Civilização Cristã, é outra coisa, é outro gênero. Acabem tomando essa na cabeça.

Quer dizer, é preciso energia.

* O que o homem mais deve querer para si e para os seus não é afeto, é respeito

Os senhores dirão: "Mas assim não se conquista afeto".

Conquista respeito. E o que o homem mais deve querer para si e para os seus não é afeto, é respeito. Porque quem nos tiver afeto e não tiver respeito, pode ir às favas com o seu afeto, porque o que vale é respeito. Se, pelo contrário, a gente é respeitado embora não seja querido, pode estar contente, porque está na linha em que Deus quer, esse se faz respeitar.

Portanto, é nessa luta pela própria respeitabilidade, nessa luta pela fé católica apostólica romana dia-a-dia, combate por combate, quase que eu diria beliscão a beliscão e enfrentamento a enfrentamento.

* Muitos dos senhores vão se sentindo isolados, caluniados, postos de lado completamente. Eu digo com a minha já avançada idade: bem-aventurados de vós a quem isso acontecer!

Acontece que muitos dos senhores vão se sentindo isolados, muitos vão se sentindo caluniados, muitos vão se sentindo postos de lado completamente. Eu digo com a minha já avançada idade: bem-aventurados de vós a quem isso acontecer!

Eu me lembro dos meus primeiros anos de colégio, eu me lembro minha surpresa quando eu entrei no Colégio São Luiz e que eu notei que muitos dos meus colegas faziam dos assuntos pornográficos o tema predileto no recreio, e que como eu não me aproximava das rodas onde os temas eram esses, eu ficava isolado.

Aos poucos eu notei que um isolamento completo é que me cercava. Chegava às quintas-feiras e Domingos – quinta-feira e domingo era dia de descanso no colégio – e eu via os meus colegas na minha presença combinarem distrações, passeios, mas não me convidavam. Depois se desfazia a roda, eu ia para o meu lado e eles iam para o lado deles.

Eram férias, eles se convidavam uns para ir às fazendas dos outros, para ir às beira-mares dos outros, na minha presença. Eu era o não desejado, não era convidado por ninguém e voltava para minha casa sozinho. Sozinho não, porque em minha casa estava a Da. Lucília.

Apesar desse isolamento todo, eu vivi minha vida. Eu me formei, eu me matriculei antes na Faculdade de Direito, depois me formei, depois me predisseram que eu não teria nenhuma espécie de clientes porque eu era um advogado por demais honesto e que ninguém gostava de advogados tão honestos, porque a advocacia teria como finalidade principal esta e eu não fazia isto. Mas aos poucos eu fui notando que Nossa Senhora ia fazendo cair como chuvisco os clientes no meu escritório, fui notando que os meios de viver me apareciam dos mais variados lados.

* Na hora em que o escritório de advocacia de Dr. Plinio periclitava, a mão de Nossa Senhora vinha para ajudar

Eu não posso deixar de me lembrar aqui com saudades, e até com respeito, de um fato que me aconteceu numa ocasião, num desses momentos em que todo o escritório passa por isso.

O número de clientes tendia a cair e o escritório tendia a baixar. Eu estava trabalhando – mas com ninguém no escritório, apenas com o meu companheiro de escritório – e pela porta vizinha minha por onde entravam os clientes vejo entrar um sacerdote muito alto e um homenzinho muito baixinho. O homenzinho muito baixinho usando uma cartolinha como eu não sei há quantos anos não se usava – eu acho que no tempo da proclamação da República é que começaram a usar essas cartolinhas e essas coisas assim – e atrás dele esse homem alto. Era um padre carmelita com os cabelos brancos em escovinha assim, pisando de um modo singular, ele tinha qualquer coisa na marcha que era meio singular. Um na frente do outro, o baixote na frente do outro.

Eu me levantei para acolhê-los, convidei para sentar, e o baixote fez uso da palavra:

– Dr. Plinio, o senhor não me conhece certamente, talvez conheça de nome. Eu sou Fulano.

Era um velho senhor dos meios católicos aqui de São Paulo que há tempos advogava em São Paulo, depois chegou a exercer altos cargos no Poder Judiciário, depois se aposentou e abriu um escritório de advocacia. E este padre carmelita, que era o provincial da província carmelitana fluminense, esse padre carmelita que dirigia, portanto, os interesses dos carmelitas se tornou cliente dele. Ele advogou para esses carmelitas muito tempo.

Ele depois explicou:

– Eu hoje em dia me sinto tão velho, que não tenho mais coragem nem forças para advogar, chegou afinal a vez de eu descansar. Como eu tinha grande admiração pelo Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira – era um irmão de meu avô, quem assinou com a Princesa Isabel a lei de 13 de maio de 1888 que dava liberdade aos escravos – e sabia que ele tinha um parente aqui em São Paulo, eu resolvi como homenagem à memória dele – o meu tio João Alfredo já tinha morrido há tempo – fechar meu escritório entregando a chave do escritório ao sobrinho-neto dele. Essa chave é uma chave de ouro, é o Frei Canísio Muldermann, que é provincial da província carmelita fluminense. Ele vem aqui para ver se o senhor quer advogar para ele e eu venho aqui introduzí-lo.

Era uma das melhores advocacias eclesiásticas que havia em São Paulo e que assim entrava no meu escritório, onde trabalhamos durante muitos anos, muito bem, na maior cordialidade, na maior simpatia. Na hora em que o escritório periclitava, a mão de Nossa Senhora ajudava.

Eu me lembro de uma leitura que fiz há algum tempo atrás a respeito de um São Pedro Armengol, um santo da ordem dos mercedários, cujos traços fisionômicos e vitais eu vou descrever numa palavra só, porque o meu relógio me adverte que eu me distraí e que o tempo da reunião já vai longe.

Martírio de São Pedro Armengol (Vicente Carducho, Museu do Prado, Madrid)

* Breve relato da vida de São Pedro Armengol

Esse São Pedro Armengol (1258-1277) era filho de um casal nobre do então condado de Barcelona. Os seus pais freqüentavam o soberano do lugar, que não era propriamente o rei de Espanha, mas era o conde de Barcelona. Eles pertenciam, os pais dele, à corte do conde de Barcelona. O filho deles, Pedro Armengol, era um menino extraordinariamente travesso, a bem dizer insuportável.

Menino travesso muitas vezes dá em homem à toa, e foi o que aconteceu com Armengol. Ele se meteu em Barcelona com companhias más e acabou indo morar no mato com bandidos que andavam pelo mato cometendo crimes, como os seqüestradores dos dias de hoje. Esse Pedro Armengol andava ele cometendo crimes também, quando uma ocasião, andando de um lado para outro dentro do mato, ele ouviu tocar a fanfarra do conde. A fanfarra do conde tocava com certas notas características, de maneira que todo o mundo à distância ouvisse que era o conde que estava passando.

Ele ouviu e lembrou-se que o pai e a mãe dele deveriam estar naquela galopada de caçada – a caçada era um esporte, a bem dizer, já naquele tempo – num lugar de honra, num lugar de respeitabilidade... [Troca a fita]

Ele recebeu uma graça e arrependeu-se. Arrependeu-se e foi procurar os padres mercedários, que eram naquele tempo muito ativos, lhes expôs a situação dele, pediu para se confessar, confessou-se, recebeu os sacramentos, regenerou-se e declarou o que é que ele queria então. Ele queria ser mercedário.

Por que é que queria ser mercedário?

Mercedário a palavra vem de mercê. Mercê é graça, é favor, é bondade. Mercedário é um padre da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora das Bondades, Nossa Senhora dos Favores, Nossa Senhora das Graças. Ele queria expiar – por meio de duros castigos – a vida criminosa que tinha levado até então, e quando se apresentasse aos pais já poder dizer que ele era um homem limpo, era um candidato a sacerdote, já inscrito numa ordem religiosa, etc.

Os padres aceitaram, ele se inscreveu.

Os mercedários tinham uma obrigação. Eles tinham como obrigação o seguinte:

Sabia-se naquele tempo que os árabes expulsos da península espanhola rodavam pelo norte da África, sempre com a intenção de voltar na primeira ocasião que se lhes apresentasse – eles nunca conseguiram. Eles tinham navios que eram navios de pirataria. Quando eles navegavam pelo Mediterrâneo e quando aparecia um barco que não era de árabes, de mouros, eles aprisionavam o barco, fosse de que nação fosse. Eles tornavam-se donos do barco, donos também dos haveres que tinha no barco – roubados, naturalmente – e depois donos de todos os homens de fé católica que estivessem no barco. Esses eram reduzidos a escravos e mandados trabalhar como trabalhadores manuais no meio das obras que aqueles reis mouros faziam lá para as coisas deles.

Eles, se dissessem que eram padres, seriam mortos. Se ficassem quietos e se não dissessem que eram padres, eles podiam ir vivendo, mas vivendo sem nunca voltar à Espanha, nunca mais teriam possibilidade de voltar à Espanha, e não teriam possibilidade de receber sacramentos. Porque eles não sabiam um do outro que era padre, ao menos legalmente não sabiam. E, portanto, a menos que um de repente desconfiasse que o outro era padre, não podia confessar e comungar, reciprocamente ficavam privados dos sacramentos. Um leigo podia perceber que o outro era padre e receber os sacramentos, mas um padre que não tivesse outro padre como é que ia se arranjar? Era uma situação realmente duríssima e dificílima.

São Pedro Armengol já era padre e com muita coragem, no meio daqueles mouros todos durante muitos anos, disfarçando que ele era padre, ele arranjava jeito de celebrar missa, de distribuir o Santíssimo Sacramento aos católicos, de ouvir, enfim, as consultas que eles queriam fazer, etc.

* Após ser enforcado, Nossa Senhora sustenta a vida de São Pedro Armengol durante três dias

Até que chegou um dia em que São Pedro Armengol foi preso. Foi preso, interrogatório, perceberam logo que ele era padre e condenado à morte. Mas viram, por alguns pormenores, que ele não era um homem qualquer, que ele era um homem de uma situação e de uma classe mais elevada. Então acharam que podiam fazer com ele outro negócio:

– Quem é seu pai?

– Meu pai é Fulano.

– Ah-ah. Está bom, para você há uma possibilidade. Se seu pai pagar tanto por seu resgate, ele mandando o dinheiro aqui, nós mandamos você de volta.

Era para São Pedro Armengol uma libertação, uma coisa do outro mundo.

Os emissários do pai chegaram, trataram com os mouros que em dia tanto estaria lá o emissário do velho senhor com todo o dinheiro que eles exigiam e o filho seria libertado. Mas eles avisaram direito:

– Olhe, preste atenção e chegue no dia, porque se não chegar no dia quer dizer que vocês não estão sinceros no desejo de resgatar o filho de seu chefe. Nesse caso ele nesse dia será morto, e não tenham dúvida nenhuma.

Chegou o dia, os representantes do pai não vieram, e no fim do dia, quando desapareceu a esperança de que os emissários do pai chegassem, ele foi levado para a forca e enforcado. Enforcado com as mãos amarradas para trás, com aquela corda no pescoço e sem nada nos pés para apoiar, enforcado no sentido mais estrito da palavra.

Aconteceu que durante três dias os emissários do pai não vieram. Quando, decorridos três dias, os emissários do pai apareceram, os mouros receberam de má vontade:

– O que é isso que você não veio na coisa combinada?

– Mas, olhe, nós trouxemos aqui o dinheiro.

– Não adianta, ele provavelmente está morto. Ele está lá no campo dos enforcados, há três dias atrás nós o enforcamos. E agora não adianta.

– Mas nós queríamos pelo menos ver.

Chegaram lá e encontram São Pedro Armengol vivo, enforcado há três dias e vivo, portanto, um milagre evidente, e ele sereno, tranqüilo, sem dar o menor sinal de agitação nem de nada. Numa situação que não dava para agüentar, qualquer um teria morrido não sei quantas vezes durante esse tempo.

Então os mouros foram cortar a corda, restituíram a ele a marcha, e ele foi com os católicos tomar o barco que o devia levar para Espanha.

Quando chegou à Espanha o superior perguntou:

– Pe. Armengol, agora aqui para nós o senhor conte o mistério que o senhor não contou a ninguém. Como é que o senhor resistiu três dias inteiros pendurado numa forca?

Ele tirou o corpo e o superior disse:

– Eu estou dando ordem ao senhor para contar.

Ele então por obediência contou. Durante três dias Nossa Senhora estava junto a ele segurando-o pelos braços. [Aplausos]

* Seja o mundo que for, esteja ele como estiver, vamos marchando para a frente com o nosso estandarte desfraldado e com palavras de “cristão atrevimento” nos lábios

Essa é a vida dos católicos, essa é a vida dos Correspondentes da TFP. Ainda que eles estejam expostos a riscos tão grandes que se diria que eles estão com tudo perdido, se eles confiarem em Nossa Senhora – por isso é que eu disse que a palavra “confiança” estava no começo de nosso dicionário – contra todas as aparências, contra todos os riscos e perigos, e dizer: "Eu pus nEla a minha confiança, rezo a Ela e Ela me salvará. Ainda que Ela tenha que ficar três dias com as celestiais mãos me sustentando pelos meus pés indignos, entretanto eu me manterei e serei salvo porque confiei nEla".

Nessas condições, meus caros, vamos para a frente e com confiança. Seja o mundo que for, esteja ele como estiver, vamos marchando para a frente com o nosso estandarte desfraldado e com palavras de “cristão atrevimento” [expressão utilizada por Camões: “sempre novos cristãos atrevimentos”, para se referir à epopeia lusa, n.d.c.] nos lábios. Ganhando terreno para Nossa Senhora, Nossa Senhora nos defenderá e a causa dEla vencerá!

É o que eu tinha para dizer. [Aplausos]


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