Plinio Corrêa de Oliveira
A Santa Igreja Católica tem verdadeiras maravilhas Sob certo ponto de vista, a maior delas é o amor do Sagrado Coração de Jesus
Auditório São Miguel, 12 de março de 1994, Santo do Dia |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Imagine uma joia – aliás, é o caso da coroa da rainha – que tem no seu mais alto um brilhante de um valor e de uma beleza extraordinária. Depois, junto, em outras partes da coroa, grandes joias: esmeraldas, rubis, safiras e outras pedras preciosas que circundam o Koh-i-nor. E os senhores imaginem que se pergunte a alguém se acha bonita a coroa da rainha da Inglaterra. A pessoa dirá: "Sem dúvida". Então pergunta: – O que é que você acha mais bonito nessa coroa? É o Koh-i-nor? O que é que essa coroa tem de mais bonito?
A pessoa que soubesse responder bem, diria o seguinte: "Não se pode dizer que o mais bonito seja o Koh-i-nor, porque tem outras pedras preciosas que, sem ter o tamanhão do Koh-i-nor, são, entretanto, de uma beleza cromática extraordinária: rubis, brilhantes, pérolas e tudo que o Sr. pode querer. De maneira que ver o Koh-i-nor junto com a coroa dá uma idéia de beleza e de encanto, que supera a cada uma das pedras isoladamente. É o conjunto que determina a admiração maior do homem. E a resposta [à pergunta]: qual é a pedra que você acha mais bonita, ou o que é que você acha de mais bonito na coroa, se respondesse: "Eu acho mais bonita tal pedra ou tal outra", não responderia com muita precisão. Ela deveria dizer: "É o conjunto". Assim também com a Igreja Católica. A Igreja Católica, em certo sentido, é a coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em outro sentido, pode ser chamada de coroa de Nossa Senhora. O que é que tem de mais bonito? É ser de Nosso Senhor Jesus Cristo, ser de Nossa Senhora, e receber, portanto, dEles, uma certa atmosfera de beleza, uma certa atmosfera de encanto que não vem de tal pedra nem de tal outra, mas de ser o conjunto que enfeita a Rainha. Isso é o que tem de mais bonito. Isso é mesmo assim com a Santa Igreja Católica. A Santa Igreja Católica tem verdadeiras maravilhas. Mas, o que é a maior maravilha da Santa Igreja Católica é o conjunto. Isso o senhor pode se dar conta facilmente, imaginando que uma pessoa não conhecesse – por erro de visão, por qualquer coisa assim, por ignorância – muitos dos traços da Igreja Católica, conhecesse pouco da história da Igreja Católica, essa pessoa não teria idéia do que é o conjunto da beleza da história da Igreja. Os heróis desconhecidos, os mártires admiráveis, e tudo mais, a pessoa não conheceria. Então não seria capaz de analisar a Igreja em tudo aquilo que determina o amor apaixonado a ela, que só não chega até à adoração porque adorar é só a Deus. Do contrário, seria adoração. Vamos imaginar o seguinte: Uma pessoa que visse na Igreja Católica esta ou aquela qualidade. A Igreja as tem muitas. Alguma dessas qualidades é mais bela do que a outra? A qualidade mais bela da Igreja Católica, debaixo de certo ponto de vista, é o amor do Sagrado Coração de Jesus. Que Jesus tenha tido, não só fisicamente, mas moralmente falando, um coração, e que esse Coração sagrado, Coração adorável, tenha sido tal que tenha sido amado até a loucura por santos, por personagens grandes da Igreja, como Santa Margarida Maria Alacoque, e essas e outras aquelas pessoas, já é de si uma coisa muito bonita. Mas, a coisa mais bonita é a gente tomar o conjunto de coisas que a Igreja, na Ladainha do Coração de Jesus, diz a respeito do Coração de Jesus. Então, por exemplo, uma invocação da Ladainha que há é essa: Coração de Jesus, traspassado por uma lança – tende piedade nós. A gente imaginar um coração que ama tanto cada homem que se dá inteiramente a esse homem. Mas que se este homem, a quem Ele ama tanto, O transpassasse com uma lança, deixar-se-ia transpassar. E adorando a Deus, porque está sofrendo uma injúria tremenda, porque está sofrendo uma dor física tremenda, por amor àquele que está fazendo aquilo. Esse ato de bondade, de perdão a um inimigo que resolveu matar, passando uma lancetada no coração, no próprio símbolo do amor, é uma das coisas mais bonitas que há para exprimir a doçura, a suavidade e a serenidade do Sagrado Coração de Jesus. Um homem que levasse uma lancetada no coração, ainda mais dada por um amigo, esse homem protestaria, diria: "Barrabás medonho, afasta-te de mim! Celerado, para longe! Assassino, para longe!" Ele olhou com amor, conquistou, provavelmente, a conversão daquela alma. E o homem que fez isso chamava-se Longinus. E ele tinha muito pouca vista, era quase cego. Quando Nosso Senhor teve o lado dEle transpassado, jorrou do Corpo sagrado dEle, o último resto do que tinha que sair para que a separação entre a alma e o corpo fosse completa, e a morte fosse morte na sua integridade. E alguma coisa desse líquido caiu sobre os olhos do Longinus, aquele que tinha transpassado o Coração! E essa água que caiu sobre os olhos do Longinus, essa água, precisamente, o converteu. E ele passou a ser, daí por diante, um apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quer dizer, Nosso Senhor, a tanta maldade, respondeu com uma tal bondade, que depois da gente ver que é isso que a Igreja recomenda aos filhos dela, que ela assim nos ama, nos ama até como pecadores, de maneira tal que nós cometemos o pecado, mas o Sagrado Coração de Jesus olha para nosso pecado com repulsa porque é pecado, mas com pena, com misericórdia, e nos dá a conversão; isto é de uma beleza moral tão grande, uma elevação tão grande, que a gente poderia dizer que se o homem não conhecesse esta bondade de Deus até que ponto chega, não seria capaz de ter, nem de longe, aquela união com Ele, aquela confiança nEle, aquela subordinação a Ele que com a lancetada de Longinus se tornou evidente para todos os homens. Não sei se está claro o que eu estou dizendo, ou não? Aconteceu, os senhores sabem disso também, uma coisa análoga com o Bom Ladrão. Nosso Senhor estava crucificado entre o Bom Ladrão e o mau ladrão. Ambos eram ladrões, ambos tinham sido condenados à morte para serem executados como Nosso Senhor, no alto do Calvário. E eles estavam, ao que parece, já amarrados em cima e prontos para expirar, quando Nosso Senhor chegou lá. O mau ladrão viu Nosso Senhor e O odiou. Nosso Senhor olhou a ele com amor, e procurou significar a ele como desejava o bem dele, e ele blasfemou. Então o Bom Ladrão, pelo contrário, foi olhado por Nosso Senhor, e viu o amor de Nosso Senhor. E Nosso Senhor amou-o efetivamente. E ele se converteu. Ele se deixou tocar e ele se converteu. E quando o mau ladrão começou a blasfemar, ele disse: – Por que você faz isto? Nós estamos na cruz e vamos morrer porque merecemos. Somos ladrões. Mas Ele é inocente, e Ele vai sofrer, Ele vai padecer, e Ele padece, portanto, de um modo injusto. Não há razão para você não fazer outra coisa, senão amá-Lo. Nisso, Nosso Senhor, com a bondade adorável dEle, deu uma graça ao Bom Ladrão, por onde o Bom Ladrão teve noção de que Ele era Deus, e amou-O. E Ele então disse ao Bom Ladrão: – Tu hoje estarás comigo no Paraíso. Quer dizer, que bondade! Que misericórdia! Que inesgotável paciência! Os senhores dirão: – Mas, Doutor Plinio, o senhor elogia tanto isso, mas elogia muitas vezes o contrário: é Nosso Senhor castigando, Nosso Senhor punindo. Pouco depois de Nosso Senhor expirar, o desfile dos castigos dEle começa e são tremendos! Porque Ele prometeu castigos medonhos ao povo deicida. E isso se confirmou. Não sei se os senhores se lembram de que quando Nosso Senhor expirou, e disse Consummatum est [Jo. 19, 30]: "Está tudo consumado", a alma dEle deixou o Corpo e só o Corpo dEle ficou na cruz. Nesse momento, a Terra inteira tremeu e sacudiu, e o sol se obscureceu. Eram três horas da tarde e o dia ficou como noite. Conta-se de um romano que vivendo à uma grande distância de Jerusalém, viu esses fenômenos e comentou com um amigo: "Um Deus acaba de morrer". Ele não sabia de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas ele percebeu que um Deus [acabava] de morrer. O Templo de Jerusalém se rachou de alto a baixo. E o véu do Templo se rachou também. Quando o véu do Templo se rachou, os Anjos de Deus que habitavam o Templo saíram, dizendo uns para os outros: "Saiamos daqui! Saiamos daqui!", porque o Templo passou a ser um edifício maldito. Depois de edifício bendito, passou a ser um edifício maldito. E, coisa mais terrível ainda, no cemitério os sepulcros se rompiam, e os justos do Antigo Testamento, quer dizer, os que tinham vivido e tinham se salvo, os corpos deles não ressuscitaram, mas andavam, mudos, com os olhos fechados, e andando de um lado para outro no meio das trevas. Mas arranjavam um meio de comunicar aos que passavam: "Tu és isto, e fizestes tal coisa, fizestes tal coisa. Maldito sejas! Tu és meu neto ou meu bisneto, eu vivi muito antes de ti, mas tu fizestes tal coisa. Maldito seja!" E assim se encheu a cidade de justos do Antigo Testamento, enchendo de maldição a cidade de Jerusalém. E ficou por aí provado, por esta prova da maldição de Nosso Senhor que se realizava tão esplendidamente, essa prova do furor de Deus, que outra coisa havia de se realizar. Nosso Senhor disse isto: Jerusalém seria destruída completamente, e não ficaria pedra sobre pedra. E realmente foi o que se deu. Quarenta anos depois, os romanos se apresentaram diante de Jerusalém. Eles eram muito mais fortes, mais numerosos, melhores soldados, etc., cercaram Jerusalém e exigiram uma quantidade de dinheiro dos judeus. Os senhores sabem que judeu não gosta de dar dinheiro. Recusaram. Os romanos entraram pela cidade adentro. Às vezes entravam pelo tubo dos esgotos, mas entravam pela cidade adentro, para começar a saquear a cidade. Tudo aquilo que valia alguma coisa, eles levavam para Roma como ganho por eles. E, ao mesmo tempo, as judias saíam pelo tubo de esgoto por onde entravam os romanos. E os romanos perceberam que elas engoliam as joias. Quer dizer, tiravam as pedras de dentro das joias e comiam, para que os romanos não pudessem perceber que elas estavam com joias. E então eles pegavam aquelas mulheres, abriam o abdômen com uma espada, e iam procurar nos órgãos internos do corpo, brilhantes e outras pedras, moedas de ouro etc., etc. E não costuravam o corpo depois. A mulher ficava com aquilo escancarado e morria de um modo tremendo. E eles se espalharam por toda a Terra. E com isso foi disperso o povo, foi arrasada a cidade, e foi cumprida a maldição. Nosso Senhor, tão soberanamente majestoso nisso, tão adoravelmente justiceiro nisso, Nosso Senhor, a gente O adora na severidade dEle. Eu confesso que quando penso nessa severidade dEle, eu fico empolgado! Os senhores me dirão: "Doutor Plinio, não há uma contradição? Há pouco, o senhor elogiava a doçura dEle a um tal grau, e agora o senhor elogia a severidade?" Eu digo: aqui está a beleza. É que tudo que é ordenado, que tem razão de ser, e é conforme Deus, tudo isto existe em Nosso Senhor de um modo adorável. Portanto, todas as formas de beleza moral, de santidade, que o homem possa imaginar, todas elas existem nEle, e existem de modo perfeitíssimo e insondável. E ao mesmo tempo em que se adora a severidade dEle, adora-se a doçura dEle. Porque nada é mais doce do que Ele, nada é mais terrível do que Ele. Conclusão: nada é mais perfeito do que Ele. É como as pedras da coroa da Inglaterra: elas são muito diferentes umas das outras, mas a beleza está no conjunto das diferenças.
Vitral do Sagrado Coração de Jesus Cristo na antiga mesquita (hoje Catedral católica) de Córdoba, Espanha - Wikipedia free |