Plinio Corrêa de Oliveira

 

Báculo de Nossa Senhora do Bom Sucesso emprestado ao Prof Plinio Corrêa de Oliveira: simbolismo

 

 

 

Auditório São Miguel, Santo do Dia, 7 de dezembro de 1992

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Vosso silêncio indica bem que esperais uma palavra. Pela primeira vez, na já longa história da TFP, eu não sei o que dizer. Porque o fato que acaba de se passar de tal maneira excede tudo quanto eu poderia imaginar, de tal maneira vai além de tudo quanto eu desejava, que eu realmente, confundido, não sei o que dizer.

Os Srs. notaram bem alguns trechos dessa carta, que se vê que foi escrita com muito cuidado, em que cada frase tem o seu sentido e em que cada palavra tem o seu lugar na frase. Uma carta muito bem escrita. Os Srs. terão notado, sem dúvida, a afirmação de que esse báculo esteve durante trinta anos, durante três décadas... Mas o que é que representa isso: três décadas? Nós estamos em 1992. Quando começou esse báculo a ser empunhado pela imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Quito, nós estávamos em 1962.

Para medir bem a torrente de tempo que isto significa, procurem lembrar-se de tudo quanto de lá para cá se passou no interior da TFP, na vida espiritual de cada um, por outro lado, na vida universal do mundo inteiro, da cultura, da civilização, da Revolução, da Contra-Revolução. Pensem em tudo isso e compreendam que enquanto tudo isto sacudia o mundo, sacudia as nossas vidas e as nossas almas, esse báculo estava nas mãos da imagem sagrada de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Quito, Equador.    

Esse báculo estava em mãos dEla, recebendo, portanto, continuamente uma como que participação, uma como que emanação das graças tão visíveis, tão notórias de que aquela imagem é cercada. Imagem que, segundo consta muito verossimilmente, para não dizer que consta de um modo inteiramente certo, foi esculpida por mãos de Anjos. Foram, portanto, mãos esculpidas por Anjo que durante trinta anos seguraram esse báculo.    

Há um determinado momento em que religiosas concepcionistas, da mesma ordem religiosa da Luz aonde vamos tão frequentemente rezar, no seu sagrado recinto, no seu silêncio, na sua clausura, na sua piedade, rezando acompanham bastante os acontecimentos do mundo vistos em torno da Santa Igreja Católica, o que quer dizer em torno do próprio Deus, dos acontecimentos do mundo visto em torno, portanto, também, da Civilização Cristã, acompanham bastante bem para que – dentro das limitações que o direito canônico põe às atitudes das religiosas, da subordinação em que elas estão em relação aos seus prelados – encontrem meios e encontrem coragem para fazer a afirmação que até agora ninguém fez a nosso respeito. Quer dizer, elas têm a coragem de dizer isto.

Mais do que estas ou aquelas palavras de elogio, a luta que nós conduzimos elas afirmam que essa luta é um dom de Nossa Senhora, que é uma graça de Nossa Senhora, que veio de Nossa Senhora essa coragem. E que para simbolizar o alcance dessa luta, elas, solidárias conosco, nos dão o próprio báculo de Nossa Senhora. [Palmas]

Propriamente foram elas que deram? Em certo sentido da palavra foram elas. Mas foram elas mesmas, ou a convicção que elas formaram de que a série de atitudes que nós tomamos, uma série de lances, uma série de afirmações, uma série de barulhos no meio da “melée”, da luta em que nós proclamamos isto, aquilo e aquilo outro, que aquilo tudo isso está certo? E elas nos dão como garantia dessa certeza o báculo de Nossa Senhora.

Eu pergunto: não entrou nisso uma graça especial? Isso não é produto de longas reflexões? Reflexões que são produtos de longas orações, orações que são produto de uma longa, longa, longa preferência de Nossa Senhora pela Ordem fundada por Santa Beatriz Silva e que se veio prolongando através das tormentas e nas dificuldades através dos séculos até nossos dias? Então isto não significa – e significa com uma clareza empolgante – que Nossa Senhora trabalhou essas almas, trabalhou esses corações, trabalhou essas mãos puríssimas para que em certo momento, nessas almas, a meditação chegasse a uma conclusão: "Precisamos tomar posição”.

Se não tomamos posição externa, porque nossa vocação o proíbe, nós faremos uma coisa maior do que a posição externa: internamente nós no âmbito de nossa ordem tomaremos posição. E essa posição não será expressa por uma palavra, ela será expressa por algo de muito melhor do que uma palavra: um símbolo. E esse símbolo o que é que é? É o símbolo do báculo.

O báculo, os Srs. sabem bem, representa nas mãos dos bispos a autoridade do pastor que dirige as suas ovelhas. Há até um simbolismo muito bonito na Igreja a respeito dos báculos.

O báculo, como os Srs. percebem, é um bastão comprido, no alto do qual é como que um cajado, é como uma circunferência que se forma. Que é a forma dos antigos báculos dos antigos pastores, báculos de madeira com que nas eras patriarcais e pastoris eles guiavam o rebanho.

O báculo na Igreja passou a ser o símbolo do poder e da autoridade do bispo. E como a autoridade do bispo se estende, a partir dele, sobre todo o conjunto da diocese, para indicar esse poder do bispo que preenche os limites da diocese, o báculo é usado com essa como que circunferência para fora, para indicar que ele manda fora. Mas o báculo que os abades usam, como a autoridade deles é só interna no mosteiro, o báculo é virado para dentro. Indica que eles só mandam dentro do mosteiro, enquanto o bispo manda em toda a superfície.

Como é que esse báculo era usado por Nossa Senhora? Era usado para dentro para significar apenas o poder daquela que é Rainha da Ordem das Concepcionistas? Ou seria usado para fora para indicar o poder universal de Nossa Senhora?

Eu tenho a impressão de que ambos os símbolos teriam a sua razão de ser, mas que o símbolo que a nós é caro é o báculo virado para fora, para indicar Maria, mostrando que Ela é Senhora de seu Reino, e acendendo em nossas almas a seguinte esperança, talvez comunicando a seguinte mensagem: "Este reino para o qual vós lutais por graças que eu, Maria Santíssima, obtenho para vós, esse reino está como símbolo na minha mão e eu o transfiro para vós."

Numa sala da Rua Traipu, durante muitos anos usada para o MNF como sala de suas reuniões, há uma muito bela fotografia que o meu caro Dr. Duca mandou confeccionar, representando a Batalha de Rocroi [19-5-1643].

É uma luta em que os franceses avançam, e tem uma certa relação com um gesto famoso do grande Condé, quando ele, para fazer com que as tropas francesas avançassem com decisão, jogou para longe o seu bastão de comando e disse: "Agora avançai e pegai lá o meu bastão, pegai no meio dos inimigos onde ele está. Para a frente." E a Batalha de Rocroi se venceu.

Aqui a coisa é muito mais grandiosa. O gesto do grande Condé é apenas uma pálida rememoração daquilo que significa aqui o gesto.

Eu não conheço o caso de um só rei que tenha levado o seu cetro até à guerra, não conheço o caso de um só rei que tenha dito a um corpo do exército: "Aqui está o meu cetro, levai-o até à vitória." [Palmas e brado]

Nem homens cujo nome se pronuncia com reverência, que se teria vontade de inclinar a cabeça quando se lhes pronuncia o nome, tão sagrado é esse nome, tão digno de respeito, de afeto, e de admiração, São Luiz [IX, Rei de França, n.d.c.] e São Fernando [de Castela, da Espanha, n.d.c.], nem eles me consta que tenham feito isso. Nem Carlos [Magno], o Grande; Carlos, o incomparavelmente Grande; Carlos, Grande por excelência; Carlos, monumentalmente Grande; Carlos, monumento ambulante por toda a Europa, voando de inimigo a inimigo como se fosse um Anjo destroçando de um lado e de outro os inimigos de Deus; nem Carlos me consta que tenha feito isto.

Pois bem, Nossa Senhora, fechando os olhos para as nossas insuficiências, para as nossas lacunas, para os nossos pecados, Nossa Senhora, entretanto faz isso: Ela manda trazer o seu báculo e diz: "Ide e lutai!"

Na análise fria e serena desse gesto, atendei mais a esta circunstância:

Eu me lembro de um episódio da vida de Luiz XIV em que ele estava cercado de todos os lados, sobretudo por prussianos e ingleses, mas também aliados de outras procedências. E de tal maneira apertado pelos aliados, que ele sentia que as tropas francesas ofereciam uma barreira que ia estalar a qualquer momento. E ele, o homem das atitudes majestosas, ele, o Rei Sol, tinha preparado tudo para se retirar para um castelo do interior da França, para oferecer uma resistência, que é a resistência que oferecem os que fogem, uma resistência de retaguarda. A frente dele estaria mais longe do inimigo, do que a pouco estava a vanguarda, de tal maneira ele estava recuando.

Quando de repente chega uma notícia de um mensageiro que vinha estourando todos os cavalos pelo caminho, com a recomendação de não perder um instante, porque todos os momentos eram preciosos. Cheio de poeira, cheio de suor, ofegando, entra dentro do pátio do Castelo de Versailles e diz que tinha uma mensagem a entregar da parte do Marechal de Villars – mensagem pessoal.

Claude-Louis-Hector de Villars, Marechal francês [1653-1734]

Abre-se a carta, era o anúncio da famosa vitória de Denain. É a famosa vitória em que ele tinha conseguido, ele sozinho, desbaratar todos os adversários a tal ponto, que eles já estavam pedindo a paz. E o rei teve o agradável gesto de mandar desencomendar a mudança e continuar a sua vida dentro do itinerário do sol, pelas vastidões de Versailles.

Daí a pouco veio o general vencedor da guerra, mas chegou ligeiramente atingido num pé. Luiz XIV lhe preparou uma acolhida a mais honrosa, a mais confortável, a mais brilhante que se possa imaginar. Ele ia todo o dia visitar o Marechal e honrá-lo com uma longa conversa, os cortesãos não sabiam dizer o quê de admirados diante do Rei com esse Marechal... Mas francamente! Ele tinha salvo o reino para o rei, ele tinha transformado em glória solar aquilo que ia ser uma ignomínia crepuscular, era natural que fizesse isso. O rei dava ao marechal vitorioso um grande repouso.

Nós não somos marechais, nós não somos vitoriosos. Nossa Senhora nos dá algo que tem todas as características de um prêmio por muitas batalhas. O que é que Ela nos dá? Mais luta!

Para usar as palavras – e eu as uso para os Srs. verem como os grandes homens ficam pequenos diante dos grandes horizontes, foi um grande homem, como ele fica pequeno nesse horizonte – de Churchill: “suor, sangue, e lágrimas”, isto é o que a guerra traz consigo. Ela nos dá como recompensa isto: dai mais suor, dai mais sangue, dai mais lágrimas. Conquistai terras, conquistai almas, vencei! O meu báculo que vai convosco não é apenas um símbolo, ele é mais do que um símbolo; ele é algo que traz consigo as condições da vitória. Eu vos confio uma arma de guerra. Pobre bomba atômica, mexerica pequena e inofensiva em comparação à grandeza daquilo que eu vos entrego. Eu vou entrego a minha bênção e o símbolo do meu poder.

Eu estou alongando um pouco demais a análise dessa carta, que eu segui com as atenções e as minúcias com que se acompanha uma escritura pública, olhando a leitura de uma escritura pública, olhando para todos os pormenores.

A carta certamente menciona o meu nome, certamente me tem em vista, mas é muito claro a esse respeito: ela vos abrange, ela abrange a todos os que estão nesse auditório, ela abrange a todos que nos cinco continentes lutam pela mesma luta. É deles todos coletivamente que em minhas mãos está posto esse báculo, para irmos todos juntos para a frente e para a vitória. [Palmas]

Eu não sei se os Srs. prestaram atenção num pormenor desse báculo: na sua última reviravolta ele tem uma estrela. É tão alto o seu poderio, que a estrela do céu lhe serve de ornamento.

É pegar no céu uma estrela e dizer: "Tu não brilharás mais aos olhos do sol nem da lua; tu brilharás aos meus olhos e nas minhas mãos."

 É a Stella Matutina, é a Estrela da Manhã do Reino dEla que começa a nascer nessa luta. É a promessa [que] a Stella Matutina nascerá e a Stela Matutina levará depois consigo o nascer do dia e o império do sol sobre o mundo. Sol quer dizer Jesus Cristo, Senhor Nosso, Sol de justiça. Tudo isso vem prometido nessa estrela lindamente colocada no báculo.

Também eu estou tomando aqui uma deliberação.

Não há dúvida nenhuma de que nós temos várias capelas e todas elas consagradas por bonitos feitos, bonitos lances, estão todas elas em nossos corações. Porém, não há dúvida também de que a nossa sede máxima é a Sede do Reino de Maria. É a sede do Reino de Maria! Eu não tenho que dizer mais nada. Minha deliberação é estudar um bonito local na Sede do Reino de Maria onde expor continuamente esse báculo.

Mas criando o seguinte cerimonial: mandar gravar no próprio báculo – é preciso que tudo isso se faça belamente, porque as coisas belas e santas devem ser santa e belamente feitas – algumas palavras especialmente estimulantes desta mensagem. E estabelecer como princípio de que todo aquele que chega à sede, faça as suas orações, mas antes de tudo vá ao báculo e oscule como sinal de aceitação desse convite à luta, como reconhecimento de que esta é uma das graças principais que vamos pedir ali ao chegar e depois ao ir embora de novo:

Minha Mãe, que eu seja vosso soldado, desde o momento em que pela manhã os meus olhos se abrem, até à noite no momento em que os meus olhos se fechem. E enquanto eu estiver repousando, o meu repouso seja o repouso casto e forte do cavaleiro medieval, o repouso casto e forte do Cruzado, que não é um convite à moleza, mas é um convite ao repouso para novas lutas. Luta, luta, luta, até que tenhamos vencido”.

Mas luta de quem sabe que com a graça pode tudo, sem a graça não pode nada, e que a graça ele nunca receberá a não ser por meio de Nossa Senhora. De maneira que ele vai oscular o báculo para obter, com o ósculo, a graça necessária para todos os “cristãos atrevimentos”. Como dizia Camões, “para sempre mais cristãos atrevimentos”. Atrevimentos sempre maiores, sempre maiores e sempre mais cristãos, católicos, apostólicos, romanos, mas atrevimento.

Deixai-me, ó Mãe, terminar essas palavras, que são do mais emocionado, mais profundo agradecimento. Que em nome de todos os que estão aqui, em nome de todos os que por toda a vastidão da Terra são vossos filhos nas fileiras da TFP, nesse momento em que todos tão belamente se ajoelham, eu ainda não me ajoelho porque não posso,  me ponho genuflexo na alma, mas tenho alguma coisa a dizer. Eu antes de terminar isto não julgaria terminar dignamente o que eu estou dizendo se eu não tivesse um olhar de ameaça para os vossos adversários. Um olhar de ameaça, uma palavra que é uma vergastada e alguma coisa que lhes tira uma possibilidade de ação das mãos.

Eu sei com que canalhas estamos tratando e sei que ouvindo tudo isto vão procurar dar as interpretações mais evidentemente falsas, mais completamente desavergonhadas, mais ao gosto deles que se possa imaginar, mas eu quero lhes quebrar os dentes com a atitude que eu vou tomar. E digo, portanto, para ficar gravado, que tudo isto se entende incitamento à luta, mas incitamento à luta dentro dos princípios e da doutrina da Santa Igreja Católica Apostólica Roma, e dentro também da obediência às leis civis, às leis temporais, sempre que elas não entrem em choque com a doutrina e com as leis da Santa Igreja Católica. É isto que se entende e acabou-se! As falsas interpretações que fiquem jazendo pelo solo como poeira vil que a gente espadana antes de ter acabado as palavras que devia dizer.

Eu não sei palavras mais bonitas, minha Mãe, para vos dizer o que está em nossas almas, do que as palavras que a piedade mariana há tantos séculos suscitaram e que as almas dos verdadeiros católicos vêm repetindo incessantemente. Eu peço a todos os Anjos do Céu, peço a todos os santos do Céu, peço sobretudo a todos os santos que foram especialmente mariais, e entre esses peço sobretudo a São Luiz Maria Grignion de Montfort, e acima dele, porque há quem possa nesta matéria estar acima dele, São José, vosso castíssimo esposo, eu peço às almas que estão no Purgatório e que anseiam por se libertar dos tormentos daquele lugar, que também se associem a nós, como nós incluímos uma intenção a favor delas na oração que vamos fazer, e com isso a nossa luta se estende até esse lugar de fogo e de trevas e leve algum refrigério a essas almas sofredoras; as palavras que eu digo são despretensiosas, são sublimes: ponde, nossa Mãe, nos nossos corações e nossos lábios, toda a sinceridade para que elas tenham todo o valor que elas têm:

Salve Regina...


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