Plinio Corrêa de Oliveira

 

Ao Ocidente não faltam metas, mas sonhos!

Ao Oriente não faltam sonhos, faltam metas!

Diante disto, a posição da Igreja Católica

 

 

Auditório Nossa Senhora Auxiliadora, Santo do Dia, 5 de fevereiro de 1992

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

A esse respeito eu gostaria de fazer um comentário com os senhores para os senhores terem um pouquinho a ideia, de como certos aspectos da História, na vida comum, são poucos realçados.

Mas os senhores estão vendo que o que acaba de dizer o Sr. Célio, que lendo o relatório que recebeu da Índia, que o Taj Mahal é todo cravejado com pedras semipreciosas.

Os senhores, não sei se percebem aí alguma coisa própria às civilizações orientais, desde o Japão passando pela Indochina para chegar até o Taj Mahal e a Pérsia, e depois ainda alcançando o Oriente Próximo em que eles pensam em luxos maravilhosos, em coisas estupendas que a mentalidade do ocidental não ousaria pensar.

Se nós consideramos, por exemplo, Versailles. Tem muito mais bom gosto, um espírito artístico muito mais refletido do que o Taj Mahal. O Taj Mahal é muito bonito, inclusive do ponto de vista racional do bom gosto, o que se poderia chamar um bom gosto racional. Mas não passaria pela cabeça de Luís XIV mandar cravejar nada com pedras preciosas ou semipreciosas, em parte porque não as há na Europa, a não ser muito raramente. Mas ainda que as houvesse, não passaria! Porque essa beleza assim fulgurante, deslumbrante, que fala mais de um outro mundo do que deste mundo, o oriental pensa nela e deseja realizá-la. E nós ocidentais temos a esse respeito – é preciso dizer pondo bem os pingos nos "is" – espírito acanhado.

É por essa razão, por exemplo, que se aqui na América do Sul alguém tivesse pensado em fazer para algum soberano um palácio com pedras semipreciosas encravadas, seria objeto de gargalhada. Entretanto, no que é que um soberano de um país da América do Sul é menor como extensão de terras, como poderio etc., do que muito soberano oriental?

Mas não é isso, é o espírito que tem outro voo, tem outra chama, do que tem o espírito do Ocidente.

O que me leva sempre a supor que se os povos orientais tivessem sido fiéis à pregação dos Apóstolos que andaram por ali tentando convertê-los, eles teriam dado a esta chama natural uma outra “envolée”, uma outra capacidade de subir e de se tornar enorme do que nós imaginamos. E isto não se realizou porque eles não foram fiéis à graça, todos eles mataram os Apóstolos que foram evangelizá-los e a pregação desses Apóstolos quase não teve sequência.

Só teve sequência – dos Apóstolos de Nosso Senhor – fora da Bacia do Mediterrâneo, o apostolado precisamente na Índia, de São Tomé. Aliás, é uma coisa muito bonita pela circunstância que eu farei notar aos senhores daqui a pouco.

* O apostolado de São Tomé na Índia

São Tomé chegou à Índia, fez a pregação e obteve algum resultado. Ele conseguiu um bom número de católicos, e católicos para os quais ele deu uma liturgia própria. Porque estava a Igreja nascente, não tinha nada disso organizado. E ele, sentindo bem como é que estava distante de Roma, e como era impossível a comunicação com Roma naquele tempo, ele organizou uma coisa como era possível dentro da fidelidade exímia ao espírito católico.

Então, instituiu a liturgia chamada malabar, com todo o catecismo, doutrina etc. – do tempo, de acordo com a mentalidade do tempo – e esses católicos perderam depois, durante séculos, todo o contacto com Roma.

Mas, como São Tomé sagrou bispos, os bispos que ele sagrou, ao longo dos tempos ficaram sagrando outros bispos. E houve, portanto, uma continuidade de maneira que eles não perderam os sacramentos. Os bispos eram bispos legítimos e válidos, e ordenavam padres legítimos, cujo sacramentos também eram válidos, e a vida sacramental se manteve nessa Cristandade, que era um casulo dentro da imensidade da Índia pagã.  

* Com a chegada dos Portugueses à Índia, é reatado o fio de ouro que prendia os seguidores de São Tomé a Roma

Mas mesmo assim, eles tinham a certeza de que algum dia viria em que eles teriam as suas relações reatadas com o chefe da Cristandade que morava num país muito longe, muito longe, chamado Roma. E os senhores podem imaginar o encantamento deles quando eles viram chegar as naus portuguesas e viram descer dali o grande São Francisco Xavier. Começam a pregar, e a batizar, etc., pessoas em grande número. E eles se aproximaram e viram que era a mesma religião e que afinal o fio de ouro que os prendia à Roma se reatava de novo.

E este fio de ouro era autêntico porque os missionários que vieram com São Francisco Xavier examinaram e depois Roma examinou, tudo quanto eles tinham de escrito e era tudo perfeitamente ortodoxo, não havia nada de heterodoxo na religião deles. Não tinha esgueirado nenhum erro, nenhuma fantasia, nem nada, era, portanto, uma coisa conservada eximiamente, mas os dois ritos continuaram porque os evangelizados por São Tomé continuaram no rito malabar, e os evangelizados por São Francisco Xavier entraram para o rito latino.

Mas são apenas diferenças de dois ritos como existe entre nós, os melquitas ou os maronitas – falo de igrejas orientais com sedes em São Paulo e que nós já frequentamos.

* A conaturalidade dos Orientais com o maravilhoso

Bem, essa grande confiança em que algum dia se daria a maravilha de que o fio se reataria, era facilitada de algum modo pela tendência dos orientais para acreditar no maravilhoso, uma espécie de conaturalidade deles com o maravilhoso que lhes fazia achar – menos surpreendente que esse fio se reatasse do que pessoas com espírito ocidental, espírito muito mais positivo, muito mais terra-terra, muito mais criativo em certo sentido mas criativo num nível mais baixo, e muito menos criativo no grande sentido dos grandes vôos do espírito.

Os senhores veem a fortaleza de que ele falou, é uma fortaleza enorme constituída de uma série de palácios.

Onde é que os senhores ouviram falar disso no Ocidente?

Agora, há uma espécie de meio termo entre o Oriente e o Ocidente, é a Rússia. E o Kremlin tem alguma coisa disso, como aliás a igreja de São Basílio na Praça Vermelha, também já tem alguma coisa desse maravilhoso Oriental, porque a Rússia fica situada a meio termo entre a Europa com a sua civilização ocidental, Rússia e Europa, a maior parte ocidental da Europa, e depois de outro lado a Ásia com suas grandes fantasias e suas grandes maravilhas. E por causa disto ela participa um pouco de cada coisa.

Mas, nós devemos ver através disso a recusa da graça, em que miséria emerge esses povos. Os senhores considerem que uma religião, que é propriamente uma religião de bandidos – são os sikhs, são bandidos – tem na Índia, sobre um lago ou junto ao mar, não me lembro bem, um templo todo revestido de ouro, e que é uma verdadeira maravilha. É um templo de religião de bandidos, é uma verdadeira maravilha, e os senhores vêem a coragem de fazer uma coisa dessas.

O ocidental não teria feito isso, teria feito uma usina elétrica, etc., etc., eles preferiam ter pedras preciosas do que as lâmpadas acesas.

* "Eu gostaria de ver no espírito da TFP uma espécie de síntese em que as qualidades do Oriente e do Ocidente se encontrem e coabitem de um modo fraterno"

Bem, agora, diante disto qual é a posição da Igreja? Trabalhando lentamente chegaram a uma espécie de síntese em que as qualidades do Oriente e do Ocidente se encontrem e coabitem de um modo fraterno nos mesmos espíritos, e é assim que eu gostaria de ver o espírito da TFP.

De maneira que, quando um dia as portas do Oriente, depois da Bagarre, nos forem franqueadas, nós possamos ter a esperança e a alegria de nos sentirmos conaturais com eles em muitos pontos.

Daí o meu empenho contínuo em acender em nós a sede do maravilhoso.

Há algumas reuniões atrás – não me lembro bem quanto tempo, talvez uma semana, talvez quinze dias ou mais – eu falei dos sonhos dos indivíduos, e sonhos das nações.

* Ao Ocidente não faltam metas, faltam sonhos! Ao Oriente não faltam sonhos, faltam metas! A TFP deve ter um espírito ávido de metas que vão dar na realização de sonhos!

Ao Ocidente não faltam metas, faltam sonhos!

Ao Oriente não faltam os sonhos, faltam metas!

A TFP deve ter um espírito ávido de metas, mas metas que tenham outras metas cujas metas vão dar na realização de sonhos!

[Aplausos]

E quando os senhores – assim na vida comum – se olham, como eu estou olhando aqui os que estão de hábito, com a cruz grande e o hábito, olhem e pensem o seguinte: na terra do sonho, que é o Taj Mahal, a Cruz de Cristo brilhou mais do que qualquer sonho porque estava no nosso hábito!

E é um símbolo, como é um símbolo também a fotografia no Kremlin, de que quem espera muito, consegue o impossível!

Nossa Senhora permite essas coisas, dispõe essas coisas, e nós que devemos ter nossos olhares sempre muito atentos para nossos defeitos e devemos ser prontos a nos acusar os nossos defeitos, a reconhecer neles a causa dos empecilhos que o nosso apostolado encontra, devemos, entretanto, saber reconhecer os favores que Nossa Senhora nos dá e que esses favores são uma ou outra vez dados a algumas qualidades.

Aqui os senhores estão vendo que a TFP esperou muito, chegou a esperar durante anos, nem chegou a esperar propriamente isto, mas esperou maravilhas iguais a essas e ainda muito maiores, e afinal de contas as maravilhas impossíveis começam a se realizar.

É o fruto da confiança. E sempre que os senhores começarem alguma coisa que pareça impossível, os senhores pensem nisto: "Se confiarmos com alma firme e confiança filial, mas forte, varonil, que espera contra toda esperança, isso nos será dado."

Bem, concluindo, não basta esperar que um dos nossos tenha chegado aí, isto é o primeiro passo! Mas no momento em que o Islã – em cujas garras está o Taj Mahal – está tentando dominar o mundo inteiro, em que os técnicos em bomba atômica da Rússia vão passando todos para o Islã em consequência dos fatos que os jornais têm noticiado, e há de se recear que também com o desarmamento parcial do poderio atômico dos EUA, muitos técnicos norte-americanos passem para o Islã que com a riqueza do petróleo tem dinheiro para comprar qualquer coisa, nesse momento, antes do Islã começar a voar maleficamente sobre o mundo inteiro, aí está um filho de Nossa Senhora, num dos monumentos máximos do islamismo.

O que é que esse filho quer dizer? Esperai! Confiai! E começai a pensar com uma foto do Taj Mahal em mãos, em que lugar colocariam uma bela imagem de Nossa Senhora das Graças no dia em que Nossa Senhora for Rainha do mundo e a imagem dEla esteja colocada no mais bonito lugar do Taj Mahal.

* É preciso confiar contra toda aparência e ainda quando a esperança parece fugir, devemos confiar nela porque aí é que vêm as grandes provas de confiança

Isso é que convém tomar em consideração, portanto, meus caros, confiança, confiança, confiança!

Confiança contra toda aparência, na esperança até contra a própria esperança, no sentido que às vezes a esperança parece frustrar-nos, parece fraudar-nos, parece fugir de nossas mãos, nós devemos confiar nela porque aí é que vêm as grandes provas de confiança. E aí, então, se realizam as esperanças que nós tivemos.

É esse o perfil de uma alma batizada e que sonha.

Os sonhos existem. Existem também os pesadelos. E há uma reversibilidade entre uma coisa e outra. As almas capazes de sonhar, são capazes de prever os grandes perigos e não têm medo de olhar de frente o pesadelo. Pelo contrário, as almas imersas no tangível, no terra-terra, incapazes de grandes voos, são incapazes também de perceber os grandes precipícios, e por isso se tornam incapazes de grandes lutas.

Porque quem não tem coragem de olhar o perigo de frente, não tem coragem de lutar e, para efeitos de Igreja militante, não vale nada.

Nota: Para quem desejar ler outros comentários do Prof. Plinio a respeito do mesmo tema, consulte, por exemplo:

* Ambientes, Costumes, Civilizações, Nº 106 - Outubro de 1959 - "Se Oriente e Ocidente se unirem fora da Igreja, só produzirão monstros"

* Ambientes, Costumes, Civilizações, Nº 128 - Agosto de 1961 - Judiciosa interpenetração de valores

* Ambientes, Costumes, Civilizações, Nº 176 - Agosto de 1965 - A pele é de ovelha...

* Ambientes, Costumes, Civilizações, Nº 195 - Março de 1967 - A Índia tem saudades dos Marajás

* Quando um país tem “sonhos” (ideais), ou tem “sono” ou “pesadelos”


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