Plinio Corrêa de Oliveira

 

Liceidade das três formas de governo:

monarquia,

aristocracia e democracia

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 11 de janeiro de 1992, sábado

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

  

Eu vou dar a resposta a essas várias perguntas, mas para que a resposta seja mais clara, eu vou inverter um pouco a ordem das respostas. Eu vou começar por explicar o que é que vem a ser monarquia, aristocracia e democracia. Para depois tratar de sociedade orgânica e depois de tal enquanto tal, e assim eu tenho a impressão de que a explicação sairá a contento dos senhores.

* Tudo o que existe precisa ter um governo, ora um país existe, logo um país precisa ter um governo

Então, vamos começar por tratar do que é que é monarquia, aristocracia e democracia.

Todo país precisa ter um governo, é uma coisa evidente. Se não houver o governo o país se desfaz.

Como, por exemplo, num navio. Um navio precisa ter um comandante, precisa ter o capitão, precisa ter imediatos, enfim, toma toda uma hierarquia para mandar nas várias pessoas que trabalham para fazer funcionar um navio, senão o navio está no caos! O que se pode dizer de um navio, se pode dizer com muito mais razão de um país.

Um país por pequeno que seja, tem muito mais gente do que um navio, e quanto maior é o número de pessoas, tanto maior é a necessidade de algumas pessoas que dirijam o conjunto.

E por isso também, se os senhores forem imaginar um exército sem presidente da república, sem ministro da guerra, sem o general chefe do estado maior, e depois sem todo o corpo de generais que mandam no exército, o exército dá no caos também.

Quer dizer, tudo que existe precisa ter um governo, ora um país existe, logo um país precisa ter um governo, acabou-se!

Este primeiro passo está claro ou não?

* O que é a monarquia

Bem, então agora os modos de ter governo são vários: pode o governo estar a cargo de um só, ele manda e os outros obedecem, isso se chama monarquia. Monos em grego quer dizer um, arquia é mando monarquia é o mando de um, quer dizer, um manda e os outros obedecem. Então, monarquia é o país que é governado por um chefe que tem o título de rei, de imperador ou de príncipe.

Vamos dizer, por exemplo, a rainha da Inglaterra. Ela é rainha do Reino Unido, da Escócia e da Irlanda do Norte. Até a pouco ela era a imperatriz da Índia. São vários Estados que ela governa, ela é a rainha do Canadá, são vários reinos que ela dirige. Agora, como esses reinos formam um todo muito grande, isso se chama a Commonwealth, ou seja, a comunidade de Estados britânicos. E como os Estados formam um todo muito grande, ela pode chamar-se imperatriz da Commonwealth.

* Diferença entre um rei e um imperador

A imperatriz designa um reino ou uma rainha ou um imperador que manda muito mais do que um simples rei, ele manda sobre uma extensão de terra muito grande. O título de imperador fica bem, por exemplo, para o Brasil, imperador do Brasil. Não ficaria bem o título de rei do Brasil porque o Brasil é tão grande que pela sua extensão natural é um império! E por causa disso o Brasil nasceu império, quando o Brasil se tornou independente, os que proclamaram em 1822 a Independência do Brasil, escolheram a forma de governo monárquica, um só para mandar. E esse monarca foi o imperador D. Pedro I, não o rei D. Pedro I mas o imperador D. Pedro I, porque o Brasil era tão grande que só dava para ser um império.

O imperador – antes de vir o comunismo na Rússia, portanto, até 1917 – o imperador da Rússia era imperador. Chamava-se czar da Rússia. De onde é que vem a palavra czar? A palavra czar vem de César, foi o primeiro grande imperador romano.

Então, César era o nome próprio da família dele. Os sucessores dele tomaram o nome de César também, e por causa disso os grandes monarcas depois, chamavam-se César também, mas em pronúncia russa dava czar, então ele era o czar de todas as Rússias, todas as partes da Rússia, é o monarca de uma grande extensão.

Se os EUA fossem monarquia não poderia ser reino, os três países de maior extensão no mundo são os EUA, a Rússia e o Brasil. São países naturalmente impérios, se forem monarquias são impérios.

Kaiser, o que quer dizer kaiser? É a mesma palavra czar que se pronuncia à moda alemã. César em latim, escreve C-a-e-s-a-r, não é como nós escrevemos, C-e-s-a-r. Pronunciado ao pé da letra dá "Caesar", então os alemães chamavam os seus imperadores de kaiser, quer dizer, um imperador de uma extensão muito grande, é o monarca de uma extensão muito grande.

Kaiser, czar, caesar, imperator, imperador, eram os títulos dos grandes monarcas.

Agora, há monarcas que são de reinos de uma importância enorme, mas de uma extensão territorial menos grande, então, por causa disso chamam-se reis. Por exemplo, um país de uma importância cultural, política e diplomática, etc., absolutamente de primeira linha é a França. Mas não tem imperador, a França tem rei. Napoleão Bonaparte foi durante algum tempo rei, imperador da França, mas ele era um charlatão, um aventureiro ordinário, não era verdadeiro rei nem verdadeiro imperador. Era um charlatão que acabou sendo expulso para a Ilha de Santa Helena onde ele morreu. Foi um bom fim que deram à vida dele.

* O que faz um rei ou imperador

Bem, então o que é que faz um rei ou imperador? Rei e imperador têm funções iguais, apenas os títulos são diferentes de acordo com a importância dos respectivos Estados.

Ele manda, ele nomeia os ministros, ele nomeia os chefes dos Exércitos, da Marinha, da Aeronáutica, ele determina como é que se organiza o governo etc., ele é um rei, é um chefe de Estado absoluto. Quer dizer, todo o poder público está nas mãos dele, ele manda absolutamente.

* O que é um monarca constitucional

Agora, o que é um monarca constitucional? Um rei constitucional ou um imperador constitucional?

É rei constitucional quando uma parte do poder está em mãos do rei, mas uma outra parte do poder não está em mãos do rei.

Qual é a parte do poder que não está nas mãos do rei? É a de fazer as leis. As leis são feitas pelos deputados e senadores eleitos pelo povo. O rei executa as leis através de todo um mecanismo das Repartições Públicas em que manda ele, de maneira que ele em parte tem o governo e em parte pertence ao povo que escolhe os deputados e senadores que fazem as leis, essa é uma monarquia constitucional.

O que é que quer dizer aí a palavra constituição? A Constituição é uma lei que determina qual é a parcela de poderes a cargo do imperador ou rei, e qual é a parcela de poderes a cargo do Senado e da Câmara dos Deputados. Evidentemente, esse imperador se chama constitucional porque este país tem uma Constituição, quando o país não tem Constituição, ele é rei absoluto, ele manda e ninguém mais manda.

Quando ele é rei constitucional, o seu poder é limitado. Por exemplo, na Inglaterra – é a mais antiga monarquia constitucional que há no Ocidente, talvez a mais antiga monarquia constitucional do mundo – a Inglaterra tem duas Câmaras: a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes. A Câmara dos Comuns é constituída pelos deputados eleitos pelos ingleses; a Câmara dos Lordes não.

O que é um lorde? Quem pode me explicar o que é um lorde?

Èêêh! Está complicado isso, hein...

Os que já ouviram falar em lorde, levantem o braço. Mas como é isso? Nós ouvimos tanto falar de lorde, e não sabemos o que é um lorde? Nunca perguntamos a alguém o que é um lorde?

Um lorde era um nobre, tem o título de conde, de barão – até tem um título pequeno – baronete, são os barões mais miúdos, depois conde, depois duque, tem marquês também e duque. São vários graus de nobreza.

Os nobres pertencem a uma outra Câmara em que a função de membro da Câmara não é eleita pelo povo, é hereditária. Quem é nobre nasce já com o direito de assento nessa Câmara. Quando o pai morre, o filho sucede.

E essa Câmara dos Nobres também faz leis, de maneira que para uma lei ser aprovada na Inglaterra, ela precisa ter a aprovação da Câmara dos Deputados, aprovação da Câmara dos Lords e a aprovação da rainha, aí a lei entra. Sem isso a lei não entra.

Bem, continua claro isso ou não?

(Sim!)

* A república aristocrática

Bom, agora o que é uma república?

Nada como a gente ir para a origem da palavra para compreender o fim das coisas.

De onde vem a palavra república? Vem também mais uma vez do latim. Res publica, res é coisa. Publica é que pertence a todos.

Então é uma república a nação em que a direção do Estado é de todos, ou seja o Estado é de todos, todos mandam no Estado.

Essa é uma res publica. Essa res publica tem duas modalidades: a res publica aristocrática, e a res publica democrática.

A res publica aristocrática consiste em que só os nobres mandam. Eles constituem uma Câmara à maneira da Câmara dos Lords, não tem rei, e o chefe eleito por esta Câmara por pouco tempo, dez anos por exemplo, ele fica governando durante esse tempo, depois ele é reeleito ou escolhem outro. A mais famosa república aristocrática que houve na história do ocidente foi Veneza.

Quem é que pode me dizer onde é que fica Veneza? É na Espanha, não é?

(Nããaãooo!!)

Então onde é? No nordeste do Brasil?

(Na Itália!)

Na Itália, isso! Bem, Veneza é uma cidade comum ou tem uma característica qualquer muito bonita?

Quem pode me dizer? É uma cidade que fica no alto de uma montanha?

(Nãããooo!)

Fica no meio de terras muito extensas?

(Sr. ...: Rodeado de águas, Dr. Plinio!)

É muito mais do que rodeada de água, as próprias ruas de Veneza são de água. A cidade é constituída por um número enorme de ilhotas pequenas nas quais foram construídas casas, e entre uma ilha e outra há água. Então a pessoa anda de barco em Veneza como anda de automóvel em São Paulo.

São barcos de uma forma antiga muito bonita, chamada gôndola. O que aqui é chauffeur, em Veneza se chama gondoleiro, e eles não usam buzina e essas baixas de nível, eles cantam um canto muito bonito quando chegam perto da esquina para avisar que estão chegando. É um aviso, mas eles têm uma voz adestrada para isso, a Itália é a terra de todas as artes possíveis, de maneira que eles têm uma voz muito bonita para isso, é assim: Íhôôoo! uma coisa assim. Nas noites em que está a escuridão pairando sobre Veneza e que uma gôndola pode não ver a outra chegar, poderia haver trombada, o gondoleiro quando chega perto de uma esquina, ele dá esse brado, e o outro que está do outro lado fica ouvindo mais ou menos para onde é que a gôndola entra, e ele dá o brado também. De maneira que os dois gondoleiros sabem o modo de se aproximar e de se afastar.

* A República aristocrática de Veneza

E Veneza tinha um conselho, chamado o Conselho dos Dez, que era eleito pelos nobres inscritos no Livro de Ouro da cidade de Veneza. Então cada dez anos eles escolhiam uma Câmara dos Dez e o chefe se chamava doge, doge de Veneza.

Quando eu era professor na Faculdade de Direito eu tinha alguns alunos que escreviam "Dodge", com "dge" pensando que é o nome da marca de automóvel, não é isso não. É d-o-g-e, doge de Veneza.

Bem, esse doge de Veneza, vamos mais uma vez ao latim que é a origem de um número incontável de palavras na civilização ocidental. "Doge" é uma italianização da palavra "duque", em latim dux. Dux é aquele que conduz, que manda.

Dux, ducere. Ducere, mandar. Dux, é o que manda. O dux se italianizou e ficou chamando doge, e o doge de Veneza era o chefe do Conselho dos Dez, era um nobre eleito periodicamente para isso.

Veneza não tinha rei, tinha-se doge, e a república de Veneza era constituída por famílias comerciantes, eles eram comerciantes e navegantes tremendos. E faziam navegações por todo o Mar Mediterrâneo e pegavam as mercadorias que vinham do Japão, da China, e da Índia, por dentro da Ásia e chegavam até os portos da Ásia Menor e do Egito. E ali os venezianos compravam e redistribuíam para toda a Europa, eles eram uma espécie de funil, eles compravam muito e vendiam muito e com isso ganhavam muito, eles eram os reis do Mediterrâneo praticamente.

E por isso a república de Veneza era uma república riquíssima! Era a grande república comercial do tempo da Idade Média.

Houve uma nação que deu em Veneza uma trombada medonha, que foi um dia de luto para Veneza. Essa nação, dela descendemos de um grande número dos que estamos aqui, é a nação portuguesa, da qual eu me honro em descender.

Os portugueses deram a volta ao longo da África, e chegaram até o Japão e depois chegaram até a Índia. E eles enchiam os seus navios de mercadorias e iam vender na Europa, e faziam concorrência a Veneza que pegava a mercadoria no Oriente Próximo.

E então os venezianos então, espalhavam a máfia que era mentira dos portugueses, que aquelas naus que os portugueses diziam que traziam carregadas de mercadoria, que eram mercadorias que eles apanhavam em alguns lugares que não era da Ásia, que tudo aquilo era lorota.

Então, o rei de Portugal resolveu tirar a prosa de Veneza, e um dia entrou uma esquadra portuguesa carregada de objetos do oriente, os mesmos objetos que Veneza vendia, e ancorou no cais de Veneza, abriu os navios e pôs à venda transformando o navio numa espécie de loja. Pôs à venda os artigos por um preço mais barato do que vendiam os venezianos. Então os autores venezianos da época contaram que foi um dia de luto público em Veneza. Enquanto os navios de Portugal estavam todos, floridos e com música, etc., cantando vitória sobre Veneza.

Depois, afinal de contas, a coisa se equilibrou.

Bom, esta era uma república aristocrática porque a plebe não mandava, o povinho não mandava.

* O que é uma república democrática

O que é uma república democrática? Demos é o povo. Democrático é aquilo que é popular, então a república democrática é aquela em que não há nobres, não há rei, manda o povo por meio das Câmaras dos deputados, de senadores e o presidente da república – tudo eleito pelo povo. Se os senhores quiserem um exemplo, abram o mapa da América e leiam o mapa a América.

Só há um lugar na América que é monarquia, qual é esse lugar?

(Sr. -: Canadá!)

Canadá! Eu mencionei a pouco que a rainha da Inglaterra é a rainha do Canadá, e então o Canadá ainda é monarquia, todos os outros países da América são repúblicas.

O Brasil foi monarquia, o Brasil é república.

Está bem entendido quais são as três formas de governo?

(Sim!)

* O que é que São Tomás de Aquino ensina sobre as três formas de governo

Bem, agora o que é que São Tomás de Aquino ensina sobre as três formas de governo?

Como os senhores sabem, São Tomás de Aquino é o sol da Igreja Católica. No concílio de Trento, talvez o mais famoso que tenha havido até agora.

Trento é uma cidade no norte da Itália, perto da Áustria.

No Concílio de Trento, os padres do Concílio colocaram sobre o altar como livro de consulta, os livros que constituem o Antigo e no Novo Testamento, e a obra de São Tomás de Aquino.

Quer dizer, é tão extraordinário São Tomas de Aquino que os padres julgaram que deviam colocar as obras dele ao lado das obras inspiradas oficialmente pelo Espírito Santo aos evangelistas, aos profetas, etc.

É uma honra portanto extraordinária! E a opinião de São Tomás de Aquino não é infalível, mas sem razão muito forte a pessoa não deve discordar de São Tomás de Aquino, de tal maneira ele foi um sol verdadeiramente incomparável. De maneira que é muito importante para nós considerarmos o que diz São Tomás de Aquino, tanto mais que um Papa, Leão XIII, tratou do mesmo assunto dos prós e contras das formas de governo, baseando-se em São Tomas, e portanto, fazendo sua, a doutrina de São Tomás. Leão XIII é um Papa dos fins do século passado e começo desse século.

Bem, o que é que São Tomás de Aquino diz? Diz o seguinte: os senhores vão ficar um pouco surpresos... eu vou apresentar muito resumidamente o raciocínio dele, tanto mais que raciocinar sobre São Tomás de Aquino, a cinco minutos para uma hora da manhã... para enjolras é um pouco puxado...

Mas eu vou tentar tornar claro o ensinamento de São Tomás. Ele diz o seguinte: a primeira coisa que um governo deve assegurar é a unidade das várias partes do país. Porque se debaixo do mando de um governo – seja ele aristocrático, democrático ou monárquico – o país se desune, aquele governo não vale nada! Porque o país se desfaz.

* A primeira qualidade que deve ter o governo é assegurar a unidade do país

Então a primeira qualidade que deve ter o governo é assegurar a unidade do país. Ora, qual das formas de governo é capaz de assegurar melhor a unidade do país? O governo feito por um, o governo feito por vários, ou o governo feito por todos?

A resposta de São Tomás é: evidentemente o governo feito por um porque quando o governo é feito por um, não sai divisões, aquele manda e os outros obedecem.

Quando o governo é feito por vários, vamos dizer, uma comissão de nobres, eles facilmente entram em desacordo entre si a respeito do que convém fazer. Uns querem de um jeito, outros querem do outro, uns tem um interesse os outros têm outros, sai a briga. Saindo a briga o país pode desfazer-se.

Muito mais facilmente o país se desfará se o país não tiver nobres, mas apenas o povo. Porque aí sai a brigalhada do povo uns com os outros e ninguém pode imaginar onde pode sair isso.

Então o melhor governo, em tese, quer dizer, considerado em teoria, a melhor forma de governo é a monarquia.

* Deus é monarca do universo, e se esta foi a forma escolhida pelo Criador, é o mais belo e o mais conveniente para as criaturas imitarem

Depois ele dá uma razão muito bonita, diz: "o governo de Deus é monárquico. Deus é monarca do universo, e se esta forma foi a forma escolhida pelo Criador, é o mais belo e o mais conveniente para as criaturas imitarem, logo a mais bela é a monarquia."

Mas, diz ele, é fato também que o monarca precisa pessoas que o ajudem a governar, ele sozinho governar um país sem ter ministros, sem ter generais, sem ter diplomatas, sem ter cientistas, é impossível! Ele precisa ter um escol de gente que governe sob a direção dele, e isto constitui uma elite.

Uma forma mais apurada de elite, uma forma mais destilada de elite é a aristocracia. A aristocracia por duas razões:

* Quando uma pessoa pertence a uma família que há muito tempo sabe fazer uma coisa, esta pessoa acaba fazendo melhor. Exemplo: os fabricantes de relógios na Suíça

Em primeiro lugar porque os aristocratas são aqueles que descendem de famílias que há muito tempo estão no mando, participam do mando com o rei. E quando uma pessoa pertence a uma família que há muito tempo sabe fazer uma coisa, esta pessoa acaba fazendo melhor do que um que há muito tempo não sabe fazer essa coisa. Eu vou dar aos senhores um exemplo:

Eu tenho aqui um relógio, esse relógio é um relógio suíço. Esse relógio é fabricado por uma família que, se não me engano, há 400 anos vem ininterruptamente fabricando relógios, o resultado é que eles têm uma perícia para fazer relógio, porque desde pequenininhos já a cabeça deles está trotando em torno de questão de relógio. Qual é que é o melhor relógio? Qual é que é o menos bom? E por que é que é, por que é que não é? E como faz e como não faz, etc., etc., como é bonito ser relojoeiro, etc., etc. Então, eles, toda a vida, toda a mentalidade deles é constituída em torno da idéia do relógio, e o resultado é que formam obras primas de relógio, como tinha a Europa já na Idade Média.

Os senhores aqui no Brasil não em idéia do que são os relógios europeus da Idade Média. Por exemplo, com o relógio numa das cidades da Alemanha, relógio para torre de igreja e não para pulso de homem, um relógio tão grande que quando batia meio-dia, um mecanismo se punha em movimento e desfilava Nosso Senhor com os doze Apóstolos.

Assim, umas obras primas de relojoaria assombrosos, de relógios enormes, de relógios pequenos. De relógios tão pequenos que o sujeito precisava pôr uma lente para ver que horas está dando no relógio, mas que é vantajoso porque é engraçadinho. Cercam de brilhantes ou de esmaltes e servem para senhoras usarem, por exemplo, pendurado ao peito com uma corrente preciosa. Hoje não pode mais usar isso na rua porque os senhores já sabem, não é...?

Sai na rua com um relógio cheio de brilhantes, o que é que acontece, não é? Mas... a civilização decaiu.

Bem, mas antigamente não. As senhoras saíam à rua com isto, era uma coisa bonita etc., mas são desde mimos até monumentos, todos feitos muitas vezes por famílias que desde meninos eram educados numa determinada direção.

Uma coisa, por exemplo – os senhores pediram um fatinho – no Brasil do tempo imperial quase só havia Faculdade de Direito e, homem quando queria se formar numa matéria que não era o Direito, devia estudar na Europa, em Portugal, na Espanha, na França, em algum país da Europa... Alemanha, Inglaterra, num desses países.

E os filhos dos fazendeiros de café, em geral, para não saírem uns fazendeirões assim muito ignorantes, os pais mandavam estudar na Faculdade de Direito, ainda quando eles formados não devessem ser advogados. Mas na Faculdade de Direito se entendia que o pináculo da habilidade do advogado era a advocacia criminal, quando se tratava de prender ou soltar os criminosos. E prender e soltar criminosos era feito com discurso, como até hoje no juri.

Eu não sei se alguma vez os senhores já foram ao júri ver os discursos? Nos discursos fala o Promotor Público defendendo: "Esse aí tem que ser preso porque o crime que ele cometeu foi tal, e isso tem tal gravidade, que se prova de tal maneira etc., etc." E depois fala o advogado do réu: "O réu está sendo erradamente julgado, ele não merece isto, a acusação é falsa e tal." E depois os jurados fazem uma votação para ver se o indivíduo é preso ou não.

* No Brasil, antigamente, as carreiras bonitas eram oratórias e quando nascia um menino e a família achava que ele talvez fosse talentoso, já o encaminhavam para aprender a falar bem, etc.

As duas carreiras bonitas, eram eminentemente oratórias. Eram três: era bonito ser professor de uma Faculdade, de uma Universidade, portanto; era bonito ser advogado e era bonito ser político, na Câmara dos Deputados falar, etc., etc., no Senado falar era uma verdadeira beleza.

Bem, resultado é que quando nascia um menino em que a família achava aquele talvez fosse talentoso, já iam metendo na cabeça dele que ele tinha que falar um português muito bonito, e que tinha que prestar a atenção no modo dos mais velhos conversarem, o vocabulário dos mais velhos, ter um vocabulário extenso, ter um vocabulário bonito, florido, para poder ter várias palavras para dizer a mesma coisa, etc., fazia parte da educação do menino. Porque já a família dele toda era assim, e uma coisa que talvez os senhores não saibam, antigamente nas festas de aniversário, de casamento, etc., era de rigor haver discurso.

O dono da casa pedia para um dos convidados fazer um discurso improvisado, e em geral escolhiam um jovem que estava estudando na Faculdade de Direito ou que ia formar-se ou estava formado a pouco, então o dono da casa dizia: "Fulano vai saudar os noivos que hoje se casaram." Era pego assim e ele tinha já que saber fazer o discurso. Os senhores estão vendo que não dava a vida sossegada, não é?

Bem, então o menino, por causa da carreira que tinha que seguir, ele tinha que ser professor, tinha que ser parlamentar ou tinha que ser um advogado, ele desde pequeno era orientado para a idéia de falar bem, de ter um bom timbre de voz, de saber bem quais são as palavras, quais são os gestos, quais são os modos, etc., etc. E assim ir provando para os parentes que ele algum dia daria alguma coisa.

* "Minha família funcionava para mim como uma escola de oratória". Exemplo do avô de Dr. Plinio que derrubou o gabinete do marquês de São Vicente com um discurso

Depois quando ouvia contar história dos mais velhos, ele ouvia as proezas dos mais velhos.

Eu tinha um bisavô, por exemplo, que foi deputado. E esse bisavô foi deputado federal no Rio, no tempo da monarquia. Esse bisavô logo que ficou deputado, ele se levantou na Câmara e fez um discurso que derrubou o Gabinete, que dizer, o ministério do marquês de São Vicente. Então na minha casa contavam como uma proeza, mas contavam olhado para mim para dizer: "Aprenda bem, que se você quer valer alguma coisa, tem que derrubar algum marquês de São Vicente."

Resultado: eu sentia essa pressão e suavemente eu sentia a mão de Dona Lucilia que me guiava nessa direção. Falar bem, falar bem, falar bem, tem que falar bem. O resultado é que eu já ia escolhendo na parentela, quem falava bem que valia a pena prestar a atenção; quem não falava bem que não valia a pena prestar a atenção, é bobo, só diz coisas que não adianta nada, conta piada e idiotice assim. Então como é que se fala bem, como é que não se fala bem, etc.

Mas eu não notava que a minha família funcionava para mim como uma escola de oratória. Não sei se os senhores estão vendo aí a importância da família, era para o relojoeiro mas era para o futuro orador, que fosse professor, ou que fosse deputado, ou advogado, uma das três coisas.

* "Eu prefiro ser o primeiro lenhador da França a ser o último barão"

Mas ele já era formado pela família para isso. Na França do Ancien Régime, antes da Revolução Francesa, havia um lenhador que podia demonstrar que ele descendia dos lenhadores que abateram uma parte das florestas que havia na França, no tempo de Carlos Magno. E essa família chamava-se – um nome muito comum – Pinon.

Bem, quando chegava o aniversário do Pinon, o rei em atenção a uma família de lenhadores há tantos séculos, mandava uns oficiais de Cavalaria com corneta, etc., até o lugar do interior da França onde morava o Pinon, entregarem uma carta assinada pela mão do rei, com felicitações. E um dia o rei mandou perguntar ao Pinon, se ele não queria ser elevado a barão? E o Pinon deu uma resposta muito interessante, ele disse o seguinte: "Eu prefiro ser o primeiro lenhador da França a ser o último barão. De maneira que vossa majestade me permite, eu recuso o título de barão."

Luiz XIV achou que ele tinha razão e ele ficou maître Pinon, mestre Pinon, que era o nome dele, a designação, não é?

Há pouco tempo fez uma conferência na sede de Paris um professor francês, cujo nome exato eu não poderia dizer, mas um professor universitário. E ele leu exatamente, esse meu livro sobre a nobreza. Ele estava dizendo que tinha gostado, etc., etc., e então falou a respeito da família dele.

Ele disse que podia demonstrar com documentos na mão, que a família dele era há mais de mil anos, de modestos pequenos soldados combatendo pela França, e que se oferecessem um título de nobreza para ele, ele não queria, ele queria ser o descendente de uma família que sem recompensa especial servira o seu país durante mais de mil anos.

Eu vejo pela reação dos senhores que os senhores compreendem perfeitamente a beleza que há nessa continuidade, e portanto, não vou perder o tempo que está correndo, não vou perder esse tempo espichando mais. Tanto mais quanto inadvertidamente e porque via que esse era o pendor dos senhores, eu fui estendendo o assunto e nem cabe mais dentro dos limites da noite de hoje, mas enfim, para dizer tudo numa palavra só:

Os senhores estão percebendo que é razoável que haja diferenças determinadas pela hereditariedade das famílias, e que é nobre e bonito descender de uma família que faça há séculos qualquer coisa, ainda que a coisa seja modesta, a coisa seja humilde, é nobilitante, é digno que a família faça isso.

Isso ficou claro ou não? Aqueles para quem eu fui claro, tenham a bondade de levantar o braço para ter idéia.

Agora, então vamos para a frente!

* O regime aristocrático tende a que haja várias classes sociais e que essas classes sociais sejam hereditárias

A aristocracia, o regime aristocrático tende propriamente a isso: a que haja várias classes sociais e que essas classes sociais sejam hereditárias. Não há classe social que não seja hereditária.

Hereditária quer dizer o quê? O homem que exerce uma função, a exerce no maior número de gerações possíveis. Então, por exemplo, em Portugal, na Espanha também havia isto.

Eu vou dar o exemplo de Portugal: quem se formasse em Portugal, na Universidade de Coimbra, que era uma universidade de fama européia e a honra de Portugal, o brilho de Portugal. Quem se formasse na Universidade de Coimbra, ficava ele com a dignidade de nobre, quer dizer, adquiria bastante ciência para se formar numa faculdade difícil, como a de Coimbra, que os professores eram exigentes, tornava o indivíduo nobre.

Mas, isso não queria dizer que o filho dele fosse nobre também, mas se o filho dele e o neto dele formassem também em Coimbra, e ficassem nobres com isso, o bisneto não precisava mais formar em Coimbra, ficava nobre hereditário até o fim do mundo.

Qual é a razão de ser disso? É que se uma família que deu a Portugal, três gerações de doutores, tomou um convívio interno tão inteligente e tão fino que não precisa mais ter o título de doutor para provar que eles merecem ser nobres, basta dizer que: "Meu bisavô era nobre formado por Coimbra." para compreender que ele tinha ficado nobre também.

É o valor formativo das famílias.

Eu continuo a perguntar se eu estou claro ou não?

(Sim!)

Bem, o regime aristocrático, portanto, é um regime em que mandam os mais capazes, os mais competentes, em geral – não sempre necessariamente – mas em geral formados pelas respectivas famílias. Em certas partes da Espanha, havia um princípio muito bonito: quando o indivíduo podia provar que ele era – eu não me lembro bem agora o pormenor – mas digamos, por exemplo, primo irmão. Que ele era primo irmão ou primo segundo, durante duas gerações de homens que, um era bispo, outro era general, outro era diplomata, e outro era governador de município, ele por ter esses primos ficava nobre.

Mas por quê? Porque se a família dele tinha produzido estes, quer dizer que é uma família de categoria, de distinção, então os que nasciam nessa família se nobilitavam, este era o princípio da aristocracia.

Continuo claro?

(Sim!)

* A plebe

Agora, a plebe. Há gente que dirá que eu estou fazendo um tal elogio da monarquia e da aristocracia, que a gente diria que não fica lugar para a plebe. E que então o governo da plebe não vale para nada.

Quando a gente olha para certas repúblicas de hoje, a gente tem vontade de dizer que é isso mesmo! Não tem dúvida nenhuma!

Mas na realidade seria uma visão unilateral das coisas. Na Idade Média eles tinham compreendido que para certas nações pequenas, do tamanho de um município. Município é uma cidade com as terras vizinhas, das quais vive a cidade, que para certos municípios mais convinha ter um governo da plebe, de... [vira a fita] ... um exemplo e os senhores vão ver.

Na Europa há alguns estados pequenos, tão pequenos que são estados formiga por assim dizer. Um deles é o Principado de Mônaco.

Mônaco é em latim ou em italiano arcaico, é monge: monacus. Mono é um. Monacus se diz do monge, que vive sozinho, do eremita. E nesse rochedo tinha vivido antigamente um eremita famoso, etc., etc., daí então o rochedo era um rochedo de Mônaco.

Esse rochedo de Mônaco vivendo de pesca e vivendo um pouco de terras que tem em volta, formou uma naçãozinha independente.

Como tinha ali uma família rica e poderosa, essa família passou a ser dos príncipes de Mônaco, porque era natural que os mais ricos, os mais instruídos, os mais poderosos, ficassem com o poder político na mão.

Bem, os senhores tem Liechtenstein, pedra das luzes. É um pequeno principado que fica entre a Áustria e a Suíça. Esse principado formou-se mais ou menos assim: é um lugar com muitas montanhas, tem pastagens, tem o gado, o gado come, eles criam o gado, e com essa criação de gado e talvez com outras coisinhas eles vivem. E tinha um príncipe lá, um nobre de alta categoria, esse nobre tinha um castelo na cidade chamada Vadus, que era a capital desse lugarzinho. Esse nobre ficou um monarca desse lugarzinho espontaneamente, organicamente. Espontaneamente, ninguém duvidou, são os mais cultos, mais inteligentes, há séculos eles têm uma influência, ficam uns príncipes, está acabado!

* Andorra: uma república constituída de vaqueiros

Mas há uma pequena republiqueta entre a Espanha e a França, – nações que entram muito em fricção, e que nem sempre se dão bem – nos montes Pirineus, tem uma republiqueta chamada Andorra. Esta republiqueta é constituída exclusivamente de vaqueiros. Os senhores estão vendo vaqueiro príncipe com uma coroa na cabeça, não dá, não é?

Eles só podiam constituir uma república. Por quê? Porque não tinha aparecido na economia do lugar, não tinha aparecido uma fortuna maior, não tinha aparecido ninguém que se salientasse. Eram bons e honestos vaqueiros que viviam lá e, era natural que algum daqueles vaqueiros tomassem a direção conforme os outros escolhessem, apenas para maior segurança, o governo da Espanha e o governo da França, destinavam duas pessoas para juntas terem o olho em cima dessa república, para esses vaqueiros não fazerem muito transtorno.

Da parte da França era o próprio rei, hoje substituído pelo presidente da república francesa; da parte da Espanha é o bispo de um lugarzinho próximo chamado Urgel. O bispo de Urgel e o presidente da república francesa são os co-governantes da república de Andorra.

Como é que isso nasceu? Espontaneamente! Porque não dava para uma república de vaqueiros com propriedades pequenas que não davam para ficar grandes, com tudo muito primitivo e vivendo sadiamente no primitivo estarem assim, está acabado!

São uma nação plebéia, legitimamente plebéia, governada pela plebe, com o olho em cima de dois vizinhos poderosos.

Bem, mas há muitos exemplos: na Suíça e na Alemanha antiga, quase até os meus dias, de cidades que eram quase nações independentes. Por exemplo, na Alemanha, Bremen, Hamburg, Lubeck, Dantzig, eram cidades assim. O prefeito de cada uma dessas cidades era quase um chefe de estado, tal a autonomia que ele tinha.

E a cidade era governada por quem? Por gente da plebe. Que plebe? Essas são cidades muito ricas, Hamburg, por exemplo, um porto de mar para o que der e vier, enorme e com navios que andam, que sobem, que baixam e o que quiserem.

Bem, resultado formou-se ali uma classe de comerciantes plebeus que nunca foram nobres mas ricos. E esses comerciantes ricos sentiram a necessidade de assumirem a direção do paísinho, de acordo com o próprio povo, mas formando uma Câmara do povinho para dizer a eles o que eles queriam para eles resolverem compondo os interesses dos ricos com o povinho. E governaram séculos em paz e com prosperidade dessas nações.

Mas por quê? Porque tudo isso é orgânico! Nasceu da ordem de coisas espontânea, não houve um gênio com o braço apoiado numa pilha de livros, durante a noite, com uma vela que está quase se apagando, com a mão metida na cabeleira estudando qual é a forma de governo do seu país. Essas coisas assim dão num desastre, deixe as coisas que andem meio instintivamente, meio organicamente e os senhores tem que elas se acomodam e vão direito para a frente.

Então os senhores têm essas várias formas de governo, e está explicado muito resumidamente o que é a organicidade.

* São Tomás de Aquino diz que a forma de governo mais perfeita é aquela que é a monarquia, com elementos de uma aristocracia, e elementos de uma democracia

Para terminar, São Tomás de Aquino diz o seguinte: que a forma de governo mais perfeita é aquela que é a monarquia, com elementos de uma aristocracia, e elementos de uma democracia. E é mais ou menos a forma inglesa mas com uma circunstância, é que por causa da Revolução, a Câmara dos Lords é quase apenas um aparato, ela não manda quase mais nada. Então a aristocracia na Inglaterra é um enfeite, também não é mais nada, e então, não há propriamente aristocracia, há um aparato de aristocracia, mas quem manda é a plebe.

Seria preciso que a aristocracia mandasse de fato, que a rainha mandasse de fato e que a Câmara dos Comuns também mandasse de fato, que esses três elementos se coligando dessem um governo em que cada elemento da sociedade pudesse dar a sua opinião e entrar com o seu contributo, é esta forma que São Tomás prefere.

Não sei se está claro?

(Sim!)

Nesse caso meus caros, é claro também já são uma e vinte e que eu já tenho ainda uma outra reunião à minha espera.

E que portanto, o sr. vai fazer a sua pergunta bem depressa.

* Enquanto católica, toda a alma da SDL pendia para a monarquia

...O católico deve, portanto, ter uma preferência pela forma de governo – como diz São Tomas – monárquica. Uma preferência que pode compor a forma de governo monárquica com elementos democráticos e aristocráticos. Mas o que o católico não pode fazer, é ser contrário à forma de governo monárquica por achar que é uma forma injusta por estabelecer a desigualdade. A desigualdade moderada é um bem e não um mal, e São Tomás dá disso uma linda demonstração que se os senhores quiserem eu posso dar no sábado que vem.

Agora, um católico não é obrigado, portanto,, a dizer que para seu país deve haver a monarquia, mas ele é obrigado quando não pode haver monarquia a ter um certo pesar por isso.

Um homem lá de Andorra pode dizer: "Meu país tem que ser república." mas ele deve dar um suspiro e dizer: "Que pena não podermos ter um príncipe aqui!"

Bem, mas pode ser republicano, não há pecado em ser republicano. Mas as suas preferências vão para a monarquia, as preferências de afeto, não é?

Isto ela era de corpo e alma inteira! Enquanto católica – ela nunca estudou tudo isso de São Tomas que eu estou dando aqui – toda a alma dela pendia para a monarquia, e era uma entusiasta da família imperial, etc., etc. Se os senhores me lembrarem eu posso no sábado que vem – mas também se não se interessarem podem deixar...

(Nãããooo!!)

Ela me contar a história do avô dela, resolvendo um caso doloroso da imperatriz que era manca e que não sabia dançar. Então o meu bisavô, o tal que deu a rasteira no marquês de São Vicente, ensinar para a imperatriz a dançar e, depois entrar na sala de dança, dançando com a imperatriz com pasmo para todo mundo. Essas coisas ela contava encantada, ela via nisso o lado feérico da monarquia.


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