Plinio Corrêa de Oliveira
Os heroicos camponeses do Tirol, liderados por Andreas Hofer, a favor da Igreja Católica e contra Napoleão Bonaparte
Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 7 de novembro de 1991 - jantar |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Durante jantar na sede da TFP em Amparo (nas proximidades de Jundiaí, no Estado de São Paulo), Dr. Plinio faz um interessantíssimo resumo da vida de Andreas Hofer (1767-1810), baseado em livro muito bem documentado ("Le chouan du Tyrol - Andreas Hofer contre Napoléon, de autoria de Jean Sévilla, Librairie Académique Perrin, Paris, 1990). Esta vista de conjunto do biografado é muito substanciosa da epopeia movida pela lealdade monárquica dos camponeses tiroleses que enfrentaram Napoleão Bonaparte e em defesa da Igreja Católica, assim como aconteceu na Vandeia (França) e na Península Ibérica, no final do século 18 e início do sec. 19. Para outros comentários a respeito de Andreas Hoffer, veja por exemplo https://www.pliniocorreadeoliveira.info/SOC_ORG_04_Metternich_Talleyrand.htm A grafia, mesmo em fontes alemãs, ora é HoFFer (com dois "f"), ora é HoFer.
Se quiserem eu posso falar um pouco do Andreas Hofer. Eu estou... não estou terminando, mas estou começando a terminar o Andreas Hofer. É escrito por um historiador francês, mas que é um pouco [de estilo de escrever] “nouvelle cuisine”, não é aquela leveza de creme chantilly do francês clássico, mas também ainda não é o pesadão do científico moderno horroroso. Ele resume muito bem, muito documentado, percebe-se que ele lê alemão como lê francês, as fontes alemãs que ele cita são assim aos borbotões, e ele trata da seguinte situação. A Suíça do Ancien Régime era o que havia de mais medieval que se podia imaginar. E ele dá uma descrição, na entrada, uma espécie de introdução, da organização política, social, econômica, da Suíça do Ancien Régime. E é uma verdadeira maravilha, porque aquela divisão em idiomas, corresponde ela naturalmente a uma divisão em regiões. Agora, essas regiões não tinham muita realidade política, existiam. Mas o importante era que a forma geográfica do país, com aquele mundo de montanhas pouco aproveitáveis, e algumas planícies ultra-aproveitáveis fazia com que as planícies fossem a substância do país. Mas, planícies planalto, não eram planícies no fundo não, planícies em cima. E esses planaltos fossem muito bons para criação do gado, e então a criação do gado era a principal produção econômica do país. E também qualquer lugarzinho pequeno onde houvesse um pequeno planaltinho, tinha uma vilazinha, e uma paroquiazinha, muito clero e muito católicos – os católicos profundamente católicos – e mosteiros, conventos, instituições católicas de toda a ordem. E, dirigindo essas entidades, esses grupinhos sociais, entidades de caráter “plutôt” [mais bem] republicano. Mas nunca porque eles professassem a doutrina de que todos eram iguais, mas era simplesmente porque nesses planaltos esses criadores de gado eram iguais, e eram iguais inclusive aos seus empregados, viviam tudo no mesmo borzeguim. Decorria daí que eles tinham uma porção enorme de municípios autônomos, quase como paizinhos e sobre isto uma espécie de governo geral dependente do Imperador da Áustria, mas que pelo que me foi dado perceber, não era muito mais poderoso do que um governador geral do Canadá em nossos dias. Mas eles com uma fidelidade ao Imperador da Áustria, mas a maior e a mais entusiasmada, e a mais derretida que se possa imaginar! Então os senhores estão vendo a coexistência desse mundo de republiquetas ultra-monarquistas. O que faz ver bem aos senhores o que é que a diferença entre ser republicano por causa das circunstâncias concretas do lugar, e ser republicano por doutrina, por achar que a república é a única forma de governo justa, porque toda a desigualdade é injusta etc. etc. Mas de vez em quando integradas no sistema do país, em alguns pontos estratégicos fortalezas pertencentes ainda aos antigos senhores feudais, e estes exerciam um poder de caráter monárquico sobre essas vilazinhas, com autonomia republicana existentes no próprio feudo. De maneira que eles tinham, então, uma nobreza encastoada sobre um tecido de repúblicas, e este tecido de repúblicas governado por um monarca. Realizando o tipo ideal do que diz São Tomás de Aquino: "Forma de governo perfeita é um misto entre a monarquia, aristocracia e democracia". Esplendor da organicidade... nunca ninguém planejou isso, isso foi nascendo de si. * A massa dos homens válidos da população do Tirol formava uma série de guardas de franco-atiradores Eles tinham tido conhecimento, de que as tropas da Revolução Francesa por toda a parte onde iam, inclusive no norte da Itália – que Napoleão invadiu aquela Arcore, Rivoli, aquilo tudo – as tropas dele por toda a parte perseguiam a religião. E sabiam também da perseguição religiosa promovida pelos revolucionários franceses na França. E tinham tirado a consequência inteiramente verdadeira, de que se Napoleão entrasse no Tirol com as tropas dele, que isto seria uma vitória da irreligião. De onde, os padres todos muitíssimo favoráveis à idéia de que, se aparecessem os soldados de Napoleão, era preciso promover um levante geral dos camponeses. E agravava essa situação, ou favorecia essa situação, o fato de que os camponeses eram muito bons atiradores. E eu não sei se é para pegar lobos, ou para que é que é, todos eles tinham espingarda e à distância enorme soltavam arcos, aquelas flechas, ou davam tiros. E com isso, a massa dos homens válidos da população formava uma série de guardas de franco-atiradores, com comandantes próprios anteriormente ao perigo napoleônico. Eu não sei se está aqui na sala o Andreas? (Aparte: Sim senhor.) Ó meu Andreas, está logo de frente de mim. Você talvez deva se lembrar que no enterro da Imperatriz Zita, quando apareceram uns camponeses etc., você me disse que eram tiroleses, e que eram guardas, enfim de pessoal que praticava o tiro, não sei o quê. Você se lembra disso, não? (Aparte) É, esses eram do Tirol. Mas isto que hoje em dia parece que é uma coisa mais bem esportiva, ao menos na aparência... Bem, esse pessoal do Hofer – o Hofer era um entre mil outros – tinha essas guardas, e formavam a massa da população civil em armas como não tinha nenhum Estado europeu. Porque eles não tinham idéia do serviço militar obrigatório naquele tempo, no sentido que tem hoje; o próprio Napoleão tinha dificuldades de recrutamento etc., mas o povo todo pegar em armas, houve, por exemplo, na Espanha houve, na Rússia em algumas regiões houve, mas não é a mesma coisa do que o povo passar a vida armado, e treinando tiro etc. etc. * As tropas de Napoleão entram na Suíça Em certo momento, as tropas de Napoleão entram na Suíça, porque Napoleão entra em guerra com a Áustria, e o rei da Baviera – se houver algum bávaro aqui, que não me queira mal; eu sei que o Adolphinho não tem nada de bávaro, Hoffmaister eu não sei se é bávaro ou o que é que é – o rei da Baviera era um horror de homem. Era um tal Maximiliano José I, que se fez aliado de Napoleão e foi um dos principais agentes para Napoleão ter força para declarar destruído o Santo Império Romano Alemão. E que esse miserável julgava de muita vantagem para ele, porque o Napoleão o promoveu a rei junto com – ele era Duque da Baviera – o Duque de Saxe, Wurtemberg e Prússia. O Napoleão os promoveu a reis, e ele achou que isso era muita vantagem e ele se vendeu a Napoleão. E nas guerras a coisa entra e sai, entra e sai; os exércitos bávaros por necessidade começavam a entrar de vez em quando no território do Tirol, os tiroleses não gostavam, avisavam: "saiam porque nós vamos atirar". Eles saiam, mas em certo momento conveio muito entrar, entraram os franceses também, e a coisa pegou fogo. Todos os vigários começaram a celebrar a declaração de guerra da Federação Helvética a Napoleão, com toques de sino, e cerimônias Eucarísticas dentro da capela, e procissões. Naturalmente em Viena havia um departamento de propaganda, já prenunciando um pouco a propaganda moderna. Era um homem cujo nome eu não me lembro, mas esse homem... tinha publicidade moderna, fazia folhetos etc., parece que era um bom escritor, psicológico, fazia lá o mailing dele, mas era um mailing de mão em mão. Encheu lá a Suíça de folhetos contra Napoleão etc., déspota, ogre, novo anticristo – eram aliás os temas dos padres, Napoleão era o novo anticristo etc. etc. Bom, começam as batalhas e os austríacos expulsam Napoleão e o rei da Baviera de uma parte do território que, num primeiro impulso, eles tinham ganho. Aí, houve um certo tempo de distensão e os chefes desses aldeões e alguns nobres, que não conheciam Viena, ou conheciam muito mal Viena, foram à Viena para tratar. E o líder deles era um Arquiduque, irmão do Imperador, que frequentava muito a Suíça e que era muito amigo deles: era o “vôvô João”, o Arquiduque João, bisavô ou trisavô do Andreas – não sei bem... trisavô. Bem, levantou aquela população toda, e eles tendo um Arquiduque pelo meio, ficaram entusiasmadíssimos etc. E o Andreas Hofer também foi. Ele era um dos chefes, chefiava uma dessas unidades de atiradores, e tinha uma profissão que esse autor dá muitas vezes em alemão e eu não cheguei a identificar. O que é “serhwist” (?). Ah! Confere inteiramente com isto. Quer dizer, ele, além de ter gado, ele tinha uma hospedagem. É uma coisa muito razoável. Ele (Hofer) era um homem muito alto, de uma altura incomum, com uma barba também incomum... A barba de Matusalém acho que era “sopa” perto da dele... um chapeuzão redondão e uma carona... – querendo, eu mando vir o livro que tem aí a cara dele, e os srs. podem ver -, corpulento, um filho da natureza, assim, nascido entre árvores colossais, coisas assim desse gênero. Bem, e esse homem (A. Hofer) fazia parte da comissão. E o Arquiduque João percebeu que ele era dos mais úteis porque era muito audacioso, muito fiel à Casa d´Áustria etc., etc. E ao mesmo tempo sabendo atirar como ninguém e muito líder. Ele levava para toda parte aquela camponesada toda. E uma noite marcaram uma reunião que não podia funcionar sem ele, e o Arquiduque estava presente. Vai ver e ele não apareceu e ele ia embora dentro de dois dias e tinha que voltar para o Tirol. "Onde é que ele foi, terá sido sequestrado por alguém aqui em Viena?" Era capaz, Napoleão fazia de tudo isso; sequestrou o Duque de Enghien, quanto mais o Mathias Hofer. Aliás, ele sequestrou o Duque de Enghien depois, mas enfim... Um disse: "Olha, ele andava com idéia de ir assistir a um teatro, que ele nunca tinha visto o teatro. [risos] De repente ele “zupou” a conferência, o Arquiduque, tudo, zupou e foi ao teatro". Tinha naquela noite dois teatros funcionando em Viena. Então mandaram emissários, primeiro para um teatro não encontraram, depois outro teatro. No outro teatro, chamando a atenção do teatro pelo jeito de ele se apresentar diferente de todo o mundo, sentado com o seu barbão, contente, assistindo, o Andreas Hofer. E durante a representação, o emissário chegou e fez assim para ele. Ele disse que não, que ele não ia. O homem fez sinais tais, que ele afinal se levantou, e aí o homem disse: – Mas onde é que está com a cabeça? o Arquiduque está esperando. – É a única oportunidade que eu tenho de ter um teatro na minha vida. Quem sabe se eu morro nessa guerra, e morro sem ter visto um teatro. Eu quero ver um teatro. – Não, não tem, não pode, e tal, tal, tal. Afinal o homem se convenceu e foram juntos para a reunião. Na reunião combinaram as coisas e tal, e deu em que a reunião correu muito bem, pa-pa-pa-pá, e ele voltou lá para o Tirol, a guerra tocou para frente. Vitórias, sobre vitórias, sobre vitórias. Napoleão escrevendo ao general francês – a um tal Duroc – cartas, das quais algumas ele transcreve. Mas eram assim umas cartas que ao ver ainda hoje, Antônio Augusto, você sente a descarga elétrica da raiva do Napoleão: "Ces canailles [esses canalhas] que estão aí, você não percebe a vergonha que existe para os exércitos do Império, dominar todos os exércitos da Europa – não é verdade porque o da Espanha ele não tinha dominado, mas mentira para ele era a coisa mais fácil do mundo – e não conseguir dominar aqueles vaqueiros? Onde é que tem propósito? O que é que eu hei de pensar de você como general, se você vem aí abanando as mãos e dizendo que..." Era a destituição, e conforme o caso corte marcial. A última carta: "Eu comunico a você que vão tantos exércitos meus, e tantos do rei da Baviera, para invadir o Tirol. E dessa vez nós vamos esmagar de não ter nada de feito. E acabou!" * Os tiroleses usavam a tática das avalanches Chegam as tropas lá, o pessoal dos camponeses colocados todos em pontos estratégicos, e com um sistema que a gente pode facilmente imaginar que eles tinham mesmo, que era o seguinte: eles preparavam no alto daqueles montes avalanches, conforme a estação avalanches de terra ou avalanches de neve, e quando aquele pessoal passava em baixo, eles davam uns empurrões e aquilo rolava. Tudo preparado por cima das tropas franco-bávaras. Não adiantou nada; eram exércitos de Napoleão escoladíssimos, e aquilo foi a toque de tambor até Innsbruck, que se não me engano era uma espécie de capital não é Andreas? Era capital, não é? Tinha uma “hofburg” [corte] em Innsbruck. Antiga capital dos Habsburgs, antes de ser Viena? Ocuparam e achataram aquela camponesada, a ponto de dar pena. E imediatamente... e ordem de Napoleão: qualquer tirolês que seja encontrado com as armas na mão deve ser imediatamente agarrado e morto; qualquer casa de tirolês na qual se encontrem guardadas armas deve imediatamente ser queimada, e se – eu falei aqui que tinha muitas aldeias – numa dessas aldeias houver várias casas, queimam a aldeia. E começaram a executar. O Andreas Hofer se eclipsou, sumiu. * O imperador rompendo o compromisso que tinha feito entrega o Tirol Dias antes disso dessa história, o departamento de propaganda da Áustria tinha mandado uma notícia de que o Imperador Francisco I mandava um compromisso solene com os seus queridos camponeses do Tirol, que ele estava disposto a quaisquer sacrifícios etc., mas faria um juramento que nunca a Áustria assinaria um tratado de paz com a França, cuja condição fosse a cessão do Tirol para os franceses ou para os bávaros. Isso causou um entusiasmo enorme, foi distribuído por toda aquela gente etc. Poucos dias depois, chega a notícia de que o exército de Napoleão, depois da batalha de Wagram entrou em Viena, e que o Imperador se refugiou fora de Viena, num lugar qualquer. Mas que Napoleão tinha começado negociações com o Imperador, e que a primeira exigência que o Imperador fez foi de ceder o Tirol para a Baviera, e que o Imperador tinha cedido o Tirol... Com essa questão é que esse juramento imperial era um juramento imprudente, porque nunca um chefe de Estado pode dizer que nunca fará tal coisa. Porque não sabe, de repente ele perde a monarquia dele se não se separar do Tirol, como é que pode assumir esse compromisso? O tal chefe da propaganda foi quem inspirou ao Imperador esse compromisso, que o Imperador assumiu de bom grado. Mas o Arquiduque João recebeu uma cópia disso com a missão de ele mesmo, pelo conduto dos amigos dele espelhar, no Tirol. Ele leu aquilo, não disse nada a ninguém, e dobrou, e nunca espalhou no Tirol esse compromisso cuja imprudência ele percebeu perfeitamente. Mas de fato o Imperador tinha assinado o compromisso. Então coincidiram as duas coisas: a entrada vitoriosa dos franceses no Tirol, e ruptura do compromisso do Imperador que tinha eletrizado de maneira os espíritos. E aquilo, então, numa baixa completa que faz mal ler, sobretudo quando isso é leitura para fazer à noite antes de dormir. Mas eu li. Então vem a notícia da dispersão de todos aqueles atiradores; depois os bispos passaram uma circular secreta aos vigários, mandando que não pregassem mais contra o Imperador dos franceses; de maneira que sem os camponeses perceberem por que, os bispos se retiraram da frente do combate também. Tragédia sobre tragédia. Para os camponeses era a coisa inenarrável, e depois inexplicado, inexplicável. O Arquiduque João não disse nada, por que o que é que ele podia dizer? Que era mesmo? Ele deu uma explicaçãozinha, que não era aquilo bem, que te-te-té, que todo o mundo viu que não tinha o que explicar. * Andreas Hofer proclama que ainda que o Imperador e o clero não fossem fiéis a eles, eles seriam fiéis ao Imperador e ao clero O Andreas Hofer também tinha fugido para o lado do Tirol italiano, para o lado de Merano, para aquela zona. Ele tinha fugido para aquele lado, e era um dos poucos que não tinha desanimado. Lá, num certo canto onde os bávaros e os franceses ainda não tinham chegado, os chefes se reuniram, o Andreas Hofer, que parece tinha o verbo fácil e abundante, fez um apelo, que não se incomodassem, que ainda que o Imperador não fosse fiel a eles, eles seriam fiéis ao Imperador, que o clero não era fiel a eles, mas eles eram fiéis ao clero, que eles eram de todas as fidelidades etc. etc. Armaram-se e fizeram uma coisa que parece incrível. Mas as tropas do Napoleão e da Baviera vendo sumir todos aqueles atiradores, parece que acharam que o perigo estava passado, e diminuíram o número de ocupantes. E os tiroleses perceberam. * Andreas Hofer organiza um ataque do alto das montanhas E numa determinada noite, eles que tinham feito de Innsbruck o quartel general deles, começaram a fugir aproveitando que a noite não tinha lua etc., muito escuro, começaram a fugir e a ocupar a crista de uma série de montanhas que eles conheciam, e que formava assim uma espécie de anfiteatro. Porque nesse anfiteatro estavam colocadas as partes das tropas, e se as tropas tivessem que retirar as tropas bávaras e francesas tinham que se retirar numa direção "x". E eles então previram o seguinte: "Nós temos a possibilidade de começar uma tal saraivada de tiros contra eles, que em determinado momento eles fujam, e o caminho da fuga tem que ser preparada por avalanches sucessivas que caiam em cima deles. De tal maneira, que se eles cometerem a tolice de fugir, que eles provavelmente cometerão porque os tiros vão começar à noite, eles não compreenderão como é que nós os veremos, mas nós estamos habituados a isso, e eles não terão onde fugir, não sabem de onde é que partem estes tiros, porque vem toda uma circunferência, fugir para onde? Eles vão para lá, e nós vamos liquidar o exército deles nesta emergência." Chefe, Andreas Hofer. * Os tiroleses vencem as tropas franco-bávaras O Andreas Hofer, então, em certo momento deu um sinal e começou. Em cima deles tiros, e tiros, e tiros, e eles na planície. Deu a louca neles, inclusive o marechal francês que comandava aquilo, Marechal Lefebvre, Duque de Dantzig, saiu correndo. E correndo, escolheu mal para onde corria, e foi-se pôr em Innsbruck que estava ocupada pelos tiroleses, e deitaram a garra nele. Para abreviar, quando de manhã – porque os tiroleses não se moveram, ficaram naquele lugar – foram fazer o cálculo, eles calcularam que franco-bávaros tinha mais ou menos mil mortos, e que deles tinha duzentos mortos durante a noite. De maneira que uma vitória “éclatante” [brilhante, notável], e com a notícia dessa vitória começou em todas as montanhas do Tirol a insurreição a continuar. Eu estava nisso quando eu fechei o livro... Como é? (Dr. Adolpho: Napoleão nunca conseguiu ocupar o Tirol depois disso?) Não, pelo que me parece não. Eu não li o livro até ao fim, mas tenho a impressão pelo tom do livro que não. Depois caiu o Napoleão, e eu tive a curiosidade de ver nesse finzinho como foi o fim do Andreas Hofer. * É dado o título de Barão à família de Andreas Hofer Caiu o Napoleão, as tropas austríacas que estavam estavelmente estacionadas em parte no Tirol em tempo de paz, voltaram a ocupar... tudo voltou a uma restauração completa. E em Viena começaram a preparar o Congresso de Viena, tá-tá-tá, a refazer tudo, e naturalmente também a pensar em recompensar as fidelidades mais insignes. E entre essas fidelidades naturalmente apareceu o Andreas Hofer, e o Imperador resolveu mandar um decreto ao Andreas Hofer nomeando-o barão. Houve um pouquinho de demora da chancelaria no envio do título, e quando ele chegou Andreas Hofer tinha morrido, mas o título de barão foi dado à família. (Dr. Adolpho: Seria interessante saber se ainda existe essa família hoje.) Muito, se tem algum para fundar uma TFP suíça... Há uma coisa para considerar que é a seguinte: eu tenho a impressão de que... ah! este austríaco que fazia propaganda lá no Tirol, distribuía no Tirol panfletos com notícias da resistência dos carlistas, e dos “royalistes” [monarquistas] franceses a Napoleão, para provar que forças irregulares e camponesas podiam dobrar Napoleão. É muito bem feito esse negócio! * Uma pontinha de ligação do Marechal Lefebvre, duque de Dantzig, com a história do Brasil O Lefebvre, Duque de Dantzig, que apanhou tanto na Suíça, teve uma pontinha de contacto com a história do Brasil, porque foi ele que invadiu Portugal por ordem de Napoleão, e ocupou Portugal e coisa e tal, e determinou a vinda de D. João VI para o Brasil. Coisa que o Metternich nas memórias dele elogia muito, como uma coisa de alta sabedoria política do D. João VI. Aí houve assim um pequeno contacto que teve o seu interesse para nós. (Aparte: Senhor Doutor Plinio, o senhor visitou Innsbruck?) Não. Nunca estive na Áustria. (Aparte: Esse panorama de Innsbruck se presta a uma defesa... primeiro – como o senhor disse muito bem – porque é um planalto, mas muito estreito em baixo e todo coberto dos Alpes, e com passagens que são passagens dificílimas das pessoas ultrapassarem, caminhos muito tortuosos.) Horríveis. Depois que a natureza deteriora muito, fazem uma ponte, a neve estraga a ponte, lá vai daí para fora. (Aparte: Agora o que eu não compreendo é como eles perderam Innsbruck de início, porque como é que eles conseguiram perder e a invasão do exército francês chegar até lá. Porque são gargantas muito estreitas.) O lado militar, como eu entendi pouco, eu resolvi dar aqui ao coronel para examinar. [risos] (Aparte: Realmente é um lugar que para formar uma fortaleza, é uma coisa magnífica.) Mas a cidade fica no fundo, não é? (Aparte: A cidade fica no fundo.) É, é a questão exatamente para hoje em dia, o questionável, suponho eu que seja isso: uma cidade no fundo com uma galeria de montanhas em cima, com as armas de fogo de hoje, é um alvo para toda a espécie de atiradores colocados de todos os lugares. E, portanto, para hoje seria uma cidade muito mal colocada. Suponho, não sei se é isso? É, mas aí... depois outra coisa: camponês com essa honestidade, e que vai defender o imperador ainda que o imperador o abandone, e que defende o clero ainda que o clero abandone, isso... O negócio das avalanches eu achei simpaticíssima, uma coisa... Bom, senhores, eu lamento o que os senhores não lamentam: é que o jantar tenha acabado já e que eu tenha que ir descansar. De maneira que tenho que me retirar. |