Plinio Corrêa de Oliveira

 

Elias Profeta, amor e cólera

 

 

 

 

 

 

Palavrinha (breve exposição) de 7 de outubro de 1991

  Bookmark and Share

 

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.



 

 

Pois não. Elias foi mandado à Terra para representar o furor de Nosso Senhor.

Agora, o furor tem um papel especial nas relações humanas e a gente pode notar bem esse papel quando considera uma manifestação de furor nas relações entre pai e filho ou entre mãe e filho.

Querendo ir traduzindo alto... eu acho que nem todos entendem português.

(Aparte: Eles estão com os tradutores aí.)

Ah! Todos têm tradutores aí? “Perfectly organized”, hein?

Bem, o profeta Isaías disse "que o pai que poupa a vara a seu filho, odeia seu filho."

* O homem é feito de tal maneira que lhe faz bem, de vez em quando, contemplar o furor, mas sentir habitualmente o amor

A ideia corrente é que o pai que poupa a vara a seu filho, ama seu filho. Mas como o profeta Isaías é inspirado pelo Espírito Santo, ele não pode estar errado. Logo, a verdade é que o pai que poupa a vara a seu filho, odeia o seu filho. E também há um outro trecho da escritura que diz: "que a bênção de um pai constrói uma casa, mas a maldição da mãe arrasa a casa até o fundamento."

Quer dizer, até a mãe, pode ter momentos de furor em que ela arrasa a casa do filho por uma maldição. Mas, essas manifestações de furor tão carregadas do poder de Deus, são, entretanto, incisivas, fortes, mas raras, porque o homem é feito de tal maneira que lhe faz bem de vez em quando contemplar o furor, mas sentir habitualmente o amor. E por causa disso também, os profetas mais falaram do amor do que do furor, mas Deus suscitou – aquele que foi provavelmente o maior dos profetas – Elias, para representar o furor.

* O equilíbrio entre o furor e o amor, sabiamente dosado, faz com que o homem se aproxime perfeitamente de Deus

Quer dizer, as manifestações do furor é preferível que sejam raras mas quando se manifestam, manifestarem de um modo terrível e memorável. De maneira tal que, depois entra o amor e apaga o primeiro efeito do furor, mas fica no fundo dos espíritos a ideia: o furor dele é terrível. E esse equilíbrio entre o furor e o amor, sabiamente dosado, faz com que o homem se aproxime perfeitamente de Deus. Quando ele está fervoroso é o amor sobretudo que o leva, quando ele está baixo, Deus que o ama e que o quer aproximar de Si, faz ouvir um pouco do estalo do raio.

Elias profeta foi o estalo do raio no ar para todos os tempos em toda a História. Ele deu manifestações ardentes de amor de Deus, mas ele também deu manifestações terríveis e mais numerosas e mais memoráveis e dignas de serem lembradas, do furor de Deus.

* Elias, o profeta da cólera, orando a Deus no Monte Carmelo

Amor de Deus. Elias, no alto do Monte Carmelo, pedindo para que Deus atenda o pedido do rei feito por intermédio dele, e faça chover sobre a terra da Judéia, que estava maldita por causa dos pecados do rei.

Acab tinha se deixado levar Jezabel, rainha péssima, e Jezabel tinha-o levado à idolatria. Ela era de família de idólatras e o levou para a idolatria.

A idolatria se praticava às ocultas, até no Templo de Jerusalém. Deus estava indignado com o povo e apesar disto, Elias recebeu um pedido do rei para pedir para fazer chover sobre a terra. Ele foi para o alto do Monte Carmelo, e era por assim dizer o único justo na Terra, e lá do alto pediu para vir a chuva. Agora vejam como ele amava a Deus.

Ele fez isto aí por puro amor de Deus porque ele teve pena do povo por amor de Deus.

Ele rezou muito tempo e apareceu uma nuvenzinha pequena no céu, que até então tinha estado inteiramente azul. E ele deduziu daí – vejam a confiança que ele tinha em Deus – que ia chover como nunca. Uma nuvenzinha pequena! Num céu desesperadamente seco, e se se pode dizer assim, terrivelmente azul.

Ele viu e mandou um aviso ao rei, para o rei tomar todas as providências necessárias na cidade porque ia cair uma chuva torrencial, tremenda, que era a alegria do rei, o rei tinha pedido isso. E então, o rei mandou fechar as janelas, etc., etc.

Daí a pouco começou a cair uma chuva uma chuva, uma chuva e o povo que tinha ficado na seca, foi completamente inundado.

Inundado do quê? Dos efeitos da misericórdia divina. Inundado, portanto, de bondade e de água. De água que significava fertilidade, para terra fecundidade, significava largueza, fartura, bem-estar, tudo isso significava a água. Era o poder de Elias enquanto suplicando a Deus. Mas há uma coisa muito melhor do que isso. É que essa nuvenzinha, os intérpretes da Escritura consideram como sendo uma visão profética de Nossa Senhora.

Nossa Senhora foi naquela aridez, no Antigo Testamento em que o mundo quase todo era pagão, idólatra, cheio de crimes, etc., Nossa Senhora foi uma nuvenzinha que apareceu pequena, mas d'Ela cairia uma chuva de graças, que era salvador, inundaria a Terra. Então, Elias foi o primeiro portador da notícia de um papel de Nossa Senhora, o papel histórico de Nossa Senhora representar fazendo chover aquele que era a graça, a abundância das graças.

Na noite de Natal canta-se: Rorate caeli desuper et nubes plurent justum - o céu lá do alto, fazei cair o orvalho e as nuvens façam chover o justo. O justo é Nosso Senhor Jesus Cristo, por excelência Ele, o justo.

* Elias com os sacerdotes de Baal: a cólera pode ser dulcíssima, quando ela é vista como amor; pode ser terrível quando ela é vista como o sarcasmo

Mas depois, há a cena, que os Srs. conhecem perfeitamente, da decapitação dos 400 sacerdotes de Baal. Primeiro fizeram um desafio: quem é que atrairia mais as graças de Deus, o fogo do céu, etc., etc.

Os sacerdotes fizeram uma história lá, imolaram umas vítimas, esperando que descesse o fogo do céu e queimasse as vítimas. E não caia nada, não acontecia nada e Elias dava risada, fazia provocações: "Como é?" Sarcasmos difíceis de suportar, porque ele era a cólera. E a cólera tanto pode ser dulcíssima, quando ela é vista como amor; quanto ela pode ser terrível quando ela é vista como o sarcasmo.

Para resumir as coisas, eles não conseguiram nada, então Elias mandou – num altar que ele tinha mandado construir – molhar todo o altar. Depois ainda mandou fazer um valo de água em volta do altar, para estar irremediavelmente molhado; não poder pegar fogo em nada. Quando não pôde pegar fogo em nada ele pôs a vítima dele lá em cima – não me lembro que animal era – e pediu que chovesse o fogo do céu.

O fogo do céu veio e queimou completamente, e então, ele quis que os sacerdotes de Baal se convertessem – diante de um milagre assim... a boa fé consistiria em que convertessem – eles não quiseram. Ele mandou matar quatrocentos. É extraordinária a conduta de Elias!

* Elias foge de Jesabel e em Sarepta opera a primeira ressurreição

Pois bem, logo depois vem um recado: "fuja porque a rainha está te mandando matar, e fuja logo, fuja correndo porque senão ela te pega".

Bem, ele fugiu durante vários dias e não tinha o que comer. Aparecia um pássaro trazendo no bico um pão todos os dias para ele comer, até ele chegar à cidade de Sarepta.

Lá ele encontrou – não conhecia ninguém, estava exausto e precisava descansar em casa de alguém, precisava comer – e Deus disse a ele: "Tu encontrarás na cidade uma mulher com uma criança, e ela estará fazendo uma comida para a criança, pegue a comida para ti."

Ele não conhecia a mulher, era uma viúva. Ele foi falar com a viúva e a viúva disse:

– Eu não posso dar, porque isso que eu estou fazendo é para o meu filho, mas nós dois somos tão pobres, que depois disso eu vou pedir a morte para meu filho e para mim porque nós não podemos mais viver.

Elias disse:

– Não dê para seu filho; dê para mim.

Uma coisa incrível! A mulher deu. Elias comeu – não sei como é que se arranjaram, porque o menino não morreu de fome – e Elias pediu para ficar hospedado na casa da mulher. É um abuso! Se não fosse por ordem de Deus, seria um abuso inqualificável.

Hospedou-se lá e, numa bela manhã Elias acorda e a mulher vem queixosa falar com ele: "Meu filho morreu!"

Quer dizer, "tu ó homem, trouxeste para minha casa a desgraça, tu trouxeste a pobreza, tu não trouxeste comida, o que havia aqui para nós comermos, tu comeste, e agora meu filho morre."

Elias volta-se para Deus e diz: "meu Deus, como poderá ser isto? Eu então faço isso em Teu nome e tenho este resultado?"

Não se sabe o que é que Deus disse a Elias, mas depois de ter dito isto, Elias deitou-se sobre o cadáver do menino e começou um processo de insuflação – respirar dentro da boca do menino – e aos poucos o menino foi vivendo e daí a pouco ele entregou para a mãe: "Aqui está seu filho".

Notem que a julgar por essa narração da Bíblia, é a primeira ressureição que houve na História.

* Elias é o próprio modelo do católico chamado para a “Bagarre”

Os Srs. estão vendo, é um homem da cólera, é um homem do amor, é um homem que mostra mais a cólera do que o amor, mas é um homem que faz prodígios.

É o próprio modelo do católico chamado para a “Bagarre” [palavra francesa que indica uma situação de confusão, devida a uma disputa ou a uma rixa. Dr. Plinio a utiliza como metáfora para descrever o castigo que espera a humanidade se esta não se converter, conforme advertiu Nossa Senhora em Fátima, n.d.c.]. Ele não duvida, se for preciso, ele pede ao céu que ressuscite um morto, e o céu pela primeira vez na História ressuscita um morto, porque aquele filho bem amado, o profeta da cólera – amado pelo amor por excelência que é Deus – pediu para Ele.

Nós devemos ser homens da confiança, Elias era um homem da confiança; nós devemos ir para a frente apesar de todas as dificuldades, não desanimar diante de nada e meter o pé! O resto o céu fará.

Aí está meus caros, com muita alegria para mim uma palavrinha, agora se me derem licença vou ter que subir. (Fatinho!)

Fatinho? Fatinho é a vida de Elias, é muito mais interessante do que qualquer outra coisa.

Vide também: Santo Elias, pai espiritual da Ordem do Carmo


Bookmark and Share