Plinio Corrêa de Oliveira

23 de agosto de 1991

A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

O Coração de Maria é um órgão do corpo Santíssimo da Virgem das Virgens que foi tomado pela Igreja, como símbolo daquilo que é, não propriamente a mera afetividade da pessoa, daquilo que é aquilo que é a mentalidade da pessoa. E que é, portanto, no caso de Nossa Senhora, a virtude excelsa dEla, com tudo quanto Ela quer. Não é, portanto, [não entra só?] uma cogitação intelectiva, digamos de caráter teológico, mas entra uma coisa volitiva, a vontade também. A mentalidade é isso: é o conjunto do que a inteligência quer, do que a inteligência conhece, daquilo do que ela deu adesão e daquilo que ela quer em conseqüência. Isto forma a mentalidade. E a mente de Nossa Senhora é simbolizada pelo Seu Coração.

Mas, acontece, que Ela não é apenas uma Católica, a flor das flores da Igreja, a flor do Céu, a flor dos Anjos mais altos, a flor do Coração Sacratíssimo de Jesus. Ela é tudo isso! Mas Ela é Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo; e sendo Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo Ela é Mãe da Igreja; e sendo Mãe da Igreja Ela é Mãe de cada um de nós. Nunca ninguém teve Mãe, no sentido mais afetivo da palavra, mais misericordioso, mais bondoso, mais paciente, mais disposto a perdoar mil vezes mil, àqueles que recorrem a Ela, e que pedem perdão a Ela; nunca mãe nenhuma, foi Mãe até esse ponto.

Houve um escritor francês do século passado – já dei o nome dele aqui, mas me escapa no momento – que contou um caso puramente laico. Mas, que era assim:

Que um homem solteiro, vivia na casa de sua mãe e convivia muito bem com ela, que queria muito bem a mãe etc., etc. Mas, depois casou-se, e trouxe a esposa para morar em casa. Mas, a esposa era uma mulher péssima e foi intrigando a ele contra a mãe. E ele percebia que se ele não se indispusesse com mãe, ele perdia o afeto da esposa. E como ele estava muito sujeito à esposa, muito dominado por ela, ele então ia cada vez mais pondo-se como inimigo da mãe, para conservar o afeto da esposa. Bom, e um dia a esposa, não contente com tudo quanto tinha mandado fazer à mãe, que recebia tudo com paciência, a esposa disse a ele: "Olha eu vou para tal casa, vamos dizer, para a casa de meus pais e até tantas horas, mate a sua mãe e me traga o coração dela para casa. Se você não tiver feito isso, não temos relações mais".

O homem ficou muitíssimo aflito, mas, escravizado por essa “fassura” (mulher ruim, n.d.c.), ele foi, matou a mãe, cortou fora o coração, embrulhou num papel e foi para a casa do sogro para mostrar o papel.

Andando na rua ele tropeçou e caiu. E quando ele caiu, ele ouviu o coração da mãe perguntar com aflição: "Meu filho, você se teria machucado?..."

Esse conto é uma fantasia, é um conto literário e exprime, entretanto, de um modo muito tocante até onde o coração materno vai. E a gente [diria]: “o coração materno não pode ir mais longe”. Isso para Nossa Senhora não é nada!! Quer dizer, um homem pode levar o crime e a desgraça até o ponto de tomar hóstias consagradas e vendê-las para serem calcadas aos pés de uma associação anticatólica qualquer. Esse homem fez muito mais do que esse outro, porque era para Nossa Senhora. Porque, fazer isso com Nosso Senhor, Homem-Deus, Filho dEla, não tem palavras!

Se esse homem for tocado pela graça do arrependimento e pedir perdão, ato contínuo, Nossa Senhora perdoa e ato contínuo Ela começa a rezar para ele se confessar, para ele ir pedir perdão aos restos mortais, diante dos restos mortais da mãe, por exemplo, para emendar de vida e para, por exemplo, ir ser cartucho, ir ser trapista qualquer coisa e passar a vida fazendo penitência e morrer como um santo. Pode acontecer!

É o levar o amor até onde esse caso inventado por este literato não é nada. Porque o amor que Ela tem a Nosso Senhor Jesus Cristo, nós não somos capazes de medir, nem de calcular. Porque é Filho dEla, e é Homem-Deus. Nós não temos idéia de como Ela é capaz de adorar a Deus, não nos cabe na cabeça.

Bem, então, isto Ela é com todo homem e é conosco. E a paciência dEla está sempre pronta a nos perdoar. Desde que nós nos emendamos de nossos pecados. Mas, ainda que nós não queiramos nos emendar, mas digamos a Ela: “Minha Mãe, eu por minha maldade não estou me emendando, e eu sei que minha maldade é enorme, mas vossa clemência é maior. Tende compaixão de mim e – um salmo diz isso – Asperges me hissopo et mundabor lavabis me et super nivem dealbabor. Vós me aspergireis com o hissopo e ficarei lavado. Vós me lavareis e eu me tornarei mais alvo do que a neve.”

Isso diz da alma. O pior pecador pode rezar isto!

Mas, quem é que tem a mão nesse hissopo? Quem é a pessoa que a gente pode dizer que tem o poder de lavar a alma de um pecador desse? E a tal ponto, que esse pecador fique mais alvo do que a neve. É Ela! É o Coração dEla!

Donde o meu empenho particularíssimo em ter em vista a misericórdia dEla, estar sempre animado, tocar sempre para frente, quer por mim, quer por este ou por aquele filho, que eu vejo bambolear no caminho do bem. Não é verdade?

Este foi o coração... é um Coração Imaculado, porque foi concebido sem pecado original; Sapiencial porque em todo esse modo de agir entra o sumo da sabedoria criada. Então, é o Coração Sapiencial Imaculado de Maria, está claro meu filho?

Assim deve ser, na TFP, todo aquele que tem parcela de autoridade. Assim nós devemos ser uns para com os outros, mas assim, sobretudo, aqueles tenhamos sido ofendidos devemos ser para quem nos ofendeu. Na TFP é assim!! Fora das muralhas benditas da Contra-Revolução, a coisa tem seus conformes; dentro das muralhas benditas da Contra-Revolução é assim ao pé da letra. Somos filhos do Coração Sapiencial e Imaculado de Maria.

Eu respondi cabalmente aos portugueses ou não?

Meus caros, então agora eu tenho uma reunião que fazer...