Plinio Corrêa de Oliveira
"À medida que o pecado se multiplica, a nossa voz tem que crescer"
Auditório São Miguel, 19 de junho de 1987, sexta-feira, Santo do Dia |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Após a projeção e leitura de notícias com fatos sobre a decadência, o desmoronamento da instituição da família naquela época [1987], o Prof. Plinio se pergunta: "qual é o remédio que pode acabar com causas tão múltiplas, tão numerosas, que enxameiam sobre o corpo de nossa sociedade doente? Esse problema, nem ninguém tem coragem de se pôr. Porque são males tão profundos, o remédio teria que ser tão extraordinário, tão único, que parece até impossível. Nós temos considerado isso tantas e tantas vezes, eu tenho falado tanto disso..." Para consultar e ler numerosos documentos da lavra de Dr. Plinio sobre a família, clique aqui.
O que eu tenho a dizer a respeito do que acaba de ser passado, além de uma palavra de horror diante do quadro apocalíptico do desmoronamento da família, é naturalmente referente a outro ponto: que remédio dar a isso? Que remédio dar? Podem-se aventar mil remédios, mais ou menos como um edifício que está num terreno que treme. As pedras se vão desconjuntando lentamente, e haveria uma solução para impedir que cada pedra caísse. Uma pedra a gente empurra para cá; na outra a gente põe um calçozinho de papel; na outra a gente prende com durex uma pedra na outra; serve para mais 15 minutos de resistência... E assim a gente pode imaginar uma muralha que durante algum tempo, resiste um pouco mais, porque uma pessoa muito engenhosa, muito trabalhadora se esmerou em fazer com que aquela muralha, que não tem conexão, cujas pedras estão com o cimento que as liga umas às outras, ressequido ou anulado de qualquer maneira, que, portanto, vai abaixo de qualquer forma porque lhe falta o elemento fundamental, e que essa muralha caia. Então, muitas coisas eu ouço dizer a respeito do modo de organizar a família, de evitar que ela caia, de fazer isso, de fazer aquilo. Podem-se pensar em cem coisas. São coisinhas, são “coisecas”! A gente vê que não resolverão absolutamente nada. Vamos dizer, por exemplo, que alguém dissesse: para evitar o desmoronamento da família, fazer apostolado junto à rainha Elizabeth e alguns elementos da corte inglesa, para iniciarem uma reação. Isto poderia, como o peixe apodrece pela cabeça, e a família real é a cabeça desse corpo chamado sociedade inglesa, então regenerando aquilo, nós evitaríamos um elemento de decomposição ativíssimo. É verdade. Mas tantos são os outros elementos de decomposição que atuam simultaneamente sobre a sociedade inglesa como sobre toda a sociedade contemporânea, que aquilo adiaria um pouco uma ruína que de qualquer maneira se dará, que é inevitável, que é um fato consumado, acontecerá. Então, qual é o remédio uno, que pode - à maneira de solução - acabar com causas tão múltiplas, tão numerosas, que enxameiam sobre o corpo de nossa sociedade doente? Qual é o remédio? Esse problema, nem ninguém tem coragem de se pôr. Porque são males tão profundos, o remédio teria que ser tão extraordinário, tão único, que parece até impossível. Como para males tão diversos, para problemas tão opostos, como encontrar para esses males, um remédio que é único? Não parece até demência? Então, qual é a consequência? Vai acabar a família? E com a família acaba a sociedade? Com a sociedade, nós caímos na anarquia? Eu acho que isso é dizer pouco. A própria anarquia é pouco. Vai tudo pelos ares! Está acabado. Vai dar numa situação que é indescritível. Que talvez possa chamar-se selvageria. Talvez possa chamar-se barbárie. Talvez seja uma coisa pior, que não se pode chamar nem selvageria, nem barbárie, mas que uma pessoa audaciosa chamaria: reino de satanás! Porque para ir até o fim, é isso! Aí, é nesse rumo que caminham as coisas, com esse desfazimento da família. Os senhores encontrarão uma ou outra família privilegiada que toma conhecimento disso e se indigna. Bem, agora os senhores me perguntarão: “mas Dr. Plínio, e o remédio?” Mas, o remédio? Nós temos considerado isso tantas e tantas vezes, eu tenho falado tanto disso... Qual é o remédio? É a coisa mais natural do mundo. O remédio é esse: Santo Agostinho, séculos antes da queda do Império Romano do Ocidente e da abertura da era medieval da história, Santo Agostinho já dizia -- eu vou aplicar à família, o princípio dado por Santo Agostinho para o Estado [cfr. Epíst. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15]: Imaginem o pai e a mãe católicos, apostólicos, romanos verdadeiros. Imaginem os filhos e as filhas, os sogros e as sogras, os avôs e as avós, os cunhados, toda a “entourage” da família seriamente católica, apostólica, romana. Está tudo resolvido! Esses problemas se evaporam como fantasmas, como demônios que fogem, quando aparece o exorcista. Eles voam, eles desaparecem como desapareceram os mercadores do Templo quando Nosso Senhor começou a fustigá-los. Com o látego eles se desfazem. Porque essas obras de iniquidade não suportam a presença de Nosso Senhor, de Nossa Senhora, da verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana. Basta colocarem Nosso Senhor Jesus Cristo como pedra de ângulo, que tudo se resolve! Tirem Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, a Santa Igreja, da pedra de ângulo, nada se resolve! Absolutamente nada! E a solução verdadeira é dizer isto a eles. Por mais que eles odeiem, por mais que eles se irritem, a solução é só esta! Sede católicos verdadeiros e tudo se resolverá! Enquanto não retornardes à verdadeira religião, do verdadeiro, a única verdadeira Igreja, do único verdadeiro Deus, nada se resolverá! Os sociólogos... meçam em si o efeito dessa frase; os senhores leem no jornal: sociólogo... não sei... islandês descobre fórmula que salva a civilização contemporânea. O Sr. Nisturm - é assim!... - que com uma equipe – porque a notícia sai por aí – equipe de teólogos (porque hoje se põe teólogo junto) uma equipe ecumênica de teólogos, com biologistas - naturalmente sem psiquiatras nada se faz - psicólogos e psiquiatras, médicos especialistas em dez coisas, etc., observando atentamente a vida de tal peixe que só existe naquele lugar, e notando a harmonia que existe entre os indivíduos do cardume, descobriu o princípio da unidade e da sociedade. Chama-se, uma coisa assim, um tratamento tal com base num óleo tirado do bico moído do peixe espada, exposto ao luar não sei quanto tempo, e no qual se joga um pouco do farelo do elemento que se colheu na lua. E põe-se numa máquina que vibra aquilo... e dá depois numa pastilha, num comprimido verde pistache, que a pessoa deve segurar só com dois dedos, jogar na boca e fazer um ato de fé no otimismo... está resolvido o problema da sociedade contemporânea. Quer dizer, é nada. Essa verdade salvadora eles não querem. Agora, por que não querem? Por uma razão simples. É que Nosso Senhor Jesus Cristo é inseparável de Sua Cruz! Eles tolerariam a Nosso Senhor Jesus Cristo e talvez O quisessem e aplaudissem como Ele foi aplaudido no Domingo de Ramos, talvez isso acontecesse, eles tolerariam Nosso Senhor Jesus Cristo ou O aplaudiriam, se Nosso Senhor Jesus Cristo fosse só causa de emoções agradáveis, de soluções fáceis, de coisas que não preocupam, que não exigem esforço, não exigem sacrifício, e que tragam a fórmula da felicidade terrena! Aí não haveria reservas, não haveria oposição, Ele seria aclamado rei do mundo! Mas Ele entra com outra fórmula: Ele entra com Sua Cruz! E diz: quem quer me seguir, renuncie – são palavras dEle no Evangelho – “renuncie a si mesmo, tome sua Cruz e siga-me!” “Não, não queremos...” Ora, foi pela Cruz que o mundo foi remido. E Nosso Senhor não pode ser considerado sem a Sua Cruz. Tudo que for Nosso Senhor sem a Cruz, é mentira! E é a Cruz que eles não querem... Os senhores leiam um pouco o Tratado do Amigos da Cruz, uma coisa assim, de São Luís Maria Grignion de Montfort. “Carta Circular aos Amigos da Cruz”. Leiam o “Tratado da Verdadeira Devoção”. Ele pulula de referências a esse ponto: cruz, não! Tirem a cruz, dá nessa montanha de horrores! Não tem... o resto é conversa!... Ou se educam as crianças e se educa a sociedade para a dor - não é só para a dor; a dor vem na vida, sabiamente – eu quase ousaria dizer - dosada com a alegria. Os Mistérios não são só os Dolorosos; são os Gaudiosos, são os Gloriosos. Mas, no centro, está a dor, está Cristo e São Paulo dizia: “eu não sei pregar senão Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado”. O resto é conversa. Absolutamente conversa. Isso não existindo, a única solução é esta: a humanidade foge da Cruz e cai nos braços do AIDS. Eu termino lembrando o seguinte: ainda aí há otimismo. O AIDS é uma voragem de horror, ainda aí entra otimismo. Em que sentido entra otimismo? É fácil. Tudo mostra que a Revolução e os castigos que traz não param. E que as coisas mais inesperadas acontecem para que o castigo de Deus se torne cada vez mais forte. É uma coisa curiosa, as pessoas veem o AIDS. Antes de haver o AIDS, se se lhes dissesse que o AIDS aparecerá, isso seria tido como uma coisa inverossímil, um folhetim, “science fiction”, um horror, nunca! Eu acho que essa ideia de vir uma coisa pior que o AIDS não passou pela cabeça de quase ninguém. Mas não compreendem como os pecados vão se sucedendo em cadência crescente, os castigos vão se sucedendo em cadência crescente também. E tem que aparecer doenças ainda piores, ainda mais horríveis se a “Bagarre” [realização das promessas de Nossa Senhora em Fátima] não vier logo. Para a humanidade, o que é melhor? Continuar cada vez mais devorada pelo AIDS, ou vir a “Bagarre” que queime tudo isso e recomece outra sociedade? É uma pergunta que se põe. Mas se põe de modo agudo, vendo projeções dessa natureza. Está bem, os senhores podem expor isto que é de uma lógica que não admite oposição, porque isto é o que há de lógico, podem expor a quem quiser. Os senhores no máximo encontrarão pessoas que tomarão uma atitude: “homem, é verdade...” – na melhor das hipóteses” – “tem certa razão... vamos pensar” etc. Quem é que toma a atitude verdadeira? São Luís Maria Grignion de Montfort, tantos séculos antes desse século de pecados, quando já os pecados eram tão grandes, que ele exclamava: “fogo, fogo, fogo na casa de Deus; fogo porque matam meu pai; socorro porque matam minha mãe; socorro porque estrangulam meus irmãos, etc. Vinde, vinde ajudar”! [cfr. “Oração Abrasada”], indicando uma calamidade geral, que ele já via naquele tempo. E ele prevê no “Tratado da Verdadeira Devoção” que isto vai para frente. Chegou a isso... Depois, chegará o quê? Nós nem sabemos dizer. Estamos nessa roldana. Essa gente o que é que faz? Só faz uma coisa: não quer ouvir falar de “Bagarre”, não ouvir falar da morte, e continuar nessa vida porque é do que eles gostam... Nós levamos gente para tomar uma posição espiritual, da qual decorre a fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo, ou que consiste essencialmente na fidelidade a Nosso Senhor Jesus Cristo e acaba salvando a família. [Qual a reação?] Nada... Vão ver qual é o apoio que a Estrutura [eclesiástica em geral] dá à família, mas é um desapoio contínuo! Ela quer é pregar a revolução social. Eu pergunto: em certo momento o punho de Deus não quebra isso?... Os senhores me dirão: “reflexão mil vezes feita; prognóstico mil vezes feito”. Eu digo: é, e poderia ser feito dez mil vezes, e eu não mudaria. Eu não mudaria porque à medida que o pecado se multiplica, a nossa voz tem que crescer. Isto é assim! Meus caros, com isso nós podemos terminar esse magnífico audiovisual. Vamos andando. Salve Regina, Mater misericordiae... |