Plinio Corrêa de Oliveira

 

Lições da História:

os moles, maiores responsáveis pelo avanço da Revolução gnóstica e igualitária

 

 

 

 

Jantar no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, 16 de março de 1987

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de exposição do Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Ilustração: Luís XVI, litografia que se encontra no Museu Carnavalet (Paris). Imagem de domínio público

Os senhores tomem a primeira Revolução, a Revolução protestante. À primeira vista, como apresentam os livros, os manuais etc., etc., a grande causa do protestantismo foi, vamos dizer na RCR, orgulho, sensualidade, produziram certos efeitos psicológicos, que abriram o espírito para o livre-exame e para as contestações de que Lutero foi o autor. Depois, isso se espraiou em variantes do protestantismo e acabou-se.

Por que razão o protestantismo foi vencido?

Porque dentro da Igreja Católica, o protestantismo produziu cristalizações, e essas cristalizações conduziram a que aparecesse em sentido oposto, espíritos como Santo Inácio de Loyola, São Pedro de Alcântara, Santa Teresa de Jesus etc., São Pio V, São Roberto Belarmino etc., os grandes homens da Contra-reforma, eles puseram uma barragem. Então conseguiram conquistar um terço do território perdido na Alemanha pelo protestantismo. Foi sobretudo o Cardeal Roberto Belarmino que conseguiu isso. Depois conseguiram recuperar, na França, muita coisa. A França foi quase inteiramente uma nação... quase inteiramente não está bem, foi em larga medida uma nação jansenista, acabou diminuindo muito o jansenismo, o protestantismo na França, e assim por diante.

Então, isso decorreu da derrota de um sobre o outro, e está explicada a mecânica da primeira Revolução.

Se o senhor for examinar a segunda Revolução, Revolução Francesa, os senhores encontrariam o mesmo mecanismo. Levantou-se a Revolução Francesa, houve reações, houve os chouans etc., e de um modo geral houve excessos do Terror que provocaram nos espíritos, uma espécie de reação indignada, que deu em que pouco a pouco a Revolução Francesa fosse recuando e em 1814 voltassem os Bourbons, e ainda em 1870, portanto perto oitenta anos depois da Revolução Francesa, os senhores ainda veem eleições gerais na França, para uma Constituinte, em que a maioria grossa é monarquista.

Quer dizer, os senhores vejam a luta dos princípios opostos.

Esta visão, não é uma visão errada. Ela é uma visão verdadeira, mas não é uma visão completa, e na medida em que ela não é completa, ela é errada. Porque quando os senhores vão examinar de perto o mecanismo da primeira Revolução, o que levou a Igreja Católica a perder os territórios que perdeu, a não reconquistar os territórios que perdeu, foi sobretudo uma ganga de católicos relativistas, moles que não são pão-pão, queijo-queijo, e que procuraram uma espécie de entendimento com o protestantismo. Como também, de outro lado, uns protestantes moles que procuraram o entendimento com a religião católica, e criaram um pantanal mole de católicos não inteiramente antiprotestantes, e protestantes não inteiramente anticatólicos.

Uma grande quantidade de gente, situada nos limites, entre os categoricamente católicos e os categoricamente protestantes. E à medida que foi correndo o tempo, esses pantanais foram corroendo o cerne duro de cada lado. E preparando remotamente o vencedor de hoje: o ecumenismo.

Quer dizer, no fundo na luta descrita há pouco, é verdadeira, mas ela não fazia aparecer no tabuleiro o verdadeiro vencedor. Vencedor de amanhã não seria a religião católica, infelizmente; não seria o protestantismo, não sei se digo graças a Deus, porque o vencedor é o ecumenismo que é uma forma de protestantismo. Mas é uma forma mole de protestantismo, e por causa disso mesmo não cristaliza os católicos, não indigna, daí tudo que os senhores sabem, eu não tenho que entrar aqui em pormenores.

Então, são os moles os grandes responsáveis pelo que vai caminhando tão mal a luta da Contra-Revolução.

Isto está claro?

Bem, Revolução Francesa. Nos limites entre a França e a Alemanha, mas no lado da Alemanha, do Sacro Império, se alojaram os dois irmãos do Luís XVI, o Conde de Provence, que é o irmão mais velho dele, quer dizer o primeiro depois dele; depois o Conde de Artois, que era logo o sucessivo do Conde de Provence. E os nobres emigrados que saíram julgando que a Revolução ia demorar no máximo dois meses. E que passaram lá, de 1789 a 1814, os senhores vejam, são vinte e cinco anos, um quarto de século.

Constituíram ali, com armas e recursos dados pela Áustria, pela Rússia, pela Prússia, constituíram um exercitozinho e pronto para invadir a França, no momento em que as potências germânicas, mais a Rússia estivessem de acordo. Depois arrebentou a Revolução dos chouans. Então, se houvesse ao mesmo tempo as duas invasões, seria um tenaz, poderia ter derrotado a Revolução Francesa. Eu digo poderia, não é certo, poderia.

Agora, o que é que acontece?

Molezas entre os Chouans, molezas entre os irmãos de Luís XVI, molezas daqueles emigrados que viviam se divertindo, dançando - na pobreza hein! -, mas levando as piruetas, as gentilezas e as graças, como se estivessem em Versailles, desfibraram essa reação. Entre os Chouans ainda houve cruzados. Precisamente entre os nobres não houve mais cruzados. Quer dizer entre os descendentes dos cruzados, não houve mais cruzados. É terrível ter de dizer isso, mas o que é que nós podemos fazer? É a pura verdade.

Resultado disso: eles pesaram mais em favor da Revolução do que os próprios revolucionários. O partido mole pesou mais a favor da Revolução do que os revolucionários.

O rei dos moles era Luís XVI. Hoje, os arquivos secretos da chancelaria de Viena estão abertos ao público – eu não acredito muito nisso, hein, porque eu acho que nunca nenhum país abre inteiramente seus arquivos, tem sempre algumas coisas que têm reflexo político, mas dizem que está aberto.

…O imperador – ainda se intitulava o Imperador do Sacro Império – em Viena, era assim: Luís XVI tinha espiões junto aos irmãos dele que mandavam contar para ele o que os irmãos estavam tramando. E os irmãos eram menos moles do que ele, de maneira que passavam aos olhos dele como intransigentes e perigosos. Cada vez que Luís XVI estava informado do exército da mole energia dos irmãos, ele escrevia uma carta o Imperador que seguia por escaninhos secretos, contando: “Meus irmãos vão lhe pedir tal coisa, não atenda porque essa não é minha intenção”.

E sistematicamente, como a esposa dele era da família imperial da Áustria, eles tinham a confiança em Luís XVI, e faziam o que Luís XVI pedia. E todas as manobras dos que queriam salvá-lo eram desmontadas pelos bons ofícios dos espiões que ele tinha junto aos irmãos. E ele era um mole. Eu acho que esse mole fez mais a favor da Revolução, do que Danton, Marat, Robespierre e qualquer coisa.

Bem, restauram-se os Bourbons na França. Depois caem os Bourbons, 1830, sobe um ramo colateral da Casa de Bourbons, sobe um Orleans, Duque de Orleans ao trono. Bem, e a coisa continua e nesse 1830 se situa todo o episódio da Duquesa de Berry foi alguns anos depois, mas era nessa linha.

Bom, depois a coisa vai rolando de um lado para outro etc., etc., acaba indo até os Bonapartes de novo: volta Napoleão III ao trono. Depois cai. Quando ele cai o povo francês num élan único, restaura de novo os Bourbons no trono, Bourbon-Orleans.

Bem, por razões que seria muito longo estar dizendo aqui, afinal de contas quem é que acabou liquidando o caso? Tinha como Presidente da República, mas Presidente da República, quem é que tinha? Os senhores estão pensando que era um homem, não sei, da ralé do povo? Não, é um marquês. Marquês do interior, marquês da Bretanha, uma coisa assim, Marquês de McMahon. Bem, almirante e com certo prestígio militar. Ele com a condição de marquês e com o prestígio militar que ele tinha, sabotou inteiramente a restauração da monarquia. Ele era dos moles.

Ele era dos moles, os senhores sabem o que é que quer dizer? Ele era dos indecisos.

Guerras carlistas na Espanha, no século passado. Os carlistas eram os legitimistas e os outros eram o ramo que não tinham o direito ao trono enfim qualquer coisa assim, mas sobretudo um ramo de ideias liberais. Os carlistas tinham ideias conservadores, reacionários, contra-revolucionárias.

Os requetés carlistas conduzem uma luta heroica até as portas de Madrid. Chega lá, o pretendente ao trono carlista vai e cerca Madrid, e a cidade de Madrid dominada pelo pretendente liberal que se intitulava rei, e o pretendente legítimo com as tropas vencedoras na mão, vinham vencendo desde o norte até Madrid.

Chega lá, no dia que estavam esperando que ele ordenasse o ataque a Madrid, ele ordenou uma procissão com uma imagem de Nossa Senhora do Carmo em torno de Madrid, cantando músicas sacras etc., etc., etc. Eu desconfio que estava combinado com o governo de Madrid. Não fizeram reação nenhuma os que estavam dentro, não atiraram nem nada. Terminada a procissão, declaração dele: “Nós vamos nos entregar, porque eu pedi a Nossa Senhora do Carmo para derrubar as muralhas de Madrid. Se não derrubaram [caíram] é porque Deus não quis, vamos nos entregar”.

Mas ele sabia que tinha gente mole com ele ali e que ele querendo se entregar – “lo quiso el rey” – e tem que entregar. E o resultado é que a história da Espanha tomou o rumo que os senhores conhecem. São os moles.

Notas: Para ouvir ou ler mais análises do Prof. Plinio sobre a Revolução Francesa, clicar aqui.

Para aprofundar o conceito de "Revolução", aqui.

Igualmente muito útil é a leitura do artigo "Rumo firme, na nau da indecisão", publicado na Folha de S. Paulo (26 de julho de 1970).


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