Plinio Corrêa de Oliveira
Qual a causa profunda e frequente do uso de drogas e dos suicídios?
Auditório São Miguel, Santo do Dia, 30-8-1986, sábado |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
A projeção, lindíssima. O cântico, mais bonito ainda. Tudo estupendo! Sê-lo-ão as palavras que vão se seguir a isso? O fato é que cada um dá o que tem. E quando dá tudo quando tem, ele fez o que devia. E quem fez o que devia, agradou a Santíssima Virgem Maria. Portanto, está acabado. Fala-se de sofrimento, fala-se de dor. O que quer dizer, propriamente, o sofrimento e a dor? Como é que a pessoa sofre? O que acontece, em matéria de sofrimento, para uma pessoa? Quais são as dores que uma pessoa tem que sofrer na vida? Há adores que são extraordinárias, que acontecem para um homem; a Providência decidiu permitir ou dispôs que ele, em determinado momento, sofresse algo de muito duro. Então pode ser que alguém seja caluniado injustamente, pode ser que alguém, por causa disso, passe anos mal visto por todos aqueles a quem ele mais admira. Por exemplo, um padre cujo nome eu não me lembro mais... São Luís Grignion de Montfort o menciona como sendo teólogo de Maria magnífico e um grande devoto de Nossa Senhora - para mim isso tem um luzimento um pouco parecido com o de uma canonização; ser elogiado por São Luís Grignion enquanto devoto de Maria... é o auge dos auges. Com esse homem aconteceu- ele era um padre, um muito bom padre - estava um dia na sacristia atendendo o público, como faz o padre, quando entrou um menino qualquer desses que serviam à igreja, entrou um pouco na sala dele para nada, mexeu numa coisa qualquer e saiu correndo. E saiu pela rua, parece que havia uma praça, qualquer coisa na frente da Igreja, saiu gritando uma calúnia medonha contra o padre, que o padre tinha querido atentar contra a pureza dele. Bastou que esse menino - sem outras testemunhas - gritasse isso na praça que isso comoveu, produziu na cidade uma emoção extraordinária. Embora esse padre fosse um padre de vida muito digna, todos acreditaram na calúnia dele. E o bispo o privou dos cargos eclesiásticos, o deixou a pé. Ele tinha alguma coisinha com que viver. Durante 10 anos ele viveu no horror e na rejeição de todo mundo. Dez anos! Mas dez anos em que se podia temer que isso fosse uma vida inteira, porque podia ir até o fim. Quiseram acreditar, acreditaram; ele ficou com o peso daquilo sobre si. Um dia apresenta-se à sacristia, todo sorridente, o bispo, amável: - “Meu padre, faz favor, venha cá”. Ele se aproximou para beijar o anel do bispo, abraço etc., outros vem juntos etc., etc. Aquele menino maldito tinha ficado moço, tinha morrido. E, antes de morrer, diante de testemunhas, fez uma declaração de que ele tinha feito aquela calúnia pago, por uma corrente teológica - na aparência católica - chamada jansenistas, que havia naquele local e que, aliás, tinha se espalhado como uma lepra por toda Europa. Essa corrente se fazia de católica - nós estamos vendo isso à toda hora hoje... - se fazia de católica e não o era. E, para difamar esse padre que a atacava muito, um dos chefes dessa corrente deu dinheiro ao menino. E a calúnia foi como um mar sobre a cidade. E enquanto a Providência não dispôs que esse menino, depois moço, mal à morte, retificasse a verdade, ele sabia que ele não podia ir para o Céu se não retificasse, morreria em estado de pecado mortal, ali, com o Inferno diante de si, ele acabou confessando; o padre foi reabilitado. Mas foram 10 ano de vida tristíssima, de vida terrível! Então um homem que levava sua vida normal de padre, com os sacrifícios inerentes à vida de padre. Mas, de repente, caiu sobre ele como um raio que estraçalhou–o durante algum tempo. Pode acontecer. Eu já creio que narrei aqui a história da Madre Mariana de Jesus Torres (1), que foi aquela religiosa diante da qual se deu o milagre primeiro de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Quito, no Equador, e que foi eleita abadessa do seu convento. Uma vez eleita abadessa, ela começou a tocar com muita bondade - era uma pessoa de virtude eminentes, eu espero ainda a canonização dela - ela recebia visões, revelações etc., muito bonitas; ela começou tocar adiante o convento com bondade. Mas havia ali algumas freiras novas, que eram descendentes de índios. Mas como a Igreja manda, com toda sabedoria e toda razão, não fazer segregação racial, essas filhas ou netas de índio foram recebidas no convento. Mas elas, lá dentro, uma que tinha vontade de ser ela mesma abadessa, tramou a destituição de Madre Mariana de Jesus Torres. Tramou a destituição da Madre Mariana e a substituição por ela mesma, criando um choque entre as freiras índias e a freiras espanhóis ou descendentes de espanholas. Então saiu toda uma história, uma divisão entre elas, coisas e tal. E afinal de contas ou subiu essa revoltosa ou uma freira dependente dela, e a primeira coisa que fez foi mandar prender Soror Mariana de Jesus Torres na prisão do convento, porque naquele tempo os conventos tinham prisões. E ela ficou muito tempo presa, sem razão nenhuma, na prisão do convento. Durante esse tempo, a pão e água, com toda serenidade, ela rezava por alma de sua perseguidora. E a Providência deu a entender a ela que a alma dessa freira era tão ruim, estava tão comprometida que só havia um jeito de salvar essa freira: era Soror Mariana de Jesus Torres oferecer-se para - em espírito - passar cinco anos dentro do Inferno, sofrendo, inclusive, as chamas do Inferno, e chegando a baixar fisicamente até o Inferno. Uma coisa horrorosa! E ela contou depois que às vezes, enfim, durante esse tempo ela tinha a ideia de que ela estava condenada de fato, mas ao mesmo tempo tinha a ideia um tanto contraditória de que ela estava sofrendo isto porque era para salvar a alma da outra. E ela dizia assim: - “Se eu estou condenada, pelo menos que minha condenação sirva para salvar minha inimiga. Eu dou por bem empregado”. É belíssimo! Durante esses cinco anos ela sofreu barbaramente. Terminado o prazo, ela foi libertada, saiu do Inferno, voltou toda paz para sua alma; ela entendeu tudo quanto estava se passando com ela. E voltou à tranquilidade, foi eleita abadessa. Aí a tal freira adoeceu e ela tratou da tal freira com a maior bondade possível, de maneira que a tal freira acabou, no fim, pedindo perdão, que ela tinha andado mal etc., etc., pedindo perdão. E a Sóror Mariana de Jesus Torres teve a revelação de que a alma desta freira foi para o Purgatório onde tinha que ficar um prazo longuíssimo, se eu não me engano era até o fim do mundo; uma coisa de assustar! Assim ela salvou essa alma. Foi um sofrimento que caiu em cima dela e ela teve que aguentar. A Providência pediu e ela aguentou. Mas não é propriamente deste sofrimento que eu vou tratar. São sofrimentos terríveis, mas que podem acontecer. Eu me lembro que uma pessoa aqui em São Paulo, um médico até famoso, estava rico, estava assistindo a corridas; ele pôs o binóculo para acompanhar o percurso dos cavalos na pista da corrida, olhou pelo binóculo e viu os cavalos saírem. Em certo momento, não viu mais nada. Achou esquisito, tirou o binóculo, não viu mais nada. Estava cego de repente. E era uma doença que se chama deslocamento da retina e que, de repente, a pessoa fica cega. Ele era muito rico, contratou o maior oculista de São Paulo para ir com ele à Europa - os grandes centros médicos naquele tempo eram na Europa; a América do Norte se tinha destacado mais menos ainda - levou para a Europa para consultar os maiores oculistas da Europa, Para abreviar, ele morreu 20 anos depois cego, não tinha mais solução. Ele estava numa festa, assistindo, uma corrida, contente, puft! de repente cai uma coisa dessas em cima dele. Bem, mas não é disso que vou tratar. Isso e fácil compreender. São episódios que ocorrem na vida de um homem. Mas é um problema diferente. Todo homem, mesmo que não lhe aconteçam coisas assim, ele deve, na vida, sofrer muito. O curso comum da vida, para o homem que verdadeiramente quer ser católico, apostólico, romano, praticante e santificar-se, elevar-se a um belo grau de virtude, o curso comum da vida é cheio de sofrimento, primeiro ponto. Em 2º lugar, com este sofrimento é que o homem chega a ter a têmpera moral que ele deve ter. Em 3º lugar, ele se corrige dos seus defeitos. Em 4º lugar, com isto pode chegar até à santidade. De maneira que essas grandes tragédias, esses grandes sofrimentos com frequência acontece na vida dos santos, aparecerem santos a quem Deus os pede. Mas havia, não sei que teólogo do século passado, que dizia uma afirmação interessante: dai-me um frade que cumpre simplesmente a regra de sua Ordem e eu vos darei um santo. Quer dizer, basta simplesmente cumprir as regras de sua Ordem que é santo. Como? Sofrimento de coisas extraordinárias? Não. Aguentando o duro da vida! Mas aguentando como Deus quer. No que consiste isso? Como é esse duro da vida? E o seguinte: Vamos começar, tanto mais que os Senhores estão tão mais próximos do começo do que do fim, que as suas memórias só versam sobre um comecinho e um comecinho muito próximo. Falemos, portanto, desse começo. A criança começa a viver. Ela começa desde pequena a ser partilhada entre impulsos contrários. A criança, por um lado quer muito bem seus pais, gosta da carícia dos pais etc., etc. Mas de outro lado, os pais dão à criança ordens: “não faça tal coisa, faça tal outra, não faça tal outra”. E a criança, no momento em que o pai ou a mãe dá uma ordem, a criança pode querer bem o pai ou a mãe quanto quiser, põe-se para ela um problema: se você quer realmente bem seu pai ou sua mãe, você não fará o que eles estão proibindo, porque eles vão ficar tristes vendo você fazer isto. Agora, é muito gostoso, porque ninguém proíbe alguém de fazer algo que não seja gostoso. Porque se não é gostoso, a gente não faz. Se a gente faz, é porque acha gostoso. Recebeu a proibição, como é? É um não gostoso que se põe no caminho da gente. E vem uma escolha. O pai ou a mãe diz: você não suba nessa cadeira para pegar um brinquedo que tem em cima, numa prateleira; só suba tendo pessoa mais velha aqui. Do contrário, não dou licença. Por quê? Por uma razão evidente. Se subir, pode ser que caia, tem que fazer um certo esforço para alcançar o objeto, pode ser que caia e se machuque. Portanto, não pode fazer. A criança mais ou menos pega isso, o pai ou a mãe explica; ela mais ou menos entende isso. Mas, em certas horas, ela não tem o que fazer; olha para a prateleira e lá está o brinquedo. Vamos dizer um boneco. E ela fica louca para pegar no boneco, para brincar com o boneco. E não tem ninguém perto, o pai saiu, a mãe saiu, ele não tem ninguém perto de si... que tal se ele subir apesar do pai ou da mãe não querer? Aparece na cabeça dele uma porção de coisas: eles não estão aqui; quando voltarem, vão me ver brincar com o boneco. Mas eles nem se lembram mais se o boneco estava em cima ou estava embaixo. Eu empurro a cadeira de lado, aqui, subo, pego, depois coloco a cadeira no lugar em que estava e brinco com o boneco, e posso passar um tempo muito bom, porque eles me disseram que ficaria trancado nesse quarto umas duas horas antes deles voltarem, porque eles tinham o que fazer na rua. A criança ham, ham, ham... Em certo momento, a vontade de brincar com o boneco é tão grande, a criança pega a cadeira, sobe e pega o boneco. Desce e começa brincar. Na hora de descer da cadeira com o boneco na mão, a criança quase cai. A cadeira cambaleia, a criança tem um susto enorme, quase cai, ela dá um jeito, não cai. Começa a brincar. Depois do primeiro momento de brincar com o boneco, sobe uma questão à cabeça: eu deveria ter feito o que fiz? Está ali o boneco, está uma reflexão desagradável. A reflexão é: eu fiz bem ou fiz mal? Mamãe vindo, se ela perceber que eu estou com o boneco aqui, ela é capar de perceber que o boneco estava em cima, é capaz de lembrar que o boneco estava em cima, e percebe minha desobediência. Quem sabe se era melhor eu desobedecer uma segunda vez e agora pôr o boneco lá em cima? Eu estava proibido, no fundo, de subir naquela cadeira sem gente mais velha perto. Já andei mal uma vez. Quem sabe se, para evitar o castigo, quando faltar mais ou menos uma meia hora para eles voltarem, eu subo e coloco o boneco lá... Não! Agora que você andou mal, aguente. Brinque com o boneco, mas quando eles vierem diz: olha, perdoe, eu fiz isso assim com o boneco. Eles vão zangar com você, vai ser uma coisa desagradável. A criança pára e diz? Por que pensar nisso tudo? Não valeria a pana não pensar nisso e brincar com o boneco? Falta uma hora e meia para eles voltarem. Quando faltar uma hora e 15 minutos, vou resolver esse problema. Agora vou brincar. Daqui a pouco a criança está brincando, volta o problema à cabeça: e como é que vai ser? Acha desagradável, e ficam três convites para a criança: 1) agir bem, quer dizer, contar para os pais; 2) resolver agora mal, resolver: eu vou desobedecer mais uma vez e vou colocar i boneco lá em cima; 3) eu não vou pensar no problema a não ser na última hora e vou gozar a vida. Esse problema do boneco, conforme a psicologia da criança, não pode estragar a tarde da criança? Pode estragar. A criança pode pensar: era melhor eu não ter desobedecido. Sabe de uma coisa, eu nunca mais vou desobedecer. Mas depois a criança pensa: é verdade, mas a vida fica tão “pau” [cacete] se eu nunca mais desobedecer que eu, de vez em quando, vou desobedecer. E a criança acaba traçando um programa de vida. O que a criança fez? É uma criança que pode ter 4 anos, 5 anos. O que ela fez? Ela traçou um programa para sua própria vida. Ela escolheu entre o prazer ou a dor. Bem, vamos dizer que a criança desobedece, coloca o boneco em cima, os pais não percebem, chegam, encontram a criança alegre, a mãe trouxe um docinho, o pai trouxe uma revista não pornográfica, direita, para a criança brincar, agradam a criança e a vida continua. Mais tarde a criança pensa: está vendo? Vale bem a pena enganá-los. E ganhei presentes, fiz o que eu não devia, mas passei uma tarde gostosa. Eu fico vendo... às vezes pode ser que dê errado, mas tantas vezes dá certo, que eu vou fazer. E pode começar uma dobra no espírito da criança por onde vai ficando cada vez mais difícil para ela andar direito, e cada vez mais fácil andar mal. Ela vai inventando jeitos de desobedecer, vai inventando habilidades para desobedecer, ela vai inventando modos, idéias novas, outras travessuras para fazer porque são mais gostosas ainda; quer dizer, desobediências ainda maiores, mas por onde ela, por meio de um pecado, pecado venial, pecado de criança, ela compra um prazer. E ela vai se marcando cada vez mais. Vamos ver o futuro da criança. Esse mesmo menino chega, primeiro, praticando sempre o bem e nunca mais desobedecendo, uma hipótese. Outra: praticando sempre o mal e desobedecendo. De duas maneiras: ou desobedecendo e pensando: eu quero fazer! Ou não pensando, mas no fundo fazendo o mal do mesmo jeito. Mas faz o mal. Agora, eu pergunto: chega aos 10 anos, mais ou menos, começa a crise da puberdade. E se apresenta a primeira tentação contra a pureza. Qual das duas crianças está preparada para travar a grande batalha pela pureza? E a criança da travessura? A criança da travessura seguiu a escola do prazer. A criança, pelo contrário, séria, que pensa nas coisas direito, ama a verdade e quer ver como andou mal desobedecendo, essa criança, se apresenta a tentação da impureza, ela diz: isso não pode ser! Reage e não peca. Mas a outra criança, é ou não é verdade que há 99% de probabilidade sobre 100 que se apresente o prazer da impureza e a criança peca? Ela não está habituada a se recusar nenhum prazer. Toda vez que aparece um prazer, ela pega. No momento que aparece um prazer que põe os homens muito mais seduzidos do que brinquedos de criança, ela está muito menos preparada para resistir àquela pressão. Resultado: pum, lá vai. E ela vai ser um homem impuro, porque foi uma criança que não quis a dor. Essa criança deveria ter sido séria, não deveria ter levado as coisas de brincadeira, deveria ter raciocinado o mal que está fazendo: eu não quero o mal, quero bem. Percebo que vou por uma via ruim, que vai levar para o Inferno; não quero isso. Eu amo aos meus pais, mas sobretudo amo a Deus, amo a Nossa Senhora, não quero ofendê-los. E, por causa disso, não vou fazer! Começa uma luta. Essa criança dá depois uma criança forte. Ela lutou, lutou contra si, ficou forte. Se ela vencer a crise da pureza, ao cabo de ter feito a batalha da pureza, ele dá mais do que isso: dá um herói! O homem que nunca pecou contra a pureza pode dizer: Graças à Nossa Senhora, pelo favor que Ela me obteve de ter a graça de Deus, eu sou um herói! Se a criança pecou contra a pureza, pode dizer: eu sou um pecador regenerado. A graça de Deus pousou sobre mim, arrancou-me do charco imundo onde eu estava, levantou-me. Minha alma hoje é pura, graças a Deus. Nossa Senhora, Virgem Puríssima, rogai por mim! Ela teve queda, mas é como um osso. Os senhores já viram um osso partido quando se consolida. No ponto onde ficou consolidado, fica mais forte ainda do que nos outros pontos. Ali também: aquela pessoa caiu contra a pureza, fica mais forte porque ela praticou depois a pureza. Arrependeu-se e praticou a pureza. Ao fim de uma longa vida, 80 anos - que sei eu? - se a pessoa viveu sempre assim, ao morrer, os braços de Deus estão abertos para ela. Nosso Senhor Jesus Cristo lhe sorri, ela vê no peito de Nosso Senhor Jesus Cristo o Sagrado Coração que pulsa de amor por ela. Nossa Senhora a afaga e conduz junto a Ele. O Anjo da Guarda canta, há uma alegria em toda corte celeste por uma alma que entra para o Céu. O objeto dessa alegria é ele, porque no fundo ele compreendeu que toda a prática da virtude é um dizer “não” para si mesmo, em 100 pontos dizer “não” a si mesmo e dizer “sim” para a voz da graça que nos convida a cumprir o dever. A graça diz no interior da criança: obedece seu pai. A criança tem vontade de obedecer. Obedece sua mãe, obedeça a Deus que diz: honrai pai e mãe. A criança acaba tendendo a isso. Depois ela vai se fortificando, outras tentações, ela vai resistindo. Por exemplo., uma criança que aprende a não brincar com os brinquedos que não deve brincar, aprende também a estudar nas horas que deve estudar. É claro, porque uma coisa é reversível na outra, evidentemente. Aprendendo a estudar nas horas em que deve estudar, ela vence a preguiça de pensar, e ela vence a preguiça do trabalho mental, dá uma pessoa que gosta de ler um livro, gosta de estudar uma doutrina, pode dar um homem inteligente, pode até dar um homem célebre, pode dar um defensor da Fé! Se a pessoa não estuda, fica com preguiça de estudar... eu conheci um caso assim: conheci esse menino quando eu era menino. Ele batia na testa e dizia: “Eu sou burro! Mas não tenho culpa de ser burro”. E pedia para os colegas para fazerem a composição para ele, para ele copiar com a letra dele, para passar no exame. Os colegas faziam. Mas eu, que conhecia bem a ele, sabia que ele era burro de preguiça, porque era meio burróide, mas se ele fizesse esforço, podia dar uma pessoa razoável. Ficou fadado a ser burro a vida inteira de preguiça. Então, dizer “não” nas ocasiões desagradáveis, quer dizer, na ocasião em que, por exemplo, eu sou obrigado a estudar. Eu me lembro as dificuldades que eu tive para estudar. Se os senhores pensam que eu tive facilidade para estudar, os Senhores estão enganados. Algumas matérias, uma tal ou qual facilidade. Outras, uma relutância! Creio que já disse aqui: matemática, geografia, e certo gênero de coisas... física, química, história natural, uma coisa aborrecidíssima! Mas era obrigado a estudar, acabei estudando. Que remédio? Eu detestava, mas tem que estudar, está acabado! Estudei. Até hoje eu me lembro de uns fiapos que eu estudei naquele tempo... Bem, se a criança é solicitada a não estudar, a preguiça leva a criança e não estudar, mas a criança diz: é meu dever, eu faço! ela se fortifica, e abre para si um caminho de luz. Se, pelo contrário, ela diz: não, eu vou ceder, agora não estudo, isto é uma porcaria, eu vou passear. Vai... Chega na hora do exame, é uma porcaria, “leva bomba” [é reprovado, n.d.c.], perde um ano, perde dois anos da vida, briga em casa, revolta com os seus, encrenca, pecado contra a pureza para se consolar da vida desastrada que tem... lá vai uma coisa atras de outra. Sabem qual é o resultado? Não sempre, mas muitas vezes, num número de vezes maior, é a droga. E, na vida moderna isso de põe de tal maneira que nunca na História o número de suicídio entre crianças e mocinhos foi tão grande como em nossa época. Por quê? A nossa época convida o prazer de todos os modos possíveis. As pessoas aceitam e muitos cedem e ficam com a noção do próprio fracasso: Fracassei, não dou nada, não vou ser nada, a vida não é nada. Olha aqui, pega essa droga, vou tomar. Ao menos ali eu saio da realidade e gozo a vida como posso... O que é? Uma coisa traz outra, traz outra. Tomou o hábito de não dizer “não” para as tentações, aquilo é uma rampa. Vai, vai, vai, ninguém sabe até onde ir. Mas depois isso se repete a vida inteira. Porque quando chega mais ou menos entre os 24, 30 anos - se quiserem entre 25 e 35 anos - aparece um outro tipo de tentação. As tentações contra a pureza continuam, mas aparece um outro tipo de tentação. Moço, homem feito, vê os de sua idade que estão fazendo carreira; um já é um médico ilustre; outro é um estudante que recebeu um prêmio para fazer uns estudos não sei em que universidade da América do Norte ou da Europa, e volta laureado, já vai para um hospital onde ele vai ser cirurgião de não sei o quê; ou é um grande advogado que faz discurso e que tira os criminosos da cadeia - coisa de um mérito muito relativo... enfim -, quando ele vai defender no júri, a sala se enche de gente que vai só para vê-lo falar. Ele fala, defende etc., etc., aplausos gerais e tal. No fim, o réu é absolvido por causa da eloquência dele. Então ele vai para o banco dos réus e felicita o réu, abraçam-se, ele sai de braços com o réu, o povo todo ahhh! Ahhh! Coisas, coisas a vida é cheia de coisas dessas. Bem, ele vê aqueles que vão para frente, percebe, ele não vai para frente ele está parado. Por quê? Eu conheci um professor público no Paraná, em Curitiba, que eu tive que visitar por essas, aquelas circunstâncias. O pobre homem levou-me para a casa dele. Eu propus para ele certas atividades católicas etc., ele me disse: - “Dr. Plínio, não vale a pena o Sr. me propor nada. Eu vou lhe dizer quais são as minhas condições. Eu sou católico praticante, nunca quis assumir compromisso com ninguém, e estou num estado de pobreza em que eu estou imolando minha vida por minha família, para acabar de educar meus filhos. Porque meu médico me disse que para eu não morrer do coração de uma hora para outra, eu preciso diminuir o número de minhas aulas pela metade. Se eu diminuir o número de minhas aulas pela metade, meus filhos não podem formar-se. Custa dinheiro. Eu quero que eles estudem numa boa faculdade. E eu então estou carregando o dobro de trabalho que meu coração permite. E, portanto, vou viver metade do resto de minha vida, a metade da vida que me resta viver. O Sr., depois disso, me aconselha a tomar mais algum encargo de apostolado, ou qualquer outro?” Eu tive vontade de dizer para ele: Professor, reze por mim! Porque é uma coisa tão respeitável que a gente respeita, venera um homem que faz esse sacrifício. Bem, depois eu não soube o que foi feito desse homem. Os senhores compreendem o sacrifício que uma coisa dessas pode significar? Esse é o caminho da dor, esse é o caminho do sofrimento. Não é indispensável que sobre um homem desses caia uma grave doença, ou uma cegueira, ou uma coisa qualquer assim, não é indispensável não. Ele que cumpra bem os Mandamentos, cumpra bem a Lei de Deus, que ele vai encontrar em nossa época tantas dificuldades que a perseverança é um heroísmo. Ele vai ter que rezar muito, ele vai ter que refletir muito para se manter no bom caminho, ele vai ficar um homem sério. E ainda que os homens o desprezem, ainda que façam pouco do talento dele, façam pouco de tudo, desde que ele diga: “eu me imolo por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Qual morreu por mim na Cruz, e vamos para frente!” esse não vai só para frente, ele vai para cima! Os Senhores me dirão: - “Depois, Dr. Plinio, há recompensas nessa vida mesmo. Um homem desses é pelo menos um pai tão venerado pelos seus filhos que seu lar modesto se torna para ele um pequeno paraíso”. Não se iluda... Na maior parte dos casos, não é isso. Na maior parte dos casos os filhos caem debaixo da influência da Revolução. E, debaixo da influência da Revolução, eles ficam com raiva do pai que dá a eles exemplo em sentido oposto. Essa é a realidade! Eles seguem um caminho, o pai segue outro caminho. E o pai ainda tem o desprazer de ver a ingratidão daqueles pelos quais ele se imolou. Não faz mal! Ele morre abandonado por todos, incompreendido por todos, foi como Nosso Senhor Jesus Cristo! E, sendo assim, ele se imola de tal maneira que, no momento de ele morrer, ele pode dizer em união com Nosso Senhor: “Consumatum est”. É evidente. São Paulo Apóstolo, antes de ser degolado, teve essa oração: “Eu combati o bom combate, eu percorri toda a pista que eu tinha que correr. Senhor, dai-me agora o prêmio da Vossa glória”. Segundo uma linda lenda, o prêmio da glória ele não viu na Terra, ele só viu no Céu. Mas os que assistiram a morte dele, viram na Terra. Ele estava ajoelhado diante de um tronco de árvore, uma pedra, qualquer coisa assim, e o carrasco bateu com a espada sobre a nuca dele, para matá-lo, com tanta força que a cabeça dele saltou longe. A cabeça saltando, pulou 3 vezes. De cada um dos lugares onde ela bateu no chão, nasceu uma fonte. Ali há uma igreja, que eu creio que é dedicada à São Paulo: “Tre fontane” [em Roma]. A Igreja das três fontes. É aquela cabeça abençoada, golpeando a terra três vezes. Mas é o milagre que mostrou aos homens para todo o sempre como Deus amou aquela alma que esteve na Terra. Então nós não devemos fazer uma ideia moleirona, que nos vem depois de uma consagração. Às vezes vem. Mas a gente não deve fazer isso por causa dessa consolação. Deve estar pronto para a ideia que não venha, que venha ingratidão e incompreensão. Apesar disso, eu farei! Esse é o caminho da seriedade, esse é o caminho da dor. Fazer sempre aquilo que é o dever, ainda que doa, ainda que sofra, fazer e fazer logo, e fazer bem feito. Não choramingar! Nunca tenham pena de si mesmos! A pena de si mesmo é o começo da moleza. Se um homem começa dizer: “pobre de mim!...” Eu tenho vontade de dizer: é pobre mesmo, porque agora você perdeu todo o mérito anterior. Não tenha pena de si mesmo! Meta o peito por cima da espada da dor! Custe o que custar, dê no que der, faça! O seu prêmio no Céu será enorme. Bom, Nosso Senhor Jesus Cristo disse, entretanto - para os meus ouvidos, pelo menos, isso tem um som até poético – “Ego ero merces tua magna nimis”. “Serei eu mesmo a vossa recompensa demasiadamente grande” (Gn 15, 1). E fez uma promessa: “Aquele que abandonar tudo na Terra por amor de Mim – vejam a promessa curiosa – terá o cêntuplo nessa vida e depois a vida eterna”. Um dos Senhores poderia me dizer: - “Dr. Plínio, da descrição que o Senhor faz, onde é que está o cêntuplo desta vida? Não está, está só a dor”. Eu digo: Meus caros, está tarde, mas vou arranjar um jeito de resumir o que ainda tem que ser dito, para os senhores ficarem com uma visão completa da coisa. As coisas são assim. Essa é e dor e a luta do homem que anda bem. Como é a vida do homem que anda mal? Como é a vida do homem que anda mal? Na aparência pode ser uma vida cheia de delícias, mas acontece uma coisa curiosa na alma do homem que traz consigo, na Terra, os castigos das delícias que ele arranjou: é que cada vez que um homem tem uma delícia, ele fica com uma vontade de uma delícia maior. Qualquer que seja a delícia. E quando aquela delícia maior não lhe acontece, ele sofre. E cada vez que ele consegue mais alguma delícia, ele sofre porque não tem outra, e não há o que baste. Eu dou um exemplo: imaginem que o tal homem tenha se prostituído e tenha entrado para onde não devia. Pouco depois estaria fazendo dinheiro, ele tem um Mercedes. Ahhh! A chegada do Mercedes em casa, ele que vai pegar o Mercedes na loja. Depois, para prestigiar-se na família, ele diz: “Passarei aí por casa, pego todos e vamos jantar juntos num grande restaurante”. Para a mulher: “Fulana, vista-se bem, porque aquilo é um restaurante onde você nunca foi, hein”. “Fulanos, fulanos, fulanos, preparem-se, todos com bom apetite. A tal hora apareço com o Mercedes e vai tudo jantar comigo no restaurante”. Prestígio, porque na hora isso dá prestígio. Ele passa, vão todos juntos para o restaurante. Comem, divertem-se etc. Chega em casa, o sujeito recebe as cartas do dia. Vê nas cartas do dia um convite, mandado só aos homens ricos da cidade. Convite: “Foi preparado um cruzeiro magnífico no melhor hotel flutuante que há no mundo. É o cruzador Queen Elisabeth, o maior navio de passageiros que foi construído até hoje, e nesse navio todo o luxo moderno, todas as delícias da vida, é uma coisa extraordinária”. O homem se lembra que ele, à tarde, conversando com um colega, o colega perguntou: “Por que você não vai com sua família ao passeio do Queen Elisabeth?” E ele para isso não tem dinheiro... A mulher dele, quando ele chega em casa, diz para o marido, como se fosse por acaso: “Fulano, vamos fazer um passeio no Queen Elisabeth”? Eles dormem amargurados porque não têm o Queen Elisabeth; quando há um ano atrás eles não tinham a não ser um automóvel qualquer, um Volkswagen qualquer para se deslocar de um lugar para outro, e com cuidado, andando pouco para não estragar a máquina. O marido passava a manhã de Domingo limpando o Volkswagen como se fosse uma criança, e ainda ele mesmo consertando o Volkswagen. Um ano depois ele tem uma Rolls-Royce. E porque ele não pode fazer uma viagem verdadeiramente fabulosa pelos pontos mais bonitos da Europa e depois do Oriente Próximo e ao cabo de seis meses estar de volta, ele sente a amargura que ele tinha, no tempo que ele não tinha o Volkswagen para andar. Porque isso é continuamente assim... Às vezes a gente sente isso na própria pele. Porque cada um de nós, em proporção maior ou menos faz papel do homem de Rolls-Royce em comparação com outro mais pobre. É possível que nenhum dos senhores tenha tido uma Rolls-Royce, ou uma Mercedes. Não vejo muitos sinais... (risos) É possível, portanto, mas todos os senhores conheceram meninos mais pobres, que olharam para os senhores assim! Para esses meninos, se eles tivessem o que os senhores tinham, era como o Mercedes para os senhores. Mas os senhores tinham tudo o que aquele menino tinha e não se sentiam felizes. É uma reflexão que eu várias vezes fiz por causa do bairro em que eu morava. No bairro em que eu morava tinha casas muito boas e tinha casas muito modestas, até de operários. E minha casa ficava em frente a uma fila de casas de operários. Tinha do lado de fora uma escada. Eu muitas vezes subia ou descia aquela escada, porque entrava e saía de casa. E eu era muito barulhento, cada vez que saía de casa, batia a porta. Uma certa senhora não gostava, mas eu fazia. E descia também estrepitosamente a escada. Era barulhento por natureza. Bem, quando eu saía, uma pessoa ou outra na casa operária metia a cabeça de fora para me ver sair. Às vezes era uma velha, às vezes era uma mocinha querendo casar com um moço rico, às vezes era um rapaz da minha idade que se deslumbrava de ver o luxo que eu tinha. Mas de fato meu luxo não era nada, porque eu era o mais pobre da roda de amigos que eu frequentava, e era uma regra de três: ele queria ter o que eu tinha, como eu queria ter o que o outro tinha, mas o outro queria ter o que o outro tinha. E jamais se sacia isto, é uma fome que ninguém mata, uma sede que ninguém mata. Assim também é com a impureza. Com a impureza dessa maneira: cada indivíduo pensa que ele, conquistando tal mulher, a partir daquele momento ele vai ser feliz. Uns meses depois, está tudo dado em água de barrela. E se ele se casou, ainda é mais difícil (2). Os senhores sabem o que é algemas, não sabem? Os senhores sabem em espanhol como é... muitos são hispanos devem saber bem, como se chama algema em espanhol. Disseram-me que é “esposa”. (risos) Coisa bem achada, coisa bem achada. O sujeito diz: - “Vou meter minha mão nessa algema agora, a felicidade fica agarrada a mim”. Experimente um pouco para ver no que é que dá... É evidente. Quer uma, quer duas, quer 50, nenhuma basta! O maior aventureiro que houve na História, o homem mais imoral, famoso por suas conquistas e tal, foi um tal Casanova. Ficou velho, ficou gasto, sem dinheiro, gastou tudo em porcaria, arranjou jeito de ficar bibliotecário num velho convento. E ali uma pessoa que sabia que ele estava trabalhando lá, foi uma vez conversar com ele para ele contar as coisas dele, a vida dele. Ele contou e disse o seguinte: - “Quer que eu lhe diga uma coisa? Foi uma vida de desilusões e de tormentos. Se quer um homem que foi infeliz, sou eu, o famoso homem que conquistou todas as mulheres”. Quer dizer, a infelicidade do filho das trevas é maior do que a infelicidade do filho da luz, porque o filho da luz tem, na sua infelicidade, a alegria da consciência tranquila; é a alegria que ele tem. O filho das trevas, o que é que tem? A recriminação da consciência que a Escritura compara a um verme roedor. O medo da morte que pode vir de uma hora para outra. E, além disto, a frustração nesta vida. O que tem esse bom professor com quem conversei? Ele pode ter todos os desapontamentos, pode ter todas as decepções, passar a vida atracado na dor carregando sua cruz, mas uma coisa ele teve: a certeza de que ele fará a vontade de Deus, que Deus o está abençoando do Céu, a consciência tranquila, e a certeza do Céu! Os senhores prestem atenção nas Vias Sacras bem feitas. Leiam no Evangelho a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Senhores verão que não há um momento em que Ele tenta tirar o corpo da dor, não há um momento em que Ele está tomando um jeitinho, não há um momento em que Ele está adotando um jeitinho para ver se sofre menos. Ele vai, vai, vai para frente, não pára nenhum instante. E três vezes Ele cai sob o peso da Cruz, porque não aguenta mais. Respira um pouco, volta um pouco de fôlego, levanta e continua. Quando Ele chega ao alto do Monte Calvário, dir-se-ia que não tem mais nada para sofrer. Nessa hora Ele pode deitar-se um pouco. Deita sobre a Cruz... E começa o pior: cravar pregos aqui e aqui. A coroa cheia de espinhos, sangue vertendo, sede tremenda, porque quem perde muito sangue fica numa sede tremenda - nos hospitais isso todo mundo sabe, dá uma sede tremenda - e é erguido no alto da Cruz. E começa o peso do Corpo a rasgar os tendões, a mão a se crispar, os pés estão pregados e Ele procura se apoiar. Em geral, nas cruzes se põem assim um pauzinho para o apoio dos pés dEle. Mas não é a realidade. Os pés ficavam torcidos e pregados com a palma do pé na Cruz, e com um prego atravessando os dois. E Ele se apoiando no prego, Ele sentia dor ali. Então, para sentir menos dor lá, Ele era obrigado a fazer uma força com as mãos para se soerguer um pouco, sentia dores nas mãos, perdia o aprumo e voltava para o prego. E era aquele pêndulo de dor o tempo inteiro. O tempo inteiro cumprindo o Seu dever e marchando resolutamente para o fim! Ainda organizando o que Lhe restava. Restavam-Lhe a Mãe e o discípulo bem amado, São João, que estavam ao pé da Cruz. Ele disse para Ela: - “Mãe, eis o Teu filho. Filho eis a tua Mãe”. Como quem diz: “Eu vou deixar a Terra, mas quero deixar minha Mãe nas mãos virginais deste meu apóstolo casto”. O Evangelho diz que a partir desse momento São João A tomou como Mãe. Afinal, Ele ainda perdoa o Bom Ladrão. E Ele faz uma predição ao Bom Ladrão, que é sua própria canonização, e que indica o oceano de esperança que havia na alma dEle ao mesmo tempo que uma dor sem fim. Qual era o oceano de esperança? O que Ele disse ao bom ladrão? “Hoje estarás comigo no Paraíso”. O que queria dizer: hoje estarei no Paraíso. E perdoou o bom ladrão. Depois Ele disse a palavra de sua própria liberação: “Consumatum est”. Sua alma santíssima desprendeu-se do Corpo, Ele morreu e acabou a Paixão. Ele desceu ao Limbo, recebido com uma alegria sem fim por todos os justos que estavam lá; anunciou que tinha havido a Encarnação, tudo, tudo, explicou etc., etc., e depois subiu com eles ao Céu. Aí está. Ressurgiu e subiu ao Céu. Bem, quanta alegria no meio da dor e com a dor! E isto é o que os senhores não devem esquecer. Esta é a serenidade, a força, a alegria daquele que procura unir-se a Ele e unir-se a Ela. Uma vez eu encontrei um homem que tinha feito carreira. Eu tinha sido eleito deputado, não fui reeleito e tinha aceito dois empreguinhos para manter a minha mãe. Eu vinha do lugar onde eu tinha dado aula, e há uma continuação da Av. Ipiranga, onde ela entronca com a Rua da Consolação. Naquele tempo aquilo acabava de ser aberto, e havia ainda pouco trânsito lá. Eu vim andando e, de longe, reconheci um colega deputado que estava fazendo um carreirão. Encontramo-nos e paramos para falar. Abraçamos, ele era um homem muito cordial, abraçamo-nos e ele me perguntou alguma coisa de minha vida etc., eu disse. Depois nos despedimos, ele tocou para o lado dele, eu toquei para o meu. E eu pensei: ele tem o que ele quis, mas eu tenho o que eu quis. Um dia ou dois depois, lendo no jornal, falecimentos: deputado fulano. Morreu chegando em casa e dando um tiro na cabeça. Minha ilusão: aqui está um homem feliz; pela fé eu sei que não é, aparências humanas todas, um homem feliz. Com certeza ele se despediu de mim pensando: “o Plinio é que escolheu o caminho da felicidade”. Meus caros, julgo assim ter atendido ao pedido, e até contei um fatinho no fim. Vamos rezar. Notas:
(1) Para conhecer a
biografia de Sor Mariana de Jesus Torres, a quem Nossa Senhora do Bom
Sucesso apareceu em Quito (século XVI) e mencionada nesta
conferência,
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