Plinio Corrêa de Oliveira

 

Qual deve ser a consideração central

da Semana Santa?

 

 

 

 

Santo do Dia, 26 de março de 1986

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Nós vamos, agora, à Semana Santa. Amanhã é Quinta-feira santa: o dia da instituição da Sagrada Eucaristia; o da Santa Ceia; o dia em que começa a Paixão de Nosso Jesus Cristo; o dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo lava os pés dos Apóstolos; em que lhes perdoa, portanto; o dia em que Judas rompe com o Colégio Apostólico, e o Evangelho diz muito expressivamente: “Era já noite” (cfr. João 13, 30). Noite... que noite! E Nosso Senhor começa Sua Agonia no Horto e daí toda a sequência de acontecimentos ao mesmo tempo sublimes e dramáticos em que a piedade católica se compraz em reconsiderar todos os anos.

Nós devemos levar para essa ocasião uma compaixão pelo que aconteceu com Nosso Senhor.

Mas nós não devemos nos esquecer do seguinte... eu acho que deve ser a consideração central da Semana Santa: Nosso Senhor sofreu nessa ocasião muito mais pelos pecados dos homens do que pelos sofrimentos físicos que lhe eram infligidos.

Se Ele estivesse numa fogueira, sofrendo, portanto, o suplício de ser queimado vivo. Imaginemos, paradoxalmente, uma fogueira que O queimasse durante horas e horas, mas Ele soubesse que em torno d’Ele, genuflexa, havia uma multidão contrita de dor, que os próprios autores desse crime estavam contritos de dor. E que ao longo dos séculos não se pecaria mais, porque Ele tinha sacrificado a sua vida, o seu sofrimento seria muito menor do que o que Ele teve! A dor física seria tremenda. Mas a Sua dor maior foi a dor moral; ver, apesar de Seu Sangue Divino vertido por nós (Deus Nosso Senhor, Ele era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade humanada), ser injuriado durante séculos e séculos, apesar desse Sangue vertido. Ver os pecados que se cometeriam. E ver de tal maneira os pecados subirem, subirem, subirem, que Ele chegou a perguntar-se: Quae utilitas in Sanguine Meo? Qual a utilidade que há no meu Sangue? Por que estou padecendo tudo isto?

Há alguma coisa dessa pergunta no momento lancinante em que Ele bradou: “Deus meus, Deus meus, ut quid dereliquisti me?” (Evangelho do Domingo de Ramos, segundo S. Mateus). Meus Deus, Meu Deus, por que Vós me abandonastes? Como quem diz: este sacrifício todo, por quê, ó Meu Deus?!

De fato, estas palavras iniciam um Salmo profético da Ressurreição. E a continuação do sentido é que Ele ressuscitaria etc.

Ele viu nossos pecados, Ele viu o pecado da Revolução. Ele viu este pecado de Revolução que se está cometendo no Brasil, que é a Reforma Agrária (acompanhada das outras reformas que já estão entrando). Ele padeceu por tudo isto, como padeceu pela Revolução no mundo inteiro. Isto foi o que Ele viu.

Nessas condições, Nosso Senhor sofreu e deseja nossa reparação, deseja um ato de amor e deseja um ato de indignação!

Se eu tenho um pai que está sendo esbofeteado, eu olho com uma cara mansa para os que o esbofeteiam... Eu não estou amando meu pai! Eu devo indignar-me, eu devo protestar, devo interpor-me entre o que o ataca e ele. “Não senhor, isto é comigo! Eu assumo para mim essa situação! Quem está na luta sou eu!”

Nós devemos lamentar que o mundo inteiro esteja nessa situação. Nós devemos lamentar que nós mesmos não tenhamos a postura de alma integralmente assim, que a fidelidade e o agradecimento a tantos dons exigiria.

Então nós devemos pedir perdão por nossos pecados individuais. Nós não podemos apenas apresentar aos pés da Cruz os pecados da humanidade, mas nós fazemos parte da humanidade. E devemos pedir perdão pelos nossos pecados individuais.

Mas, ao mesmo tempo, apresentar o Sangue de Cristo e as lágrimas de Maria ao Padre Eterno como modo de agradecer o benefício inestimável que nos fizeram, de que nós fizemos parte dos que foram escolhidos por Nossa Senhora e por Ele, dos que disseram “sim”... “Sim” mais forte, “sim” menos forte. “Sim” mais puro, “sim” menos puro. “Sim” mais durável, atuoso, cheio de entusiasmo. “Sim” mais à la Nicodemos e a José de Arimatéia, mas, enfim, dissemos “sim”! E aqui estamos aos pés da imagem de Nosso Senhor Flagelado, aos pés da imagem de Nossa Senhora, aqui estamos para rezar, para pedir, para suplicar que perdoe os nossos pecados e faça de nós aqueles homens de Deus dos quais diz bem Dom Chautard que contra eles nenhum homem resiste.

Se houvesse na Terra muitos homens de Deus, muitas almas interiores que sacrificassem tudo para serem puras, que sacrificassem tudo para não pecar de respeito humano, de orgulho, de vaidade, de comparações, de rivalidades etc., se tivéssemos disso em grande número, a face da terra se renovaria!

Peçamos para ser desses. Com um pensamento que a mim sempre me fez muito bem e que eu quero que os senhores o considerem porque poderá, eventualmente, fazer-lhes bem também: para quem tem nossa vocação, não há alternativa: é isto de renunciar ao amor-próprio e sequela, de renunciar à impureza e sequela, ou ser palhaço! E o pior [tipo de palhaço]: palhaço aos meus próprios olhos!

Eu aqui estou aqui falando estas palavras... Elas só conseguirão fazer algum bem na medida em que eu for um homem puro, um homem sem amor-próprio, sem orgulho etc.

Eu vou para minha casa, agora. Daqui algum certo tempo, afinal, vou começar a descansar. Se eu falei, se eu pronunciei estas palavras com o coração reto, se eu tenho consciência de que combati a impureza neste dia, se eu combati o amor-próprio, o orgulho, eu posso deitar o meu corpo exausto e dizer:

Senhor, aqui está. Quando o cansaço se evolar do meu corpo pelo repouso, é como um sacrifício que sobe a Vós. Queirais recebê-lo em odor de suavidade diante de Vós. Maria Santíssima, intermediária de todos os homens junto a Deus, dai ao meu sacrifício o que ele não tem, para que Deus o tenha por agradável!

Cerro os olhos e durmo tranquilamente.

E esta prece deve recitar cada um dos senhores, mentalmente, interiormente, deve recitar esta prece. E ao dormir, poder dormir assim.

Se não for isso, o que é que eu fiz?! Renunciei a quantas comodidades, a quantos prazeres, quantas vantagens na vida, e não fiz apostolado! Levei uma vida dura e difícil, mas fui vaidoso, fui orgulhoso, e no fim do meu dia, eu gastei o tempo que me deu... de que Deus me deu, fazendo uma comédia de apostolado! O que é que eu fui? Palhaço!!

Meus caros, tomai isso bem em consideração!

É terrível a nossa situação. Recebemos uma opção admirável, e pusemos nossos passos ao longo do caminho certo. Mas, neste caminho certo, temos que levar a mente acertada e o coração certo.

Peçamos isso a Nossa Senhora preparando-nos para a Semana Santa, com esta jaculatória que se rezava no começo de todas as Vias Sacras:

Adoremus Te, Christe, e benedicimuo Tibi,

Quia per canctam crucem tuam redemisti mundum.

Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos,

Porque pela Vossa Santa Crus redimiste o mundo.

E eu acrescento:

Nossa Senhora das lágrimas, Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!

Entremos com ardor na Semana Santa!

Salve Regina, Mater misericordiae...

Nota: Para tomar conhecimento de outras matérias de Dr. Plinio com reflexões para a Semana Santa, clique aqui


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