Plinio Corrêa de Oliveira

 

Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

e o prêmio da confiança

 

 

 

 

 

Auditório São Miguel, 9 de fevereiro de 1985 (parte final)

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

 

Aquilo me encheu a alma, eu compreendi: "é preciso mais confiança! Plinio, anima-te! Nossa Senhora te ajudará! Dize a Ela: Etiam si ambulavero in umbra mortis, nom timebo mala - minha Mãe, ainda que eu ande nas sombras da morte, eu não temerei os males porque Vós me ajudareis! Minha mãe à luz de Vosso olhar, eu verei a luz"!

Eu pensei nessas coisas a propósito dessas magnificas fotografias de Nossa Senhora de Genazzano. Nossa Senhora de Genazzano que olha com o olhar tão interior, tão embevecido, não se sabe bem se para o Filho dEla que está no quadro e que Ela tem no braço, ou para o filho dEla que está ajoelhado diante dEla e que é qualquer fiel que vá ali rezar para Ela. E a gente tem a impressão de que pode dizer a ela “In lumine tuo, autem, videbimus lumen - à luz de Vosso olhar, veremos a verdadeira luz, que é Jesus Cristo Nosso Senhor, que Vós trazeis a Vosso braço”!

Os senhores veem a história da Petruccia. Se não me engano ela é bem-aventurada. Está enterrada lá? Recebe culto? Bem, não sei se eu deva dizer bem-aventurada Petruccia, ou não. É provável que sim. Mas vejam a história da Petruccia ou da bem-aventurada Petruccia, pouco importa.

Vejam a história dela: ela recebe uma vocação: trabalhar para reformar e reconstruir uma igreja de Nossa Senhora nesse lugarzinho, Genazzano. De fato, a vocação era muito maior, ela não sabia. Não era só para Genazzano, mas era para abrigar um dos maiores milagres da história, uma devoção que tem expansão pelo mundo inteiro. Ela não sabia. Resultado, ela gasta tudo o que tem e fracassa. Aos 80 anos, ela que esperava morrer depois de ver a igreja construída, aos 80 anos ela recebe de todo mundo sarcasmos e censuras: “louca, gastou seu patrimoniozinho, está aí vivendo de dinheiro de esmola, pesando sobre os outros e levantando aqui estes muros de que não foste capaz de erguer até uma altura normal! Louca!”

Ela (respondia) com doçura: "não vos incomodeis. Eu sei, eu sei, eu sei". Ela poderia acrescentar: "Deus me falou na alma. Eu sei, eu sei que antes de eu morrer esta igreja estará construída".

Um dia, como tantos outros, eu não sei por que, eu imagino que foi num sábado, como tantos outros, a bem aventurada Petruccia devorava em silêncio a demora da promessa, quando de repente, as nuvens se fazem sonoras, se fazem luminosas e desce esse quadro em tecido, em pano, de Nossa Senhora, que baixa ali e começa toda aquela epopeia.

Os albaneses aparecem e reconhecem o milagre, o pano fica de pé sem nada segurar, e até agora está de pé sem estar seguro em nada. O dinheiro para o templo começa a se erguer logo, porque o pano pára em cima da igreja apenas começada, da Petruccia, no lugar onde deveria ser o altar. É claro que Nossa Senhora queria que ali se construísse o altar. Portanto, queria aquela igreja. Antes da Petruccia morrer, a igreja estava garantida.

Confiança, confiança!

Os senhores podem imaginar a morte da Petruccia em paz, dizendo, um pouco como Simeão, no Evangelho: "Agora, Senhor, levai em paz a vossa serva, porque meus olhos viram a igreja que Vós prometestes". Está acabado. Virtude da confiança!

Meus caros, está liquidado o assunto da confiança.

Qual é o efeito prático do que eu estou dizendo?

É os senhores aprenderem a ideia de que no caminho que nós seguimos, nós devemos esperar de Nossa Senhora muito mais do que os outros homens esperam. Nós devemos compreender que devemos aplicar todos os nossos talentos e recursos para servir a Nossa Senhora, mas que tudo isso que é indispensável, não é suficiente. Que a coisa só funciona se Nossa Senhora nos ajudar pela sua graça e pela sua providência, que nós devemos ter confiança de que nos ajudará, antes de tudo para perseverarmos e para sermos santos. E em segundo lugar que Ela nos ajudará para ganhar a grande batalha da Contra-Revolução que será a glória do século XX.

Com isso meus caros, eu acabo de fazer o nexo entre Genazzano e a confiança e minha matéria está exposta, a nossa reunião está concluída.

[Pedem que ele narre algum pequeno episódio]

É-me quase impossível não contar o fatinho que os senhores já conhecem e que eu inclusive já contei aos senhores mas que...

Em 19... em que ano? 1967 eu tinha passado por dissabores enormes por causa de dificuldades de nosso apostolado. Mas dificuldades gravíssimas e dissabores gravíssimos. Foram tais os dissabores e as dificuldades que eu adoeci. E adoeci gravemente, e fui levado ao hospital Sírio Libanês para exames médicos etc., e nos exames eles resolveram me fazer uma operação. Eu até não sabia, me disseram que iam fazer uma simples prospecção médica de como estava meu organismo.

Eu tenho impressão de que os médicos já iam com intuito de me operar mas não me disseram. E chegaram lá, em todo o caso se não tinham esse intuito, examinando meu organismo chegaram à conclusão de que era preciso operar. Não me disseram nada, eu estava anestesiado, quando acordei, estava operado. Mas eu também não sabia que eu tinha sido operado, eles foram muito enigmáticos, e eu também estava tão cansado e tão abatido de tudo aquilo, que eu já não perguntava bem: há de ser o que Nossa Senhora quiser.

Mas por cima de uma série de insucessos de apostolado, mas insucessos terríveis de apostolado, por cima disso, uma doença e uma doença grave, que tinha entre outros inconvenientes de poder constituir para minha mãe uma preocupação terrível.

Eu estava no hospital e eu tinha antes do período que antecedeu essa doença, me caiu nas mãos, fortuitamente - eu vejo que foi por desígnio da Providência, mas eu não me lembro mais como é que o fato aconteceu, porque vias - me caiu um livro que eu tenho guardado, a respeito de Genazzano. Era uma devoção de que eu já tinha ouvido falar anteriormente: Nossa Senhora do Bom Conselho, em Genazzano. Livro grosso, eu me senti atraído a ler esse livro, escrito por um padre francês do século passado, me senti atraído para ler esse livro e comecei a ler.

Eu gostava do livro, mas o livro tinha uma porção de pormenores, descrição física do lugar Genazzano, e da vegetação e de não sei o quê etc., etc., que eram dispensáveis.

A leitura do livro, apesar da amargura em que eu estava, causava na minha alma um bem-estar interior tão grande, que eu li aquelas coisas todas e eu me dizia: não compreendo por que eu estou lendo isso, mas isso me faz um bem espiritual extraordinário. Desde que faça [bem], vamos lá! E atirei-me na leitura.

E conversei com amigos que gostaria muito de ter uma estampa de Nossa Senhora de Genazzano. Precisamente o Dr. Milton Mourão, que está no fim das cadeiras, sentado no auditório, Dr. Milton Mourão teve a caridade de me mandar vir da Europa algumas dessas estampas e as estampas chegaram enquanto eu estava doente no hospital Sírio Libanês. Ele e mais Dr. Vicente Ferreira e outras pessoas não me lembro mais quais, levaram as estampas para eu ver.

E eu vi com interesse as estampas de Nossa Senhora, tinha naturalmente todo o empenho em ver. E quando eu fiquei colocado diante da estampa, deu-se comigo um fato, que o livro aliás contava que acontecia frequentemente: é que sem haver nenhum milagre, sem haver movimentação na face de Nossa Senhora, nenhuma movimentação, a face mudava de expressão para esses ou aqueles que rezavam diante dela.

E eu tive a noção clara de que a face mudava de expressão diante de mim e que me olhava com muita ternura, com muita bondade, muito materna, dando-me a certeza seguinte, que era o ponto que mais me atormentava. Eu dizia: quem sabe se esses insucessos de apostolado, se devem a alguma imperfeição espiritual minha, quem sabe se eu vou morrer prematuramente como castigo dessa imperfeição e por mais que eu faça exame de minha consciência eu não encontro resposta para essa indagação. Há uma falta em mim? Em que ponto?

Eu tive a impressão de que a Imagem respondia ao mais candente da pergunta, era o seguinte: meu filho, esteja seguro de que você não morrerá sem ter realizado a finalidade de seu apostolado

(Aparte: Há um dado que talvez tenha passado despercebido mas que decorreram 500 anos precisamente daquele milagre e essa graça que o senhor recebeu: foi em 1467 e 1967)

Eu não sabia disso não. Foi uma das muitas graças com que Nossa Senhora quis comemorar o quinto centenário da aparição dEla.

O fato é que essa certeza me alentou depois em todos os outros... Eu sarei e... sarei... enfim, consegui viver e aqui estou. Eu posso lhes garantir que os dissabores que eu tive posteriormente foram tão terríveis - e muitos - que se eu não tivesse essa promessa eu teria morrido! Não tenho dúvida nenhuma!

Se eu, com meus 76 anos, tenho alegria de estar falando aqui aos senhores, vivo, é porque essa Imagem me deu essa confiança: a finalidade de meu apostolado no fim se realizará!

Está contado o fatinho e está encerrada a reunião.

Nota: Para ouvir ou ler mais comentários em artigos e/ou conferências de Dr. Plinio a respeito da invocação de Nossa Senhora do Bom Conselho, clique aqui.


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