Plinio Corrêa de Oliveira
O ideal - São Francisco Xavier e a China Santa Joana d'Arc: "As vozes não mentiram!"
Santo do Dia, 20 de outubro de 1984 – sábado |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
[Proclamação]
Idealismo! Os prêmios do idealismo! As provas do idealismo! As glórias do idealismo! As palavras, meus caros, vão tendo transformações do longo das gerações. E às vezes elas significam uma coisa, mas musicalmente elas tomam um simbolismo um pouco diverso. E assim se afastam do primeiro significado e passam para outro, passam para outro e vai a coisa tocando. Assim, a palavra ideal, a palavra idealismo. Não sei se os senhores percebem, mesmo os senhores na sua geração tão nova, se percebem que a palavra ideal tem uma certa ressonância, tem uma certa luminosidade, conduz a uma certa harmonia sonora, e quase eu diria visual, que lhe dá um significado próprio. O próprio modo de dizer a palavra ideal, obriga quase a cantá-la! É uma palavra que de algum modo força o menos poético dos homens a dizer como um cântico: “O ideal!” Quando se diz, “fulano tem um ideal”, entende-se que por este ideal que é algo que não é o simples e vil desejo de uma vantagem pessoal. Nós não podemos dizer no sentido próprio e pleno da palavra “fulano tem um ideal”, é, por exemplo, tornar-se riquíssimo. Tornar-se riquíssimo é uma meta, um objetivo, é uma ambição. Um ideal não é. Pode se dizer: “fulano é um homem ambicioso, quer fazer grandes coisas”. Em certo sentido, a palavra pode até significar um elogio. Porque querer fazer grandes coisas, ainda que seja na ordem das pequenas, é alguma coisa. É melhor do que ser um moleirão que não quer fazer nada. É melhor um homem querer ser, por exemplo, neste sentido da palavra, ambicioso, um homem que quer ter vamos dizer, uma grande fazenda. Ele é ambicioso. Ele nasceu num lugar de propriedade pequenas. Poderia levar uma vida cômoda de um pequeno proprietário, vivendo a sua vidinha. Mas, como é ele ambicioso, ele resolve ir para o MT, resolve ir para Goiás, resolve ir para Roraima, resolve ir para o Amapá, para lugares longínquos, mal policiados – Acre! – lugares incertos onde há dificuldades e lutas. Mas, onde a terra é barata e o homem se torna um grande proprietário, desde que saiba lutar contra as circunstâncias. Lá vai! Lá vai! E ele, o único dos seus que saiu do lugar de origem, e que enfrentou estas dificuldades, ao cabo de 20 anos, 30 anos, de trabalho, vê diante de si: aonde havia apenas animais selvagens e uma terra que Deus destinava a ser plantada, mas que ninguém plantava nada, aquilo está destruído, arranjado, uma vasta e bela lavoura existe! Os frutos dela se carregam em quantidade sobre as águas do Amazonas! E o próprio Amazonas, suave, ativo, discreto e amigo como são as coisas brasileiras, vai levando a mercadoria até a foz do rio, bem junto ao Atlântico, pelo simples esforço da natureza amiga com que Deus completa o trabalho do agricultor. Vende, e cada ano – o Amazonas corre o ano inteiro para que as águas levem aquele produto – cada ano as águas baixam e abençoam aquelas terras! Chove... As águas se afundam, vão alimentar o rio, e a natureza amiga posta por Deus vai premiando o homem que teve uma grande, uma explicável ambição! É ou não é mais nobre, é ou não é mais belo do que ficar vegetando em cima de um pedacinho de terra, e comendo o milho que a terra dá? Eu estaria longe, longe, longe de desprezar, ou de censurar quem se mantém no lugar onde está. Não. É um direito, é uma coisa que se explica. Mas, nobre, extraordinário, saliente não é. É o comum da vida. Pode se ir ao Céu assim, mas não se fez uma grande coisa! Fazer uma grande coisa é repetir, em condições contemporâneas a proeza dos bandeirantes! É afundar pelos matos: é fazer uma grande coisa. Nesse gênero de coisas, é fazer uma coisa grande! Mas como há diferença entre uma grande coisa e uma coisa grande. Esse plantador, esse fazendeiro terá feito uma coisa grande, que a gente diz que é uma grande coisa porque ele fez um esforço grande, que a gente por gentileza chama por grande esforço. Mas, os senhores imaginem um São Francisco Xavier que vai para a Índia, e para a Índia e para o João e com o intuito de ir para a China, naqueles tempos em que ir a estes lugares era mais perigoso do que hoje ir para a lua... ao pé da letra! Com riscos, com dificuldades impensáveis, ele vai com um objetivo. E ele faz em benefício deste objetivo o que não fazem os comerciantes mais audaciosos daquele tempo. Ele vai à busca de almas para Nosso Senhor Jesus Cristo! Ele vai com o coração estraçalhado de dor, diante das devastações que a pseudo Reforma protestante está fazendo na Europa. Ele vai com o coração estraçalhado de dor e diz: “Ah, vós estais roubando a meu Deus o território que lhe pertence na Europa. Eu vou para a Índia, para o Japão e para a China, como os meus irmãos jesuítas vão para todas as Américas... e lá vão os mercedários, lá vão os franciscanos, e lá vão as outras ordens religiosas todas, para as mais variadas direções, pedir a povos novos, e ainda não evangelizados, a correspondência à graça, a glória para Deus e a consolação para Deus que vós, povos heréticos estatais roubando! Quem faz isto, faz uma coisa grande ou faz uma grande coisa? Isso se chama o ideal! E todos os reluzimentos que a palavra ideal pode ter, brilham com toda a sua beleza, quando são empregados nesta direção. Quer dizer, a mais alta das finalidades: salvar almas para a glória de Deus, para a glória de Nossa Senhora. É entregar a sua vida completamente, passar pelos maiores riscos, pelos maiores dissabores, pelos maiores perigos, pouco importa, contanto que o ideal seja obtido! Nesse ideal não está presente o egoísmo. Quem trabalha nesta direção não tem nenhuma vantagem pessoal. Ele pensa apenas na glória de Deus, na glória de Nossa Senhora! “Na glória de Deus”! Que expressão! Deus é glória! Não há ninguém que tenha nem de longe a glória daquele que é fonte de toda glória, do qual irradia todo esplendor, de tal maneira que nada tem glória e nada é verdadeiramente glorioso a não ser na medida que está orientado para Deus e reflete a Deus. Esta é a realidade, e diante desta realidade nós nos inclinamos! São Francisco, rogai por nós! Mas, a glória de São Francisco parece-nos, até certo ponto, frustrada. São Francisco tinha o objetivo de ir para a China. Ele queria conquistar a Índia, o Japão e a China. Ele foi para Índia, conquistou a Índia, esteve no Japão, obteve vantagens enormes para a fé no Japão; implantou a religião no Japão e depois foi para a China. Mas, o seu grande objetivo era a China. Porque ele tinha o conhecimento de que pela importância da China, pela sua população incalculável, pela riqueza cultural da China, e pelo prestígio da China em todo o Extremo Oriente, se ele conquistasse a China para Nosso Senhor e para Nossa Senhora, para a Santa Igreja Católica, ele teria feita uma conquista incomparável! Depois de ter preparado uma base de operações para a conquista da China, ter preparado esta base no Japão, lá vai ele para a China. Mistérios de Deus... Era hora em que se poderia dizer, em linguagem contemporânea, era a hora da torcida. Era a hora em que exatamente o apóstolo incomparável, o apóstolo para o qual um caranguejo ia procurar um crucifixo no fundo do mar, e saía das águas marcado pela cruz... como que, como que, como que batizado – abençoado em todo caso – precisamente nesta hora o grande apóstolo, a caminho da China morre numa ilha. E a conquista que nós estávamos esperando com ele, que era o ideal dele, esta conquista não se realiza. Corre uma cortina: China, não! Os senhores querem ver o resultado? Se São Francisco estivesse estado na China, e se seu apostolado produzisse os frutos que produziu nos outros lugares, poderia haver hoje uma Igreja chinesa de que tamanho? O que isto podia representar de glória para Deus? Hoje, a China está debaixo do tacão da bota do comunismo! Atéia, destroçada, devastada, perdida a identidade com a sua antiga cultura, posta numa situação que não se pode imaginar qual seja. A antiga China que São Francisco Xavier quis conquistar. São Francisco Xavier sentiu que ia morrer, mandou que colocassem seu corpo orientado para a China. E se eu não me engano, da ilha onde ele estava se divisava já a China. E ele quis morrer, na paz, no amor de Deus, divisando ao longe aquela China para onde ele não ia. Aquela glória de Deus, que ele queria dar a Deus, mas que não seria lhe dado dar. E ele morreu em paz, com o seu sonho não realizado. A gente dirá: “Mas porque permite Deus uma frustração destas? Maria, Mãe Santíssima, de prece onipotente, de joelhos eu vos peço, obtende-me uma explicação. Porque o herói que queria conquistar para vós algo tão alto e tão excelente como toda a China, ó Maria explicai-me e fazei-me ver porque uma coisa destas vós pudestes querer? Este pensamento me trás à recordação uma figura que eu conheci durante o Concílio Vaticano II, na 1ª seção a que eu compareci. Eu visitei um grande número de bispos, e visitei entre outros um bispo chinês. Um bispo chinês que estava hospedado num convento, num ponto central de Roma, de uma Ordem Religiosa, creio que feminina mas não me lembro mais que ordem religiosa era. Ele não pertencia a esta ordem. Era um bispo do clero secular. Mas, eu não sei bem porque razões e de que maneiras eu fui apresentado a ele, e fui fazer esta visita a ele. Também não me lembro bem como esta coisa era. Quando eu entrei no quarto onde ele estava hospedado – era uma espécie de quarto-escritório razoavelmente arranjado, sem luxo, mas dignamente arranjado, quando eu entrei ele se levantou imediatamente. E eu tive ocasião de o ver melhor. Alto, esguio, longilíneo, flexível em todas as partes do corpo, de um modo espantoso, raça amarela, evidentemente... uma voz muito afável, muito amável e falando francês. Ele sabia que eu era professor, e dizia “Messieux le Professeur”, e eu dizia para ele “Monsegneur”! Ele me fez começar a conversar, sentamo-nos juntos e olhei para ele, e eu estava imaginando que espécie de chinês ele seria, posto na China dele. Ele era todo feito para ser um neto de mandarim. Todo! Eu não tive a liberdade de perguntar para ele se ele era da classe dos mandarins. Era a primeira vez e a única que eu vi este homem, talvez ele já tenha morrido, ele era mais ou menos da minha idade, talvez já tenha morrido. Talvez ele esteja na glória de Deus, talvez ele fique espantado de lembrar que um brasileiro de que ele se esqueceu, esteve com ele naqueles dias. Depois da extraordinária flexibilidade dele e das movimentações dos braços, sem a mínima afetação, estava na natureza dele, movimentação dos braços, caras fisionomias, o homem mais natural do mundo! Mas ele tinha graça, tinha charme do modo de ser dele. Eu comecei a olhar para a cabeça, mais bem pequena para o corpo, muito expressiva e me lembrei de ter visto um certo tipo de chapeuzinho de chinês do tempo dos mandarins, chapéu preto, pequeno, e ligeiramente com uma ponta, e na ponta assim uma pena de pavão que oscilava. E pensei: “Este homem é um porta-penas de pavão perfeito! Ele trazia consigo, ele sim, toda a graça misteriosa e antiga daquela China que fascinou São Francisco Xavier! Ó dor! Estava expulso da China. Os comunistas o tinham expulso, e ele seria morto se entrasse. Não garanto que não tenha tentado entrar. Ele veio expulso e participou do Concílio, era obrigação dele. Vindo ordem do papa, tem que participar do Concílio. Depois, se este homem se meteu em alguma aventura santa, e se ele morreu numa tortura horrível, eu também não sei. Mas, como vendo este homem, vendo-o falar, não pensar em São Francisco Xavier? Eu me lembro que a conversa teve um jeito assim, por onde ele foi levado a pronunciar algumas palavras em chinês sem eu pedir. Eu não teria a liberdade de dizer a ele: “Fale um pouco de chinês para eu ver como é”. Eqüivaleria a dizer: “Anda de um lado para outro um pouquinho para eu ver como anda um chinês...” Eu não ia fazer isto! Era evidente o meu desejo de tratá-lo com todas as formas e graus de respeito que tivesse cabimento. Mas, eu estava com o espírito de observação aguçado, e pegando naturalmente os mais ínfimos pormenores. E como eu fiquei encantado vendo-o pronunciar os nomes chineses. Aí que eu compreendi: há na China vários idiomas chineses. Não só de acordo com a parte geográfica, são os dialetos, mas também de acordo com a classe social. Há um chinês de mandarim, há um chinês de não sei o que... há vários chineses. Não sei que chinês ele falava, mas os senhores sabem o que é gongo, não é? Bem, tinha-se a impressão que quando ele pronunciava nomes chineses, que casa sílaba era pancada num gongo diferente. E que aquilo saía meio cantado. Em certo momento eu notei que ele falava, aliás falava desfavoravelmente, de um homem cujo nome tinha uma sonoridade lindíssima “Altitong....” Eu naturalmente não sei reproduzir a harmonia toda oriental da pronúncia dele. O modo nosso de pronunciar seria meio pastoso. Nele, não. Cada sílaba era uma nota musical. E todas eram assim em harmonia. E as consoantes completamente separadas das [vogais]. Porque a gente diria “Alti-tonnng....” ele cantava Alti-tonnng (Senhor Doutor Plínio pronuncia de modo musicado) É um adestramento todo especial que vem deste pequeno e com certeza já com aptidões da raça, e dois mil anos de cultura. É uma obra prima. Na conversa eu percebi quem era “Altitong”. Era o miserável do Mao-Tsé Tung, ditador da China. Este miserável tinha um nome tão bonito assim, era cantado por este bispo desta forma tão magnífica “Altitong...” E assim os outros nomes, eram todos assim vocalizados. A gente tinha a impressão de que eram vários gongos que começavam a tocar. Que vontade de trazer um povo deste para Deus! Que vontade atrair um povo deste para a Igreja Católica! Eu imagino que se o grande plano, o grande ideal, de São Francisco Xavier se tivesse realizado e tivesse uma China toda Católica, a Santa Sé teria certamente consentido em estabelecer uma liturgia que, enquanto ela reflete o dogma seria o mesmo que a liturgia católica, mas enquanto circunstâncias próprias e locais, teria, imaginemos, um canto chão ou um canto sacro próprio. E os senhores imaginam que beleza entrar numa catedral chinesa, que nós podemos imaginar que tivesse a torre como um pagode, com aqueles tetos, e no alto uma imagem de Nossa Senhora, da Imaculada Conceição, os senhores imaginem que no andar térreo desta catedral onde se entrasse, uma catedral talvez feita porcelana... estalas que nós podemos imaginar feitas de marfim, de presa de elefante. E os bancos da igreja feitos de algum lindo bambú encerado e perfurado... nós ouvirmos “Deus in adjuntorium meum intende...” E o coro cantar, todo “pan, pan, pan,...” Eu evidentemente, diante desta hipótese, me entusiasmo! Os senhores ouvem a hipótese e se entusiasma também! Os senhores podem imaginar qual era a intensidade deste entusiasmo no coração de São Francisco Xavier? Qual era a vontade dele de conseguir isto? Pois bem, na hora de conseguir, nesta hora em que esta maravilha ia se produzir, Deus que tem nas mãos as vidas dos homens, diz a ele: “Cessa a tua luta, eu não quero esta glória, venha para o Céu!” Os senhores já imaginaram, se os senhores estivessem com São Francisco; se os senhores fossem por exemplo seminaristas, ou irmãos leigos que estivessem na viagem com ele, vendo-o morrer, a baixa que teriam? “Como, então não vai se realizar?” Não! “Mas eu queria tanto, e ele queria tanto! Meu Deus, porque é que vós aplacastes o mar? Por que Vós fizestes um caranguejo trazer do fundo da água um crucifixo para ele! É tão precioso um crucifixo, a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo; mas Nosso Senhor Jesus Cristo não se teria encarnado para que viesse do fundo das águas o crucifixo. Ele se teria encarnado e morrido na Cruz para que subissem para o Céu as almas. No momento de chegar ali onde tinham tantas almas para se santificar.... Não! Decreto de Deus: Pára, acaba! Francisco, venha a mim!” E Francisco, olhando para aquela China, e com certeza rezando por aquela China, Francisco expira docemente no Senhor, sem uma só reclamação. Deus me deu o ideal, Deus não me deu a realização do ideal. Senhor, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu!” E o ideal?! E o ideal? Foi para o chão? Dir-se-ia! Vede a China como está. Dir-se-ia que todas as orações de São Francisco Xavier não foram atendidas, e que o ideal estava posto de lado. Vejam os senhores como é subtil o assunto do ideal. E a quantos aspetos é preciso atender para nós compreendermos a obra de Deus. O ideal de São Francisco era a China? Evidentemente que eram pois ele ia para lá. Mas, não era o fim último de São Francisco. O fim supremo dele é que se fizesse a glória de Deus. Ele queria a glória da China, indiscutivelmente. Mas, esta glória ele queria para a glória de Deus. Desde que Deus, por desígnios ocultos não quisesse esta glória, e quisesse dele não a China, mas um ato de submissão, ele prestava o ato de submissão, morria dando glória a Deus. Porque o mais alto ideal era o ideal cantado pelos anjos na noite de Natal em Belém: “Glória a Deus nos mais altos dos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade”. Francisco era um homem de boa vontade, não neste sentido moderno da palavra, mas de uma vontade boa, santa, reta, nobre, voltada para o ideal. Por isso ele morreu em paz na terra, dando glória a Deus. E Deus talvez tenha julgado que havia de mais glória para ele na conformidade desta grande alma com ele, do que em toda conversão da China. E talvez ele tenha ensinado os homens a morrer em quantidade, em paz e de boa vontade, só para fazer a vontade dele. Assim morreu Nosso Senhor no alto da Cruz, clamando que ele fazia a vontade do Padre Eterno, porque aquele salmo que ele recitou no alto da Cruz “meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes”, é um salmo cujo fim é cântico da Ressurreição! Quer dizer, ele aceitava o que Deus tinha mandado para ele. No Horto das Oliveiras, ele disse: “Pai meu, se for possível, afaste-se de Mim este cálice, mas seja feita a Vossa Vontade e não a minha.” E aí sentiu-se no ar um bater de asas de anjo, aparece um anjo com o cálice, para dar força a Ele. Francisco não converter a China... e Nosso Senhor que não converteu o povo predileto de Deus? Não converteu os judeus. Mas converteu o mundo... mas fez uma coisa melhor do que converter o mundo, Ele disse a Deus: “Faça-se a vossa vontade e não a minha!” Este é o ideal! A resposta de Nossa Senhora, quando o anjo disse a Ela que Ela seria a Mãe de Deus, Ela disse: “Fiat mihi secundum verbum tuum – eis a Escrava do Senhor faça-se em mim segundo a tua palavra!” faça-se, fiat, obedeço, glória a Deus, disciplina, confiança, bondade, ideal! Alguém dirá: “Mas, Dr. Plínio, isto quebra um pouco as energias de nossas almas. Nós estávamos certos de que avançando rumo ao ideal, era subir, subir, a gente acabava conquistando. O senhor de repente vem com uma idéia de renúncia, no momento em que a idéia de conquista mais nos faz subir. Ó Dr. Plínio, isto não nos quebra?” Eu digo: Meu filho, quebra os fracos! Isto lhe é dito, para que não seja dos fracos. O verdadeiro ideal é aquele que se prende ao fim supremo, ao ideal supremo. E o ideal supremo é fazer a vontade de Deus. Porque Deus é que é santo, Deus é que é infinito, Deus é que é sábio, Deus é que sabe o que convém. E as trevas da minha inteligência pseudo luminosa, são menos do que a de um vaga lume diante do sol da santidade, da sabedoria dEle. E não para o homem ideal autêntico, nem desejo bom de nada, que não seja fazer a vontade de Deus. Faça-se em mim segundo a palavra dele. Pronunciem as minhas palavras, as palavras da Virgem, e una-me eu à Virgem na Mesma obediência. E assim eu terei cumprido o meu ideal. Deus quer que no primeiro lance nós queiramos as nossas “chinas”. Em certo momento Ele nos dá a impressão que nós não conquistamos as nossas Chinas, que elas nos escaparam da mão, que nós não conseguimos nada. Se, se, se, nós somos capazes, pela graça de Deus, pelos regos de Maria, nós somos capazes de dizer: “Meu Deus, aconteceu como vós quisestes, e eu quero o que vós quereis. Está bem. Eu morro em paz, fez-se a Vossa Vontade e não a minha”, aí a nossa vida atingiu a sua finalidade. E aí, de algum modo que nós não sabemos qual é, o mérito de nossa submissão, que é muito maior do que o mérito de todas as nossas conquistas, o mérito de nossa submissão é um mérito de que Deus vai tirar proveito de algum modo para a realização da vontade dEle em algum lugar. Os senhores já calcularam o que foi o mérito aos olhos de Deus de São Francisco Xavier, que olhava para esta China tão amada, tão desejada e dizia: “Meu Deus, esta China virá quando vós quiserdes. Ela vale muito, mas o Céu vale mais. Senhor, eu olho para o Vosso Sagrado Coração, e para o Coração Imaculado de Maria. Para frente, para cima!” Nós não sabemos qual é o valor disto aos olhos de Deus, porque nem sequer podemos calcular. São Francisco ali não conquistou aquela China que ele queria, mas ele conquistou cem outras coisas que ele não sabia. Por que isto? Porque Nosso Senhor Jesus Cristo morrendo na Cruz, Ele derramou todo o seu sangue. Mas, há nisto um mistério que é insondável para o olhar humano: quando Nosso Senhor Jesus Cristo era menino, ele foi levado ao Templo, e segundo a lei judaica Ele foi circuncidado, como eram todos os meninos da nação eleita. Nesta circuncisão Ele verteu as primeiras gotas do seu sangue sagrado. E tal era o valor infinitamente grande, infinitamente preciso do sangue dEle, que simplesmente com estas gotas, Ele poderia ter remido o mundo. Vou dizer mais, na Circuncisão derramavam-se várias gotas. Não era necessário isto. Uma gota do sangue puríssimo dele, do sangue humano-divino dele porque era de natureza humana, mas hipostaticamente ligada à natureza divina na unidade de pessoa, de uma só pessoa, bem, o sangue divino dele, este sangue divino uma gota bastaria para resgatar todo o mundo. Ele verteu várias. Depois ensinou, pregou, deslumbrou, fez milagres, morreu depois de ter sofrido, e derramou todo, todo, todo o sangue. A tal ponto que depois de morto ainda, ele derramou sangue. Porque como os senhores se lembram, o Longinus veio, o centurião, com uma lança, e meteu a lança no corpo dele até atingir o coração. Para que ele vertesse o que lhe restava de líquido no corpo sagrado. Esse sangue saído do lado sagrado dele, dizem os teólogos que aí nasceu a Santa Igreja Católica Apostólica Romana! Bem, depois disto ainda Deus... Ele não precisava ter sofrido isto. Bastava ter sofrido, por exemplo, a flagelação. Mas, do filho dele, Deus quis esta efusão de sangue até o último ponto. E o Evangelho parece comentar isto quando diz: “Como amasse aos seus, amou-os até o fim” Quer dizer, deu todo o sangue que ele tinha. E não bastou... Ele quis que ao longo dos séculos, enquanto houvesse católicos na Terra, e portanto até o fim do mundo, porque a Igreja Católica é imortal, e Ela não perecerá até o fim do mundo, enquanto houvesse católicos na terra, continuassem coisas que haveriam de ter relação com o sacrifício dEle. Em primeiro lugar, a Missa. Cada Missa é a renovação incruenta do Santo Sacrifício do Calvário. Quer dizer, na Missa quando o padre pronuncia as palavras da Consagração, se opera a transubstanciação, e o pão e vinho deixam de ser pão e vinho para, sob as espécies de pão e vinho, haver o Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Bem, e Nosso Senhor Jesus Cristo se oferece ali segundo as intenções da Igreja, portanto do padre, do fiel que se une ao Santo Sacrifício, ele renova ali seu Santo Sacrifício. Numa glória indizível do Céu, Ele renova o Santo Sacrifício. Por que tanto renovar se o Sacrifício já estava feito? Mas há mais. Ele quis, como condição para que este sacrifício fosse fecundo, que nós homens sofrêssemos também. E nós temos que verter o nosso sangue, que é o sangue do corpo, ou este sangue tão mais doído de verter, que é o sangue da alma, são as lágrimas do homem, é o sacrifício do homem, ele quis que nós sofrêssemos uma enormidade de coisas. Ele quis que nós sofrêssemos isto, para completar o sacrifício dEle. E é por isso que, quando na Missa o padre põe um pouco de água no vindo que vai ser consagrado, isto lembra os sacrifícios humanos. É um símbolo. O vinho é o fruto da uva. É a uva que foi esmagada, que se transformou em vinho. Uma gota de água, não é senão uma água que está em qualquer torneira, em qualquer regato, em qualquer gota de chuva que cai. Esta gota de água, pobre – eu diria inconsistente gota de água, misturada com este vinho, ela forma um só líquido com o vinho. E quando for consagrada, a matéria que era água, misturada com o vinho, forma com ele um só líquido, e ela também é consagrada. E a Transubstanciação, se um padre quiser fazê-la só com água, não sai. Mas, é dada à água esta glória: ela misturada com vinho se transubstancia também! Este é o sacrifício de nós homens. Nós sofremos, sofremos, é uma gota de água. Esta gota de água se reúne ao sacrifício infinitamente precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, e se oferece junto com o dele. Nós somos gotas de água. Que gota de água São Francisco naquele dia reuniu ao Santo Sacrifício para que fosse recebido por Deus agradavelmente! E nós não podemos imaginar quantas e quantas glórias vieram para Deus, nós o saberemos no dia do Juízo Final, quantas e quantas glórias vieram para Deus, muito maiores do que a China, simplesmente pela obediência animosa, intrépida e heroica de São Francisco: “Senhor, meu Deus, meu Criador, meu Redentor! Senhora, Maria Santíssima, Mãe de Deus e Mãe minha, eu vim até aqui para obter para Vós a China. Mas, Vós quereis de mim uma viagem maior. Vós quereis que eu vá para o Céu, transpondo os sombrios umbrais da morte. Vós quereis quebrar-me, Vós quereis separar minha alma de meu corpo, e vós quereis que este corpo daqui a pouco não seja senão um cadáver, e que minha alma esteja julgada por Vós, vista por Vós em espírito de benignidade, e conduzida por Vós ao Céu. “Senhor, se eu Vos devo dar esta suma conquista, não da China, mas de mim mesmo, eu bem sei que de tudo que me foi dado conquistar na vida, uma coisa vós queríeis mais do que todo o resto: de Francisco, queríeis Francisco! Minha Mãe, aqui está Francisco. Oferecei-me a Deus, pois que eu não nasci senão para isto! Salve Regina, Mater misericordiae...” Talvez durante a reza desta oração, a sua alma compareceu diante de Deus. Quantos casos há de vidas de Santos que morrem nesta perfeita resignação! Como as vidas dos santos são diversas e como elas apresentam também belezas diversas. Eu me lembro que eu era moço, tinha uns 20 anos, quando eu li pela primeira vez a morte de São Paulo. E vi que São Paulo chegando ao lugar onde ele deveria ser decapitado, ele se ajoelhou diante da pedra em que devia cair a espada do carrasco e matá-lo, e ali ele disse a Deus esta oração em voz alta: “Senhor, eu percorri todo o curso de minha vida, eu travei o bom combate! Dai-me agora o prêmio de vossa glória!” Como quem diz: “Senhor, eu aceitei o ideal, único ideal no sentido pleno da palavra, é o ditame da Fé. Eu cri em vós, eu obedeci a vossa lei, eu combati o vosso combate! Agora, Senhor, de minha parte está tudo feito. De vós eu espero a glória!” Eu me lembro que eu fiquei entusiasmadíssimo! E me agradou aquela firmeza de alma com que ele comparecia diante de Deus, confiante na misericórdia de Deus, mas na justiça de Deus também. Como quem dissesse: “Senhor, minha consciência é limpa. Cumpri a vossa promessa!” Eu fiquei encantadíssimo. E de vez em quando eu me lembro disto, e ainda me encanto. * * * Eu tive um arrepio quando eu li a vida de Santa Joana D’Arc [aprox. 1421-1431]. Eu creio que já comentei com os senhores a vida de Santa Joana D’Arc. A pastorazinha de Domremy, que por vozes celestes, – creio que eram São Miguel Arcanjo, Santa Catarina, se me engano eram três santos – cujas vozes a estimulavam para que ela se apresentasse ao rei da França, para reconquistar o território que os ingleses haviam tomado e reintegrar a primogênita da Igreja nos limites que historicamente lhe eram próprios. Ele se apresentou a ela, falou com rei, ela convenceu o rei, ela convenceu padres, bispos, teólogos, ela foi aclamada, ela uma frágil virgem, dotada de armadura, precedeu as tropas nos combates, e foi expulsando os ingleses, expulsando, expulsando... Ela teve a alegria de assistir a coroação do rei da França. A França estava tão por baixo que o rei não tinha tido coragem de se coroar. Porque ele achava com certeza meio ridículo fazer uma coroação quando a maior parte do seu território estava na mão dos ingleses. Mas foram tais as vitórias que chegou o momento, de antes mesmo dos ingleses estarem inteiramente expulsos da França, ela ir com o rei para Reims, a cidade da catedral, renda de pedras e de vitrais, aonde os reis da França eram ungidos com o sacramental da Igreja, pelo óleo que o continha numa ampola, óleo este que uma pomba trouxera na noite da conversão de Clovis, do batismo de Clóvis, primeiro rei dos Francos. Então, ela leva o rei para lá e o rei é coroado numa glória indizível. Ela, no lugar de honra com o seu estandarte. Junto a ela havia as eternas sombras que vão atrás de cada homem: havia os invejosos. E um invejoso disse a ela: “O que faz aqui o vosso estandarte? Este é o estandarte de combate. Esta é uma festa, por que está aqui vosso estandarte?” Ela disse: “Uma vez que ele esteve na luta, bom é que ele esteja na glória!” Parece que ela teve promessa das vozes de que ela só morreria quando o poderio inglês estivesse quebrado na França. Ela estava lutando e havia ainda uma parte da França para recompor. Quando a traição imunda, como uma serpente se enroscou nela. Ela foi presa durante um combate por vassalos do rei da França em revolta contra o rei: eram os borguinhões. E estes vassalos a venderam mediante dinheiro aos ingleses. E os ingleses que naquele tempo ainda não tinham caído em heresia, os ingleses por sua vez entraram em entendimento com o arcebispo de uma diocese aonde eles ainda dominavam, entraram em entendimento com o arcebispo, e acusaram a ela de bruxa! Portanto, [teria] cometendo crime de pacto com o demônio. E disseram que era porque ela tinha pacto com o demônio, que ela tinha conseguido aquelas vitórias. E ela foi condenada a ser queimada viva como bruxa! Como herética, pelo tribunal da Inquisição! Ela, de tal maneira esperava ainda salvar a França, de tal maneira ela queria ainda viver para realizar seu plano, que ela chegou a se jogar de uma torre, com o risco de vida, para fugir e para pegar um cavalo para continuar a luta contra os ingleses. Julgando que com isso ela fazia a vontade de Deus. Ela se espatifou no chão! E Deus não fez o milagre de ajudá-la. As vozes não a ajudaram também. Os ingleses a pegaram! Chegou afinal a manhã da morte. Deus que estivera tão presente em todos os combates dela, Deus se fazia ausente. Chegou a manhãzinha, entra o carrasco, põe-lhe uma túnica infamante, toda induzida em matéria combustível para que o fogo pegue logo nela; amarra numa carreta, onde ela vai de pé, com as mãos amarradas por trás, como malfeitora, para não poder fugir, a rua cheia de povo, e vai para o lugar onde ela devia ser queimada viva. Foi lida diante dela uma acusação toda cheia de falsidades, de misérias e de infâmias que ela não tinha cometido. Durante o processo ela se defendeu como uma leoa! Mas Deus não a ajudou. Deus ajudou a defender-se, mas não ajudou que ela não fosse morta. E contra a expectativa dela, a carretinha continuou, ela chegou à praça, teve que descer, e teve que caminhar em direção à fogueira que estava lá. Os senhores estão vendo a perplexidade no espírito dela. Como é? Aquelas vozes não eram verdadeiras? Aquelas vozes me teriam mentido? Minha vida, minha vida, meu Deus, não teria sido senão um engano? Aquela ajuda que vós me destes, teria sido uma ilusão? É a Inquisição que me condena? É um tribunal eclesiástico, dirigido por um arcebispo, e composto por teólogos e por homens de lei. Será que eu não tive um engano, ó meu Deus?” Parece que ela sofreu muito mais do que São Paulo. Eu digo mais, ela sofreu mais do que São Francisco Xavier. Quando induziram o fogo nela, e que começaram os estertores da morte, ela parece ter tido uma visão, e de dentro das chamas viram-na gritar para o povo: “As vozes não mentiram! As vozes não mentiram!” Ideal...! O fogo tomou conta do corpo dela, ela morreu com todas as dores de quem morre queimada viva. Mas, até o último momento: “As vozes não mentiram, as vozes não mentiram!” Ou seja: “Há um mistério, mas eu morro contente, porque eu faço a vontade de Deus!” O mistério se explicou. Ela estava morta, mas as vozes não tinham mentido. A ofensiva que ela tinha conduzido contra os invasores ingleses, era uma ofensiva tão tremenda, que eles não ousaram resistir ao pequeno exército francês que deixava ali. Foram tocando fora, tocando fora, tocando fora, a Inglaterra estava liquidada! Era o ímpeto dela que tinha derrubado a Inglaterra, ou o poderio inglês na França. Não a Inglaterra, mas o poderio inglês na França. Era o ímpeto dela que tinha derrubado, mas ela morreu antes de ver a muralha cair. Mas, as vozes não mentiram! Vejam os senhores os mistérios de Deus. Foram apenas uns 200 anos depois, se eu não calculo mal, que a última cidade inglesa na França caiu. Foi a cidade de La Rochelle, e o território francês ficou inteiramente de franceses. A Inglaterra durante este tempo tinha caído em heresia, e la Rochelle tinha se transformado numa cidade herética. Era a unha da heresia cravada no solo bendito da França. Mas, afinal, La Rochelle caiu também. As vozes não mentiram, a obra de Joana D’Arc chegara ao fim. Passaram- se mais uns 200 anos, 300... Deus não tem pressa, Deus é eterno... como nós fugimos pela terra, não fazemos senão passar, nós temos medo que as coisas não aconteçam. Mas Deus está acima dos Serafins! E as coisas para Ele são outras. Deus viu, Deus quis que apenas em 1910, calculo mais ou menos, os sinos magníficos da Basílica de São Pedro começassem a badalar, e uma cerimônia magnífica se realizasse, era um Papa santo, São Pio X, que afinal ia canonizar Santa Joana D’Arc! [São Pio X a beatificou na Basílica de São Pedro a 18 de abril de 1909, e o Papa Bento XV a canonizou a 16 de maio de 1920, portanto quase 600 anos depois de seu falecimento, que se deu a 30 de maio de 1431, n.d.c.]. As vozes não mentiram! Andaram devagar, mas Santa Joana D’Arc ficou o próprio símbolo da glória da França! Um símbolo magnífico da glória da Igreja! O ideal! O ideal de fazer a vontade de Deus, de levar a glória para Deus seja com a gente que for, decapitado, queimado, ou glorificado, como morreu Carlos Magno, na glória e na veneração dos seus conterrâneos, pouco importa ao homem de ideal que expira. Para ele, o importante antes é que Deus esteja sendo glorificado! Ideal! Que coruscação, que beleza de palavra. Qual é o prêmio do idealista? Os véus da morte descem sobre isto. Nosso Senhor tem promessas que são carregadas de mistérios paradoxalmente luminosos. Ele fez promessas incríveis: “O irmão que salva seu irmão salva sua própria alma, e brilhará no Céu como um sol por toda eternidade”. Quem como Santa Joana D’Arc evita que a França inteira caia na heresia, este, eu pergunto, este como brilhará no Céu? Como será de um sol em toda a eternidade? Não se pode calcular qual é a glória dos santos. Não se tem uma idéia. Eles não têm uma idéia. Porque o homem não tem uma idéia do que é a glória que espera no Céu aqueles que amaram a Deus, viveram para amar a Deus, bem unidos a Nossa Senhora, que é o único caminho necessário por vontade de Deus, para chegar ao Céu. Estes heróis assim da Fé, eles na terra podem sofrer de tudo. Podem ter também toda espécie de alegrias, como teve Santa Teresa de Jesus. Visões, revelações, êxtases, paraísos na terra. Ao lado de tormentos também indizíveis. Pode acontecer tudo! Pouco importa, quando eles morrem imediatamente são julgados. Mas o Juízo de Deus não é o juízo de um tribunal humano. Deus não precisa de meirinhos, nem de oficiais de justiça, nem de escrivães, nem de autos. Ele deita Seu olhar puríssimo sobre uma alma... Diz a Escritura que o olhar de Deus penetra até aos nossos rins; penetra, portanto, no que nossa alma tem de mais fundo. Os senhores podem imaginar com que afeto Deus volta para uma alma desta? Para uma Santa Joana D’Arc que está com as marcas da fogueira e do sofrimento que a fogueira causou à sua alma – porque a alma sofre – que se apresenta assim, por assim dizer pegando fogo diante dEle... o carinho dele para a alma dessas? “Vem minha eleita! Vem minha escolhida, vem minha dileta, goza agora de minha presença cheia de amor durante toda a eternidade! Nossa Senhora que sorri, que afaga, os Anjos todos que cantam. Todas as almas do Céu que rejubilam! Por quê? Porque aquela alma santa, portanto a alma com o mai altos dos ideais, com o único ideal pleno e verdadeiro, esta alma chegou até o Céu! Não é só. Há depois o Juízo final. Já falamos a respeito deste juízo final há pouco tempo, não é o caso de voltar ao tema. Os senhores podem imaginar no Vale de Josafá todas as almas, todos os homens ressurrectos ali, e Deus que vai glorificando cada um “venha, e venha, e venha...” E os cânticos glorificando cada um, e cada vez mais, cada vez mais... numa magnificência sem nome. Como será? Em ordem cronológica da morte? Na ordem dos méritos? Quem pode lá saber isto? Há um momento em que chega a vez da gente! E Deus diz: “Meu filho, a minha recompensa para você agora é esta: diante de todos eu vou proclamar: tu és meu, eu sou teu! Venha!” * * * Três letras! T-F-P! Três palavras: Tradição, Família, Propriedade! Uma luz: Maria Santíssima! Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade... Imaginem os senhores que o fim do mundo fosse agora. Não está garantido que não seja. Nós esperamos a “Bagarre” (palavra francesa que significa quebra-quebra, caos, confusão com violência, jargão utilizado na linguagem corrente da TFP para se referir de modo resumitivo à realização das promessas de Nossa Senhora em Fátima, n.d.c.), mas garantia nós não temos. Bem, imaginem que fosse agora. Imaginem que nós, estando todos em estado de graça, agora morrêssemos. Ou que nos fosse dito: “Não, vós sereis dos poucos que não morrereis, sereis julgados imediatamente. E conforme for, ireis para o Céu.” Imaginai o que é que diria, a cada um de nós, Nosso Senhor. Eu estou vendo gente que se move... “Dr. Plínio, esta é uma hipótese muito viva demais para ser abordada logo a uma hora da noite! É verdade, e o princípio “fugit” está no momento de ser aplicado. Mas, os senhores podem imaginar a alegria vendo que chegou a vez. O que é que Deus dirá? Deus dirá: “Eu te fiz nascer numa época que Me odiava. Nesta época o grande perseguido era Eu. Eu te convidei para o pelourinho onde eu estava atado! Esse pelourinho onde Eu estava atado era o pelourinho do desprezo geral! Viam-Me e não Me compreendiam; falavam comigo, eu respondia e me caluniavam; queriam Me matar e Me aprisionaram! Puseram-me uma pesada Cruz a carregar nos ombros, e tu fostes o meu Cireneu! Dei-te verdes anos para viver, e tu me deste o prestígio, a Mim rei da glória, tu Me destes o prestígio de dizer que os jovens não fugiam de Mim, que havia jovens que Me amavam. E que Eu, que sou o Rei da eternidade seria amado sempre por homens sobre a face da Terra! “Tu envergonhastes os velhos tarados e ímpios; tu deste vergonha a homens da idade madura, cúpidos e egoístas! Tu deste vergonha a pessoas da tua idade, sensuais e voltadas para o prazer! Onde quer que tu estavas, tu eras a minha presença! E eu, que te dava no fundo de tua alma a coragem para fazer isto, Eu parecia a teus olhos, ausente. Muitas vezes tu parecias perdido neste arenal de banalidades e de crimes, que era o século em que nasceste! Muitas vezes tu tinhas a impressão que Eu te abandonava. Eu estava no fundo de teu coração, resistindo em circunstâncias tão hostis! “Meu filho, tu Me deste a glória que de ti eu queria! Tu fraquejaste às vezes... tu pecaste... mas, Eu te dei como Mãe a minha própria Mãe! Ela rezou por ti, e tu sabes que à oração dela Eu não resisto! Tu eras tanto do Meu agrado, mas tu agora estavas como que ungido de um valor novo, Minha Mãe tinha rezado por ti. Mais eu te amava ainda, e mais Eu te ajudei. Meu filho, chegou o momento! Tu me deste o que Eu pedia. Eu vou te dar muito mais do que me pediste!” E os senhores diriam aos seus Anjos da guarda: “Agradecei junto comigo a Nossa Senhora e a Nosso Senhor, ter nascido “enjolras” [referindo-se aos que nasceram em torno a 1960-70, n.d.c.] e ter vivido no ano de 1984! Melhor ainda, ter sido eremita, ter sido camaldulense! No Auditório de São Miguel ter cantado as glórias dEla! Ter desfilado, ter marchado sem armas na mão é verdade, julgam que nós somos desarmados, é verdade. Eles não compreendem a nossa grande arma: o Rosário de Nossa Senhora! E os senhores poderão dizer, alterando a palavra de Jó, aquela palavra de bênção: “Bendito o dia que me viu nascer, benditas as estrelas que me viram pequenino, bendito o momento que minha mãe disse: nasceu um homem”, porque realmente nasceu um filho da luz que penetra agora na luz! Enquanto não chegarmos no Céu, meus filhos, tudo foge! Tudo foge! O “Santo do Dia” fugiu! Acabou. É hora de irmos embora! Vamos rezar! (Fatinho!) Não tem fatinho! Já está cheio de fatinho! É um “fatinho” do futuro...! Os senhores nunca foram à China. Nunca tiveram a esperança de conquistar a China. Não parece que os senhores têm uma vida muito baixa de nível em relação a São Francisco Xavier? Como parece baixa de nível esta vida. Fazer este apostolado que nós fazemos é muito belo, não tem dúvida. Mas São Francisco Xavier... Índia! China! Japão! Que coisa prestigiosa, magnífica! Aqui, rua Martinico Prado... Como é este negócio! Meus caros, a coisa é assim: falando do Templo de Jerusalém que fora construído por ordem de Deus e que era por excelência o lugar sagrado da história até então, falando do templo de Jerusalém um profeta, não me lembro qual, disse isto: “Que ele amava o Templo e amava tanto que se o Templo fosse destruído, ele amaria as pedras. E se as pedras fossem destruídas e transformadas em pó, ele amaria o pó em que estas pedras se transformassem, mas ele amava o templo de Jerusalém!” Ora, ora, ora.... Muito mais do que o templo de Jerusalém vale a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. E abaixo da Santa Igreja, mas como fruto da Santa Igreja, como perfume, como exalação da Santa Igreja, está a Cristandade, a família das nações católicas, a civilização temporal cristã. Que maravilhas! Isto está... a Santa Igreja não está em perigo de vida, mas só porque Deus prometeu que Ela não morreria. Do contrário nós nos perguntaríamos se Ela já não morreu, tal a situação em que ela está em nossos dias. Nós só não perguntamos se Ela não morreu, porque nós sabemos que há uma promessa de que Ela não morrerá! É por Fé que nós acreditamos que ela está viva, o que vale muito mais do que a vivência. Aquilo que eu creio por Fé, eu creio muito mais do que em que este bastonete está na minha mão. Bem, a civilização cristã está aos cacos. E como ela é mortal, porque a civilização cristã pode desaparecer, como ela é mortal, a gente se pergunta se ela ainda está viva. E a gente é mais levado a achar que não há mais Civilização Cristã na terra, do que há. Há um pó de pedra de Civilização Cristã. Uns restos de hábitos, uns restos de costumes, uns restos de pessoas que daqui e de lá ainda vivem uma vida civil conforme a lei de Deus. Mais nada, mais nada, mais nada! Agora, a nós, nesse século, a todos nós que não caímos no progressismo, e portanto não só da TFP, mas as pessoas boas que amam a Deus e que estão tão esparsas e desconjuntadas por aí, a nós coube tentar para Deus, para Nossa Senhora, uma reconquista muito maior do que da China: a civilização cristã nascida do suor, do sangue das lágrimas de tantos santos durante tantos séculos; nascida de tais graças que Deus espalhou sobre a Terra, sobretudo na Igreja Católica, Apostólica, Romana – tudo isto está vacilando. E nesse momento extremo Deus nos diz: “Meu filho, lutai por esta reconquista!” Não é verdade que para nós é muito mais belo lutar para salvar isto, do que para salvar a China prestigiosa, com seus bispos falando com voz de gongo? É evidente! Então, ânimo, força, energia, ênfase e resolução! [Nota: Para aprofundar o tema, consulte a obra abaixo clicando na imagem] |