Plinio Corrêa de Oliveira

 

Quando o filho pródigo

começa a ter saudades da

casa paterna

 

 

 

 

 

Encerramento do III Encontro de Correspondentes e Simpatizantes da TFP, Clube Espéria, na capital paulista, 23 de junho de 1984

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Reverendíssimos Senhores Sacerdotes, Príncipe, dignas autoridades civis, senhores componentes da mesa, minhas senhoras e meus senhores.

Os calorosos aplausos que se seguiram à enumeração realmente larga, das atividades das várias TFPs, pelo mundo contemporâneo durante o último período, esses aplausos atestam bem um sentimento que domina esta assembléia. Sentimento que é mesmo a razão de ser de toda essa alegria que flutua no ar e que se define da seguinte maneira: confiança em Nossa Senhora. E, pela confiança em Nossa Senhora, a certeza de que Ela vencerá!

Nessas condições, e é debaixo desse ponto de vista que eu começo as palavras que na oração terminal desses abençoados dias de Encontro me compete lhes dirigir.

Nas anteriores exposições que eu lhes fiz, sobretudo na primeira dessas exposições, eu desdobrei bem, largamente, e sem temor, o panorama terrível da corrupção e da desordem que grassa pelo mundo contemporâneo. E não hesitei em lhes mostrar que esta desordem não é uma desordem qualquer, não é uma desordem que pode conduzir a desordens mais graves. Essa desordem atingiu um tal estado de gravidade que outro passo que ela dê, ela levará o mundo à desagregação da civilização ocidental, à desagregação da atual ordem de coisas, com uma série de conseqüências que são simplesmente imprevisíveis.

Foi sinistra, foi dura, aquela exposição. Mas ela foi feita em vista da exposição de hoje que vai nos responder à seguinte pergunta: dentro desta desordem soturna, dentro desta desordem noturna, dentro desta desordem universal e caótica, que é mais terrível sob vários aspectos do que a desordem do próprio mundo antes de Nosso Senhor Jesus Cristo nascer; diante desta desordem que luzes de esperança há, que perspectiva de trabalho há para a TFP e para todas as organizações, para todas as entidades, para todas as personalidades não pertencentes a TFP, mas movidas por ideais análogos e que caminham na mesma direção? O que há? O que se podemos esperar? In concreto - uma vez que é da TFP que se trata nesse momento, é da TFP a reunião que aqui se faz  –   em concreto o que deve esperar a TFP?

A resposta a esta pergunta não pode ser dada com meras tiradas. Digo mais: ela pediria uma, duas ou três exposições demoradas, ela pediria outros dias de Encontro para ser devidamente aprofundada. Mas, nós estamos chegando ao fim. A hora de despedida, tão pouco cara a nós brasileiros especialmente - nós gostamos de nos encontrar, não gostamos de nos separar - as despedidas são para nós o prefácio das saudades... bem, a hora da despedida já se aproxima e é preciso, entretanto, dizer alguma coisa a respeito dessa matéria capital. Pois, sem esperança não há ação; sem ação há reação. Porque a reação é uma ação-ré, é uma ação-contra. E essa ação precisa determinar...

Os senhores viram aqui o elenco enorme das atividades das TFPs pelo mundo inteiro; os senhores viram os horizontes que se abrem para elas. Se o mundo está numa tal desagregação, como compreender essa receptividade para a TFP? Como entender que um ambiente de tal maneira carregado de toxinas, entretanto dê sinais de vitalidade? Qual é o sentido profundo da hora que passa, interpretada à vista dessa contradição? Tudo nos ameaça, tudo parece levar-nos ao desastre. E, entretanto, o desenvolvimento, a boa acolhida da TFP em todos os continentes da terra, esta boa acolhida faz entender que há de cá, de lá, acolá, e de acolá ainda almas que se desabrocham e almas que pedem: “Ó TFP, vem cá”!

Seria preciso toda uma complexa e delicada exposição sobre o que é a psicologia do homem que caiu em pecado, ou das nações, das multidões que caíram no pecado, e que caíram muitas vezes tão fundo no pecado, para fazer compreender que mesmo nas ocasiões mais extremas e nas situações piores, há alguma possibilidade de falar a essas almas, e que mais ainda, por algo que não tem nada de contraditório, mas que é fortemente paradoxal, acontece que às vezes é quando o mal vai atingindo o seu ápice que as possibilidades do bem se averiguam maiores.

Não tendo tempo para entrar nessa exposição, que além do mais não se concilia com o festivo dessa reunião, me pareceu que seria mais adequado lembrar exemplos que estão na Escritura e que nos fazem sentir, com a poesia de tudo quanto está na Escritura, com o leve e com o profundo, com o sublime e com acessível de tudo quanto está na Escritura, nos fazem sentir bem vivamente essa realidade.

E uma vez que nós falamos em mal, uma vez que nós falamos em homens que rolam e despencam pelos abismos da impiedade e da corrupção; uma vez que nós falamos em nações que degringolam pelas ladeiras abaixo da desagregação social, moral, até psíquica, uma vez que falamos disso, sempre que se fala de um mal levado até suas últimas conseqüências, vem ao espírito a encantadora, a profunda, a sublime parábola do filho pródigo.

Quem não conhece essa parábola? Quem não se enterneceu, nas várias idades de sua vida a respeito dela? Quando se é pequeno, foi pelo menos meu caso, ao ler a parábola, meu primeiro sentimento de compaixão não foi para com o moço, foi para com o pobre pai que ficava abandonado em casa. Pensei muito naquilo. Depois pensei no moço, quando era mais velho; quando tinha medo eu de ser em relação à Igreja Católica o moço que deixava a casa paterna. Desgraça insondável da qual a proteção maternal de Maria, bondosamente, me salvou das dificuldades de minha juventude.

Depois, essa parábola foi tomando nas minhas reflexões, outras características. E acredito que, mais ou menos o mesmo se dá com todos nós nesse auditório, a parábola vai mudando de matizes, conservando seu texto, conservando seu princípio, eu comecei a pensar nos povos e nas civilizações.

Pensemos um pouquinho nos filhos pródigos da civilização contemporânea; tomemos, a civilização ocidental tão laicizada e tão depravada, mas ainda trazendo algumas das marcas luminosas da sua origem cristã, pensemos na civilização ocidental e nós podemos nos perguntar: não é ela bem e exatamente uma filha pródiga do Evangelho?

Como houve o tempo em que ela habituou a casa paterna! A casa paterna, neste sentido, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, nos felizes tempos da Idade Média, lembrados com tanta eloquência pelo papa leão XIII, em que a boa harmonia entre o Sacerdócio e o Império, entre a cultura e a vida, entre a cultura e a fé, entre todos os lineamentos característicos da sociedade civil e os princípios da moral católica, faziam da Europa um verdadeiro continente católico.

A Cristandade... palavra cheia de doçura, cheia de beleza simbólica que soa como uma música e que era a grande família das nações cristãs, debaixo da autoridade espiritual do papa e debaixo - não diria propriamente direção, a palavra liderança é por demais moderna, não diz bem a coisa, mas de uma tal ou qual supremacia majestosa, serena e paterna dos imperadores do Sacro Império Romano Alemão.

Dessas grandezas, marcadas pela figura de Carlos Magno, dessas grandezas a Europa foi se distanciando lentamente. E, em determinado momento, através das três Revoluções, a Revolução Protestante, a Revolução Francesa, a Revolução Comunista e depois em nossos dias a IV Revolução, a revolução anarquista que se desdobra de dentro da revolução comunista, cada vez mais, a partir do século XVI, o Ocidente foi o filho pródigo que deixou a casa paterna. Ele pediu seu quinhão de herança, dirigiu-se à Igreja e disse: “Não tenho mais nada contigo. Mas quero aproveitar e conservar comigo os frutos da cultura que tu produziste. Tomo esses frutos como parte de minha herança e seguirei pelos caminhos da história e da vida, olhando-te a ti com rancor e ao futuro com orgulho. Eu andarei pelas minhas próprias pernas”!

Desolada, a Santa Igreja chorou; desolada, a Santa Igreja rezou; desolada Ela admoestou ao longo do caminho, acompanhou pelo olhar. Mas, não aconteceu com o mundo moderno o que aconteceu com o filho pródigo. Ele dilapidou nas cidades do pecado e do erro, ele dilapidou sua herança. Tudo quanto ele recebeu se transformou, cresceu nas mãos dele e se transformou para ele num peso que ele não podia mais suportar. Carregado, vergado sob esse peso ele começou a sofrer. Os problemas o acabrunharam e ele procurou explicações da vida nas doutrinas mais absurdas, ele procurou fórmulas para a organização sócio econômica nas excogitações e nas utopias mais criminosas, ele comeu as bolotas dos porcos! Foi realmente o que ele fez! Ele as está comendo!

Ah, dir-se-ia: neste momento este filho pródigo era pior do que nunca, estava mais afastado da casa paterna do que nunca. E é verdade! Mas, no momento em que a dor começou a apertá-lo, no momento em que a tristeza começou a pesar sobre ele como um manto, na noite daquela catástrofe decorrente do seu erro, uma pequena luz começou a luzir. Essa pequena luz era a lembrança da casa paterna abandonada.

E ali o louco compreendeu o que ele perdera. Compreendeu o que ele não soubera apreciar. Compreendeu o desatino e o crime de sua conduta. E então, sob o peso dos acontecimentos que o oprimiam, ali, e por causa disso, ele teve saudades da casa paterna. E então resolveu voltar e pedir ao pai, perdão. Dizendo que não era digno de figurar como filho naquela casa, mas que podia a condição de servo, a condição de escravo naquela casa, para poder viver ali respirando um pouco do aroma que fora a dignidade e o encanto da sua mocidade. Voltou!

Os senhores conhecem a cena comovedora. O pai foi de encontro a ele, o pai o abraçou, a ele coberto de lama, a ele desprezível por tudo aquilo em que ele tinha se metido, o pai o abraçou e mandou organizar uma grande festa: “Meu filho voltou”!

É o caso de perguntar se essa receptividade que se abre para a TFP em tantos lugares não representa exatamente esse estado de virada da opinião, da alma do homem ocidental, em que ele começa a sofrer mais do que nunca da desordem contemporânea, de tudo aquilo que no domínio das necessidades do corpo, e muito mais terrivelmente e muito mais profundamente no domínio da necessidade das almas, os homens contemporâneos sentem que lhe fazem falta, e por isso ficam aterrorizados.

É por causa disso que tantos na juventude procuram a TFP. Porque eles abordam o mundo contemporâneo nos primeiras passos da vida e não tem a sensação que se tinha, por exemplo, na minha remota juventude, quando se entrava na vida, tinha-se a impressão que a vida era uma festa e se entrava na festa com alegria e com perigo para a alma.

Eles entram já cansados pela infância desordenada, já cansados da desordem da juventude, entram desorientados, entram saciados, não querem mais. E alguém lhes fala de tradição, família, propriedade, e isso que soaria...

[aplausos]

...isto que soaria no meu tempo remoto de juventude como um cântico gasto e despertando bocejo nos ouvidos de muitos, isto atrai esses jovens, e eles entram em quantidade para a TFP.

Almas mais velhas, almas provadas pela vida, já provadas na juventude, provadas nas longas décadas da idade madura, provadas nas frias décadas de velhice – essas almas, tantas e tantas vezes acabam verificando que grande ilusão as tinha desnorteado quando elas tinham acompanhado as andanças da civilização moderna rumo ao abismo.

E se transformam, ou em sócios da TFP, ou em cooperadores, ou em valorosos Correspondentes da TFP, em simpatizantes, o fato é que nossa irradiação cresce por todo lado. E quando nós vamos sondar as raízes disso, nós notamos que elas estão neste fato: depois daquilo que se chamou a Belle Epoque, e que é o período festivo e brilhante que determinou com a primeira Guerra mundial; depois daquilo que se chamou a entre deux guerres, e que é o período que vai entre a primeira e a segunda guerra mundial, período já menos brilhante, menos festivo, mas enfim, ainda um período com muita luminosidade de alegria terrena e meramente sensual, depois disso veio outro período de alegria já bem menor e que foi entre a segunda e a terceira guerra mundial.

Mas, depois disso cada vez mais tenebrae facta sunt!, as trevas foram se fazendo, devagar, as pessoas não percebiam, as nações estavam iludidas pelos seus chamados “milagres econômicos”. “Milagres” produzidos em série, todo o mundo seus milagres econômicos. O Brasil, tão provado pela crise econômica atualmente, teve seu milagre e atravessou, como todas as nações, de pandeiro na mão e dançando essa fase de prosperidade. Mas depois acabou. E quando acabou, a crise econômica, crise moral, crise social, crise política... aonde não existe crise em todos países? No nosso inclusive?

Começou cada vez mais o cerco da dor. E apertando o cerco da dor, começaram muitas almas, por causa da dor, a rota gloriosa da conversão. Eu não encontro outra explicação. E do fundo da minha alma eu bendigo essa rota da dor. Porque se essa rota da dor nos conduz a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida, fora e longe do qual tudo não é senão descaminho, morte e desatino, se é assim, bendita a rota da dor! Tu conduzes ao céu!

Tu és, tu é o que? Tu és um castigo universal que se espraia sobre a terra. E ouvindo falar de castigo universal, evidentemente minha alma é levada, pelo curso natural da reflexão, a pensar em outro castigo universal, aquele castigo previsto por Nossa Senhora em Fátima.

Isso Ela disse aos três videntezinhos da Cova da Iria em 1917 - se o mundo não se emendasse de sua impiedade, de sua imoralidade, se ele não voltasse à prática das normas morais e à fidelidade aos dogmas da Igreja católica, aconteceria que o mundo sofreria um grande castigo ao longo do qual muitas nações desapareceriam. Afinal, a Rússia se converteria, o Papa teria muito que sofrer, mas diz Ela, “no fim o Meu Imaculado Coração triunfará!”

Está anunciando aí um grande castigo. Está anunciando um grande castigo que, em rigor, um católico pode negar. Porque as aparições de Fátima não são dogma de fé. São revelações privadas. Mas creio que seria muito temerário um católico que, diante de tantas razões de bom senso natural que levam a crer nessa revelação, diante de tantas manifestações de acatamento, de respeito, de atenção, de confiança que autoridades eclesiásticas, das mais altas, tem dado a essas revelações, por seu simples juízo particular as pusesse em dúvida.

E assim nós podemos nos perguntar: esse grande castigo universal que é uma tormenta universal que se despenca sobre o mundo, este grande castigo universal, que é o atual, já não será o começo do outro? Ou ele constitui outro em relação ao outro?

Quer dizer, a grande flagelação do mundo, a grande catástrofe prevista em Fátima não poderia bem começar acontecendo as coisas com estão acontecendo agora? Seria perfeitamente razoável, perfeitamente possível. E a hipótese fica aqui presente aos nossos olhos.

Os senhores sabem que São Tomás de Aquino diz que no céu os anjos sabem, diretamente, vêem em Deus muitas coisas, mas que nem tudo Deus deixa ver aos anjos. Por exemplo sobre os acontecimentos futuros. E que os anjos analisam o que Deus lhes deixa ver e que eles trocam idéias entre si, e formulam hipóteses a respeito do futuro.

Se até os anjos formulam hipóteses, não será lícito aos homens formular hipóteses também? Então nós não poderíamos dizer que essa hipótese nos é lícito formular como hipótese, a propósito da mensagem de Fátima? A mim me parece que é perfeitamente lícito. Hipótese que alguém pode negar, que alguém está no seu direito de recusar, hipótese que alguém pode aventar e eu estou aventando aqui neste momento.

Isto tudo considerado, nós poderíamos dar mais um passo e nos perguntar se existem, entre fatos anteriores da Escritura, coisas que justifiquem o que nós estamos dizendo. E me ocorre o que disse São Pedro a respeito do Dilúvio.

No Dilúvio, a punição foi muito mais universal do que essa que é anunciada em Fátima. No Dilúvio, com exceção de uma família, desapareceu o gênero humano. Pois bem, em Fátima não, está dito que várias nações desaparecerão. Logo, muitas ficarão, é evidente. E portanto, há uma razão para esperar, para ter uma certeza de que grande parte do gênero humano subsistirá. O castigo, portanto, muito mais limitado.

Mas, no Dilúvio que foi tão terrível, a misericórdia de Deus não se esqueceu dos homens. E São Pedro, em uma de suas Epistolas, conta o seguinte, que é impressionante: que muitas pessoas, no Dilúvio, almas de pecadores, pessoas - concluo eu - que estavam, portanto, entre as tantas pessoas que foram castigadas pelo Dilúvio, muitas pessoas pecadoras, por causa do castigo e durante o castigo se converteram. E portanto, tiveram a oportunidade de salvar-se. E portanto, o Dilúvio era uma ocasião de duas misericórdias: uma misericórdia era a misericórdia bondosa sempre, justa, de Deus sobre os homens, fazendo extinguir todo o gênero humano menos a família de Noé, mas salvando, dessa maneira, almas que sem castigo não se salvariam.

De outro lado, a misericórdia especial para os amados: Noé e a sua descendência, flutuando nas águas do castigo, incólumes, até o momento em que a pomba veio com o raminho de oliveira anunciar que as condições estavam normais e que o que restava do gênero humano poderia descer da arca e recomeçar a história e depois o arco-íris, e depois todo o resto que os senhores conhecem.

Quer dizer, naquele extremo, a misericórdia não abandonou os homens e não abandonou os homens pecadores.

Nesta imergência, não se dará também alguma coisa de análogo? Não se dará a possibilidade de, ao longo desse castigo, as conversações irem crescendo, as almas se irem voltando cada vez mais para Nossa Senhora? Misericórdia, então, enorme! E esse castigo ser exatamente a purificação que que atrai o Reino de Maria para o gênero humano? Não forma tudo isso uma concatenação muito razoável de fatos?

Evidentemente forma. E então nós poderíamos fazer uma hipótese assim – são hipóteses de hipóteses mas as hipóteses me parecem razoáveis e são caras ao meu coração. Na intimidade, não desprovida de solenidade, desta reunião tão grande, na intimidade desta reunião, eu franqueio este modo de imaginar as coisas.

Nossa Senhora, instrumento da misericórdia e da justiça de Deus, dos desígnios de Deus, Nossa Senhora age sobre os homens, habitualmente, de acordo com certos modos, com certos - eu diria quase estilos. Eles são do próprio Deus. Deus quis fazer uma maravilha por ocasião do sermão das bem-aventuranças. Ele poderia ter anunciado que naquela multidão que estava ali, faminta, e sobre a qual Nosso Senhor pronunciou aquelas palavras de uma grande beleza: “Misereor super turba - Eu tenho pena da multidão”, que Ele ia criar pães todo mundo e peixes para todo mundo.  Para Ele seria absolutamente simples.

 Entretanto, Ele não quis fazer isto. Ele quis que se recolhessem pães e peixes de todos os que estavam lá. E depois de se ter verificado que eram só 7 pães e 7 peixes, Ele aproveitou aquilo que era uma ninharia, aquilo que era quase nada, Ele aproveitou aquilo e multiplicou aqueles pães, multiplicou aqueles peixes, de maneira a saciar a fome daquela multidão, maravilhada com o grande milagre. Ele quis utilizar alguma coisa que existia, pequena, para à partir dela, fazer uma grande coisa.

Nas bodas de Cana, Ele poderia ter utilizado vinho simplesmente. Ele poderia ter dito: Tragam-me odres vazios e Eu procurarei uma palavra e pobre esses odres a minha vontade onipotente fará com que eles se encham de vinho, aparece o vinho aí dentro porque eu crio! Está acabado.

Não foi o que Ele fez; Ele mandou vir água, e tomando a água, a transformou em vinho. Ele tomou algo que pré-existia e mudou aquilo que pré-existia.

Tomar portanto algo de muito inferior como é a água, transformá-la em vinho; tomar algo de inteiramente insuficiente, 7 peixes e 7 pães, multiplicá-los para atender o apetite de toda a multidão, esta é uma forma de agir que indica a sabedoria divina e a bondade divina, e sobre a qual nós devemos ter a nossa atenção posta.

No mundo contemporâneo, nós não podemos conjeturar que de cá, de lá, de acolá vão aparecendo gérmens, vão aparecendo grupos, vão aparecendo aspirações e tendências de pessoas que pelo próprio aperto do sofrimento não querem um meio termo, não querem a volta ao estado exato a partir do qual prevaricaram, mas compreendendo que sua prevaricação lhes mereceu aquele castigo, por ódio ao mal que fizeram, pela dor do castigo que sofreram, eles procuram a perfeição do estado anterior, a excelência do que abandonaram, eles querem subir ao auge onde não subiram, para não cair ao abismo onde caíram.

A verdadeira penitência tem freqüentemente lances desses. Um pecador se converte, ele não se contenta em levar uma vida boa. Mas muito freqüentemente, quando a sua penitência, quando a sua contrição, mesmo a sua atrição é de valor, é real, ele recebeu uma graça de grande quilate, ele não quer apenas voltar à vida boa, correta, decente que tinha antes do pecado. Mas ele procura o estado de perfeição, procura fazer-se religioso, procura fazer-se anacoreta, procura de algum modo, por meio de penitências e sofrimentos, pagar aquilo que fez e purgar-se de todos aqueles prazeres imundos que ele detesta. Ele procura ir ao que é o extremo bom, oposto ao extremo mal que ele deixou.

Nessas condições, não se poderá dizer que, à medida que esse castigo vá apertando, o homem vai tendo mais desejo, não mais de uma ordem de coisas pouco mais ou menos conciliável com o Evangelho, mas de uma ordem de coisas em que Deus seja Rei? Uma ordem de coisas em que Nossa Senhora seja Rainha? Do fundo da dor, não nascerá a aspiração para o auge da fidelidade, não é esse um caminho tantas vezes seguindo pelas almas?

Nós não podemos imaginar que daqui, de lá, de acolá vão aparecendo almas com sede desse auge, porque elas sentiram essa dor, e que essas almas vão se tornando mais numerosas, que elas vão se agrupando, que elas vão se articulando, e que elas em determinado momento enfrentam o mundo contemporâneo?

Ah! que ilusão no seguinte: eu não creio que se possa imaginar que o grosso do mundo contemporâneo se converta. Ele, com suas armas; ele com seus recursos, com seus meios de propaganda, com seu poder, com sua maldade, imaginarmos que ele todo se converta? A mim, pessoalmente, me parece uma ilusão.

Mas, nós não podemos admitir que este filete de água que vai nascendo agora, vai se engrossando, engrossando e que ele constitua uma caudal bastante abundante para que ela comece a agir sobre o mal do mundo contemporâneo e o enfrente na luta, lhe diga: “Tu não tens o direito de ser como és, ou te transformas ou desapareces. E nós estamos aqui para te dizer isso”?

Panorama sombrio, sem dúvida, por vários lados, para quem olha as coisas com olhos terrenos. Porque para quem olha as coisas com os olhos da fé, destes mesmos a quem combateremos  –  não falo aqui necessariamente de um combate físico, mas de um combate mil vezes mais sério, mais grave, mas difícil, que é o combate de espírito a espírito, é o manuseio do gládio do espírito de que fala São Paulo, está bem: quantos vão se converter durante essa luta vendo que seus ídolos caem no chão? Não é misericórdia para eles derrubar os ídolos e dizer-lhes a verdade? Não é mesmo uma misericórdia que segundo os planos de Deus possa ser necessária?

Então nós podemos imaginar que em determinado momento histórico, aqueles que  –  e nós fazemos parte desse todo  –  aqueles que pensam assim, querem assim, e estão dispostos a enfrentar o mundo contemporâneo, mesmo quando o mundo contemporâneo queira deitar a garra sobre eles e lhes tirar a liberdade e o direito de existir, esses enfrentarão o mundo contemporâneo com a pobreza de meios, com as humildades da despretensão, com a inferioridade com que Davi enfrentou Golias. Mas, que beleza, que situação admirável, que misericórdia de Deus chamar alguém para travar a luta de Davi com Golias e para vencer Golias daquela maneira.

Eu penso que nós podemos terminar essas reflexões e essas hipóteses, lendo no próprio texto sagrado como as coisas correram entre Davi e Golias. É o tipo da luta entre o bem e o mal; o bem fraco, o bem desvalido, mas cônscio de sua vitória, cônscio de seu direito, cônscio de estar fazendo a vontade de Deus e que não se incomoda com as pompas, as grandezas e as riquezas do mal. Ele vai para frente. Deus lhe dá a vitória!

Diante do povo judaico se apresentaram os filisteus comandados por Golias. Saul via a falta de coragem de seus exércitos, via que não havia meio de vencer aquele inimigo muito mais poderoso, e alguém lhe falou de um pastor chamado David que poderia enfrentar, com vantagem, a Golias. Ele mandou então chamar a David. E começa aí a cena. David é investido de sua missão. Mas investido de sua missão, ele primeiro conta seus antecedentes ao rei. O rei vê chegar aquele pastor e faz-lhe uma pergunta:

“E Davi disse a Saul: eu, teu servo, apascentava o rebanho de meu pai. E quando vinha um leão ou um urso e levava uma ovelha do meio do rebanho, eu corria atrás dele e o matava, tirando-lhe a presa da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pelo queixada e com outro golpe o matava”.

É por assim dizer a pré-história de Davi. Um pastor dedicado, que dava a vida pela sua ovelha, pré-figura daquele que seria o Descendente infinitamente grande de Davi, Nosso Senhor Jesus Cristo. Este não tinha medo. E, enfrentando animais ferozes, ele os vencia com uma destreza extraordinária. Ele conta isto ao rei com uma naturalidade simples, em que se sente toda a poesia da vida do campo, mas também sente toda a beleza da luta.

“Teu servo matou leões e ursos” - servo era ele – “E a esses filisteus incircuncisos sucederá como a um deles, porque insultou o exército do Deus vivo”.

Quer dizer, Davi diz: porque eu matei ursos e matei leões, eu posso matar esses filisteus, esses incircuncisos, esses pagãos, eu posso matar, por que? Não porque sou forte, mas porque eles atacaram o exército de Deus vivo. Eu estou dispondo para a guerra!

Não é bem essa – reverendíssimos sacerdotes, Príncipe, minhas senhoras, meus senhores – não é bem essa a razão da nossa esperança na luta? Nós esperamos ter a vitória, porque foi atacada a Igreja de Deus vivo. E atacada essa Igreja pelo inimigo interno e pelo inimigo externo, atacada essa Igreja nós não temos razão para duvidar, nós atacaremos. Isso nós dizemos a Deus Nosso Senhor como Davi disse a Saul, rei da nação eleita.

Ele prosseguiu. Aí vem então a missão que ele recebe:  

“O Senhor que me salvou das garras dos leões e dos ursos, me há de salvar também das garras desses filisteus”.

Quer dizer, a conclusão é: esses leões e ursos eu não matava por minha própria força. Está visto, eu sou um pastor jovem e fraco. Como é que eu conseguia matar esses bichos? Deus tinha pena de mim e me protegia. Se ele me protegeu tanto, não me protegerá ainda muito mais, na hora em que o perigo ainda é maior? Eu vou para a frente, ó rei!

Nós não podemos dizer, de nossa história do passado – e o que eu digo de nós não pretendo que seja exclusivo nosso, eu falo daquilo que eu conheço mais de perto, somos nós  – mas então nós não podemos dizer, nós não podemos afirmar que muitos leões e muitas feras nós já matamos ao longo de nossa história?

Quando foi que pretendemos que isso se alcançou pelas nossas forças? Não é tão evidente que elas sempre foram desproporcionadas? Não é tão evidente que à medida que a TFP cresce, ela vai enfrentando perigos cada vez maiores, ela vai fazendo planos cada vez maiores, mas que ela vive no vento do desproporcional entre o que ela quer fazer e o que ela pode fazer? Esse vento é o vento da fé. Ela só tem a coragem de tentar tudo isso e só tem tido êxito nisso porque ela confia em Deus Nosso Senhor, pelas preces de Maria! Que analogia de situações!

Diante dessa analogia...

“Saul revestiu Davi com sua armadura e lhe [deu] uma lança de bronze e vestiu-o com uma couraça”.

Quer dizer , ele deu ao simples pastorzinho armas excelentes para lutar, as armas do próprio rei.

Muita gente tem formulado o desejo de que a TFP receba esses e aqueles grandes meios de ação: tipografias extraordinárias, jornais enormes, televisões colossais, etc., etc. Se a Providência puser isto algum dia em nossas mãos, quanto está em mim, quanto está em meus valorosos companheiros de ação, tentaremos utilizar até o fim para o bem. Mas sempre com planos tais que o que hoje não ousamos por falta de televisão, quando tivermos a televisão, nós ousaremos coisas que ninguém de televisão em punho ouse.

Porque no dia em que nós disséssemos: agora, com essa televisão, proporcionada às nossas metas, nós atingimos o equilíbrio e confiamos na televisão, nesse dia rolaríamos. Nós temos que confiar em Nossa Senhora, temos que confiar em Deus. Aí que está a nossa...

Deu-se então um fato que é inesperado para quem vai lendo a narração:

“Davi cingiu a espada sobre a armadura, mas não conseguiu andar, pois não estava acostumado”.

É um pastorzinho. Nós também nos julgaríamos, com tantas organizações, nos julgaríamos com uma armadura que não é a nossa que não está para nossos meios. 

“E depôs as armas. Tomou na mão o seu cajado”.

O velho cajado com que, pela força de Deus, ele tinha levado as feras ali...!

“Escolheu na torrente 5 pedras bem lisas”.

É quase arma de moleque, é pedregulho.

“Meteu-as no surrão de pastor que lhe servia de bolsa, e com a funda na mão avançou contra os filisteus”.

Pega o que tem, se é a hora, pega o que tem e faz o que deve! O resto Deus proverá!

A narração é tão cheia de sabor que eu não estou resistindo à tentação de comentá-la ponto por ponto, embora já seja tarde.

Os senhores vejam o que é que aconteceu. Se Golias corresse de encontro a Davi, Davi podia sentir que não lhe adiantava fugir, que Golias o alcançaria, e portanto ele também nem podia medir o perigo. E, por causa disso, lhe era evitada a tentação do pânico. Porque era um embrulho e ele estava agarrado por Golias.

Não. A Escritura conta que Golias caminhou devagar em relação a ele, fazendo o que nós hoje chamaríamos guerra psicológica, procurando meter medo a Davi pelo tamanho dele. Como quem diz: Eu,  gigante, revestido de armas, e você com esse bastão e com esses pedregulhos aí, você vai me enfrentar a mim? O homem que mete terror em toda a nossa região, ó ridículo, eu te fuzilo com um olhar, antes de te retorcer com as minhas mãos!

Então diz o seguinte, que este Golias:

“Aproximava-se pouco a pouco de Davi, precedido de seu escudeiro”.

Para mostrar a importância dele, ele tinha um escudeiro que o procedia. Quem era Davi? Quem é que precedia Davi? Claro! Golias não via os anjos que precediam Davi!

Claro que Golias viu Davi de longe, com o alcance normal do olhar humano. Talvez até um alcance maior porque era um olhar de gigante. Ele viu Davi de longe. Então diz o seguinte:

“Quando o filisteu, que era Golias, viu Davi, desprezou-o”.

Quer dizer mediu-o com olhar. Nada!

“Desprezou-o porque era ainda moço, rubicundo e de aparência formosa”.

Um bonequinho de porcelana.

“O filisteu disse a Davi”.

Quer dizer, a distância já tinha diminuído, não era só o olhar que desprezava, mas a palavra já chegava, ele começou a falar. Então ele disse a Davi:

“Sou eu acaso um cachorro para virem contra mim com um bastão? E amaldiçoou-o pelos seus deuses”.

Pelos deuses deles. Quanta gente nos amaldiçoa em nome dos ídolos modernos: “Vocês são atrasados, são isso, são aquilo”, são os ídolos modernos. Ídolos de fancaria cuja maldição não faz mal a ninguém! Enfrentemos! Nós que somos...

A narração é meticulosa, porque ele depois disso faz um desafio a Davi; Ele continua a andar devagar e ele desafia Davi a atacá-lo. Ele diz a Davi:

“Vem a mim e lançarei tuas carnes às aves do céu e aos animais do campo”.

Quer dizer, você está me desprezando, bonequinho à toa, eu te quebro! E as tuas carnes vão ficar espalhadas sobre a superfície da terra para que venham os corvos e as comam, para que os animais do campo se cevem com elas, é o que te vai acontecer daqui a instantes, miserável!

“Davi respondeu ao filisteu”.

Um mocinho rubro, jovem e puro, o que é que responde ao filisteu?

“Tu vens a mim com espada, lança e escudo. Eu, porém vou a ti em nome do Senhor dos exércitos”.

Quer dizer, Deus, enquanto é aquele em cujo nome se combate legitimamente os exércitos que sabem combater legitimamente. Aquele do qual verdadeiramente vem a força dos exércitos. Eu sou um só, mas o Senhor Deus dos exércitos combaterá pelo meu braço, eu vou a ti. Mais ainda...

“...o Deus dos exércitos, o Deus das fileiras de Israel, a quem desafiaste”.

O “Deus das fileiras de Israel”, eu não tive tempo de consultar um exegeta, mas as fileiras devem ser provavelmente as fileiras do povo judeu em ordem de batalha. Era o povo amado por Deus, era o exército querido por Deus. Este Deus dos exércitos era o Deus dos judeus, avançava por eles na pessoa de um jovem, esse jovem era Davi.

Agora, o desafio dele:

“Hoje, o Senhor te entregará em minhas mãos. Eu vou te matar, vou cortar tua cabeça; teu corpo e os corpos do exército dos filisteus vou dá-los ainda hoje às aves do céu e aos animais selvagens, para que toda a terra saiba que Israel tem um Deus.

E vem a conclusão:

“E todo este ajuntamento saberá que Deus não dá a vitória, nem pela espada, nem pela lança, porque a batalha é do Senhor e o Senhor vos entregará em nosso poder”.

Os senhores podem imaginar o furor de Golias, ouvindo uma coisa dessas.

“Quando o filisteu se pôs em marcha e avançou contra Davi, este saiu das fileiras e correu direto contra o filisteu”.

Ele tinha sido desafiado, vem, ele não foi. Ele correu! Assim é que nós devemos ir para os deveres árduos e para os perigos, correr contra o perigo.

“Meteu a mão na alforja, tirou uma pedra, estirou-a com a funda que atingiu o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe fronte adentro, e ele caiu de bruços no chão”.

Uma pedra, um jovem, mas o braço de Deus, ó terror!

“Assim Davi venceu o filisteu com a funda, e com a pedra abateu-o e matou-o sem ter espada”.

A singeleza da conclusão é admirável. Foi assim e está acabado. Deus quis, fez! Está acabado. É a promessa para os que confiam nEle.

Agora vem a coisa tão singela. Davi, grande vencedor, poderia querer receber a glorificação do povo. O que é que ele fez? Vejam a humildade  –  foi por causa de Davi que o exército judeu, que estava sem coragem, avançou e venceu. O que é que faz Davi?

 “Os homens de Israel levantaram-se então e, lançando gritos de guerra, perseguiram as fileiras dos filisteus até Gat e até as portas de Acaron. Numerosos cadáveres de filisteus jaziam pelo caminho, desde Saraim até Gat e Acaron. Voltando da perseguição aos filisteus, os israelitas saquearam-lhes os acampamentos”.

Agora que vem a humildade. O que é que faz Davi? Foi por causa de Davi que o exército judeu, que estava sem coragem, avançou e venceu.

“E Davi tomou cabeça do filisteu, levou-a para Jerusalém e pôs as armas dele na sua própria tenda”.

Quer dizer, ele voltou para a tenda trazendo os reféns de guerra: a cabeça, não se horrorizem, gotejando sangue, de Golias, e as armas dele. Voltou para tenda e ficou sentado lá. Olhando aquilo, dando graças a Deus. Talvez limpando as armas, sem procurar ninguém que lhe batesse palma e fizesse glória. Ele tinha a alegria palpável do dever comprido. Ele representava a força do povo de Deus. A força de Deus para proteger o seu povo. Aquele povo do qual devia nascer a Virgem Maria e o Messias, aquele povo ia ser esmagado pela impiedade de um povo inimigo de Deus. Para evitar isso, e em legítima defesa, ele tinha abatido este chefe bandido de um povo de bandidos.

Ele voltou para sua tenda e está acabado, não pensou em mais nada. Ele queria servir. Tendo servido, estava contente. Não pleiteava coisa nenhuma. É a humildade dos que combatem sem interesse.

“Quando Saul viu Davi avançar contra os filisteus perguntou a Abner, general do exército: “Abner, de quem é filho aquele jovem”?

Era tão ignorado que Abner respondeu:

“Pela tua vida, ó rei, não sei. E acrescentou: ó rei, informa-te tu mesmo de quem é filho o jovem”.

“Quando Davi voltou da morte do filisteu, Abner tomou-o e levou à presença do rei Saul”.

Ele não foi apresentar a Saul. Foi preciso que Saul mandasse chamá-lo para receber honras, glórias, etc.

“Tendo ainda na mão a cabeça do filisteu, Saul perguntou-lhe: De quem és filho, ó jovem? E Davi respondeu: Eu sou filho do teu servo Izaí, o balemita”.

Acabada a narração. Ela só comporta um ponto a mais: de Davi nasceu a Virgem Maria, nasceu São José, nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo. É o fim de toda essa história.

Os senhores têm aí qual é o desfecho daqueles que, nas ocasiões de muita dificuldade, nas ocasiões de muito angústia, muita aflição para a causa do bem, ou seja, para a causa da Igreja, vão para a frente, não se incomodam com nada, enfrentam qualquer coisa confiantes na misericórdia de Deus, no auxílio de Deus, na interseção de Nossa Senhora.

O que acontece? Nesta terra ou na outra vida  –  como foi há pouco tão lembrado pelos meus jovens proclamadores – nesta terra ou na outra vida, a recompensa deles será demasiadamente grande.

Minhas senhoras e meus senhores, nós vamos passar seis meses com contatos fortuitos. Durante esses seis meses nós vamos nos encontrar, vamos ouvir falar uns dos outros mais ou menos. Quando chegar esses seis meses, eu espero que haja narrações muito maiores ainda a serem feitas de tudo quanto fez a TFP. Essas narrações se comporão, em boa parte, daquilo que, em tantos e tantos países, fizestes vós, ó beneméritos Correspondentes e Esclarecedores!

Vamos todos juntos. Somos fracos, nós não temos força em comparação com o moloch do mundo moderno. Mas, Nossa Senhora preside a nossa reunião. Ela é a Virgem Maria que tem em Si um coração ordenado como um exército em ordem de batalha, diz a Escritura, dEla.

Vamos então, em nome dEla, lutar e cumprir o nosso dever. Com isto nós viveremos na batalha, na dificuldade, mas nós morreremos na paz e teremos a vida eterna!


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