Plinio Corrêa de Oliveira

 

O rumo indicado pelo leão dourado:
Fé, luta e sacrifício

Sem Fé não há moral. Sem moral não há civilização

 

 

 

 

 

Encerramento de Simpósio, 15 de novembro de 1983, terça-feira

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Meus caros, é com muito agrado que, depois de ter estado em Amparo e ter visto o belo castelo rubro que ali se erguia; ter visto a bela sala de atos onde se realizariam as reuniões; e ter visto vosso entusiasmo que efervescia pelas vastidões da fazenda; depois de ter estado lá em Amparo, eu vos encontro agora aqui e vos encontro confirmados e aumentados no entusiasmo, e falando palavras que não podem deixar de ser muito gratas ao meu coração!

Gratas ao meu coração, com efeito, porque dizem coisas para as quais, na minha remota juventude, desde minha remota juventude, incessantemente até hoje, e se Deus quiser até o fim de meus dias, eu viverei: é para o serviço de Nosso Senhor, que na época atual é luta, não é apenas serviço.

É uma luta que, incruentamente, sem efusão de sangue, pode chamar-se guerra! É guerra ideológica na qual nós estamos contra os adversários de Nossa Senhora, contra os adversários da Civilização Cristã. É guerra que nós o sentimos bem – e vós o dizíeis há pouco com muita propriedade de expressão – guerra que se sente que está palpitando, porque ela está a dois passos da vitória!

Há um princípio na ordem do universo, que eu tentarei tornar claro aos vossos olhos, e que tornará também claro para vós a razão das vossas esperanças.

Qual é esse princípio? O princípio é o seguinte: sempre que algo constrói, pode chegar a limites inimagináveis. Sempre que algo destrói, tem um limite fechado, de maneira tal, que chegando a um certo nível está arrebentado!

Os Srs. imaginem alguém que queira construir uma torre, não mais a torre de Babel, mas uma torre duas ou três vezes maior do que o maior arranha-céu norte-americano. Bem, pode construir, construir... quando chegar no alto, sempre pode caber uma pergunta: não daria para mais um andar? Qual é no céu o limite para essa construção? Antigamente havia um limite. No tempo em que não havia elevador era a capacidade dos homens subirem. O homem, se construísse um prédio do tamanho do Himalaia, não podia subir lá todos os dias. Então, era uma construção inútil.

Mas com a eletricidade e o elevador, não há  limite. Enquanto mais subir, mais subir... e hoje em dia, um prédio de 80 andares, que pode espantar pelo seu tamanho, é até certo ponto uma velharia. Porque tudo bem examinado, não se compreende porque não se constrói  um prédio de 160 andares! E por que não um de 320? E daí para frente. As obras da construção, as obras daquilo que é positivo, aquilo que tende para o alto, não tem limite. Elas vão, vão, vão!

As obras da demolição têm um limite. A gente pode começar a destruir pedra por pedra um edifício de 320 andares, há um momento em que a gente diz “daqui a pouco acabou!” porque encontra o chão raso e está acabado, limitado!

Os Srs. imaginem um médico que vai tratar de um adolescente de vossa idade e o encontra, por exemplo, com uma constituição física frágil. Então, começa a dar fortificante, exercícios, não sei o quê, para melhorar a saúde, etc. Em última análise, essa melhora não tem limite: o rapaz pode ficar como um touro, pode ficar robusto, pode ficar corado, pode ficar o que for, não há limite! Pode ficar tratando da saúde até mais não poder.

Naturalmente, se o rapaz tiver um certo bom senso, ele mesmo pára à certa altura, porque não adianta gastar tanto tempo e dinheiro para ter saúde e não ter juízo. A gente não vai empregar em saúde um tempo além do necessário, do adequando, é claro. Mas em tese, um homem maníaco por saúde poderia passar a vida inteira se tratando que ele ainda teria mais alguma coisa para fazer.

Eu soube de alguém - alguém com coração perfeito - que mostrou para um amigo meu a radiografia de seu coração, depois ele foi ao médico, mandou estudar as pulsações do coração e o médico chegou à conclusão seguinte: as pulsações estavam perfeitas, o coração dele estava perfeito. Era um homem talvez de uns 40 nos, estava com um coração de 20. Mas que havia uma certa inflexãozinha assim do coração, que seria ainda mais garantida se fosse conduzida a esse ponto. Esse homem se pôs a se tratar.

É claro que isso nunca mais acabará. E de melhora a melhora esse homem de repente leva a  breca, mas afinal de contas... - o que eu sinceramente não desejo - mas pode acontecer. Mas é que, para melhorar, não há limite. Para piorar não: começa a dar veneno para o sujeito, em determinado momento ele morre, porque a obra da demolição, a obra da destruição tem um limite na própria ordem das coisas!

É por isso que todas as bactérias e gérmens que há no corpo humano, favoráveis à vida humana, têm um grande trabalho para realizar em nós: enquanto nós vivermos, elas estão combatendo as antitoxinas, os antigermens, essas coisas nocivas. Bem, os gérmens que destroem, se eles vencerem, eles têm um trabalho relativamente rápido. Se eles vencerem acontece uma coisa: é que quando um gérmen saudável trabalha no homem, o gérmen saudável prospera com o trabalho que ele põe no homem. Ele trata do homem e se enrobustece da força que ele põe no homem.

Quando o gérmen é destruidor, à medida que ele vai destruindo o homem, ele destrói aquele de quem ele se nutre. E no momento em que o homem expira, ele leva para a sepultura todos os gérmens! Está na ordem das coisas. A ordem das coisas é essa. E tudo que destrói, quando chega a um certo extremo de destruição, a gente pode dizer: a vitória dele é a morte dele. E no momento em que ele tiver acabado de apunhalar aquele que ele está matando, ele rola para a cova junto com aquele que ele matou!

Ora, quando nós consideramos o mundo moderno, quando nós consideramos a crise moral do mundo moderno: a desarticulação completa da família, a desarticulação da política, a desarticulação da economia, a desarticulação de todas as manifestações da atividade do homem; quando nós consideramos...  Há pouco se falou do movimento punk, do movimento hippie. Quando nós consideramos esses movimentos que aparecem no mundo moderno e que nos dão a impressão que se tem quando se trata com um tecido podre, a gente vai tratar com um tecido podre, pega assim, pela ponta, os fios começam a sair, a se desagregar, o tecido não resiste à menor pressão...

Assim também o movimento punk, são os fios podres do mundo de hoje, começam a fugir da sociedade, começam a fugir da boa organização social. Não são mais parte do tecido social, mas são fios que fogem e que se desfarelam. E a gente vê que esse movimento se multiplica pelo mundo inteiro.

Quando se vê movimentos que pleiteiam - e é o que há de mais moderno - a anarquia, a desagregação dos governos, a desagregação de toda ordem, para os homens voltarem a formar tribos como era no tempo dos índios aqui no Brasil...

Eu li um trecho – é incrível dizer – de um alto prelado católico, que dizia que Anchieta, Nóbrega, os missionários que vieram ter aqui no Brasil não fizeram bem nenhum! Que o homem era mais feliz quando era pagão e vivia na selva... Quando se lê uma coisa dessas e se vê que um homem escreve isso e causa pouca indignação, quer dizer, o conjunto da sociedade não está pronto para se indignar com isso, para repelir essa ação que destrói, nós temos alguns dos muitos sintomas de um mundo que se desagrega, de um mundo que se esvai. E a gente se pergunta: quando essas idéias acabarem tomando conta de tudo, o que faltará? Não faltará mais nada! A destruição... lá vai!

Ora, essas idéias são as idéias modernas, são as que estão na ponta, são as que a todo momento vão se desenvolvendo. Nasceram na década de 60 com a Revolução da Sorbonne [em Paris, 1968, n.d.c.], explodiram pelo mundo inteiro e vão se espalhando como gás asfixiante, como um gás mefítico. Não há um país no mundo onde esses movimentos não estejam continuamente se desenvolvendo.

Os Srs. considerem a avançada do comunismo. Os Srs. considerem que o comunismo só avança aí pela sociedade, mas penetrou largamente pelo Corpo santo da Igreja Católica, Apostólica, Romana, e que nós temos uma “esquerda católica” dentro do próprio meio católico. Nós nos perguntamos todos: o que falta para que esse corpo, esse organismo chamado sociedade contemporânea, pare de pulsar? E a nossa resposta é fatalmente essa: falta pouco!

Os Srs. veem o sintoma disso na própria criminalidade. Algum tempo atrás, cometiam-se crimes que causavam horror aos homens retos. Hoje cometem-se crimes que causam horror até a alguns criminosos! Chegamos ao ponto em que o crime causa horror ao crime!

Os Srs. ouviram falar há dias atrás (talvez tenham lido nos jornais, tenham ouvido contar em suas casas): num banco estavam pessoas recebendo dinheiro, recebendo cheques nos guichês do banco, quando de repente entram ladrões e declaram: “Isso é um assalto! Ninguém pode entrar, ninguém pode sair! Todos se alinhem aí na parede. Nós vamos agora começar a pegar o dinheiro do banco e depois vamos pegar o dinheiro de vocês que estão aqui. Ninguém saia: todos vão ficar sem dinheiro!” Sem tomar em consideração que às vezes eram pobres donas de casa, empregadas domésticas, esposas de pequenos funcionários públicos que iam ali pegar o ordenado do marido, o ordenado delas, para subsistirem durante o mês. Pouco lhes incomoda. “Dá cá o dinheiro, se não mato!”

Bom, uma senhora que estava com uma criança no colo, se alinhou junto às outras. Uma que tem recorde de atletismo, uma outra, estava ali por coincidência, também foi obrigada ficar perto e deu depois testemunho à polícia do que se passara. Chega essa senhora, trazia no colo uma criancinha de meses e a criancinha chorava. Não há mãe que possa impedir que a própria criança chore. O criminoso chegou para ela e disse: “Faça essa porcaria parar de chorar senão lhe mato!” A mãe não pode obrigar uma criança a parar de chorar. Se for zangar com a criança, esta chora ainda mais. A mãe ficou toda trêmula perplexa e ele disse: “Bom, eu mato já!” Deu um tiro, estourou a cabeça da criança, a bala penetrou no coração da mãe, as duas caíram mortas!...

É possível que os Srs. nas suas casas tenham ouvido comentar esse crime. Os jornais de São Paulo deram largamente isso. É um crime como não acontecia antigamente!

Quer dizer, há dois, três anos atrás não acontecia um crime desses. Mas como é que se compreende que a barbaridade possa chegar a esse ponto? Esse homem é pior do que uma hiena, pior do que um chacal! Como é que ele faz uma coisa dessas? Ele faz porque toda a desordem do temperamento, toda a falta de princípio, toda falta de Fé, está conduzindo a esse resultado.

Agora, daqui a mais alguns anos, como é que nós estaremos? Onde é que estará a Humanidade? Não se pode ter idéia! Quer dizer, são os sinais da desagregação final.

Mas dirá alguém: “Está bom, pode ser que a Humanidade atual seja um navio que vai à pique. Quem afirma que é o leão dourado que vencerá?”

A resposta é muito simples. As coisas que sobrevivem, sobrevivem de fazer o contrário daquilo por onde iam morrendo!

Se uma pessoa adoece porque dorme num quarto sem ar e, portanto, tem uma respiração defeituosa e acaba tuberculosa, o jeito que tem é mandar para Campos do Jordão, onde a altura é enorme, o ar é puríssimo, e pode ficar continuamente com as janelas abertas. De maneira que o doente em Campos do Jordão, ou está no terraço, ao ar livre tomando ar, ou está no quarto com janelas abertas, de maneira que é mais ou menos a mesma coisa do que ao ar livre. A falta de bom ar fê-lo adoecer. O estremo do ar puro é só o que pode fazê-lo sarar!

E se foi a falta de Fé que conduziu os homens a essa situação – e certamente foi: sem Fé não há moral e sem moral não existia civilização - esse é o princípio evidente! Onde não há moral não há civilização. Mas por que é que o homem vai cumprir uma moral dura de cumprir - porque a moral é difícil - se ele não tem fé em Deus e na vida eterna? Se ele não tem Fé no auxílio de Deus para ter forças para cumprir a lei moral, onde é que ele encontra recursos para cumprir essa moral? É impossível! Sem Fé, não existe moral; cortaram a Fé, caiu a moral; caiu a moral, está caindo a civilização.

O resultado: se queremos que alguma coisa sobreviva, é com uma Fé Católica, Apostólica, Romana, ardente, com uma moralidade elevada, austera e batalhadora! Porque recupera-se a saúde fazendo o caminho inverso daquele por onde se adoeceu. Esse é o caminho do Leão Dourado. O Leão Dourado vos aponta esse caminho! É o caminho que ele mesmo procura seguir! E para ele, ele vos convida. É o caminho que tem que dar para a solução dos problemas contemporâneos.

É claro que Nossa Senhora disse em Fátima - os Srs. sabem bem - que se o mundo não se convertesse haveria grandes desgraças, infortúnios, castigos etc., mas terminou: “Por fim, Meu Imaculado Coração triunfará!”

O que quer dizer o triunfo do Imaculado Coração dEla? Quer dizer, os homens haveriam de tornar a ter Fé, haveriam de voltar a praticar a lei moral, haveriam de ser bons católicos! E daí se geraria uma verdadeira Civilização Católica. Não é para outra coisa que luta o Leão Dourado, rompante, sobre fundo rubro!  É para servir esse ideal que ele existe e que ele vos convida.

Seguindo esse caminho, vós seguireis o caminho da vitória de Maria. Ela nos ajudara e fará com que cheguemos até o cumprimento da promessa dEla.

Assim, meus caros, eu vos felicito de ter estado esses dias no Eremo do Amparo de Nossa Senhora, de ter ali passado na consideração de grandes problemas, de grandes verdades e de grandes idéias.

Vós voltais agora à vida de todos os dias. Vós tereis um choque! Não tenhais dúvida a esse respeito. Vós ides para o mundo, amanhã: vossos colégios é um mundo diferente, inteiramente diverso. E vós tereis que sofrer esse choque! Quem não é lutador, como pode pretender tomar parte numa batalha? Mas quem quer ser homem na força do tempo, pode pretender não ser lutador? A vida do homem é luta. Nós existimos na terra para a luta!

E os Srs. amanhã vão encontrar obstáculos: é o colega de boca obscena que vai dizer imoralidades, é a colega que o vai atrair para aquilo que não deve ser, é um jornal que deixam num ônibus a vosso alcance e que tem um anúncio obsceno... Homem, é tanta coisa! Por todos os lados vós encontrareis o contrário daquilo que conduz ao caminho do Leão Rompante, daquilo que conduz à Nossa Senhora. E vós tereis que saber converter esse entusiasmo de que agora dais mostra, numa atitude séria e varonil!

Jornal? Não! Colega? Não! Imoralidade? Não! Meu caminho está tomado! Quer rir? Ria-se! Eu não terei o ridículo de mudar meu caminho por causa de seu riso. Eu continuo! Se minha consciência me diz que isso é assim, não é por causa de sua opinião de estouvado, que não quer fazer outra coisa senão imitar os outros, não é por causa disso que eu mudarei o meu caminho. Os outros façam o que quiserem: eu seguirei o caminho de Nossa Senhora! Para frente! E eu vos garanto que vós tereis uma das maiores compensações já nesta terra.

Nosso Senhor disse que quem se sacrificasse por Ele, lutasse por Ele, desse tudo para a Causa dEle, Ele daria o cêntuplo nessa Terra e depois a vida eterna! Qual é o cêntuplo nesta Terra? É a tranqüilidade de consciência! Terminado o dia, um exame: lutei e não cedi nenhuma vez! Meu sono será abençoado pelos Anjos e por Nossa Senhora! Acordais, começou o dia, começa a vida.

Outros se atiram pela vida como estouvados. Vós pensais: começou a luta, começou o sacrifício. Iniciais a vossa caminhada, os Anjos dão glória a Nossa Senhora no céu: “Mãe nossa, um herói vosso começou a andar! Orai por ele! Mandai-os que o protejam de todos os modos!” E a proteção não consiste sempre em que afastemos os obstáculos do caminho dele. Consiste em lhe dar forças para ele remover os obstáculos!

Esse, meus caros, é o vosso amanhã. Há o vosso depois de amanhã. Também para os que seguem o Leão Rompante há a tranqüilidade, há o sossego, há o lazer... Há a Sede da Saúde, há o Santo do Dia aos sábados à noite e depois, ao longo de todo o Domingo, um longo, afetuoso e entusiasmado convívio fraterno à luz dos maiores ideais! Vós vos reparais no gáudio da alma e na tranqüilidade da consciência. E na semana seguinte a luta continua!

É o que eu vos desejo, meus caros, de todo coração! Eu vos felicito e peço que Nossa Senhora os ajude!


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