Plinio Corrêa de Oliveira
Anticatólico e radical igualitarismo: nova religião
Santo do Dia, 8 de novembro de 1978 |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Foto ilustrativa: retumbante espetáculo "Fiat lux: Illuminating Our Common Home" [Iluminando nossa casa comum], que concluiu a jornada de abertura do Jubileu extraordinário da Misericórdia, a 8-12-2015, inundando de sons e de luzes a fachada e a cúpula da Basílica de São Pedro (no Vaticano). Ao longo do show, patrocinado pelo Grupo do Banco Mundial, imagens de leões, tigres e leopardos de proporções gigantescas se projetavam sobre a fachada da mencionada Basílica. [...] nós podemos passar a assuntos, aos quais como os senhores verão, os passarinhos não são estranhos, mas que se devem considerar debaixo de um ponto de vista completamente diferente. Para isso eu preciso fixar um pouco a doutrina católica a respeito de um ponto. A Igreja ensina, a respeito da vida, que ela, em cada ente vivo, resulta de um princípio, de um agente que existe neste ente. Esse agente é conatural com o ente, é o próprio ente, é uma qualidade desse ente. No homem é a alma humana; nos animais é a alma animal e nos vegetais é a alma vegetal. Mas o que a Escolástica entende por “alma” quando ela diz isso? Ela entende por alma precisamente o principium vitae, o princípio misterioso do qual não se pode dizer outra coisa senão isso que dá, que confere, que é a vida do ente vivo. Então, há três graus de almas, como há três graus de seres: a alma do homem que é uma alma intelectiva, que compreende as coisas e que se conhece a si mesma. Estas são duas qualidades que não podemos perder de vista. O homem conhece as coisas não como um boi conhece. Se o boi olhar para esta panóplia e eu olhar também, vemos a mesma coisa. E como o boi não usa óculos e eu uso, provavelmente o boi vê melhor a panóplia do que eu. Mas ele não entende a panóplia. Ele não sabe qual é o fim, nem diferencia os objetos, ele apenas recebe nos olhos a imagem da panóplia que entra como numa máquina fotográfica. E ele tem para a panóplia uma sensibilidade ocular parecida com a da máquina fotográfica. É desse gênero, não é idêntico, mas é parecido com o da máquina fotográfica. Sobretudo o boi não se conhece a si próprio. Eu posso dizer uma coisa que é eu, por onde eu percebo que existo e não sou os outros, e que os outros não são eu. Nós adquirimos isso na primeiríssima infância, a noção de que somos um circuito fechado. É talvez a primeira ideia por onde nos vem a noção do “eu” é quando notamos que uma coisa nos agrada mas que toca aqui: eu sinto, e se eu não contar a ninguém, ninguém sente a não ser eu. Então, há um abismo. E se dói aqui eu gemo e ninguém geme a não ser eu. Então, eu sou um circuito. Mas se eu sou um circuito fechado, e os outros são circuitos fechados, nasce aí uma ideia de que eu sou outro. E de que eu tenho direitos, interesses ― e talvez bons e maus movimentos ― inteiramente diferentes dos movimentos dos outros. Isto faz um ser intelectual, um ser cuja alma é espiritual. O próprio desta alma, como os senhores estão fartos de saber, é que quando o homem morre ela se destaca do corpo e vai ver Deus face a face ― ou vai para o purgatório até ver Deus face a face, ou vai para o inferno para jamais ver Deus face a face. Mas ela é julgada e condenada. Eu até dias atrás conversei com Dr. Castilho ― isso é apenas um parêntesis ― sobre um livro muito interessante do qual ele leu um comentário na [revista francesa] “Pensée Catholique”, e é a história de uma médica ou um médico francês que estudou o caso de 150 pessoas que ficaram tão gravemente doentes que clinicamente falando foram dadas por mortas e depois se recuperaram. Mas de tal maneira que, por exemplo, os sinais de palpitação do coração, sinais eletrocardiográficos, tocaram no zero. Então, essa médica, ou médico, ou psicólogo foi falar com essas 150 e tantas pessoas perguntando a cada qual o que tinha sentido enquanto estava vivo, com a alma não separada do corpo, não morto, mas já dado como morto, o organismo tendo parado de funcionar. E os resultados foram os mais surpreendentes. Eu até mandei vir o livro e quando chegar se eu tiver tempo de ler, eu leio; se não tiver, pedirei a algum de nossos médicos para ler e dar esse espantoso jornal-falado de um homem morto-vivo. É verdadeiramente surpreendente. Mas a alma não estava cortada. Porque se estivesse cortada, só por meio de uma ressurreição poderia voltar ao corpo. Ali, não. A alma não estava desligada, tinha continuidade com o corpo. E pelo que contaram essas 150 e tantas pessoas, por exemplo, a alma nesse estado tem inteiro conhecimento de si mesma, percebe o que está se passando em volta e tem conhecimento que está sendo dada por morta. E tem ao mesmo tempo noção de que ela, por algum lado, continua ligada ao corpo, de maneira que provavelmente percebe que está por um fio em ser enterrada viva, ou não. Com todas as consequências disso, porque se a alma fica nesse estado, ela deve perceber por exemplo que haverá um momento em que essa ligação com o corpo desaparece. Então, deve ser um estraçalhamento doloridíssimo. E ela fica à espera disso, não sabe se vai se realizar no caixão ou vai se realizar aonde... e fica nessa palpitação. Os senhores pensarem que com algum desta sala pode acontecer isso... os senhores compreendem quais são as incertezas da vida humana. Como a doutrina católica proíbe a eutanásia, é proibido matar a pessoa que está nessa situação. Então, o que se pode fazer, é enterrar o mais tarde possível. Mas é bem certo que quando começa a putrefação, a alma se destaca? Eu não tenho certeza. Não tenho estudos que me permitam afirmar isso. E aí uma série de perguntas que partem daí, mas que mostram a atividade do nosso princípio espiritual de vida que é alma. Quer dizer, mesmo depois de ligada como que por um fio ao corpo, a alma ainda percebe o que se passa em volta, percebe sua própria situação, tem conhecimento de seu próprio ser e do destino que a está esperando. Sem falar, naturalmente, para a alma que se sabe em estado de pecado mortal, o pânico do julgamento de Deus; ou, para a alma que se sabe em estado de graça, o medo de desesperar e a oração para que Nossa Senhora venha colhê-la logo, para poder ver Deus face a face. Agora, imaginem para uma alma que está neste estado, a alegria ― se ela está em estado de pecado mortal ― a alegria de tomar conhecimento que está entrando um padre e que o padre vai dar a ela uma absolvição. Quer dizer, a alegria. Aí os senhores podem imaginar os altos e baixos de uma situação pela qual eventualmente alguns de nós passaremos. Não se sabe. Esse é o papel da alma espiritual no homem. Agora, o animal não tem alma espiritual. O princípio de vida dele é ligado à matéria, é co-identico à matéria. De maneira que ele tem conhecimento das coisas exteriores, mas não entende o que vê, e não tem conhecimento de si mesmo, não tem ideia de que é um circuito fechado. Não tem nada. Ele funciona ― para termos ideia do que é um animal, mas assim mesmo ideia incompleta ― ele funciona como um homem que esteja dormindo tão profundamente que não tem consciência de si. Tem algumas reações físicas, se apertam ele vira de lado, essas coisas, mas ele não tem a menor noção de si mesmo. E depois tem o vegetal que nem sequer tem conhecimento do mundo externo. Não conhece nada. O princípio de vida do vegetal é tão mais baixo que ele apenas vive, mas não tem nem sequer movimento. Ele é um simples vegetal. Depois tem naturalmente os minerais que não têm existência. Pela ordem estabelecida por Deus, todos esses seres são bons e foram criados à imagem e semelhança dEle. Uns são imagens de Deus; outros têm a semelhança de Deus. Qual a diferença entre imagem e semelhança? É mais ou menos a seguinte: um filho pode ser semelhante ao pai; agora, um artista pode fazer uma obra de arte; vamos dizer, um filho pode ser a imagem do pai, pode ser parecidíssimo com o pai, o artista pode fazer uma obra de arte, por exemplo, cinzelar uma jarra que seja semelhante a ele, quer dizer percebe-se pela jarra a psicologia do artista. Não quer dizer que o artista tenha a cara de jarra, nem quer dizer que a jarra tenha cara de gente, mas quer dizer que há um traço de analogia entre o artista e a jarra. Nós somos os filhos parecidos com o pai; eles são a jarra parecida com o artista. E são jarras de qualidades diferentes. E Deus estabeleceu, como princípio, que esses seres existem todos para o serviço do homem. De maneira tal que os animais e as plantas existem para o serviço do homem. O homem não existe para o serviço do homem. Um homem não tem o direito de matar outro, não tem o direito de comer o outro, porque cada homem foi criado diretamente para Deus. Mas o homem tem o direito de comer o animal porque este foi criado por Deus para o homem. E o vegetal foi criado por Deus para o homem e para o animal. De maneira que o homem tem o direito de comer um boi e direito de comer uma planta. Um boi não tem propriamente o direito de comer uma planta, porque ele não tem direito. Quem não tem alma espiritual não tem direito. Mas está de acordo com a ordem da natureza que um boi coma uma planta. Mas é muito mais raro que um vegetal coma um animal. Há disso. Há vegetais que tem não propriamente uma sensibilidade. Fala-se em sensibilidade, não é. Mas tem uma propriedade por onde quando passa uma mosca perto, eles se fecham. E o animal ali preso naquela prisão verde acaba perecendo e a matéria de que ele se compõe é assimilado pela planta. Pode-se dizer, portanto, que a planta como que come o animal, ela assimila o animal. Mas propriamente isso é exceção na natureza. A ordem estabelecida por Deus é que o ser superior, que é o animal, se sirva do ser inferior que é a planta, e conforme for, coma a planta. Por exemplo, tem todo o propósito, a gente vendo uma paisagem, tranquila etc., um boi à sombra de uma arvore. Está a árvore ali parada servindo de guarda-sol para o boi. Não podemos imaginar um animal parado servindo de guarda-sol para uma planta. Qualquer um percebe que seria uma inversão da ordem natural das coisas. E em consequência - e aqui pega o carro - afirmar que há uma igualdade entre homens, animais e plantas, é negar a superioridade do homem, negar a alma espiritual que tem o homem, e que lhe dá direitos sobre os animais. E então, afirmar essa igualdade é negar a espiritualidade da alma humana. É fazer uma profissão de fé de materialismo. E quem nega a alma humana nega a Deus. Então, é fazer uma afirmação de fé de ateísmo, ou de não fé, porque o ateísmo não é uma fé. É afirmar o ateísmo. Pergunto se cabe aqui, se está preparado o conjunto de noções, para nos colocarmos diante do seguinte: Há doutrinas religiosas que negam o que estou dizendo. São as doutrinas chamadas da metempsicose de que os senhores já terão ouvido falar. A religião dos brahamanes, por exemplo, afirma isso: que o homem é criado por Deus e quando ele na vida anda bem, ele morre e se dissolve em Deus, mas Deus é uma espécie de éter, vago, um fluído, não é uma pessoa, dentro do qual o homem passa a se dilatar agradavelmente. E está acabado. Para terem ideia, imaginem uma igreja com atmosfera interior bonita, toda a luz coada por vitrais, com iluminação bonita, com vibrações do órgão e do cantochão dentro da igreja, imaginem o incenso que está queimando num turíbulo. Esse incenso naturalmente se evola do carvão e do incenso e forma aquela fumaça que se espalha pela igreja. Essa fumaça tende, pela lei da expansão dos gazes, a se misturar com a massa aérea da igreja e dentro de algum tempo não fazer senão um todo com a igreja. Essa é a ideia que tem a respeito do fim último do homem os brahmanistas. Deus seria como esse ar, e o homem seria como o incenso que se perde no meio desse ar, sem sentir nada, sem conhecer nada. Porque desgraça para eles é conhecer e sentir. O homem é infeliz porque conhece e sente; o verdadeiro é ele esvanecer-se, escapar do tormento dessa individualização que o faz sofrer. Quando o homem é mau, ele morre e vai ser animal; e quando ainda é pior, vai ser planta. Depois, se ele como planta der duro, passa a animal, depois a homem e passa a Deus de novo. Essa doutrina comporta a ideia que há uma porção de gente que fica fazendo o ciclo perpétuo, que é muito difícil escapar para fundir-se na divindade afinal. Mas essa doutrina é radicalmente contrária à doutrina católica, é uma religião falsa condenada pela Igreja Católica. Isso de um lado. Agora, de outro lado, o que é a ONU? Os senhores sabem, Organização das Nações Unidas. Essa entidade abrange todas as nações do mundo, desde a superpotência americana até Lichtenstein, Mônaco, Andorra, Luxemburgo, San Marino e qualquer ilhota ― aliás, petrolífera do Golfo Pérsico, governada por um emir e com 200 ou 300 árabes ali morando e mais ou menos brigando entre si ― tudo faz parte da ONU. E a ONU não é apenas um tribunal, um cenáculo onde as nações discutem seus mais altos interesses para ganhar a guerra, ou onde as nações julgam as suas pendências para evitar os conflitos, mas a ONU também é uma espécie de órgão internacional que recebeu uma procuração das nações constitutivas, para elaborar uma futura cultura, uma futura civilização, para preparar o século XXI. E nesse sentido, a ONU deve ser vista como o laboratório da civilização do século XXI e de todas as civilizações que virão depois. E a ONU tem um organismo especializado para elaborar a civilização do século XXI, as doutrinas dessa civilização, que se chama UNESCO. É propriamente o “clou” [o ponto-chave]. A parte mais importante da ONU não é aquela assembleia da qual os jornais dão notícias quase quotidianas, a parte mais importante dela é a UNESCO ― União... eu li e me esqueci, mas é o laboratório cultural da ONU. Ora, nesses últimos dias e com toda a normalidade, sem causar surpresa, a UNESCO, a ONU declarou exatamente uma espécie de igualdade entre os animais e os homens, a caminho de estabelecer uma igualdade entre as plantas, os animais e os homens. E a caminho de uma coisa sumamente misteriosa a respeito da civilização do século XXI que devemos analisar aqui. Porque foi uma declaração solene, feita em Paris, sede da UNESCO [a 15 de outubro de 1978], em que se celebrava o trigésimo aniversário de fundação da ONU. Nesta ocasião, se elaborou não mais a declaração dos Direitos do Homem, feita pela Revolução Francesa, e que começa com aquela frase “todos os homens nascem e permanecem livres e iguais”, mas a declaração dos direitos do animal. Os senhores estão vendo aí o segundo tombo. Primeiro a declaração da igualdade entre os homens, e agora a declaração da igualdade do animal com o homem. Como os senhores verão daqui a pouco, eles não ousam afirmar inteiramente, mas é para onde vai. De onde, sai a consequência curiosa que eles não tiram, mas começam a tirar, de que o homem alimentar-se do animal é um assassinato. E que o homem não pode comer carne. Bem, o que tem como consequência, que o homem só poderá comer ervas. Ora, isto é exatamente a religião hindu. Os senhores todos ouviram falar das vacas que são animais sagrados que andam pelas ruas da Índia e que ninguém pode tocar porque eles têm como certo que há uma alma ― não adotam propriamente a ideia de alma ― mas um ser humano que está encarnado na vaca, então não se pode comer nem mandar embora a vaca, porque é falta de caridade para um pobre ser desterrado sob as condições de vaca. E os hindus, muitos deles são vegetarianos, não comem carne. Os senhores estão vendo, então, uma espécie de volta do panteísmo oriental segundo o qual tudo é deus. E quando tudo é deus, nada é deus, proclamado oficialmente pelos representantes de todas as nações do mundo, sem um só protesto de nenhuma nação. Então, essas nações que não proclamam a existência de Deus, acabam proclamando indiretamente que Deus não existe. E nós temos, portanto, uma imersão no ateísmo. Começa, portanto, a ateização oficial do mundo. É um passo enorme dado na degringolada da humanidade. E esse passo quase ninguém atinou para ele. E é um passo enorme da Revolução. A Revolução não faz mais igualdade entre os homens, mas faz até igualdade entre os seres que estão alheios à esfera humana. Como a declaração é um pouco longa, vou ler para os senhores apenas o preâmbulo e propriamente a declaração. O preâmbulo, que dá a filosofia da lei, declara o seguinte: “Considerando que todo animal possui direitos...” Ora, é da doutrina católica que o animal não tem direito. É verdade que a Igreja afirma que não se deve maltratar o animal sem razão, mas é porque não se devem fazer atos que não razoáveis. Não é porque o animal tenha direito. Eu não tenho também o direito de amarrotar essas notícias e jogá-las fora, porque são úteis para nossa reunião, que eu tomei o trabalho de marcar, não há razão para destruir o produto do meu trabalho e destinado ao proveito dos senhores. Mas não é porque o papel tem um direito. É outra questão. “Considerando que todo animal possui direitos...” Equivale a dizer que todo animal possui alma, ou que o homem não possui alma e por isso é a mesma coisa que o animal. “...considerando que o desconhecimento e desprezo dos direitos do animal levaram e continuam levando o homem a cometer crimes contra a natureza e contra os animais...” Aparece então, pela primeira vez, esse duplo conceito de crime contra a natureza e crime contra o animal. Alguém dirá: “mas Dr. Plinio, não é um crime contra a natureza alguém, por exemplo, meter uma bomba e destruir uma montanha muito bonita, o Fuji-Yama, do qual o senhor tanto gosta?” Aqui é preciso ir devagar: se eu fizer isso irrefletidamente, estupidamente, eu cometo um ato desarrazoado e é uma ofensa a Deus que criou aquele monte para que os homens pensem nEle, para que os homens sejam levados a Ele e que eu desvio o monte dessa finalidade. Mas não é um direito do monte, é um direito de Deus. O monte não tem direito. “Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência de outras espécies animais...” Quer dizer, nós somos uma espécie de animais e outros são outra espécie de animais. Os senhores estão vendo o igualitarismo e o ateísmo desse pensamento. “...constitui o fundamento da coexistência das espécies no mundo...” Quer dizer, o fundamento pelo qual há várias espécies animais do mundo em relação à nossa é o reconhecimento do direito que tem cada espécie de não ser comida pelos outros, o que é uma estupidez, porque há espécies que vivem de comer outras. Pela própria ordem de Deus. Há animais que vivem de comer outros. De maneira que a coisa é a mais falsa... não é dizer que é anticientífica, é contra a observação comum. Vamos dizer, uma lagartixa... Quando eu me hospedava no parque balneário em Santos, ficava olhando para o mar, de um terraço que havia lá. O terraço era semi-vidrado. Eu ficava olhando as partes do vidro que não se abriam, as lagartixas comendo mosquitos. Era uma coisa muito interessante. Mas a lagartixa vivia de comer, ao menos em boa parte, aqueles mosquitos. E havia qualquer coisa na natureza dos mosquitos que eles, mais ou menos, com certa fuga, mas não muito obstinada, se deixassem comer pela lagartixa. Onde está o direito do animal? Quer dizer, é uma obsessão, é o estarem feridos por uma certa cegueira misteriosa por onde eles não veem o evidente. Isso é evidente. Um animal come a planta: também é evidente. Então, diz ele que o fato de um animal não poder matar o outro é o fundamento da coexistência... é o contrário que é verdade: o homem multiplica o número de animais pela criação porque pode comê-los. Nenhum de nós iria criar frangos se não fosse para comer. Nenhum de nós iria criar bois se não fosse para comer. Nem iria criar cavalos se não fosse para montar. O fundamento da existência é o contrário, é o fato de podermos comer uns aos outros na ordem devida. É o que explica a presença de todos no mundo. Os senhores estão vendo a condenação da caçada como um crime. Seria uma espécie de homicídio minor, se tanto, o sujeito que vai fazer caçada à raposa, ao javali, onça, “chasse de lièvre”, todo o poema de civilização que os europeus constituíram em torno da caçada desaparece estupidamente com essa selvageria. Eu não considero um crime acabar com a caça, eu considero crime acabar com as caçadas, eu considero as caçadas tão cultas, tão civilizadas, praticadas com tanta graça, e com tanta inteligência em certos países, que é um crime contra o homem acabar com esse exercício magnífico. Isso sim. “Considerando que genocídios...” Quer dizer, extinção de raças humanas. Genocídio é isso. Genus = espécie; genocídio é a morte, o assassinato da espécie. Homicídio é assassinato de um homem; genocídio é assassinato de uma espécie. “... são perpetrados pelo homem, ou ameaçam ser perpetrados...” Quer dizer, que o homem é o grande assassino que cria o risco de matar gêneros inteiros. Os senhores estão vendo que acaba sendo que a lei é feita contra o homem. E nesta lei feita para proteger o animal, o homem começa a fazer o papel do grande assassino que tem que ser reprimido. “Considerando que o respeito aos animais é ligado ao respeito dos homens entre si...” Quer dizer, é a última palavra, o absurdo. “Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, compreender, respeitar e amar os animais, é promulgado o seguinte...” Até certo ponto tem sua verdade: deve-se ensinar as crianças que compreendam os animais, que os observem, que os respeitem enquanto obra de Deus, que os queiram... tudo isso em certo sentido se compreende. Para com certos animais, não para com toda espécie de animais. Imagem um homem que vai fazer aquelas imersões submarinas e encontra um polvo, então se ajoelha e toma-se de respeito pelo polvo... O polvo com os tentáculos e ventosas, e o homem: “ó polvo amigo, eu não seria irmão do meu irmão se...” antes de ele acabar a bobagem dele, estará entrelaçado e o polvo... Os senhores querem ver como o homem fica inferior a isso? Não se pode ensinar o animal a amar e respeitar o homem. Pode ensinar o homem a respeitar o animal. De maneira que o ensino é só de um lado, tem vai e não vem. E nós é que ficamos os cavalgados. Então, é proclamado pela UNESCO e depois pela ONU ― notem bem ― é proclamado por todas as nações humanas, com estas razões aqui, o seguinte: “1) todos os animais nascem iguais perante a vida e tem os mesmos direitos à existência”. Mas entre os animais está o homem que é considerado uma espécie animal como outra. Então, o gato tem o mesmo direito à vida que uma criança que brinca com o gato. Se esse princípio é verdadeiro, então não há o direito de matar o frango. De um lado. Agora, de outro lado, também é verdade que todo restaurante é lugar de injustiças fenomenais porque se comem os animais... Então, o homem deixa de comer os animais, mas os animais não vão deixar de comer o homem. Os senhores veem a diminuição do homem a que isso conduz. Quando o Carter fala dos direitos humanos, ao mesmo tempo se tira ao homem o direito de mandar nos animais, que é um dos direitos mais naturais a ele. Eu chamo a atenção para esta frase: “todos os animais nascem iguais perante a vida”. Como perante a vida? Então não existe Deus? “Perante a vida” quer dizer que todos têm o mesmo grau de vida, a vida de um vale a mesma coisa que a vida do outro. Isso é bem? Isso é evidentemente ateísmo. É uma declaração ateia da ONU. “2) o homem como espécie animal, não pode exterminar os outros animais, nem explorá-los, violando esse direito”. Quer dizer, o homem monta num cavalo, vai trotando, está abusando do cavalo... Um homem prende um passarinho na gaiola, está como um encarcerado injustamente ali dentro. O que é contra a doutrina católica, porque foi dado ao homem a inteligência para pegar o passarinho, pôr na gaiola e depois se deleitar com a habilidade de cantar que tem o passarinho, dada por Deus ao passarinho, para o homem ouvir e se deleitar. Porque o homem é o centro, o rei da criação e tudo foi criado para o homem. A Igreja não seria a Igreja de Deus se até hoje Ela tivesse permitido isso e isso foi uma injustiça. Ora, Ela sempre permitiu e os santos fizeram. Os santos comeram carne, mandaram matar animais, prenderam passarinhos em gaiola e depois tinham êxtases em que Deus se comunicava a eles [santos] e lhes dizia quanto lhes queria bem. Fosse o menor polegar da última criancinha que um santo cortasse: pecado! Deus rompia com ele; podia matar ao longo da vida dele quinhentos bichos para comer, não tinha nada, Deus se comunicava com ele com todo amor. Então, esse Deus não é verdadeiro e a Igreja Católica não é a Igreja verdadeira. Não tem por onde escapar. (Aparte: no Antigo Testamento Deus exigia o holocausto de animais) Mandava matar e não mandava matar o homem, mandava matar animal. E o holocausto no Antigo Testamento era de centenas de animais. Característico é o caso de Abrahão com Isaac. Os senhores todos conhecem a cena sublime: Abrahão leva o filho ao alto da montanha para matá-lo por ordem de Deus, e no momento que vai matar o filho aparece o Anjo e diz: não é essa a vontade de Deus, é apenas uma prova que Deus pediu; imole um animal... É completamente contrário a isso! “3) todo animal tem direito...” “Direito”, hein?! Quer dizer, a lei deve punir quem não concede isso a ele. Esse é o sentido de “direito”. “Direito” é uma coisa que se me negam, tenho o direito a punir a pessoa que fez. “...direito à atenção, aos cuidados e à proteção dos homens”. Nós não temos recursos para ter atenção, cuidado e proteção com todos os homens e vamos ter com os bichos? Não sei se percebem o desvario de uma declaração dessas. Mas [também] o que representa de queda para o gênero humano uma coisa dessas! É o homem se afirmar, pelo que quer, igual a todos os animais. Um insulto a Nosso Senhor Jesus Cristo, Homem-Deus! Nós insultamos a natureza humana procedendo desta maneira. Insulto a Nossa Senhora! “Todo animal pertencente a uma espécie selvagem, tem o direito a viver livre em seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático. E tem o direito a reproduzir-se”. Quer dizer, não pode tirar o animal de dentro da floresta, não só para matar, mas para qualquer outro fim; não pode pescar, pois o peixe tem o direito de viver em seu próprio meio; não pode abater as aves que voam no céu. Todas elas vivem para si e não para o homem... Não sei se percebem o igualitarismo fantástico e a mudança completa de toda a vida da humanidade que a ONU acaba de proclamar de modo revoltante dessa maneira. E nenhum governo protestou. Eu tenho, inclusive, a intenção de escrever um artigo para a Folha a esse respeito. (Aparte: a ONU diz que os animais têm o direito a se reproduzirem, mas em todos os países ela propaga o planejamento familiar) É uma observação que tem todo propósito. Quer dizer, a criança nascitura, pode ser precipitado o nascimento e tolhido e a ONU favorece, favorece que se impeça o curso da natureza para conceber a criança em resultado do ato procriativo. Entretanto, o animal tem esse direito. É uma coisa do outro mundo como inversão de valores! “Todo animal pertencente a uma espécie ambientada tradicionalmente, na vizinhança do homem, tem o direito a viver e crescer no ritmo e nas condições de vida de liberdade que forem próprias à sua espécie”. Os senhores sabem qual é o resultado disso? Quem tem um animal e quer desfazer-se dele, soltar no pasto, não pode. Está habituado. E há então uma espécie de legislação trabalhista para o bicho como existe para o operário. Para o operário, em muitos casos, é razoável; para o bicho... em que sentido? Imaginem uma senhora idosa que tem um filho; esse filho tem um cachorro desse tamanho assim... ela é pobre, morre o filho e fica o cachorro em casa. Ela não tem força para lavar o cachorro, não tem dinheiro para pagar sabão e água e tudo para lavar cachorro, tem medo que o cachorro a morda, ela o que faz? Abre a porta e solta o cachorro. “Não pode, está habituado na casa dela!” Ou então, há um “Depósito Municipal de Cachorros”, DMC, que é preciso chamar para guardar lá o cachorro. E assim mesmo é preciso pagar imposto para manter os cachorros. Então, há menos pão na casa do homem para haver mais cachorro bem tratado, porque o cachorro tem direito... E apareceriam certas perguntas, os senhores podem calcular o prosaico, há animais que são habituados ao convívio com o homem, porque são a praga do homem. É prosaico... mas o piolho! O homem não pode expulsar porque está habituado...! Um homem antes de entrar no chuveiro tem que fazer uma investigação para tirar todo bicho que há nele porque do contrário o pobre bicho fica afogado e vai para o ralo. E podem-se cometer, assim, vários crimes... Quer dizer, ninguém sabe até que ponto essa loucura chega. Mas tanto está planejada que foi aprovada na surdina e até já começa a ser aplicada. Mais ainda: se os senhores fossem deputados ou senadores, não teriam vergonha de apresentar uma coisa dessas? Não iriam achar que o país inteiro iria dar gargalhadas dos senhores? É forçoso. [Pois bem] disso ninguém dá gargalhada. Experimentem conversar, em torno dos senhores, criticando isto! É dos tais assuntos em que a conversa não pega, morre, e os senhores vão ficar conotados como antipáticos: “coitado do canarinho, ele quer o canarinho preso porque é egoísta”... Eu posso dizer: “Deus fez o canário para eu ouvir cantar” ― “não senhor! Deus fez o canário para ele ser livre, você não pode torturar o canário”. O canário é perfeitamente besta, não compreende o seu próprio canto, cantando no meio dos outros bichos ele não tem sentido nenhum, porque os outros bichos não entendem o canto do canário, é tudo sem inteligência ― o canário só vive para o homem, o canto do canário foi feito para o homem. “Não senhor, não pode ser, está acabado!” Se os senhores sustentarem tese oposta, os senhores vão ser quase tão malvistos quanto se sustentassem as teses contrárias à Revolução Francesa. Pergunto àqueles para quem isso está claro, tenham a bondade de levantar o braço para eu ter ideia. Não sei se os senhores se dão conta que eu não estou fazendo uma reunião qualquer, hein! Estou fazendo reunião sobre uma transformação anunciada para o mundo, fenomenal. E uma etapa, uma marcha da Revolução tão radical que quando eu escrevi a RCR [“Revolução e Contra-Revolução] pensei em mencionar que isso chegaria um dia, mas achei que não valeria a pena pôr porque as pessoas diriam que era exagerado, que a coisa nunca chegaria até lá. E os senhores sabem que é tão exagerado que se eu disse aqui: “estou prevendo que vai chegar esse dia”, os senhores achariam que era mais uma figura de retórica do que uma previsão. Tão exagerado que é. Mas os senhores estão com os pés implantados nesse exagero. Esse exagero agora é um fato. Os senhores olham em torno de si, o fato que os senhores reputam um absurdo, vai sendo geralmente aceito. E os senhores vão sendo enrascados pelo absurdo como um homem pode ser enrascado por uma cobra. É o resultado. Nós que guardamos a noção de que isso é um absurdo, sentimos a cobra da opinião contrária nos prender e de nos ameaçar de dentada se nós a negarmos. Vejam o que vai acontecendo conosco. Aquilo que é evidentemente um absurdo, isso passa a ser o bom senso para eles; donde nosso bom senso passar a ser absurdo para eles. Mais ainda: “criminoso” para eles. Essa é a diferença que se vai fazendo entre eles e nós. Eu não sei se os senhores percebem como o mundo da Revolução vai caminhando longe. É a conclusão para o que caminha o fim da reunião. (Aparte: existem em São Paulo hotéis para cachorros e gatos de estimação) Eu tenho visto anúncios. (Aparte: Não só hotéis, mas também cemitérios) Cemitérios, perfeitamente. Não há cemitérios para aborto que é pego na lata de lixo... Mais ainda, ninguém julga contra o direito humano que a carne de um aborto seja transformada em fixador [de cabelos] para ser vendido em Londres, mas abater um frango para cozinhar e comer...! Quer dizer, são dessas aberrações de uma época que está desvairada e que por isto peca contra Deus. O desvario dela é um pecado e ela, desvairando, comete novos pecados. É uma doidice. (Aparte: Não percebemos qual o método de análise do senhor. Se o senhor pudesse dizer como o senhor percebeu tudo isso.) Eu percebi pelo seguinte: toda essa sociologia moderna, essa mentalidade ― quase eu diria filosofia moderna ― é baseada numa espécie de revolta, inconformidade e horror com a dor. Qualquer coisa que tenha um aspecto de dor causa a eles verdadeiro horror. E depois de eles se terem revoltado contra a dor humana e então, de um lado fazerem algo que é bom que é de diminuir por meio da medicina, tanto quando possível a dor ― chegarem ao pecado na limitação da natalidade para evitar a dor, na qual a mulher pela maldição do pecado de Eva é obrigada a gerar ― está na maldição de Deus “darás à luz teus filhos com dor”, que eles haveriam de chegar a ter inconformidade com toda dor animal, revoltados com a dor animal com o que ela tem de parecido com a dor humana. E, no fundo ― eu não estava querendo fazer uma... faço de bom grado, não era meu programa porque não imaginei que a coisa despertasse interesse a esse ponto, mas no fundo, se o sr. quiser analisar o estatuto dos animais, o sr. sabe o que é? É a aplicação ao animal do “é proibido proibir” da Sorbonne. Deixar o animal fazer o que ele quer e não sofrer da parte do homem dor nenhuma. E o homem, a quem se dá de tal maneira liberdade que é proibido proibir, fica proibido de proibir os animais. Então, é de um lado a anarquia onde deveria haver a ordem, e de outro lado é a tirania onde deveria haver a liberdade. O homem vive na anarquia porque não haverá governo, mas uma convicção filosófica o impedirá de usar o animal para matar sua própria fome. A coisa chega até lá. Agora, eu vi que esta revolta contra a dor, arrancava aos poetas e aos literatos e às pessoas sentimentais as mesmas manifestações de pena que tinham de um homem. Eu vi, por exemplo, senhoras comentando: “pobre passarinho, preso nessa gaiola, eu me indigno, pobre passarinho teria direito à sua liberdade, se eu pudesse eu abriria essa gaiola...”. Como se o passarinho fosse um ser capaz de sentir à maneira de um homem, e falando do passarinho como de um inocente detido num cárcere. De um inocente detido num cárcere diz-se isso. “Coitado, se pudesse tirar, é uma injustiça”, está perfeito. Mas dizer isso do passarinho? É porque a pessoa, na revolta contra a dor, chega a atribuir mais ou menos ao passarinho algo do estado de espírito parecido com o do homem. E tem, então, a compaixão como tem com o homem. O sr. dirá: “Mas Dr. Plinio, o senhor entra em contradição consigo, porque há pouco o senhor elogiava os eremitas que dão comida aos passarinhos e se deliciava com os passarinhos comendo a geleia” [trazida por] do Dr. Luizinho. Isto é muito diferente: eu posso fazer bem a um animal, posso fazer cessar a dor de um animal, mas é apenas por uma vaga analogia, por essa espécie de bondade que significa manter as coisas criadas por Deus na ordem posta por Deus. É isso. Não é que eu vá querer o passarinho como quereria uma criança. Evidente. E isto me levou a desconfiar que viria um dia em que se faria o que está feito aqui. A última consequência. “Todo animal escolhido pelo homem para companheiro...” Vejam os senhores uma espécie de concubinato ou matrimônio do homem com o animal. “...tem direito a uma duração de vida correspondente à sua longevidade natural”. Não sei se entenderam esse charabiá: o homem tem um cachorro e então é obrigado a dar condições para que o cachorro viva a duração natural de um cachorro. E se o homem não tem o dinheiro para isso? Ele é obrigado a se privar para atender o cachorro? Se solta o cachorro, é crime. Sabem qual é o resultado? Nenhum homem mais vai querer ter cachorro. E quem perde com isso ainda são os cachorros. Porque uma coisa é querer ter um cachorro em casa, outra coisa é admitir uma espécie de filho com metralhadora atrás... com polícia atrás. Admite o cachorro e atrás dele entra a polícia para ver se está tratando bem do cachorro. Para não ter polícia, não quero cachorro. A polícia que elimine seus cachorros. Agora, como a polícia também não vai querer o cachorro, os cachorros ficam rodando pela rua. “Todo animal utilizado em trabalho tem direito a uma limitação razoável da duração de trabalho...” Oito horas de serviço... Eu estou certo de que quando os senhores se levantaram hoje, não imaginavam ouvir um absurdo desses hoje à noite. É a surpresa do dia. “...e de uma intensidade desse trabalho com alimentação reparadora e repouso...” De maneira que haverá uma regulamentação para canários, para animais de carga, para tudo... E o bicho passa a ser o pesadelo do homem. Mas eles querem. O homem solta o bicho e deixa-o viver à vontade. Então, proclama a independência do bicho em relação ao homem. Revolução Francesa na ordem da vida! Está lógico, está claro. “8) A experimentação animal que envolver sofrimento físico ou psicológico...” “Psicológico” para animal! “Psique” é alma. Falar da psicologia do animal é falar da alma do animal... “...é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de experimentação médica, científica, comercial ou de qualquer outra modalidade”. Então, há inúmeras doenças que se curam hoje por causa dos laboratórios em que foram feitas experiências em animais. E o animal é utilizado para salvar a vida do homem. Passa a ser proibido. Acabam-se com as cobaias, acaba com qualquer experimentação animal. O homem que sofra como quiser, a cobaia tem o direito dela à vida. Os senhores compreendem, quando a coisa chega a esse ponto, qualquer resquício de bom senso deixa de existir. “Se o animal for criado para a alimentação deve ser nutrido, abrigado, transportado e abatido sem que sofra ansiedade ou dor”. Aqui entra uma contradição, porque se ele não pode ser morto, como é que agora admite que possa ser abatido, ter sido criado para alimentação? Evidentemente que eles põem esse artigo enquanto não podem suprimir os matadouros, as criações etc. Então põem uma coisa que já vai preparando o espírito. “Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem”. Acho que nem é o caso de comentar. “Todo ato que implique morte desnecessária de um animal, constitui biocídio...” Não é homicídio, é biocídio... “...isto é, crime contra a vida. “Artigo 12. Todo ato que implique a morte de um grande número de animais selvagens, constitui genocídio, isto é, crime contra a espécie”. Então, matar um grande número de animais selvagens ou matar um grande número de homens, é um crime do mesmo gênero... “13. O animal morto deve ser tratado com respeito”. Crema-se hoje o homem e o animal têm que ser tratado com respeito. As crianças abortadas são jogadas na lata de lixo e ninguém providencia nada; o animal precisa ser tratado “com respeito”. Quem jogar um gato no lixo vai para a cadeia; quem jogar o filho no lixo não tem nada. “14. Os organismos de proteção e salvaguarda dos animais devem ter representação em nível governamental”. Essa, por exemplo... eu não li tudo. Quando me deparei com os primeiros absurdos pensei: “vou ler com nossa gente no auditório”. Eu não tinha visto isso. Então, há uma espécie de ONU internacional dos animais para proteger os animais contra os homens... nível governamental: tem diplomatas, tem exército... é o governo mundial dos animais. Com alguns fetichistas, naturalmente, alguns brâmanes dirigindo essa porcaria. E termina, o último zurro, o zurro 14: “Os direitos do animal devem ser defendidos por lei, como os direitos humanos”. Imagem de aborígines primitivos projetada na sagrada basílica de São Pedro, a 8-12-2015, no acima referido espetáculo "Fiat lux: Illuminating Our Common Home" [Iluminando nossa casa comum] Bem, agora onde chega isso? Isto tem um desenvolvimento. Eu tenho aqui um folheto que me veio parar às mãos, que está razoavelmente amassado como tudo que fica algum tempo em minhas mãos, mas que tem no dorso escrito o seguinte: “Alerta, nossa luta é de todos; ingresse na APPN” (Aparte: é uma organização que está promovendo simpósio na Faculdade de Direito do Largo São Francisco) Se o sr. puder pegar material é interessante. Então: “Preservar a natureza para não perecer: “1. Ama a Deus sobre todas as coisas e a natureza como a ti mesmo”. É um absurdo. E são 10 mandamentos, como são os 10 Mandamentos da Lei de Deus. “2. Não defenderás a natureza em vão com palavras, mas por teus atos”. É uma paródia dos 10 Mandamentos. “3. Guardarás as florestas virgens, pois tua vida depende delas”. Então, os desbravadores dos sertões, os bandeirantes, foram grandes celerados... “5. Não matarás”. Não sei se os senhores estão vendo “não matarás” genérico. Não matarás nem homens, nem animais, nem plantas. Não matarás nada do que é vivo. Nasce, então, uma pergunta: um dia, do que viverá o homem? Temos que responder isso daqui a pouco. “6. Não pecarás contra a pureza do ar, deixando que a indústria suje o que a criança respira”. Os miseráveis não sabem que a criança suja o que ela respira, porque cada vez que um homem expira é uma sujeira para o ar. E, portanto, essa ideia de um ar virginal... a respiração polui. “7. Não furtarás da terra sua camada de húmus, raspando-a com o trator, condenando o solo à esterilidade”. “8. Não levantarás falso testemunho dizendo que o lucro e o progresso justificam teus crimes”. Quer dizer, o lucro não justifica que a gente atue sobre a natureza; o progresso também não justifica. Vamos ver até onde isso vai dar. Os senhores verão. “9. Não desejarás para o teu proveito que as fontes e os rios se envenenem com o lixo industrial”. “Desejar” é uma coisa, mas há certas circunstâncias em que é legítimo. É preciso prevenir, é preciso cuidar, mas há certas circunstâncias em que se compreende isso. “10. Não cobiçarás objetos e adornos para cuja fabricação é preciso destruir a paisagem; a terra também pertence aos que ainda estão por nascer. - Associação Paulista de Proteção à Natureza”. Há uma pergunta: micróbio é ou não é bicho? E o antibiótico, como é? E quando a gente para exterminar os germens de um ambiente manda jogar gazes que esterilizam o ambiente? Isso é ou não é crime? Provavelmente sim. Bom, nós chegamos a uma tal loucura que acho que é o caso de chegar à loucura final: se o homem não utiliza a planta, não utiliza o animal, onde ele deve chegar? Há duas saídas possíveis ― eu já ouvi gente dizer isso. No fundo, o que é uma árvore? É uma indústria. Ela toma no chão uma porção de materiais e os transforma em frutos úteis para o homem. Portanto, se houver um dia em que o homem possa viver da transformação industrial dos minerais da terra, e não mais da agricultura nem da pecuária, o homem poderá viver de um modo muito mais fácil porque ele se alimentará de pastilhas, em que ele come uma pastilha e está alimentado para o dia inteiro. É muito mais barato e não estará atormentando a natureza... Então, seria um projeto de fazer o homem viver da fábrica e para a fábrica. E uma civilização exclusivamente industrial, tirado tudo quanto é natural. Mas uma civilização monstruosa, porque eu me sinto completamente arrepiado diante da ideia de pela manhã comer uma pastilha e na manhã seguinte outra pastilha. E essa exclusivamente de minerais... Não creio que o homem se mantenha com isso. Não creio que isso seja possível, mas sobretudo o que eu acho é que é contrário à ordem da natureza. Mas faria uma civilização inteiramente industrial, em que o homem viveria em cidades sem árvores, sem nada disso, e numa atmosfera que a mim causa horror. E com certeza causará horror aos senhores também. Eu não entro em pormenores a esse respeito. Pode haver outra possibilidade que está na linha do tribalismo: é o homem cada vez ir comendo e utilizando menos as coisas da natureza, levado por uma religião meio hipnotizante, de maneira que chegue à extinção do gênero humano. Extinção gradual: o nascimento vai se tornando cada vez mais raro, as pessoas mais débeis, mais imbecis, sem os fosfatos e as coisas necessárias, e com isso uma decadência que chega ao fim do gênero humano. E o gênero humano acabe porque houve um genocídio; para poupar os animais e as plantas, os homens se suicidaram. Morreram do que? Do pecado de ateísmo, do pecado de igualitarismo. Qual das duas soluções é a mais viável? Eu ainda não tenho dados para dizer. Os senhores me dirão: “mas Dr. Plinio, o sr. está equiparando duas coisas muito diferentes; uma coisa é a declaração da ONU ― o sr. tem razão de dizer, é muito importante ― e outra coisa é que o sr. coloca ao lado, o folhetinho de uma associação que o sr. nem sabia qual era”. Essa história da ONU começou com coisas assim, a tal união internacional protetora dos animais que vigiava ― no tempo que havia muita tração animal ― se não se batia em cavalo, em burro etc., fazia essa propaganda, já era animada por esse espírito. Acaba dando nisso. Esse folheto vai acabar em declaração da ONU assim: é uma religião nova que entra. Que Nossa Senhora nos ajude! Nota: Leia também o documentado artigo, publicado a 15 de julho de 2018, Índios: modelo da “conversão ecológica” postulada pelo Papa Francisco (de autoria de José Antonio Ureta) |