Plinio Corrêa de Oliveira
É necessário ver a Deus, a Nossa Senhora, os Anjos e os Santos para melhorar espiritualmente? A maravilhosa morte de um Dominicano
Auditório São Miguel, Santo do Dia, 14 de janeiro de 1977 |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Está na natureza do homem, constituído por alma e corpo, que para o homem conhecer as coisas, ele precisa vê-las. E nesse sentido, com exceção da primeira ideia que ele tem e que é congênita nele, que é a ideia do ser – com exceção dessa ideia todas as coisas que devem chegar ao conhecimento do homem devem passar pelos sentidos. Constitui, portanto, para nós, enquanto nós vivemos nesta vida terrena, uma provação o fato de nós não podermos ver os seres a quem nós devemos amar. Estaria na nossa índole, seria do nosso desejo nós vermos a Deus Nosso Senhor face a face; estaria no nosso desejo nós vermos e conhecermos principalmente Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, os Apóstolos e tantos outros santos que povoam o Céu, e cujo conhecimento poderia nos indicar alguma coisa da luz celeste. Ora, nós ficamos colocados nesta contingência de que Aquele que nós devemos amar sobre todas as coisas, quer dizer, a Deus Nosso Senhor, e portanto a segunda pessoa da Santíssima Trindade Encarnada, nós não vemos, e que o nosso supremo amor se deve dirigir a um ser do qual nós não temos um conhecimento sensível. De Nosso Senhor - é verdade - nós temos algumas imagens; algumas imagens, a mais preciosa das quais, ao menos é o que me parece é o Santo Sudário. A mais autêntica, também, é o Santo Sudário. Mas em geral as imagens de Nosso Senhor que se veneram nas igrejas correspondem ao Santo Sudário, com essas ou pequenas variantes, mas vê-se que é a mesma pessoa. E com isso algo dos traços divinos de Nosso Senhor nós conhecemos. De Nossa Senhora há uma ou outra imagem, uma ou outra escultura, que segundo se acredita com as razões de fé humana, ora melhores, ora menos boas, foram pintadas por anjos, foram esculpidas por anjos. A imagem de Nossa Senhora Achiropita [Madonna Achiropita] é exatamente isto – não esculpida por mão. É um escultor que estava esculpindo uma imagem e deixou o trabalho incompleto durante a noite, foi repousar e quando ele voltou a imagem estava toda pronta. Mas essas imagens assim não trazem uma garantia da autenticidade da fisionomia ali, a tal ponto que essas imagens divergem muito entre si, quanto a traços fisionômicos etc. A única coisa que se sabe é que elas simbolizam adequadamente a Mãe de Deus, não que elas sejam propriamente retratados da Mãe de Deus. O que quis Deus colocando-nos nesta contingência? Nós não devemos presumir demais da vantagem que teria a alma em ver, conhecer de perto, falar com Nosso Senhor Jesus Cristo, com Nossa Senhora. Era certamente uma vantagem inapreciável. Mas nós somos levados a formarmos a ideia de que se nós conhecêssemos pessoalmente, nós até não pecávamos mais, e subíamos rapidamente a um tal grau de amor e de santidade que nós nos transformaríamos. A verdade é que se nós Os conhecêssemos pessoalmente, nós não estaríamos em condições melhores do que tantas outras pessoas que Os conheceram e pecaram. Quer dizer, é certamente uma grande graça, certamente muitos dos que Os conheceram salvaram-se porque Os conheceram; mas uma imunização contra a tentação, contra o pecado, nesta terra não existe, a não ser quando a pessoa é confirmada em graça, favor excepcionalíssimo, raríssimo que pode ser dado a alguém que nunca tenha visto pessoalmente Nosso Senhor ou Nossa Senhora. Mas é certo que esse é um favor muito grande e que para um exercício do amor de Deus, ver a Nosso Senhor, ver a Nossa Senhora é uma coisa extremamente preciosa. É preciosa para o amor de Deus, e porque não dizê-lo, é preciosa para a fé também. São Tomé precisou ver para crer. E Santo Agostinho disse que incontáveis almas ficaram com a salvação pendente dos dedos com que São Tomé sondou as chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. E ele disse muito bem. A expressão é muito feliz, e tem aquela – inteligência já nem se fala – mas tem aquela beleza, aquela elegância de tantas observações de Santo Agostinho. A mão incrédula e trêmula de São Tomé tocando na chaga sagrada e suspendendo milhões de almas que não caíram no inferno por causa disso; porque são almas que creram na autenticidade da aparição porque está escrito que São Tomé tocou. É verdade que a elas toca, pouco mais ou menos, a censura feita por Nosso Senhor a São Tomé: "tu crestes porque vistes; bem-aventurados os que não viram e crerem". Mas não deixa de ser verdade que acabaram crendo, e que se salvaram, talvez com seu tantinho de purgatório. Não entrarei aqui nesta indagação que vai muito além da pobre sabedoria de um ente humano nesta vida terrena; mas o fato concreto é que se salvaram muitos. E que a fé de muitos encontraria singularmente confirmada, singularmente estimulada se pudessem ver a Nosso Senhor e a Nossa Senhora. Isso é uma coisa evidente. Diante desta dupla situação, da qual Deus tira grande vantagem para a salvação dos homens, a grande vantagem essencial é obrigar o homem a ter princípios em virtude dos quais crê; se ele cresse apenas por uma experiência imediata, ele não precisaria ter tantos princípios. Fica entendido que o Céu é para os homens de princípios, que tiveram convicções fundadas em princípios, e que não precisaram ver para crer. Esse elogio "bem-aventurados os que não viram, mas creram" é um elogio ao homem de princípio, o homem que não teve a sua sensibilidade tocada pelo ver, mas era um homem razoável, um homem sapiencial e que encontrou os motivos de crer, embora não visse. Essa exigência, portanto, do indivíduo ser sapiencial, possuir a virtude da sabedoria para crer e para salvar-se é muito explicável, é muito santa e é um estímulo à aquisição da sabedoria. O homem saber que ele não pode salvar-se a não ser por meio dela, e, portanto, a crer sem ver. Apesar de tudo há, da parte de Deus, na sua infinita misericórdia a consideração do apuro em que fica o gênero humano porque não vê, porque é obrigado a crer sem ver. E há uma espécie de compaixão dessa situação tão santa, tão racional, tão justa – há uma espécie de compaixão - por onde Deus Nosso Senhor de vez em quando aparece, ou Nossa Senhora aparece, ou os Anjos aparecem, ou os Santos aparecem. Aparecem para uns ou para outros e fica constando que apareceram. Os senhores dirão: “vale muito pouco, porque a Igreja não obriga a crer nessas aparições. Isso pode satisfazer a quem creu, à pessoa a quem apareceu a figura e algumas pessoas que conheceram a pessoa que recebeu aquela aparição, e que por causa disso acham que é razoável crer nesse depoimento. De maneira que para uma aparição, vamos dizer, no máximo 200 ou 300 pessoas teriam razão para crer nessa aparição. Mas o resto todo da humanidade fica abandonado e fica sem a graça de ver, etc.” Não é verdade. Ao longo da história da Igreja há inúmeras narrações de visões feitas a pessoas de uma virtude eminente, que por causa da virtude conhecidamente eminente muito dificilmente se enganariam, e certamente não mentiriam, e que nos contam aquilo que viram. E no total essa verdadeira via láctea de visões, de aparições, das quais nós mesmos não vimos nenhuma, mas sabemos por testemunhos de outros que houve outros que contaram que as viram, essa via láctea não deixa de iluminar as trevas das noites em que estamos nós, que nunca tivemos visões e nunca tivemos aparições. E os senhores podem calcular isso bem imaginando o seguinte: que jamais na história da Igreja, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, anjos ou santos tivessem aparecido a ninguém, que nunca tivesse havido essa comunicação. É ou não é verdade que os senhores sentiriam o Céu muito mais distante, muito mais longe, se sentiriam muito mais exilados na terra; e sentiriam que a ponte levadiça que há entre o Céu e a terra, inexoravelmente jamais se baixando, os senhores sentiriam quase qualquer coisa de inóspito, quase qualquer coisa de agressivo diante desse Céu que jamais se comunica. Tomadas essas visões no seu conjunto, elas constituem um grande favor, elas constituem um grande dom. E quando nós examinamos a história das visões, nós não devemos examinar só ela isolada, mas como um ponto, como um grãozinho na via Láctea das visões que houve ao longo da história e que elas sim iluminam então de um modo ponderável, de um modo apreciável a humanidade ao longo da história. Eu não sei se está claro. Mas esse é o raciocínio que eu queria dizer aos senhores para nós em conjunto saborearmos a narração desta aparição que eu vou ler agora aos senhores. (Aparte inaudível: - Nessa ordem de ideias como... de São Francisco Xavier cujo corpo se encontra incorrupto.) É a mesma coisa. É a mesma coisa também dos milagres de Lourdes. Esses milagres são fatos que ocorrem para provar aos homens a intervenção de Deus, e para tornar mais suave, mais fácil o ato de fé que em rigor, pelo mero ensinamento da Igreja, seria possível. É um apoio, é um auxílio misericordioso dado pela Providência para o ato de fé, que pelo ensino da Igreja já tem o apoio lógico e é certo. * * * A ficha é tirada do livro “A vida de São Domingos de Gusmão, sua vida, sua obra e seus escritos”, edição da BAC [Biblioteca de Autores Cristianos], Vida dos Padres Pregadores, por Geraldo Brachet. O título do capítulo é “Da maravilhosa visão que contemplou frei Ulrico na hora de sua morte". Não sei se algum dos senhores se chama Ulrico. Mas para um frade dominicano, do tempo da Idade Média, eu acho que o nome tem muito sabor, um sabor imponderável. O sentido musical dos nomes é muito controvertível, é muito vário, tanto é que há alguns nomes que são bonitos para certas situações e não são bonitas para outras. Ulrico é um nome muito bonito para um frade com traje dominicano: aquela batina branca, aquela capa preta, aquela coroa, aquilo tudo anda devagar. “Sou frei Ulrico”... Aquele "U" me parece especialmente grave e cheio de mistérios, como convém ao um frade. Eu não sei por que, mas o "U" me parece a mais misteriosa das vogais; não sei se os srs. sentem assim, mas por exemplo o "a" é a vogal mais sem mistérios; o "o" já roça um pouco no mistério. Mas onde eu sinto o mistério com sua atração é no "u". Então Ulrico... tem um interesse especial.
"Santo Ulrico, do convento friscacense...” Deve ser patronímico não sei de que cidade da Espanha... Está aqui o Sr. Zayas para decifrar o mistério? (Não sei) “...dedicando-se muito a gosto a oração mas não tinha dote de pregador, um dos dias a oração o pôs tão fora de si, pelo amor que ele tinha ao senhor que em nenhum lugar ele encontra sossego. E adoecendo de amor, desmaiou de forças, e consumido pela debilidade começou a empalidecer, ficando tão debilitado que os frades lhe trouxeram a extrema-unção". É muito bonita a cena. Ele começa a amar, amar, amar a Deus, entusiasmo. Vejam bem, hein, os senhores não devem pensar num amor lírico; o amor a Deus pode comportar a nota santamente lírica, mas a grandeza de Deus leva a um amor cada vez mais cheio de entusiasmo. É um quase estourar de entusiasmo que esse Santo tinha, e que o foi desgastando tanto que ele chegou a esse ponto. Eu não sei que santo houve do tempo da Contra-Reforma que rezando diante do Santíssimo Sacramento ele tinha tais entusiasmos e se sentia de tal maneira tocado que ele chegava a dizer para o Santíssimo Sacramento: “Senhor, não me dai tantas graças que eu arrebento”. Esse transe de frei Ulrico me lembra esse episódio.
"Apareceram, afastando-se eles, ficou somente com o enfermo o superior. E fechado aquele os olhos, ficou imóvel e seu rosto começou a iluminar-se extraordinariamente". Os senhores vejam que bonita cena: uma cela de convento dominicano, pobre, só o superior e o santo. O santo imóvel, com perigo de vida, acabava de ser ungido; começa, entretanto, toda a sua fisionomia iluminar-se extraordinariamente. "O superior contemplava admirado a claridade do rosto do seu súdito. E quando depois de algum tempo o enfermo abriu os olhos e estendeu a vista, disse: irmão querido, como se encontra? - Frei Ulrico respondeu esquivando-se de dizer qualquer coisa. E o superior então disse a ele: eu quero de todas as maneiras que o senhor me diga o que está sentindo. - E o frade não se atrevendo, pela virtude da obediência a adiar a sua resposta, disse: Meu espírito foi arrebatado e levado a um lugar ameníssimo e contemplando extasiado a amenidade daquele lugar e admirando o que se encontrava ali só, bem-aventurado Paulo e o bem-aventurado Domingos, levando uma cruz em sua mão, e o bem-aventurado Paulo me disse: tu aqui só? Sim senhor, respondeu frei Ulrico. - Então São Paulo acrescentou: vai e siga-nos. - Eu segui, disse frei Ulrico e vi uma cidade cujos muros e torreões eram de pedras preciosas e muito resplandecentes e tinham doze portas de doze pérolas preciosas". Pode-se imaginar... é bem como eu gostaria de imaginar uma cidade celeste, com o meu gosto pelas pedras preciosas, e com o meu gosto pelas torres; torres de pedras preciosas, com pedras combinando, pedras de uma só cor, resplandecendo ao sol, e as portas feitas cada uma de uma só pérola que servia de moldura... É uma coisa magnífica! Esse frei Ulrico discerniu algo que valeria a pena altamente discernir. "E eu contemplei algumas almas que eu tinha conhecido em vida que tinham sido levados para aquela cidade, atravessando as mencionadas portas. Então eu disse ao Bem Aventurado Paulo: que cidade tão formosa é essa que eu vejo?" Os senhores estão vendo que ele mesmo desmaiado, tinha seus jeitinhos. "São Paulo respondeu: É a Jerusalém celeste! É o Céu, não? Ele já tinha preparado a pergunta: “Ó Senhor, posso entrar por elas pelas portas. Agora não podes entrar, respondeu São Paulo, mas amanhã, quando do primeiro sinal da tercia...” Que é uma das horas do Ofício. “...tu entrarás por uma porta. - E rogou frei Ulrico ao superior que não comentasse palavra alguma do que ele tinha dito. E que iam ver se se realizaria a visão. Ao despontar o dia, frei Ulrico mandou que varressem e limpassem a enfermaria, porque deveriam vir pessoas para visitá-lo". Quer dizer, ele acreditava tão firmemente na realidade da vinda de pessoas celestes para visitá-lo que mandou varrer e limpar a enfermaria para estar em condições de receber. Um senso da limpeza, da ligação que há entre a limpeza e a sacralidade, mas um senso também do protocolo e da etiqueta, que é preciso receber na terra o rei celeste como se receberia um rei terreno. Uma coisa ela toda cheia de altas coerências e de verdadeira sabedoria. "Depois de rezada a Prima, os frades que tinham celebrado já as missas privadas, vieram os primeiros a visitar o frade doente e que tinha sido ungido no dia anterior. Mas mais tarde foram chegando outros ainda, e aconteceu por caso fortuito que todos os frades que havia então no convento se encontraram rodeando o frade enfermo quando este estendendo primeiro a mão direita fez sinais aos frades e disse: afastai-os, deixai passar, vem o Hóspede, Nosso Senhor Jesus Cristo". Os senhores podem imaginar a impressão de todos os frades vendo o moribundo com a fisionomia celeste e dizendo: vem o hóspede, Nosso Senhor Jesus Cristo” depois de ter mandado limpar a enfermaria. Os senhores imaginem um de nós morrendo e os outros assistindo isso. Os senhores podem compreender o que é a graça concedida à toda a Ordem dominicana durante muito tempo, por essa recordação. "E estendendo depois a outra mão ele fez a mesma coisa, dizendo: abri caminho, vem a Hóspede, Nossa Senhora, a Virgem Santíssima". Ninguém via, mas os senhores podem imaginar as fisionomias que ele fazia, e naquelas fisionomias como se percebia que entrava o imperceptível. E esse mistério de um imperceptível que se percebia no olhar de alguém e a impressão que isso deveria dar, que magnífica cena deveria constituir!... "Abrindo depois a mão direita mandou também afastar-se aos frades para que deixassem passar os bem-aventurados São João Batista, São Pedro e São Paulo...” São João Batista está chegando... São Pedro... São Paulo... “...nomeando também a muitos outros. E novamente estendeu a outra mão mandando que deixasse espaço porque se acercava as bem-aventuradas Inês, Catarina, Luzia, Cecília e outras ainda". Quer dizer, a celinha pequena enchendo-se de santos invisíveis no meio de frades visíveis. Os senhores percebem o encanto da cena... "E alternando com o movimento das mãos, ia dizendo os nomes dos santos que iam chegando e de alguns frades que lhe rodeavam com grande devoção, enquanto os demais estavam prostrados em terra, em veneração. “ Quer dizer, todos se ajoelharam e começaram a rezar. "Ao dar-se o sinal da Tercia, voou ao Céu aquela alma santíssima presidida por todos aqueles que tinham vindo pegá-lo para levá-lo ao Céu na hora de sua morte". Os senhores podem imaginar: ele fecha os olhos, daqui a pouco na sala sente-se alguma coisa de diferente, percebe-se que todos os santos, Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora, todos os santos voltaram para o Céu, a sala está vazia, está só o cadáver. No convento começa a Tercia. Na hora que ele tinha dito na véspera, ele tinha morrido. E a profecia dele, executada desta maneira, confirmava a autenticidade daquilo que ele dizia que estava vindo. Os senhores estão vendo, é um fato muito bonito! Não é diretamente um argumento de fé, porque nós não vimos essa gente, nem conhecemos os que conheceram essa gente. Mas sabendo nós de uma quantidade incontável de fatos deste gênero, que pessoas dignas de respeito e de atenção viram ou disseram que viram o que se passou na Igreja, isso forma sobre nossas cabeças uma via láctea de probabilidades, que na sua enorme quantidade de probabilidade dão numa certeza. E essa certeza iluminam a nossa fé e nos leva a crer. Mas há também um lado – os senhores com certeza, me parece pelo menos pelos jogos das fisionomias exprime isso – há um lado no qual também me parece que há um auxílio para a fé. Quando a alma houve uma narração desta tem algo que diz o seguinte: é tão belo, é tudo tão razoável, é tudo tão ordenado que deve ser verdade. E este é um bom argumento. Porque o fato de mostrar que este e todos os acontecimentos assim são de acordo com a ordem do universo, têm a beleza que as altas coisas devem ter segundo a ordem do universo, isto é uma manifestação da santidade delas, e portanto da veracidade delas. E é mais outra razão para nós nos propendermos à fé. Aqui nós ficamos com frei Ulrico morto, e pedindo a ele para rezar por nós no Céu. Nós nunca teremos coisas dessas? Nós nunca veremos coisas dessas? A resposta é a seguinte: os santos todos recomendam que a gente não tenha um desejo febril e infantil de receber graças dessas. Mas essas são graças. E eu tenho muita impressão – é uma pura impressão, vale o que vale um mero depoimento humano – eu tenho toda a impressão de que durante a Bagarre nós veremos demônios, mas veremos anjos também. E que no grosso da Bagarre, todos nós que ali chegarmos tendo crido nela, nas terríveis demoras que a precederam, eu acho arquitetônico e por isso suponho, que nós vejamos inclusive Nossa Senhora. De maneira que está na linha das nossas fundadas esperanças nós sentirmos um apoio de alma especial vendo o que aconteceu a frei Ulrico. Porque se isso aconteceu a frei Ulrico, certamente muito mais santo do que nós, entretanto nós seremos muito mais provados do que ele. E Nossa Senhora não atende e não dá as suas graças apenas porque alguém é muito santo. Mas é também quando alguém que é muito miserável e está muito provado. De maneira que nós temos nossos próprios títulos para esperar graças dessa natureza durante a Bagarre. Então é uma das razões para nós desejarmos a Bagarre. E com isso eu encerro o Santo do Dia de hoje. Vamos então rezar. |