Plinio Corrêa de Oliveira

 

Fátima:

incomensurável misericórdia de Nossa Senhora,

aliada à justiça e reprovação

a qualquer pecado

 

 

 

 

Santo do Dia, 24 de setembro de 1976, sexta-feira

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


 

 

Tinham me pedido que eu comentasse uma das aparições de Fátima, que eu não havia comentado, ou melhor, analisado em ulteriores comentários.

Vou comentar, rapidamente, a primeira aparição [a 13 de maio de 1917], tentando fazer o comentário do óbvio, como da última vez. Porque parece que há aqui um filão...

O sistema adotado por Nossa Senhora para se comunicar era extremamente expressivo. Francisco apenas via Nossa Senhora e não a ouvia; Jacinta via e ouvia; Lúcia via, ouvia e falava com a Santíssima Virgem, num conjunto de aparições tremendamente importantes para o desfecho da crise da Revolução aberta com o Protestantismo, o Humanismo e a Renascença, uma crise que haveria de encontrar sua expressão mais categórica no igualitarismo proclamado de modo mais descarado pela Revolução Francesa e depois ainda mais descarado pela Revolução Russa.

Esse sistema hierárquico adotado por Nossa Senhora é extremamente interessante.

Os srs. vêem que Ela estabelece uma gradação por onde os três são testemunhas, o que era necessário para a credibilidade da mensagem que eles anunciassem. Mas de acordo com os méritos deles, cada um recebia o que lhe era adequado.

Então, a que via, ouvia e falava era Lúcia; a que via e ouvia, porém não falava, era Jacinta; só via, mas não ouvia, nem falava, Francisco. E como no caso de Francisco era uma punição, Nossa Senhora disse que não estava satisfeita com ele, por causa de algum ponto, de que aliás depois ele se arrependeu magnificamente, e por causa disso teve uma tão bela morte. Então, como essa era a razão quanto a Francisco, tudo leva a crer que uma distinção análoga feita à Jacinta, deveria ter também ela uma razão da mesma ordem. Então, temos uma verdadeira hierarquia afirmada, é verdade que não é uma hierarquia de sangue, é uma hierarquia de mérito afirmada já no próprio ato da aparição.

Mas acontece que a hierarquia de sangue, contra a qual especialmente se revoltou a Revolução Francesa, não era senão um primeiro dique. A Revolução haveria de querer arrebentar com todas as hierarquias, mesmo a de mérito.

Os srs. vêem isso na Rússia, onde o indivíduo não pode ascender além de um tanto, quer dizer, pelo seu trabalho jamais pode economizar o suficiente para se tornar proprietário; por mais que ele mereça, continua completamente pobre e um pária nas mãos do Estado, porque qualquer forma de propriedade individual lhe é recusada. Em tese, pelo menos, a igualdade na Rússia é completa; o pensamento, a intenção dos mentores da Revolução Russa é de fazer a igualdade completa.

A importância de qualquer falta moral aos olhos de Deus e de Nossa Senhora ─ A necessidade do Purgatório

É interessante também tomarmos em linha e conta o seguinte: os srs. me permitam, eu vou continuar no óbvio. Como Nossa Senhora aqui afirma, explica, salienta a importância aos olhos dEla e de Deus Nosso Senhor, do Divino Filho dEla, Nosso Senhor Jesus Cristo, a importância de qualquer falta moral.

Se Ela, em relação a uma criança como Francisco, uma criança que Ela reputa apropriada a receber uma tão alta mensagem, Ela entretanto não permite que ele nem ouça, nem fale, mas apenas veja ─ e a gente percebe pelas narrações que era um defeito moral pequeno, que era uma falha moral pequena dele ─ como um defeito pequeno desagrada à Mãe de Misericórdia! Na hora mesmo em que Ela faz misericórdia, dando a ele a graça ─ o que nós daríamos para termos nós essa graça! ─ de ver a Ela treze vezes, nessa hora mesma Ela indica seu desagrado por causa de um defeito pequeno.

Então, a gente vê que embora a misericórdia seja muito grande, a justiça está presente nEla; está presente sob a forma de virtude. Ela, por ser virtuosa, não pode deixar de ter horror ao pecado, por pequeno que seja. E Ela manifesta esse horror dessa maneira, com essa criança que daqui há pouco iria enfrentar um imaginável martírio, de que era ameaçado pelo alcaide, pelo prefeito do lugarzinho onde as aparições se deram. Com essa criança Ela manifesta o seu desagrado. O que é inteiramente confirmado pela Doutrina Católica a respeito do Purgatório.

O Purgatório sob alguns aspectos, lugar de paz, porque os que estão lá já estão certos de que se salvarão eternamente. E esta é, para a alma que procura a Deus sobre todas as coisas, esta é a grande preocupação, é salvar-se...

Purgatório, lugar portanto que no essencial as almas sabem que é preciso suportar, mas que o Céu é eterno e está à espera delas, pelo Purgatório passam até os santos e passam por tormentos que são reais, que são importantes, a tal ponto que a Igreja, Mãe de Misericórdia também,  continuamente nos exorta a rezarmos pelas almas do Purgatório. Quer dizer, qualquer defeito, qualquer resquício de falta moral, para comparecer diante de Deus, três vezes Santo, tem que ser purificado.

Eu já tenho contado várias vezes aos srs. esse fato que sempre me enleva quando nele penso, de Dom Orione, o fundador dos Missionários de São Carlos, se não me engano, creio que já é bem-aventurado hoje [atualmente, canonizado, n.d.c.]. De qualquer forma, morreu em odor de santidade. Dom Orione, quando ia ter audiência com São Pio X, sempre se confessava antes, porque São Pio X imergia os olhos luminosos e santíssimos dele no fundo do olhar de D. Orione, e ele não queria suportar esse olhar antes de se ter confessado. É de pensar bem que as próprias almas do Purgatório querem passar pelo Purgatório, antes de Deus as ver e antes delas verem a Deus face a face.

Isso nos mostra bem a justiça e a misericórdia como se equilibram. Misericórdia maior do que aparecer a um menino que, por melhor que fosse, não poderia ter granjeado méritos suficientes para isso, misericórdia maior do que essa dificilmente se imaginaria. A justiça está presente.

Ora, se um pecadinho de um menino é de tal maneira notado por Nossa Senhora, como é explicável que as mais graves ameaças acompanhem as revelações de Fátima! É mais do que explicável. Porque se pouco merece tanto na ordem da rejeição, quanto merecerá aquilo que é não o oceano, mas o universo em relação a uma gota d'água: a imensidade dos pecados do mundo.

Essa mesma reflexão aplicada à Jacinta, também produz o mesmo efeito. E ela serve de saborosa introdução – meus caros, eu bem sei, dentro do óbvio – ao conjunto das revelações. Ela costuma ser sublinhada nos livros, mas ela se presta à meditação.


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