Plinio Corrêa de Oliveira
Meditação segundo S. Inácio de Loiola: a morte e o Juízo particular O verdadeiro arrependimento
Santo do Dia, 2 de fevereiro de 1974, sábado |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
[...] me pareceu que uma vez que nós devíamos tomar o que nós podíamos chamar os “temas fortes”, quer dizer, temas categóricos e que nos colocam diante de realidades inesperadas, não seria nada inconveniente se nós déssemos alguma coisa das reflexões de Santo Inácio de Loyola a respeito da morte do homem e do juízo particular. É um desses pensamentos que são profundamente convenientes para o homem, porque o homem se familiariza com as coisas, familiariza-se com a imagem da morte, e acaba não refletindo a respeito do que lhe sucederá. E nós devemos começar esta meditação, por nos colocarmos bem diante dos olhos a mais elementar das verdades; uma dessas verdades que qualquer indivíduo conhece e sabe, mas a respeito da qual poucos homens refletem exatamente e até o fundo. E esta verdade é a seguinte: cada um de nós que está presente nesta sala, um dia há de morrer. Esta é a grande verdade que nós tratamos assim... (com desprezo). Nós vemos por exemplo esse incêndio que houve aqui na Praça das Bandeiras, outro dia, nós vimos que cento e tantas pessoas morreram. A sensação que nos fica no fundo da alma é: bem, morreram eles, mas eu não morri, estou vivo aqui. Logo, fica no fundo da alma: eu não vou morrer. Naturalmente, todo mundo sabe que vai morrer. Em lógica se aprende, como forma de raciocínio elementar, o seguinte raciocínio: “Todo homem é mortal; ora, Pedro é homem; logo Pedro é mortal“. É um raciocínio elementar de lógica. O raciocínio seria mais perfeito se fosse assim: “Todo homem é mortal. Ora, eu sou homem; logo, eu vou morrer”. Agora, esse raciocínio assim de frente, com essa incisão, ninguém faz. Quantos dos senhores aqui tiveram ocasião de ver gente morrer? Os que tiveram ocasião, queiram levantar os braços. Os senhores veem, os senhores são tão moços, um bom número de pessoas da sala já viu gente morrer. Eu acredito que poucos dentre os que viram a pessoa morrer, se colocaram durante todo o tempo nesse pensamento: eu vou passar por uma coisa análoga. Isto vai acontecer comigo. Se eu não morrer assim, morro de um modo qualquer, mas eu vou morrer também. Pode ser que eu morra como estou vendo este morrer. A última pessoa que vi morrer, foi uma pessoa do Grupo, foi Dr. Fábio (Vidigal Xavier da Silveira); eu vi morrer Dr. Fábio. Doença atroz, enorme. No fim do processo dele - ele tinha sido operado, tinha sido extraído um tumor colossal – depois disso, ele viveu normalmente algum tempo, mas depois estourou outro tumor enorme; os médicos abriram, olharam dentro e viram que eram tantos tumores, que não valia a pena operar. Recosturaram o corpo dele de novo. No fim, o tamanho do inchaço nas vísceras dele estava tão grande, que o Dr. Haddad temia que a própria costura abrisse, e que as próprias entranhas saíssem pelo corte. Isso é uma morte. E eu vi aquela luta dele para não morrer, aquele ofegar, e o coração que batia, a vida que ia-se embora, e ele ainda moço, de maneira que havia uma resistência de todo o organismo, mas a morte caminhava implacavelmente e ia estraçalhando. Por fim, em determinado momento morreu. Ainda me lembro como se fosse hoje, o momento em que o Dr. Haddad, com a prática de médico, a enorme prática de médico e competência que ele tem, estava ali à cabeceira, percebeu que ele tinha morrido; nem todos perceberam; levantou-se, examinou e viu que tinha morrido. Estou lembrando da morte de Dr. Azeredo também, que eu presenciei. Estávamos todos ajoelhados junto à cama dele, eu rezando a Consagração de São Luís Grignion de Montfort (a Nossa Senhora). Dr. Azeredo num estado físico plácido, mas de uma espécie de prostração que mais parecia um cadáver do que um homem. Em certo momento durante a oração, eu até não percebi porque eu estava olhando a fórmula de Consagração, não estava olhando para ele, durante a oração eu vi que um sussurrozinho percorreu a sala e alguns disseram que ele tinha morrido. Eu continuei a Consagração; terminado eu fui ver, ele tinha morrido, assim de um momento para outro. Agora, há uma coisa que ninguém sabe por ocasião da morte, e sobretudo quando se trata dessas mortes que são assim mortes rápidas, por exemplo um tiro que mata o indivíduo de um momento para outro. E mesmo nessas horas, ninguém sabe exatamente. É o seguinte: qual é o momento em que a alma sai do corpo. Hoje, a Igreja permite que se dê absolvição até duas horas depois da pessoa ter expirado, porque de acordo com os dados da ciência moderna, parece que a pessoa continua com união de alma com o corpo duas horas depois da expiração ainda. Essas duas horas, os senhores compreendem que são aproximativas: podem ser duas horas, podem ser uma hora e meia, podem ser três. Ninguém sabe. Enfim, tudo leva a crer que ao cabo de duas horas, a pessoa expirou. Mas ninguém sabe nesse último tempo que vai depois da expiração, porque ninguém voltou para contar, ninguém sabe neste último tempo qual é o grau de consciência que a pessoa tem. Até que ponto, no fim, no momento em que a alma está assim desligada quase completamente do corpo, em que grau de consciência a pessoa tem; ninguém sabe se a consciência não volta de repente. E se a pessoa não percebe que ela está morrendo. E se ela não percebe que ela já está tida por um cadáver por todos os outros dentro da sala, que estão até fazendo a toilette fúnebre dela, mas ela nota que ainda está viva. E ela compreende que ela já pertence mais ao mundo dos mortos do que ao mundo dos vivos. E fica como que em pé na soleira da porta, com a vida toda para trás, sofrendo – e os senhores sabem que à medida em que a pessoa vai se aproximando da morte, o sofrimento é maior – sofrendo até chegar aquele momento tremendo, que é momento em que a alma se separa do corpo. A alma separar-se do corpo, deve ser um sofrimento atroz, deve ser um sofrimento muito maior do que uma amputação. Os senhores já imaginaram o que é uma pessoa sofrer ao vivo o corte da perna ou do braço? Deve ser uma coisa horrorosa. Na Idade Média faziam operação, e já era progresso sobre o tempo dos romanos, fazer a operação de cortar a perna: o sujeito de cabeça para baixo, com uma perna amarrada em cada coluna, duas colunas próximas, duas pernas amaradas em tábuas e as tábuas amarradas em colunas. Isto era feito para evitar a hemorragia, para evitar que o sangue esguichasse pela parte cortada e ir embora. Então, pendurava o sujeito de cabeça para baixo, acordado. E o cirurgião trabalhava na base do serrote. Ia serrando aquilo, até serrar completamente. Os senhores podem imaginar serrar a carne, passar pelos nervos, a hora de serrar o osso, a barulheira, a repercussão em todo o sistema ósseo daquele serrote que vai. Depois, acaba serrando o osso, o sujeito está nem sei como, ainda acaba de serrar o resto da perna. E depois os senhores sabem como era a cauterização para evitar a infecção? Sobre aquela ferida, eles aproximavam ferro em brasa, e queimavam aquela ferida com ferro em brasa, para evitar a infecção. De maneira que esse sofrimento era talvez pior do que o sofrimento da amputação. Para os senhores terem ideia do que era isso, basta dizer o que eu li algum tempo atrás nas memórias de Catarina II, a imperatriz da Rússia. Ela conta as memórias dela muito pormenorizadas e conta que lhe arrancaram um dente; um dente! Mas também, sem os mil sistemas de hoje em dia. É arrancar no duro: no tira-dentes. Abre a boca tira o alicate e toca a arrancar... Ela mesma conta que ela sentiu tanta dor, que quando ela deu acordo de si – ela, a czarina, hein! senhora de um dos maiores tronos do mundo – ela estava sentada no chão, gritando e desvairada. Um dente que arrancou... Os senhores já imaginaram o que é o suplício de uma alma que sai do corpo? É a parte mais interna do corpo. Toda a ligação da alma com o cérebro. Se uma pancada no cérebro dói tanto, os senhores podem imaginar o que é no cérebro o momento em que a alma se retira? O que é a dor, o mal estar, a dilaceração? É o maior dos sofrimentos que a pessoa possa ter. Na aparência, a gente vê o cadáver e tem a impressão de que o cadáver expirou normalmente. Às vezes, diz-se: foi uma morte tão branda... ele deu um suspiro e acabou. É verdade, ele não voltou para contar se ele não estava lúcido no momento em que a alma se separou do corpo. E se essa separação não lhe doeu enormemente... Agora os senhores imaginem nesses momentos últimos, o sujeito que cai do (edifício que havia se incendiado em São Paulo e que tinha o nome de) Andraus por exemplo, ou que cai do prédio aí da Praça das Bandeiras, se joga no chão, está estatelado no chão, todo mundo diz que ele está morto, alguém pega nele, coloca numa maca ou joga num caixote, num caixão, vai levá-lo para a identificação, cada movimento, cada solavanco é uma dor pavorosa, porque de fato ele ainda está vivo. Ele chega no necrotério e ali, em certo momento, a sua alma sai do corpo: uma dor pavorosa, uma dor incalculável. Pois bem, nesse momento em que o indivíduo está para trás, ele não percebe mais nada do que está em torno de si, ele só tem diante de si o futuro, é a morte, ele sabe que é a morte. Os senhores já pensaram o que um homem sofre nessas ocasiões? Os senhores já pensaram o tormento? E os senhores já compreenderam quanto a Igreja é sábia nos mandando rezar em cada Ave-Maria: “rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém” Essa lembrança da hora da morte, especial, como especialmente dolorida, especialmente terrível, como ela é sábia! Tanto mais que nesta hora a pessoa se lembra de seus pecados. E, ao lembrar de seus pecados, começa a aparecer a incerteza: eu agora, daqui a pouco, num momento qualquer, eu sofro essa dor e imediatamente aparece diante de mim o Juiz: Nosso Senhor Jesus Cristo aparece com toda sua santidade. E a alma vê a Nosso Senhor Jesus Cristo como eu estou vendo os senhores e os senhores estão me vendo a mim. Mas, aí aparece o juízo. Então Santo Inácio de Loyola, manda que a gente considere o juízo dividido – o espírito lógico de Santo Inácio manda que a gente considere o juízo, dividido em três partes: em primeiro lugar, a acusação; em segundo lugar, a sentença; em terceiro lugar, a execução da sentença. É como qualquer juízo terreno aqui. O indivíduo vai ser processado, ele primeiro é acusado, tem um Promotor que o acusa; ele sofre a acusação. Segundo: o juiz, ouvida a acusação, ouvida a defesa, decreta a sentença: é tal coisa assim. Em terceiro lugar, é a execução da sentença: o sujeito é preso, agarrado se ele foi condenado, ele é agarrado pelos funcionários da Justiça e ele é levado para uma enxovia e jogado lá ou é levado para um patíbulo e é morto, conforme a pena e conforme a lei do país onde o crime tenha sido cometido. Assim também será conosco no dia do juízo. Nós passamos por uma acusação, Nosso Senhor Jesus Cristo decreta a sentença e depois a sentença é aplicada, é executada em nossa pessoa. Como é a acusação? É um confronto com Nosso Senhor Jesus Cristo, em que toda a nossa vida passa por nossos olhos minuto por minuto, desde o primeiro instante em que nós tivemos vida moral, até o último minuto, toda a vida desfila diante de nós. E nós nos lembramos de tudo até o último instante. É curioso que há almas que têm a graça de ter esse desfilar da vida diante dos olhos, antes de morrer. Eu li a história de um aviador, que caiu no chão – é pena até eu não ter marcado essa história – caiu ao solo, não sei o que aconteceu com o avião, caiu ao solo, mas foi de uma altura muito grande. E ele veio caindo, mas afinal de contas não morreu. Ele contou que durante o período da queda, toda a vida dele passou diante dos olhos dele. Ele estava certo de que ele ia morrer, e a vida toda dele passou diante dos olhos, com todas as circunstâncias. Com certeza, foi uma graça especial que foi dada a ele para ele se arrepender. E se ele se arrependesse, naturalmente poderia ter a vida ainda seria poupada. Ele ainda poderia resgatar-se e ainda poderia ir para o Céu. Com certeza, foi por isso. Mas, o terrível é quando isso vem depois a morte. Quer dizer, começa aquela narração da vida, e nós vamos notando todas as nossas infidelidades, vamos notando todas as nossas faltas, vamos notando também todas as nossas boas ações e tudo isso, notando com uma clareza tal, que não haverá uma agravante, como não haverá uma atenuante que nos escape. E nós veremos tudo com uma clareza de aterrar. Mas ao mesmo tempo em que veremos como se estivéssemos vivendo isso, nós veremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, quer dizer, em confronto com a personalidade dEle. E aí nós sentiremos a imensidade de nossa culpa, a imensidade de nossa falta. Para os senhores terem ideia do que esse confronto pode querer dizer, vamos tomar algumas coisas tiradas da vida terrena. Os senhores imaginem alguém que, por exemplo, faça à mesa uma ação contrária à educação. Vamos dizer por exemplo, de repente palite, tire uma coisa do dente com a mão. É gravissimamente contrário à educação. Se a pessoa está só, tem a sensação de ter feito uma coisa que não devia fazer. Mas, o seu incômodo por isso, não é tão grande, como se estivesse diante de seus familiares, que podem estranhar e que podem censurar o fato. Agora imaginem que susto teria uma pessoa se mete a mão na boca, e nesse momento de meter a mão na boca, tem um susto, acorda e está sentado à mesa da rainha da Inglaterra com a mão na boca. E a rainha da Inglaterra olhando… Quer dizer, o contraste entre a educação dela, a categoria dela, o cargo dela e a ação que a gente está fazendo, aparece com uma vivacidade de desnortear a gente. Resultado: aquela pessoa fica de tal maneira sem jeito, que tem vontade de desaparecer no chão. Se pudesse fazer um buraco na sala e entrar no buraco, é por onde saía... O que é a rainha da Inglaterra em comparação com Nosso Senhor Jesus Cristo? Coitada... E o que é uma ação que é uma ação de má educação, mas no fundo não é diretamente um pecado, como é passar a mão na boca e tirar um detrito qualquer, o que é isso em comparação com o pecado? Que é uma ofensa a Deus e é uma ação intrinsecamente má, portanto uma ação censurável. E uma ação de que nós nos damos plenamente conta de tudo quanto tem de censurável, na presença de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor Jesus Cristo está ali com a Sua serenidade, com Seu esplendor, com Sua santidade divina, e nós estamos percebendo tudo que nós fizemos e como é diferente; como não devia ter sido, que horror, que coisa pavorosa! Até o momento em que – nós vamos vendo junto as graças que recebemos, vamos nos lembrando dos bons conselhos que tivemos, as boas inclinações, os bons movimentos de alma que Ele nos deu; nós vamos olhando para Ele, e vamos olhando para as chagas dEle, resplandecentes de luz; para a fronte dEle, que tem um diadema de sangue, que é o sinal da coroa de espinhos que resplandece de luz também; o Coração dEle que está à vista e que está todo em fogo... A gente olha para aquilo e diz: mas meu Deus, essas chagas, esse Coração... tudo isso foi para mim e eu rejeitei em tal hora, eu tive a graça de fazer tal coisa que Ele conquistou com gemidos e com prantos e com dores horríveis, para mim, na Paixão! E eu por causa de tal porcaria assim, eu pisei sobre essas chagas e agora estou vendo o absurdo que eu fiz; como vou me arranjar? As próprias chagas de Cristo, o próprio Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo perfurado por uma lança. Eu vejo e digo: este Coração foi perfurado por esta lança, para ver se ao menos na hora da morte eu me arrependia. E eu, na hora da morte, isso passou e eu não me arrependi. Agora, como é? Nosso Senhor Jesus Cristo agora está frio, Ele olha severo para mim. Eu estou só. Só ele e eu estamos face a face; ninguém fala por mim, nem Nossa Senhora. Estou completamente só: pesado, contado e medido. Terror… E, se eu não estou em estado de graça, eu então vejo a decretação da sentença. Nosso Senhor me diz no interior de minha alma: vai réprobo para o fogo eterno! Eu não tenho mais nada contigo; tudo fiz para te salvar, tu recusaste; agora, entrego-te a Satanás! A pessoa sente-se aniquilada, porque se não tem nada com Deus, está liquidada. Não há mais esperança; a sentença é eterna, é irrevogável, é definitiva. Nesse momento, a pessoa vai recuando, vai afundando e sombras vão se carregando em torno dela. É o inimigo diabólico que se põe na frente dela; são os demônios que cercam completamente a pessoa, constituem um pelote de trevas em torno da pessoa, e começam os tormentos eternos, as gargalhadas, os uivos, as dilacerações, os insultos e nós nos sentiremos objeto do ódio do demônio, é um ódio inexorável, um ódio profundo, um ódio terrível. Porque o demônio que se nos afigura na terra tão atraente, tão simpático, tão agradável, o demônio é pavoroso e nos odeia como nunca um inimigo nosso nos odiou. Isso nós precisamos nos por bem na cabeça. Todo demônio, o menor dos demônios, o último dos demônios, tem para conosco um ódio que um homem não é capaz de ter de outro homem. E o demônio, qualquer demônio! - não quer outra coisa senão tomar conta de nossa alma e torturar eternamente. Ele não quer senão isso. Então a alma é entregue nas garras do demônio e é levada para o inferno. E no inferno, que é um lugar, como os senhores sabem, um lugar físico, a alma apesar de ser espiritual, fica queimada pelo inferno eternamente. Com um fogo tal, o fogo do inferno é um fogo tão terrível, que Santo Afonso de Ligório diz o seguinte: que os piores fogos que há na terra, comparados com o fogo do inferno, são como um fogo de pintura. Quer dizer, um fogo de que nós não temos ideia. Os senhores imaginem essas fornalhas industriais, com fogos, com chamas crepitando. Os senhores se imaginem dentro daquilo. Deve ser terrível. Está bem, seria um lugar de refrigério e de paz para uma alma colocada no inferno, porque o fogo do inferno é tão mais terrível, que o fogo da terra pareceria delicioso para uma alma que está colocada no inferno. Ela está colocada lá e acabou-se. Então, Santo Inácio de Loyola pede que nós meditemos cada uma dessas coisas ponto por ponto, rememorando os nossos pecados da vida passada, e nos perguntando: valeu a pena? Valeu a pena fazer tal coisa? Valeu a pena fazer tal outra coisa para correr esse risco? Alguém dirá: Bom, Dr. Plínio, mas eu terei tempo de me arrepender... A minha pergunta é: terá? Será? Os senhores dirão: mas o Sr. mesmo não disse que a alma terá tempo para olhar tudo isso? É verdade, mas que tentações a alma sofre nesse momento? De desespero, de inconformidade, de revolta, de uma porção de outras coisas? Quer dizer, então Santo Inácio recomenda que a pessoa vá passando ponto por ponto toda a vida, vá considerando toda a vida e perguntando: valeu a pena? Eu posso de um momento para outro cair dentro desses tormentos. Esses tormentos valem esse prazer de um minuto? Esse pensamento impuro. Esse olhar impuro, que em tal época passada Fulano cometeu, valeria ele passar a eternidade torrando, miseravelmente abandonado pela graça de Deus? Valeria a pena? Tal outra coisa valeria? Tal outra coisa? Tal ação desonesta? Tal calúnia? Tal mentira? Agora, não são só os atos da vida passada. Também são os atos da vida presente. Nós vamos receber perguntas. Por exemplo, Deus Nosso Senhor nos perguntará: você foi temperante? Você soube evitar os nervosismos inúteis? Você soube evitar as alegrias destemperadas? Você soube querer cada coisa na medida em que ela merece ser querida? Você foi sério? Você pensou nas coisas direito? Ou passou sua vida brincando? Olhe tal riso: era uma hora em que lhe tinha sido dada a ocasião para ter um pensamento sério e para se aproximar de Mim. Nesta hora olha o que você estava fazendo. E a gente se vê rindo, contando uma anedota, bonachão, uma piada, uma graça... Oxalá que sempre sejam piadas e graças puras como devem ser as de um militante da TFP! Nós veremos tudo isso, nós olharemos para a face de Nosso Senhor: está séria, uma face majestosa, nós teremos vergonha de nosso riso, teremos vergonha de nossa intemperança, de nossa preguiça, de nosso orgulho, de nossa megalice, das invejas, de tudo nós vamos ter vergonha diante de Nosso Senhor. E aí nós compreenderemos bem o que é a vida terrena; mas aí já vai ser tarde. É nesta vida que nós temos que fazer isto. E é nesta vida que temos de ter bem direito a imagem da morte. Uma vez uma pessoa disse a um pregador: o senhor prega com tanta clareza a respeito da morte, do juízo e do inferno, que se diria que o senhor está torcendo para que essas coisas me acontecerem. E o pregador respondeu muito bem: pelo contrário, eu digo para que elas não lhe aconteçam. Se o senhor pensar nisso como eu recomendo, o senhor não vai para lá. Se o senhor não pensar, que é o que o senhor está querendo, o senhor corre o risco de ir para lá. Quem é que está querendo tirá-lo desse tormento: sou eu ou o senhor? O senhor está querendo cair no tormento; eu estou querendo tirá-lo. Esta é a verdade. Então, meus caros, fica aqui uma sugestão: nós termos bem claramente diante de nós a ideia da morte, a ideia do juízo, a ideia do castigo. A ideia da morte, quando nós virmos alguém morrer, ainda que seja um bicho morrer. Quando nós virmos o cadáver de um animal na rua, nós nos lembremos do que pode nos acontecer. Nunca percamos a ocasião de ter diante de nós esta ideia: eu, um dia vou morrer. Mais cedo ou mais tarde, um dia eu vou morrer. A ideia do juízo: sempre que nós ouvirmos alguém ser criticado por outrem, ou sempre que alguém nos disser uma coisa desagradável, nós devemos pensar o seguinte: é-me tão desagradável, tão penoso eu ouvir isso de Fulano; o que será quando ouvir isso de Nosso Senhor Jesus Cristo? O que vai ser de mim, quando Nosso Senhor Jesus Cristo me disser isso? Alguém me faz uma acusação, é uma acusação merecida; apesar disso eu fico indignado, fico sentido. A pergunta é: não era melhor que eu pensasse que isso é merecido e se isto me indigna tanto, e me mortifica tanto ouvir isso, que horrível será quando ouvir isso da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo? Aí é que eu vou compreender o que é tormento! Sempre que eu vir um fogo, sempre que eu vir algo que queima, lembrar-me do fogo do inferno. E por esta forma eu terei conseguido escapar a essa condenação. Os senhores sabem o que acontece aos que meditam muito nessas coisas? É o seguinte: eles têm o oposto, nesse sentido: quanto mais presente nós tivermos o que Nosso Senhor chama “os novíssimos do homem”, quer dizer, as últimas coisas que lhe acontecerão - a morte, juízo, o Céu e o inferno - tanto mais nós estaremos longe do pecado. É o próprio Nosso Senhor que diz isto: “medita nos teus novíssimos e não pecarás eternamente”. Novíssimo em latim quer dizer ultimíssimo. As ultimíssimas coisas que vão suceder ao homem. Se o homem meditar nessas coisas seriamente, ele não pecará eternamente. O que quer dizer aqui no caso meditar seriamente nessas coisas? É ter em vista nas ocasiões concretas em que o fato se apresenta. Aí então nós temos a coragem de tocar para a frente e então nós seremos almas fiéis. Porque o medo nos terá afastado do mal e nos tendo afastado do mal, é uma coisa incrível: fará de nós heróis. O modo de nós sermos verdadeiros heróis é termos medo. Isto parece um paradoxo. Há um princípio da doutrina católica que nos diz o seguinte: por mais virtuoso que seja o homem, ele não consegue permanecer em estado de graça, sempre por mero amor de Deus. A miséria humana é tão grande que de vez em quando é necessário o temor de Deus para ele se manter no estado de graça. E se não houvesse inferno o número de pecadores seria incalculavelmente maior, praticamente se pode dizer que todo mundo acabaria caindo em pecado. Porque de vez em quando, é o medo do inferno que nos contém, que evita que nós caiamos nos abismos do pecado. Então os que meditaram a respeito do inferno, esses terão medo. E os que têm medo, se humilham. E dos humildes está dito – no Magnificat - que Deus depôs dos tronos os orgulhosos, e levantou para eles os humildes. Os orgulhosos são os que não têm medo de Deus, não têm medo dos castigos de Deus. E os humildes são os que têm medo do castigo de Deus. Esses se humilham e esses verdadeiramente são levados para o Céu. Então os senhores podem imaginar o contrário: uma alma que meditou muitas vezes no inferno; que por causa disso não caiu no inferno. Esta alma porque não caiu no inferno, acabou tendo o amor de Deus. Porque ela teve amor de Deus, ela passou a ser uma alma heroica. Aí ela lutou; ela lutou por nossa Causa, lutou contra o comunismo, ela lutou contra todos os adversários da civilização cristã, ela se tornou heroica na defesa do Reino de Maria, ela trabalhou, ela lutou durante a “Bagarre” (os castigos previstos por Nossa Senhora em Fátima, se a humanidade não se convertesse e fizesse penitência, n.d.c.). Chega o Reino de Maria e ela vê o Reino de Maria. Os senhores podem imaginar o que é o juízo de uma alma nessas condições? A pessoa morre, mas morre afagada por Nossa Senhora. Nossa Senhora não abandona, nem mesmo nesses últimos momentos, a alma que lhe terá sido inteiramente fiel. Nessas ocasiões terríveis em que a alma se sente só, e que vai morrer, Nossa Senhora está presente. Nossa Senhora está rezando pela alma que vai ser julgada, para que a alma tenha o seu julgamento com todas as atenuantes que possam caber; Ela prepara a alma para a morte. Morre a pessoa, a pessoa está em estado de graça. E ainda que tenha tido pecados no passado, a pessoa sente o perdão que recebeu. A pessoa sente sobretudo o olhar cheio de complacência de Nosso Senhor. E como uma alma em estado de graça que é, sente mil afinidades com Ele. Sente-se atraída a Ele e sente Nosso Senhor que é atraído pela alma. Ele vai e diz: “meu filho bendito, meu filho amado, vamos ver juntos a tua vida”. Começa aparecer tal ato de fidelidade, tal outro ato de fidelidade, tal ocasião em que nós não tivemos respeito humano, tal outra ocasião em que nós lutamos numa campanha, tal outra ocasião em que passou diante de nós uma figura imoral e nós desviamos os olhos. O demônio quis nos incutir um mau pensamento, e nós afastamos o mau pensamento; tal outro momento em que nós fomos tentados de orgulho, mas nós repelimos a tentação de orgulho. Em tal outra ocasião, nós queríamos ser megas (orgulhosos), fomos, mas pedimos perdão, fomos perdoados, a megalice (orgulho) recuou. Em tal outra ocasião, nós ficamos indignados por causa do que a Revolução estava fazendo e resolvemos servir a Nossa Senhora melhor do que tudo. Amamos a Causa católica mais do que a nossa própria vida e estávamos dispostos a dar a nossa vida por ela em qualquer momento. Aí Nosso Senhor vai e chama a Nossa Senhora, chama todos os Anjos, nós ouvimos todas as sinfonias e as melodias celestes em torno de nós, os demônios fogem espavoridos, nunca mais teremos que vê-los a não ser para considerá-los torrando no fundo do inferno. Os demônios que quiseram nos tentar, vendo a nossa vitória, sofrem mil vezes mais e atiram contra nós injúrias inúteis que não nos atingem. Nós estamos envoltos no coro dos Anjos e subimos para o Céu. Enquanto fica aquela imundice fritando, uivando e chiando no inferno sem remédio. Aquilo não é mais conosco. Nós estamos no Céu, adorando e vendo Deus face a face. Aquele Deus que é a personificação da causa que na terra nós servimos. Aí os senhores têm o outro lado da medalha. E como é bom pensar na morte boa, na morte serena, sobretudo na morte alegre, tranquila, iluminada da alma que recebe seu prêmio! Qual é o prêmio da alma? Prêmio verdadeiro... a alma no Céu vai ser eternamente feliz, isso é verdade. O corpo vai se reunir à alma. Eu estava dizendo outro dia que se um dia nós tivéssemos um pintor que pintasse a ressurreição dos mortos, deveria pintar imensos cemitérios e com as sepulturas se abrindo e as almas saindo. E algumas almas saindo de dentro das sepulturas, já ligadas aos corpos, já com estandarte na mão. Eu tenho a impressão de que o membro da TFP sai da sepultura com estandarte proporcionado ao tamanho de seus méritos. Alguns talvez com a flâmula apenas... alguns mais provavelmente com o estandarte do tamanho da lapela, outros com estandarte de um tal tamanho, que será maior do que as torres da catedral, um estandarte que irá de um astro a outro, que irá da terra até o sol, por tudo quanto tenham feito pela Causa de Nossa Senhora. Mas, nós subiremos ao Céu, conduzindo nosso estandarte na mão. Os senhores podem imaginar no Céu todas as alegrias. Os senhores sabem que o Céu é um lugar material também. E que o paraíso celeste é material como foi o paraíso terrestre, como é, porque o paraíso terrestre não está extinto, ele continua a existir. Mas, com uma diferença: é que por maior que seja a felicidade que nós tenhamos no paraíso terrestre, não é nada em relação a essa felicidade desinteressada e eterna, de ver Deus face. E de estar lá adorando a Ele, por ser Ele quem é. Isto é uma felicidade maior do que a gente pode imaginar; Nosso Senhor Jesus Cristo prometeu essa felicidade, no Evangelho: “Serei Eu a vossa recompensa demasiadamente grande”. Quer dizer, de vê-Lo a alma terá algo que é mais do que a felicidade ainda, mas que é a plenitude de estar vendo a Ele. E de pertencer inteiramente a Ele. E sentir que Ele pertence a Ela. Contemplar a Nossa Senhora, e ter eternamente o sorriso de Nossa Senhora para si. Isso é o juízo particular do justo; isto é a felicidade do justo. Então, às vezes é uma coisa de um momento. É uma pressão dos círculos mundanos que se tratava de enfrentar; é um desdém de uma pessoa que se tratava de arrostar; é uma tentação que se tratava de voltar as costas para ela. É uma coisa assim. É um minuto. Por esse minuto a gente pode perder o Céu, por esse minuto a gente pode ganhar o inferno. Por esse minuto a gente pode fugir do inferno, por esse minuto a gente pode ganhar o Céu. Então, de recompensas ponto por ponto. E Nosso Senhor, que é um Juiz justíssimo, pagará com uma abundância extraordinária todos os nossos atos de fidelidade. Agora, o ato de fidelidade que os senhores fizeram vindo a essa reunião. É possível que alguns não estivessem com vontade de vir, que estivessem em casa com acesso de “nhonhozeira” (neologismo derivado de “nhônhô”, preocupação exagerada consigo mesmo, de vegetar, de viver sem nenhum ideal, sem nenhuma dedicação a algo que não seja o próprio egoísmo, n.d.c.): com vontade de ouvir uma vitrola, de ler um livro, de ficar sem fazer nada, de ficar tendo uma prosinha boba, de qualquer coisa assim. Calcaram aos pés essa tentação, vieram aqui à reunião, ouviram a reunião. Está bem, todas as graças que os senhores podem ter tido nessa reunião - serão maiores ou menores - deixarão um resíduo pelo menos no fundo da alma dos senhores. Quando chegar o dia do juízo, nós vamos ver esta reunião. Eu vou me ver a mim, falando aos senhores. E quando chegar a vez dos senhores, os senhores vão se ver ouvindo a mim. E se eu falei como devia, e os senhores ouviram como deviam, nós vamos ouvir palavras inefáveis de recompensa por isto. A cidade toda estava longe, cada um entregue às suas preocupações, poucas eram as almas fiéis na cidade imensa, mas vós, ó meus filhos, estáveis reunidos em tal lugar assim. E vós vos preocupáveis com essas coisas. E vós prevíeis que isso iria vos acontecer. Vós íeis ser premiados: aqui está o prêmio! E nós receberemos por esta reunião, um prêmio enorme, uma alegria eterna. Assim essas coisas são recompensadas. Os senhores compreendem então, meus caros, que vale a pena também, cada vez que a gente faz uma ação boa, imaginar do alto do Céu a recompensa que vem. E a recompensa que não vem, porque a gente “zupou” (esqueceu, desprezou, n.d.c.) a ação boa. Quantos vezes vem assim um “zupi” (esquecimento): eu zupei tal coisa… No Céu como isto vai figurar? Podia ter tido o mérito de fazer tal coisa; zupou... aqui está um rubi precioso, um diamante para ser usado por toda a eternidade, mas vai ficar lá, não é seu, porque você zupou... Zupei... Perdi, está acabado! Quer dizer, aí vale a pena para os senhores compreenderem que a todo momento, os senhores estão adquirindo méritos; a todo momento os senhores estão se enriquecendo aos olhos de Nossa Senhora. E a todo momento, os senhores estão preparando para si um Céu mais cheio de glória. Eu creio que nenhuma vocação – e com isso eu termino essas considerações – pôs essas meditações todas mais em evidência do que a vocação dos Templários. Os srs. sabem que a Ordem dos Templários foi extinta, era uma ordem de cavalaria, foi extinta no século XV pelo rei Filipe, o Belo, na França. Depois a Santa Sé acabou extinguindo também. Em alguns países ela se transformou. Ao que tudo indica, ela estava numa grande decadência quando foi extinta, se bem que não se saiba se ela não seria reformável e ainda aproveitável. Isso pouco importa. O fato é que a Ordem foi muito boa e ela teve como legislador, autor de sua primeira regra, o grande Doutor da Igreja, Doutor da devoção marial, São Bernardo do Claraval, fundador também da Ordem dos Cistercienses. São Bernardo colocou na regra um compromisso admirável; o compromisso era de que o templário nuca fugiria diante do adversário. Quer dizer, em qualquer caso de perigo, o templário se fugisse, cometeria pecado mortal. De maneira que como eles eram frades – não padres, mas frades -combatentes, quando partiam para a batalha, eles sabiam que a batalha era para o Céu ou para o inferno. Porque se eles fugissem, eles estavam em estado de pecado mortal. Com um inimigo correndo atrás, no momento em que a lança do inimigo tocasse neles, era a garra de satanás. De maneira que ele não tinha saída. Mas também, se eles avançassem, eles estavam cumprindo o voto. Se eles estavam cumprindo o voto, eles morriam por amor de Deus. E encontravam na lança do adversário, a chave do Céu. De maneira que ao entrar na luta, a lança do adversário era para eles a chave do Céu ou a chave do inferno; mas o Céu ou o inferno estavam na ponta daquela lança; eles não tinham por onde escapar. Resultado: nas épocas áureas eram cavaleiros terríveis, eram cavaleiros invencíveis. Porque feito o voto, o único jeito era avançar, avançar, avançar para o Céu ou então recuar, recuar, recuar para o inferno. Era muito difícil escapar a essa alternativa. Aí os senhores estão vendo como o medo do inferno prepara os heróis. Eles eram heróis extraordinários; eram uns heróis que souberam ter medo daquilo que se devia ter medo, e por isso souberam avançar contra aquilo contra o que se deve avançar. Sejamos nós assim também. Compreendamos que cada vez que investimos contra o adversário, nós estamos abrindo para nós a porta do Céu. Cada vez que por “nhonhozisse” (idolatria do comodismo egoísta, n.d.c.), por respeito humano, por preguiça, nós recuamos, nós estamos abrindo para nós a porta do inferno. Nós não temos o voto, mas essa é - por assim dizer - a mecânica de nossa vocação. Nós fomos chamados para um heroísmo enorme. Se nós nos engolfarmos pelo heroísmo adentro, nós temos tudo; se nós nos deixamos tomar pela poltronice, tudo de ruim nos espera. Peçamos a Nossa Senhora que a primeira alternativa esteja de pé. E quando nós rezarmos daqui a pouco: “rogai por nós pecadores, agora e na hora de mossa morte”, peçamos a graça de agora sermos heróis, e na hora da morte sermos assistido por Ela. Assim a nossa Ave-Maria será inteiramente agradável a Ela. Com isso eu tenho feito as considerações sobre esse ponto dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Eu pergunto aos senhores se querem me perguntar alguma coisa. (Pergunta: o que es el arrependimiento? Lo que es un arrependimiento bien hecho, porque a nosotros que somos generación nueva...) O que é o arrependimento? O arrependimento é sentir tristeza? O que é arrependimento? Imaginem se, por exemplo, eu vou andando, por exemplo, conversando com um colega ou com um amigo qualquer da TFP, pela rua. Estou conversando e andando com negligência pela rua. Em razão da negligência que eu tenho, eu, de repente, por exemplo, caio debaixo de um automóvel. O automóvel me machuca gravemente; eu passo seis meses doente. Eu me arrependo de ter tido essa negligência. O que é aqui o arrependimento? E até que ponto esse arrependimento é sério? É arrependimento se eu faço esse raciocínio: eu caí debaixo do automóvel, porque estava conversando com negligência na rua. Depois eu chego à seguinte conclusão: que estupidez eu fiz, tendo negligência num lugar de perigo, como eu me guardei mal. Depois então chego à conclusão: nunca mais eu atravessarei a rua de um modo negligente. Aí meu arrependimento é completo. Envolve que elementos? O conhecimento da culpa; o peso da culpa; e a deliberarão de nunca mais repetir a ação. Isso faz o arrependimento. Quer dizer, a pessoa não precisa, necessariamente, para o arrependimento, chorar. Eu acho que já contei aos senhores, aqui, como era minha governante alemã, com os meus arrependimentos em pequeno... a Via Sacra etc. Isso é uma concepção errada de arrependimento. Não é preciso necessariamente chorar. O pranto pode ser um sinal de arrependimento; pode também não ser. E pode haver arrependimento sem pranto. Um indivíduo nessas condições que resolve nunca mais atravessar a rua negligentemente, esse pode não chorar, como pode chorar. O que prova o arrependimento? Não é o fato dele ter chorado ou não chorado. Prova o arrependimento o fato dele ter resolvido nunca mais repetir isso. Dizer: eu fiz mal, primeira coisa; segunda, nunca mais repetirei. Se acontece isso, ele se arrependeu. Então o que é o arrependimento de um indivíduo de todas a gerações, das mais antigas como das mais novas? É o reconhecimento do fato: eu fiz tal coisa. Segundo: essa coisa é má porque ela insulta a Deus em tal ponto. Viola seu Mandamento em tal ponto. É má também porque eu perco o Céu e mereço o inferno, por causa disso, se for um pecado mortal. Ou mereço o purgatório se for um pecado venial. Então, por essas razões, eu vejo que não deveria ter feito e resolvo não fazer mais. Isto é arrependimento. Há dois modos de resolver não fazer mais. Uma é a resolução firmíssima, heroica. Outra é uma resolução em que a gente diz: Bem, eu tenho medo de vir a repetir, mas no momento estou resolvido a fazer o possível para evitar... Não é um arrependimento heroico, mas é um arrependimento autêntico. A alma que tem esse arrependimento está em estado de graça. Não sei se minha resposta está clara. (Aparte: Seria possível o Sr. dar uma oração que abranja todos esses pontos?) O verdadeiro que abrange isto aí é o Ato de Contrição que está no Catecismo. Está tudo perfeitamente bem posto: “Pesa-me, Senhor, de Vos ter ofendido; pesa-me por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas. Pesa-me ainda, secundariamente – não é Instituto de seguros... – pesa-me secundariamente por ter perdido o Céu e merecido o inferno. Mas proponho firmemente, com o auxílio de vossa divina graça, emendar-me e nunca mais pecar”. É uma oração perfeita. (...) Os senhores não pensem aquilo que o demônio lhes meterá pela cabeça adentro: “está vendo? Eu que sou bom, estou aqui tomando garoa aos pés desse Oratório; aquele que é ruim, leva uma vida feliz. Dá mais vontade de a gente ser ruim do que de ser bom...” Os senhores pensem o contrário: eu que sou bom, Nossa Senhora está me dando este sofrimento, para eu expiar meus pecados, para eu expiar pelos outros, para eu expiar pela Santa Igreja, para eu não ir para o purgatório. Sobretudo para eu obter vitórias e glórias para a civilização cristã, para promover a glória de Deus nesta terra. Pelo contrário, esse miserável ele não está tendo a graça de um sofrimento, não está tendo a graça de um arrependimento. O resultado: a alma dele é colhida de repente e vai para o inferno. Isso nós devemos pensar muito. (Pergunta: de que maneira o sofrimento faria bem?) Tanto quanto eu posso ver... há uma frase da Escritura que diz: peccata, qui intelligit? – Quem entenderá o pecado? Eu, portanto, não vou dizer assim uma coisa absoluta, mas tanto quanto eu posso ver, em graus diferentes, o de que o Grupo precisa mais é seriedade. O Grupo está carregado de boas disposições, mas essas boas disposições, quando chegam na hora, enfraquecem por causa da falta de seriedade. Então, eu acho que nós deveríamos perguntar qual é o sofrimento que deve nos dar mais seriedade. Há duas formas de sofrimento: há o sofrimento espiritual e há o sofrimento físico. O sofrimento espiritual há dois modos também; eu entendo por sofrimento espiritual o que faz sofrer sobretudo a alma: 1) é o sofrimento das provações da vida interior. Às vezes, tentações atrozes em que a alma fica perseguida por assaltos do demônio, dia e noite, dia e noite, dia e noite, de um modo terrível. Nada é horroroso como isso. Santa Tereza diz que há almas que têm a impressão de estarem vivas no inferno, de tanto que sofrem com isso. Mas que ficam mais sérias, ficam. 2) Outro sofrimento espiritual é quando a pessoa é objeto de perseguição, de calúnia, às vezes perseguição ou calúnia injusta. É uma coisa atroz! Conhecem-se casos de pessoas... São Luiz Grignion de Montfort conta o caso de um grande devoto de Nossa Senhora, sacerdote, que foi caluniado como sendo homossexual, por um menino, um sacristãozinho, que era pago por jansenistas – inimigos da devoção a Nossa Senhora. Esse homem era muito devoto de Nossa Senhora e muito amigo do bispo, que era um bom bispo do lugar. Ele, numa manhã tinha acabado de celebrar a Missa, se não me engano, estava na sacristia e um coroinha dele, pago por inimigos da Religião Católica, por jansenistas, saiu pela rua gritando que o padre tinha tentado contra a pureza dele. Formou-se imediatamente um motim na cidade, não havia provas propriamente para condenar o homem à cadeia, mas todo mundo acreditou nessa infâmia, apesar de ele ser um homem muito correto, de uma vida muito direta. Ele passou dez anos completamente desprezado pela cidade inteira e inteiramente só, como um leproso, sem que ninguém quisesse nem olhar para ele. Porque aqueles ainda eram tempos bons em que ainda havia senso moral. Ao cabo dos dez anos e quando ele estava prevendo que a vida inteira dele ia se passar nessa espécie de isolamento trágico, ainda mais vergonhoso para um padre, ele vê chegar o bispo, outras pessoas etc., que vem pedir desculpas para ele... O rapazinho, o menino tinha ficado moço e tinha morrido num hospital da cidade. Antes de morrer, chamou o confessor, e contou que ele tinha sido pago para essa calúnia e que o padre não tinha feito isso. E pediu ao confessor para contar a todo o mundo. Então, o confessor contou para todo o mundo e então o padre ficou reabilitado. Dez anos de isolamento completo, e de desprezo total, podem fazer sofrer muito. Há outros modos de sofrimento, que é a dor física. Mas há dores de chiar, às vezes nem correspondem a moléstias muito pesadas, mas em que a pessoa fica desvairada de dor. Há formas de nevralgia por exemplo, em que a pessoa fica completamente desvairada de dor, não sabe o que fazer. Essa dor contínua, contínua, contínua leva a pessoa a refletir. Todas essas dores são muito úteis desde que a pessoa saiba corresponder à graça que essas dores representam. Mas elas são uma grande graça. Bom, eu acho que, então, nossa reunião está terminada, nós podemos encerrar. |