Plinio Corrêa de Oliveira

 

Seria lícito e hábil a Contra-Revolução fundar uma C.R. "terceira força"?

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, Auditório “Santa Sabedoria”, 30 de maio de 1969

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.


Neste Santo do Dia, Dr. Plinio explica minuciosamente - "troca em miúdos", como se diz em linguagem corrente no Brasil - diversas passagens de sua obra "Revolução e Contra-Revolução" (RCR), sem mencioná-las, pois seus ouvintes são muito familiarizados com elas. "Terceira força" - como ele explicou em diferentes seus escritos - é "uma posição intermediária entre a verdade e o erro, o bem e o mal".
Eis algumas passagens da RCR e que vem ao caso recordar em função do presente "Santo do Dia":
* Parte I, Capítulo IX: Também é filho da Revolução o “semi-contra-revolucionário”;
* Idem, Capítulo VI — A marcha da Revolução, tópico n. 1., letras B) Os paroxismos da Revolução estão inteiros nos germes desta e C) A Revolução exaspera suas próprias causas; n. 3. A marcha de requinte em requinte e 4. As velocidades harmônicas da Revolução
* Parte II, Capítulo V — A tática da Contra-Revolução
* Parte III, Cap. II, n. 3, letra A) A. As duas grandes metas da guerra psicológica revolucionária: a) iludir e adormecer paulatinamente os neutros; b) dividir a cada passo, desarticular, isolar, aterrorizar, difamar, perseguir e bloquear os adversários.
 

 

...de membros do Grupo de fora [de São Paulo], e eu quero analisar aqui no Santo do Dia, porque são do interesse geral. E eu exatamente aproveito a presença de vários membros de Grupos de fora aqui, para responder as consultas.

(pergunta inaudível)

Bem, em duas palavras a pergunta é a seguinte: a Revolução se utiliza da “terceira-força” como meio para vencer. Eu tenho descrito insistentemente aqui o sistema pelo qual a Revolução atua. Ela suscita um grupo enérgico, categórico, revolucionário carregado, que formula exigências. Mas esse grupo trabalha de encontro a um outro grupo de cúpula de “terceira-força”, que paralisa os esforços da reação e que produz a capitulação. Então, esse membro do Grupo aqui me pergunta, mais ou menos a pergunta é essa: se a Revolução tira tanta vantagem com isto, seria político a Contra-Revolução teria a mesma vantagem com isto?

 O princípio de que a Contra-Revolução deve aliar-se a uma força maior do que ela mesma para vencer ou de que a Contra-Revolução, sendo uma minoria como extremo [oposto] da Revolução, deve arranjar um jeito de encampar a maioria? Esta teoria é uma teoria verdadeira? Neste caso, seria político e seria lícito fundar uma “terceira-força”? Essa é a pergunta. E eu responderia da maneira seguinte:

 Há qualquer coisa na Contra-Revolução, na posição contra-revolucionária - e seria muito longo eu justificar isso, mas eu creio que é mais ou menos intuitivo -, há qualquer coisa na posição contra-revolucionária por onde ela é como uma malha, um pulôver. Nós cortamos num pulôver alguma coisa, aquilo se desfaz até o fim. Bem, assim também é a posição contra-revolucionária; se nós dela tiramos alguma coisa, em qualquer campo que seja, aquilo se desfaz e dá em Revolução.

 De maneira que nós termos uma “terceira-força” não revolucionária é impossível. A partir do momento em que algo se carateriza como “terceira-força”, já deixou algo da posição contra-revolucionária e, se deixou algo, deixou tudo, porque a posição contra-revolucionária é monolítica, e a gente tirando dela alguma coisa, dá em Revolução. É mais ou menos como com um veneno. Se eu puser uma gota de veneno num copo d’água, envenena o copo d’água inteiro. Eu tenho um copo de água envenenado. Mas se eu puser uma gota de água num copo com veneno eu não remedeio, eu tenho um copo de veneno do mesmo modo.

 Assim também, se eu pego um contra-revolucionário com uma gota de espírito liberal, ele vira liberal [no sentido moral da palavra, n.d.c.]. Se eu pego um revolucionário com um princípio contra-revolucionário, ele nem por isso vira contra-revolucionário. Isso eqüivale a dizer em outros termos o que São Tomás de Aquino diz em posição mais filosófica, “bonum est integra causa, malum est quocumque defectu”, quer dizer, o bem provém de uma causa íntegra, o mal provém de qualquer defeito.

 Quer dizer, qualquer defeito que haja transforma a coisa em má; só é boa a coisa que provém de uma causa íntegra, de uma causa totalmente boa. De maneira que então eu respondo a um dos elementos da pergunta dizendo: uma “terceira-força” que sirva à Contra-Revolução não é possível.

Bem, uma “terceira-força” que continuando contra-revolucionária sirva à Contra-Revolução, não é possível.

 A “terceira-força” da Revolução é revolucionária, a “terceira-força” da Contra-Revolução não seria contra-revolucionária. Resultado é que essa posição da fundação de uma “terceira-força” não seria lícita, porque a gente não pode incumbir a ninguém de fazer o papel de apóstata. Ela não seria também uma posição política, porque a pessoa que a gente mandasse fazer esse papel, ao fazer o papel, perdia completamente a sua fidelidade à ortodoxia e, com isso a coisa desaparecia.

 Daí não se segue que a Contra-Revolução não procure muitos que são “terceira-força”, porque isto é uma coisa completamente diferente. Não é nós constituirmos a “terceira-força”, mas é nós procurarmos trazer elementos da “terceira-força” para nosso lado.

Eu, talvez fazendo um esquema, possa mostrar isso aos senhores, melhor. Eu não sei se o quadro negro tem visibilidade para os senhores, pela inclinação que está...

 Os senhores imaginem aqui uma sociedade que tem um centro, uma parte intermédia, digamos assim, uma parte de “terceira-força” grande. É a maioria dessa sociedade. Agora, aqui do lado, nós temos uma coisa pequena, que seria a esquerda e aqui uma outra coisa pequena, que seria a direita. Bom, o que se dá na luta? O que é que faz a “terceira-força”? O que é que é o jogo da esquerda?

 A esquerda possui, com uma densidade absoluta, o alto da cúpula. Depois, ela possui, com uma densidade menor, uma zona intermediária em que o poder dela é grande, mas não é um poder maciço, compacto, total. Depois aqui, à medida em que se vai descendo, o poder dela vai ficando menor. Bem, agora, aqui, a esquerda o que é que procura? Ela é absolutamente aliada com a cúpula da “terceira-força”. A cúpula da “terceira-força”, embora não o diga, serve-a com toda dedicação possível, atraiçoando os interesses de toda essa área que está aqui, os interesses, a doutrina, a formação mental de tudo quanto está aqui.

 Agora, como é que a “terceira-força” consegue levar todo esse bloco para cá? Ela consegue levar pelo processo que eu descrevi aqui, que seria adormecendo pela sensação de segurança, depois desarticulando, impedindo qualquer articulação verdadeira e depois, dividindo. Essa gente [3ª. força] fica completamente dividida. Bom, desarticulando e dividindo.

 Agora, por outro lado, ocultando o princípio de que quem faz uma concessão à Revolução entra numa rampa que não tem fim, vai até em baixo, não pára. Esse princípio eles ocultam. Resultado, dá-se o jogo que eu já falei: a esquerda berra, a “terceira-força” fica desarticulada, desorientada etc., etc., e cede.

 Cada vez que a esquerda dá um puxão, nós do lado de cá também damos um puxão, mas o nosso puxão é aqui. Nós não tratamos de atuar sobre essa cúpula [da 3ª. força], porque é completamente ganha [pela esquerda]; nós atuamos sobre essa base e damos um berro.

Qual é o berro? “Cuidado, estão fazendo assim!”, que tira a sensação de segurança, articula-os, convida-os a se unirem e patenteia a eles o que estava oculto, que a Revolução quer chegar até ao fim. Todos os nossos livros são assim.

 Resultado é que a influência disso sobre isso e sobre isso se abala. Então, isso é obrigado a parar, corta provisoriamente os liames e a “Torre de Pisa” fica mais inclinada ou menos, mas..., quer dizer, acaba não caindo. Como os senhores estão vendo bem, é uma outra minoria que age sobre a maioria e que forma uma coligação com a maioria, convida para formar uma coligação com a maioria, neutralizando a ação da outra minoria.

 Desde o nosso primeiro livro, que foi o “Em Defesa da Ação Católica”, a tática é essa: “Cuidado, olhe o que eles estão querendo!”

Esse pessoal [da esquerda] diz: “Caluniador, você não tem provas!”

Mas, no primeiro puxãozinho que leva do outro lado [a base da 3ª. força diz]: “hum..., esquisito! E eu fico aqui, eu não me movo com aqueles”. Resultado: parou no caminho. Os senhores dirão: “mas não parou, tanto é que afinal de contas a esquerda está campeando na Igreja”. Não, o que campeou foi para a frente, foi isso. Exatamente a tragédia do progressismo é que isto [a base sadia da 3ª. força] ficou parado. O clero foi muito mais para a frente do que a massa.

 Mas é, então, essa a tática. Quer dizer, nós portanto, exploramos em bem dela [3ª. força], abrindo os olhos etc., etc., mas não perdendo o nosso tempo com essas cúpulas [da 3ª. força]; nós vamos direto ao fato. A cúpula [da 3ª. força], se quiser perder as bases, que perca; é um suicídio!


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