Plinio Corrêa de Oliveira

 

"Stille Nacht" (Noite Feliz):

amálgama harmonioso de alegria e

de tristeza, de penumbra e esplendor

 

 

 

 

 

Santo do Dia, sem data mas entre 1971-74

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A D V E R T Ê N C I A

Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor.

Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá Dr. Plinio em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.



 

 

[Música]

Vós vedes bem expresso isto nos acentos do “Stille Nacht, heilige Nacht; Alles schlaft, ein sam wacht, nur das traute hoch heilige Paar...” e vai daí para frente!

Por quê? Porque a alma de um professorzinho do século passado - não sei bem se da Baviera ou da Suábia, creio que da Baviera – um professorzinho da Baviera cantou isto. Quer dizer, houve um compositor e houve um poeta que para tirar o Vigário de um apuro, numa noite de Natal, exalaram - à uma – uma canção que a gente poderia dizer que a humanidade tinha pressa de cantar! [Música]

Passaram-se 1.800 anos da era cristã e o cântico de Natal popular e perfeito não tinha ainda aparecido. E dir-se-ia que todos, na sombra, tateavam. Esse anseio foi se acumulando nessas duas almas que não tinham nenhuma noção disso. E na hora certa, desejada pela Providência, eles compuseram a canção certa que, em determinado momento, o mundo ouviu maravilhado. E se espalhou pelo mundo uma canção de Natal perfeita. [Música]

Está o Menino Jesus na manjedoura... está tão grande e tão pequeno. Ele poderia ser tão terrível se nos manifestasse Sua força. Mas Ele é tão desarmado, quis de tal maneira colocar-se ao nosso alcance que para nos convencer bem de que Ele quer ter essa familiaridade conosco, esse contato absolutamente desembaraçado conosco, Ele se fez menor do que nós... Aquele que é infinitamente maior do que nós.

E quis que o alfa da meditação a respeito dEle fosse vê-Lo tão pequenino, que nós nos extasiássemos não O vendo criar sóis, nem vendo reerguer a terra, nem vendo-O presidir a História, criando as almas, modelando os corpos e inspirando as ações dos bons e punindo as ações dos maus.

Mas nada disso: tão pequeno que a gente diz: “Mas como?! Ele tão grande veio a ser tão pequeno! Ele tão enorme, infinito, teve tanta ternura que chegou a esse extremo inimaginável de querer provocar pena como o proêmio de provocar admiração!

Não sei se meu pensamento está claro ou não. Mas talvez seja bom repeti-lo: toda meditação nossa da vida dEle é uma sequência de admirações. Ele quis que o primeiro movimento de admiração fosse misturado com pena... como Ele quereria depois que o último movimento de admiração fosse misturado com pena também. Quando chegasse o último momento da vida terrena dEle, na última Agonia, a gente ver e dizer: “Meu Deus, que pena de Vós!”

Quer dizer, Ele é tão maior do que nós que nós não conseguiríamos amá-Lo se Ele não nos apresentasse menor - aqui está a questão - e na bondade dEle, para ter proporção conosco, nós somos tão pequenos que só Ele se fazendo Criança é que a relação conosco poderia começar; só fazendo-se “verme e não homem”; “opróbrio dos homens e gargalhada do povo” como dEle diz o Profeta Isaías, fazer-se assim no alto do Calvário, é que nós poderíamos O venerar. Nós somos tão pequenos que nós não leríamos o livro inteiro se a letra primeira e a letra última não tivessem uma estatura do tamanho menor até do que nós.

Nós, de joelhos, diante do Presépio, contemplando o Menino Jesus nos vem um respeito sem nome, um respeito sacral acompanhado de ternura e de compaixão. E a mistura, a aglomeração, o amálgama – exprimindo-me melhor – entre o respeito e a compaixão que parecem sentimentos incompatíveis à primeira vista, o amálgama entre o respeito e a compaixão inspira do princípio ao fim o "Stille Nacht".

As palavras falam da “noite silenciosa, noite santa”... “Alles schlaft”: tudo dorme. “…ein sam wacht”: vela isolado. “...das traute hoch heilige Paar...”: o “traute” é o respeitabilíssimo e altamente Santo Casal.

Mas enquanto essas palavras são ditas, a música diz mais do que as palavras. E a música exprime não tanto o que se sente a respeito da “noite silenciosa” em que todos os filhos das trevas dormem, e só o Casal justo por excelência está acordado. Não é isto; exprime muito menos isto do que o sentimento desse Casal vendo o Menino Jesus.

E quando nós ouvimos cantar o “Stille Nacht”, nós temos a impressão de entrar no Sapiencial e Imaculado Coração de Maria e de ouvir aí a própria canção dEla dizendo “Meu Filho, Meu Deus e tão Menino! Tão pequenino! Tão grande e tão adorável! Como Eu Te adoro! Como Eu tenho pena de Ti! Como eu Te respeito! Protege-Me! Como Eu Te amo! Eu Te protegerei!...”

Nessa está a ogiva incomparável que, para mim, é a cor perfeita dos sentimentos que a noite de Natal deve despertar e que o “Stille Nacht” traz consigo.

Ele está lá. Perto dEle está Ela, e perto dEla está São José; está lá!... Mas sobretudo está Ele tão pequeno e tão adorável.

Vós vereis que, de começo a fim, no “Stille Nacht”, o sentimento que se desenvolve é este.

Vós vereis ora o grave do pensamento adulto; ora qualquer coisa que fala do sentimento do Menino. E é quase um diálogo do adulto e do Menino...

Há momentos em que se tem a impressão de que o Menino chora, e há momentos em que se tem a impressão de que o Menino sorri... [música]

Os srs. percebem: ternura e ao mesmo tempo pranto que há dentro disso.

Ainda há mais algo no “Stille Nach” que faz parte da atmosfera de Natal, mas faz parte – vejam as reversibilidades e como Cristo Nosso Senhor está presente e vivo na Igreja Católica -, faz parte da atmosfera interna de toda catedral gótica: ao longo de toda música, há um certo amálgama harmonioso de alegria e de tristeza; independente dos momentos em que a nota da alegria é maior, (ou) a nota da tristeza é maior; desde o começo o “Stille Nacht” há uma certa tristeza augusta ao lado de uma admiração jubilosa. E até quando fala de pranto, há uma certa alegria por debaixo do pranto.

Se vós entrais numa catedral e vêdes uma rosácea na qual bate o sol, e a penumbra à meia luz da catedral, e aqueles dardos de luz multicolores que espalham safiras, esmeraldas, e outras pedras... De toda forma, vós vêdes no meio da penumbra, o esplendor, e cercando o esplendor a penumbra numa composição de alegria e de dor - de alegria pelas razões certas; e de dor pelas razões certas - que forma um dos mais altos aspectos e belos aspectos da alma humana.

Esse é o estado temperamental, essa é a fisionomia moral do Santo.

Esse é o estado temperamental do qual o "Stille Nacht" nos dá um exemplo. Mas do qual a Igreja Católica nos dá mil outros exemplos!

[Música]


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