Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Minha

 

Vida Pública

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Parte XI

Livros e Campanhas de grande repercussão na década de 1980

 

Capítulo V

Guerra das Malvinas (1982)

1. Presença naval soviética nas cercanias das Malvinas: até onde a Rússia poderia chegar

Tropas argentinas desembarcando nas Malvinas

Paralelamente à agitação das CEBs, um acontecimento sul-americano que me encheu de preocupação foi a guerra das Malvinas*.

* Esta guerra iniciou-se no dia 2 de abril de 1982, quando a Argentina, em operação militar de surpresa, invadiu o Arquipélago das Malvinas, de lá expulsando a guarnição inglesa. A Inglaterra reagiu, mobilizando a Real Armada, iniciando-se assim o conflito nos mares do Sul.

Enquanto pendência estritamente argentino-inglesa, não nos tocava absolutamente intervir.

Mas em determinado momento ficou claro para mim que a Rússia comunista havia posto a mão, apoiando um dos lados. Então me senti obrigado a tomar posição, pois ficava patente que a Rússia tinha um plano, um proveito a tirar. E nós não queríamos que ela tirasse esse proveito [77].

A presença de uma força naval da Rússia no Atlântico Sul - tão distante de seus mares árticos - e precisamente naquela hora crítica, punha em xeque aqueles dois países (a Argentina e a Inglaterra), e não só eles como também a toda a América do Sul.

Essa força naval soviética seria provavelmente solicitada pela Argentina a prestar ajuda contra os ingleses*.

* Dr. Plinio, na época, ficou especialmente preocupado diante de notícias como esta, publicada nos jornais El Día, de Montevidéu e El Universal, de Caracas do dia 6/4/82:

“A superioridade militar inglesa pode, eventualmente, obrigar os argentinos a solicitar ajuda à URSS. Ou, melhor dito, a aceitá-la, pois esta já foi oferecida através da embaixada russa, enquanto submarinos soviéticos se mantêm à espera no limite das águas argentinas, pondo em evidência a rapidez com que essa ajuda possa chegar”.

Se tal ocorresse, os soviéticos formulariam inevitavelmente suas condições: por exemplo, um condomínio russo com a Argentina nas Malvinas e a participação das esquerdas argentinas no poder central da nação [78].

*   *   *

Essa simbólica presença naval russa, a despertar a esperança de um apoio pelo menos diplomático e econômico de Moscou e de seus satélites à Argentina, o consenso geral não teve dúvida em a relacionar com as sucessivas visitas de embaixadores da Rússia e da China à chancelaria argentina, e uma ostensiva aproximação, diretamente em virtude da ocupação das Ilhas, entre o governo até então militantemente anticomunista do general Galtieri e as esquerdas argentinas de toda sorte [79].

De qualquer um se poderia esperar que aceitasse esse apoio, menos precisamente do general Galtieri, o qual, desde empossado, começara uma ativa repressão anticomunista.

Mas ei-lo que agora aparecia de braços dados com o embaixador comunista e das nações-satélites, em visitas de cordialidade. Ao mesmo tempo recebia afagos e acenos do governo de Pequim. E reabria para os terroristas montoneros exilados o caminho de volta, além de se pôr a cooperar com tudo quanto era peronista e esquerdista na Argentina [80].

Esses grupelhos de extrema esquerda argentinos, até então perseguidos e contidos, começaram a se mostrar em conchavos na Casa Rosada e em missões exteriores de relevo* [81].

* Muitos anos depois, matéria publicada em O Estado de S. Paulo de 1° de abril de 2012, do correspondente em Buenos Aires, Ariel Palacios, revelou que era plano da junta militar argentina afundar navios ingleses em Gibraltar, sem reivindicar o ataque. Batizada de “Operação Algeciras” (Algeciras é uma cidade espanhola próxima a Gibraltar), ela seria realizada por um grupo de ex-guerrilheiros montoneros e por militares argentinos, que viajaram à Espanha para este fim. Os explosivos foram até Madri via mala diplomática, sendo depois transportados de carro pelo grupo argentino até aquela cidade do sul da Espanha. Mas a polícia espanhola desconfiou das pessoas, descobriu os explosivos, arrestou-os, e a missão fracassou.

Tudo isso reforçava a minha idéia de que aquela história das Malvinas era um jogo para facilitar a entrada de tropas comunistas russas no continente* [82].

* Onze anos mais tarde, o próprio Fidel Castro viria confirmar que até Cuba tinha oferecido tropas ao governo argentino. Em entrevista ao jornal Ambito Financiero, de Buenos Aires (26/7/93), ele disse “que seu país ofereceu enviar tropas em apoio à Argentina durante a guerra das Malvinas, em 1982, e sugeriu então que todos os países que quisessem ajudar, que formassem um batalhão, ‘uma coalizão de latino-americanos’. Explicou que ‘nós lhes sugerimos que não se rendessem, que fizessem uma coalizão latino-americana, que mantivessem a guerra’” (apud Catolicismo n° 520, abril de 1994).

Também o presidente Kadafi — que capitaneava e apoiava o terrorismo mundial — prestou substancial ajuda na ocasião, embarcando secretamente para a Argentina, durante o conflito, armas num valor superior a 70 milhões de libras esterlinas, incluindo 120 mísseis soviéticos SAM-7. A informação é do jornal The Sunday Times (13/5/84), que ouviu o embaixador líbio em Buenos Aires.

Segundo aquele embaixador, “o coronel Kadafi ofereceu ajuda incondicional e ilimitada à Argentina”, acrescentando que “estávamos nos preparando para abastecer com armas a Argentina enquanto durasse o conflito” (jornal cit.).

O jornal O Estado de S. Paulo publicou, em sua edição de 12/11/2006, documentos secretos liberados pelo governo brasileiro e relativos à Guerra das Malvinas.

Neles revela-se que ”o governo brasileiro monitorou com preocupação a ajuda militar soviética prestada à Argentina em 1982”. Os referidos documentos falavam de abastecimento de armas e de urânio enriquecido à Argentina e assinalavam a ”intranquilidade das autoridades brasileiras com a aproximação da Argentina com os países de regime comunista ou próximos politicamente da União Soviética, especialmente por causa do abastecimento de armas, disponibilidade de bases aéreas e entrega de urânio enriquecido”.

O periódico paulista informou ainda que os russos tentavam disfarçar a origem das armas soviéticas por meio do fornecimento através de outros países como a Líbia (cfr. Catolicismo n° 523, julho de 2007).

E o número dois da KGB, general Nikolai Sergeievitch Leonov, em entrevista ao repórter Igor Gielow, da Folha de S. Paulo, embora procurando camuflar o vulto total da participação soviética no apoio aos movimentos insurrecionais comunistas latino-americanos, a certa altura afirmou: “estávamos dispostos a ir muito longe, muito mais do que se pensa” (cfr. FolhaOnline, 13/1/2008).

2. Por cima de direitos nacionais, prevalece o direito de Nosso Senhor Jesus Cristo

Se as tropas russas desembarcassem na Argentina, sob pretexto de colaborar em sua defesa, quem obteria que a abandonassem?

Para efetivar agora seus direitos às Malvinas, valia a pena a Argentina pagar tão imenso preço político? Como católico, como brasileiro, como sul-americano, eu só podia responder: não valia a pena [83].

O que nós, da TFP, desejávamos era a expulsão dos russos do cenário sul-americano. E o ponto de nossa luta foi este.

Não tínhamos o direito de ignorar que, perto de nós, estavam os navios de guerra dessa neta maldita de todas as Revoluções, que era a seita comunista instalada na Rússia. E este foi o pensamento central do comunicado que combinamos com a TFP argentina, bem como de toda a nossa conduta ao longo desses acontecimentos.

Essa conduta consistiu em, por cima de direitos nacionais legítimos, fazer prevalecer o direito de Nosso Senhor Jesus Cristo de ser Rei do mundo inteiro, e que os inimigos de Deus fossem derrotados. Não havia discussão possível sobre este ponto [84].

3. O valente e lúcido pronunciamento da TFP argentina

Em conversa com os dirigentes da TFP argentina, ficou acertado que era indispensável que ela tomasse uma posição [85] nessa disputa diplomática entre Buenos Aires e Londres acerca da soberania sobre as Ilhas Malvinas [86].

E ela a tomou através do documento que La Nación publicou com um belo destaque no dia 13 de abril daquele ano [87].

Esse documento teve uma repercussão excelente na Argentina. E mostrava muito acertadamente qual era o jogo que estava sendo feito [88]. E deixava claro que, se a Argentina viesse a se aliar à Rússia, ou a aceitar o apoio militar dela, ela iria perder muito mais do que ganhar [89], pois a sua independência no território continental seria posta em risco, em troca de uma reconquista de alguns territórios insulares.

Notem bem que a TFP platina afirmava que a soberania era um direito da Argentina. Mas em seu manifesto ela ressaltava que o pior inimigo não era o que estava ocupando as Malvinas, mas o que poderia ocupar o país inteiro, ou seja, a Rússia [90]. E que se a Rússia interviesse do lado argentino, era quase certo que os Estados Unidos interviriam do lado inglês, desencadeando-se assim o jogo de todas as alianças.

A III Guerra Mundial ter-se-ia desatado por causa das Ilhas Malvinas. E a Argentina formando parte do bloco soviético! [91].

Ao estourar a guerra das Malvinas, a TFP alerta o país sobre o perigo da intromissão russa e se esforça patrioticamente pela obtenção da paz. Na foto, uma das faixas estendidas na Av. Figeroa Alcorta em Buenos Aires

4. Erisipela de conflitos: risco da vietnamização da América do Sul

A leitura dos jornais tornava claro que o agravamento crescente da crise anglo-argentina poderia colocar nosso governo em circunstâncias de tomar atitudes mais e mais próximas de um envolvimento [92].

Havia o empenho da Rússia soviética em promover várias guerras simultâneas, que lançassem no caos o bloco populacional católico maior do mundo [93].

O que por sua vez traria o grave risco de um reacender do terrorismo, de guerrilhas, agitações e convulsões em todos os lugares do continente sul-americano em que havia comunistas [94].

Além disso, eu havia recebido um telefonema de pessoas de nosso Bureau em Washington, dizendo-me que haviam conversado com personalidades norte-americanas de importância e estas achavam que os Estados Unidos iriam apoiar a Inglaterra, e que uma ação bélica era inadiável.

*   *   *

Outra série de dados também acabava de me chegar de nossos irmãos da Venezuela, que apresentavam uma situação com a qual absolutamente eu não estava familiarizado.

Eles me diziam que a Guiana britânica era independente, mas fazia parte da Commonwealth. E há nessa Guiana um pedaço de território que a Venezuela reclama para si.

O Presidente da Venezuela na época, Herrera Campins, se declarara peremptoriamente favorável à Argentina e contrário à Inglaterra, deixando entrever que ele queria invadir a Guiana inglesa logo que pudesse.

De outro lado, a Colômbia tinha uma questão territorial com a Venezuela, a respeito de uma faixa petrolífera muito rica. E a Colômbia sempre se considerou dona dessa faixa, sustentando que a Venezuela a teria ocupado indevidamente. E a Colômbia havia se declarado, por sua vez, muito contrária à Argentina e favorável à Inglaterra.

Quer dizer, na eventualidade de a Inglaterra vacilar nas Malvinas, a Venezuela poderia querer atacar a Guiana. Mas a Venezuela tinha o problema de que ela poderia ser atacada pela Colômbia.

Obviamente a Inglaterra conhecia todas essas reclamações da Venezuela contra a Guiana, e sabia bem que, se ela cedesse nos mares do Sul, enfrentaria outro obstáculo no Norte. E ela corria o risco de não sofrer apenas isso, porque tinha Gibraltar que é reclamada pelos espanhóis.

As Malvinas eram então, para a Inglaterra, a chave que abriria ou fecharia a possibilidade de todos esses outros ataques. E devia estar fazendo insistências junto aos Estados Unidos para ser sustentada.

Havia ainda uma roldana contínua de reivindicações entre nações hispano-americanas: o Equador reivindicava terras que o Peru ocupa. A Bolívia tinha uma questão com o Chile. Na Argentina havia uma disputa das Ilhas Beagle também com o Chile.

De proche en proche todas essas reivindicações podiam pegar fogo [95]. Uma erisipela de guerras poderia se alastrar pela América do Sul, com as corolárias crises econômicas e revoluções sociais [96].

No fundo ficava aberta a já referida possibilidade de uma vietnamização da América do Sul.

Vendo tudo isso, compreendia-se o caráter mundial dessa jogada que se resolvia nos mares da Argentina. Era a política mundial transplantando seu centro para a América do Sul.

5. Telex ao Presidente Figueiredo

Eu via também que o Brasil, com tantas fronteiras a sustentar de tantos lados, dificilmente ficaria à margem desse conflito.

Ainda que ficasse diplomaticamente à margem, todos os esquerdistas brasileiros iam começar a torcer pelo lado comunista dos outros países, e todos os anti-esquerdistas iriam torcer pelo lado anticomunista. E o Brasil ficaria dividido.

Eu percebia bem que uma palavra da TFP, jogada no momento certo e do modo certo, poderia decidir um futuro enorme [97].

Foi então que enviei uma carta ao Presidente Figueiredo, discorrendo sobre todas essas razões.

Assim, pouco tempo depois que saiu o pronunciamento argentino, passei um telex ao presidente Figueiredo e mandei texto análogo ao Ministro das Relações Exteriores, que era então o Sr. Saraiva Guerreiro, pedindo a ambos que, no balizamento de nossa atuação política, tomassem em consideração as preocupações da TFP argentina com a entrada da Rússia no conflito [98].

Nessa carta, eu dizia que uma experiência dolorosa mostra que quem quisesse resistir à agressão do superpoder soviético teria de recorrer ao superpoder norte-americano. E seria a vietnamização do Brasil e da América espanhola que teria começado [99].

6. Publicação da carta e campanha de rua

A carta a Figueiredo foi publicada na Folha em primeira mão, e depois em mais 13 jornais das principais capitais de Estado*.

* Na Folha de S. Paulo, essa carta saiu no dia 7/5/82. Poucos dias depois (dia 11), o presidente Figueiredo viajou para os Estados Unidos, mantendo contato com o Presidente Reagan e com o secretário de Estado Alexander Haig.

Segundo um documento secreto do Conselho de Segurança Nacional da época, a que o matutino O Estado de S. Paulo teve acesso anos depois, Haig e Figueiredo falaram abertamente sobre o risco de a União Soviética aproveitar-se do conflito para aumentar sua margem de influência em relação aos argentinos. E o Presidente Figueiredo afirmou, num desses encontros, que existia o risco de que o acirramento do conflito fizesse com que a Argentina pudesse virar o “Vietnã da América Latina” (cfr. matéria de Marcelo de Moraes / Brasília, in OESP, edição de 3/4/2012).

A TFP lançou em seguida uma campanha de rua distribuindo um volante que divulgava para o Brasil inteiro essa carta.

Sócios e cooperadores da TFP brasileira percorrem as ruas das principais capitais para anunciar ao público, por meio de slogans e cartazes, a publicação da carta ao Pres. Figueiredo [acima, em pleno Viaduto do Chá, em São Paulo]. Na hora do almoço já não se encontram mais nas bancas os jornais que o estamparam em suas páginas.

E assim os grossos carrilhões da TFP começaram a tocar [100].

Estive pessoalmente em alguns lugares dessa campanha em São Paulo. E pude notar a atitude das pessoas em relação ao nosso pronunciamento. A impressão que me ficou é que estava tendo um êxito espetacular.

Sintoma disso foi que, em São Paulo, a tiragem da Folha de S. Paulo com o nosso manifesto se esgotou rapidamente, até a hora do almoço, em todas as bancas de jornais. O que significava que a publicação havia impressionado muita gente [101].

7. Balanço de uma campanha providencial

Na tensão a propósito das Malvinas, o que a mim mais me afetava como católico, como brasileiro e como homem de tradição, não era a disputa entre a Inglaterra e a Argentina. Mas a constatação da lamentável fragilidade de todo o Ocidente face ao imperialismo soviético.

Pois a simples presença de uma força naval da Rússia no Atlântico Sul, naquele momento crítico, punha em xeque, simultaneamente, a grande e querida potência sul-americana que é a Argentina, quanto a ilustre e provecta potência européia e mundial que é a Inglaterra. Isto a prazo imediato.

A prazo mediato, poderia ter convulsionado toda a América do Sul, inclusive meu Brasil, e lançado à guerra as superpotências norte-americana e russa.

Era a esse estado de debilidade que havia chegado o Ocidente, por obra do calamitoso governo Carter e da dupla détente norte-americana e vaticana em relação a Moscou.

O verdadeiro conteúdo dessas duas détentes, da Casa Branca e do Vaticano, foi o afrouxamento. E os soviéticos não se “distenderam”.

Ora, um afrouxamento unilateral só podia redundar na derrocada dos afrouxados. E este nos conduziu ao que se passou a propósito da força naval russa perto das Malvinas.

Minhas simpatias não se deviam voltar, pois, para a Inglaterra ou para a Argentina, mas simultaneamente rumo à Inglaterra e à Argentina contra a Rússia soviética.

Paradoxo? De nenhum modo.

De um lado, não se podia pedir à Argentina que renunciasse às suas tradicionais reivindicações.

De outro, pense-se o que se pensar do valor das alegações inglesas em favor dos direitos da Commonwealth a essa e outras possessões, uma coisa não se podia pedir ao governo inglês: era que naquele momento recuasse ante tais reivindicações.

Também não se podia pedir à Argentina, à Venezuela ou à Espanha que renunciassem a suas tradicionais reivindicações.

Mas era impossível não discutir a oportunidade da ocupação militar argentina naquele momento. Porque uma força naval soviética se encontrava na zona. E isto punha em risco grave a própria soberania da Argentina no seu território continental [102].

A Rússia evidentemente teria fornecido tropas para desembarcar na Argentina. E teria tomado comodamente as ilhas Malvinas, tanto mais que contaria com o apoio logístico das Forças Armadas argentinas à vontade. Mas os russos não sairiam mais.

Eles imporiam à Argentina um governo comunistóide. E isso teria agravado prodigiosamente a situação da América do Sul inteira [103].

Se a opinião pública argentina, esclarecida por dois lúcidos e ágeis comunicados da TFP platina, não tivesse rejeitado bravamente a colaboração comunista, o módico cupinzeiro comunista existente em terras platinas teria intumescido desmedidamente, tentando transformar num gigantesco cupim toda a nação [104].

Os comunicados tiveram portanto a intenção de cortar o caminho [105] e torpedear a possibilidade de uma ajuda russa* [106].

* Na já citada entrevista do alto-funcionário da KGB, general Nikolai Sergeievitch Leonov à Folha Online, este afirma:

“Eles, os argentinos, precisavam de mísseis terra-ar, ar-mar e mar-mar, mas não se atreveram a comprar armamento soviético. Então tentamos fornecer imagens de satélite da movimentação da Força Expedicionária Britânica no Atlântico, mas acho que eles desconfiaram dos dados que nós enviamos e os contatos morreram”. E acrescentou: “Havia um fator ideológico, eles eram uma ditadura anticomunista, não poderiam introduzir armas soviéticas no cenário de guerra”.

E o repórter da Folha acrescentou o seguinte comentário: “Efetivamente, à época da guerra os britânicos localizaram barcos e submarinos soviéticos perto das águas do conflito, e bastou essa insinuação de apoio, que nada teve a ver com as negociações secretas em Buenos Aires, para que grupos como a Tradição, Família e Propriedade argentinos fossem às ruas para criticar o até então popular governo em guerra” (cfr. Folha Online, 13/1/2008, cit.).

*   *   *

Se isso parou ou não pela voz da TFP argentina, se encontrou ou não obstáculos no pronunciamento e na publicidade feita pela TFP brasileira e pelas outras TFPs, pelo menos sofreu grave dano. Não se pode negar [107].

A Rússia saiu do episódio na postura de um batedor de carteira apanhado com a mão no bolso da vítima. Isto é, em pleno ato de intervir, por meio de pressões internas e externas, e movida por seu expansionismo ideológico, em uma nação sul-americana.

Assim se evitou que os “cupinzeiros” comunistas se intumescessem perigosamente em toda a América do Sul [108].

 


NOTAS

[77] SD 6/4/82.

[80] Hipóteses, hipóteses..., Folha de S. Paulo, 22/5/82.

[81] Só por Essequibo?, Folha de S. Paulo, 1°/7/82.

[82] Despacho argentinos 3/2/92.

[84] SD 28/4/82.

[85] SD 14/4/82.

[87] — O manifesto argentino foi depois publicado em importantes jornais de Buenos Aires, sob o título La independencia de la Argentina católica ante la efectividad de la soberanía en un territorio insular [en português]. E teve repercussão internacional, ao ser reproduzido em Washington, Nova York, Londres, Bogotá, Quito, Guayaquil, Caracas e Santiago do Chile. Eis a relação dessas publicações: Buenos Aires: La Nación, 13/4/82; Clarín, 15/4/82. Estados Unidos: The Washington Post, 30/4/82; The New York Times, 30/4/82; The Wanderer, 6/5/82; Human Events, 8/5/83. Colômbia: El Tiempo, Bogotá, 20/4/82 e Diario de la Costa, Cartagena, 24/4/82. Equador, El Comercio, Quito, 21/4/82 e Expreso, Guayaquil, 25/4/82. Chile: El Mercurio, Santiago, 15/4/82. Foi também publicado na Venezuela e em jornais de Londres, bem como levado ao ar pela BBC de Londres. Na Espanha, a Sociedad Cultural Covadonga distribuiu o manifesto nas ruas (cfr. Covadonga Informa, n° 55-56, março-abril de 1982).

[88] SD 14/4/82.

[89] Russos poderão aproveitar tensão nas Malivinas, Letras em Marcha nº 127, maio de 1982.

[90] SD 14/4/8.

[91] SD 14/4/82.

[93] Garantia notarial, tabelioa, Folha de S. Paulo, 24/7/82.

[94] Hipóteses, hipóteses..., Folha de S. Paulo, 22/5/82.

[95] SD 28/4/82.

[97] SD 28/4/82.

[98] SD 14/4/82.

[100] SD 28/4/82.

[101] SD 12/5/82.

[102] Já, já e já, Folha de S. Paulo, 29/4/82.

[103] Palavrinha 2/12/82.

[105] Palavrinha 2/12/82.

[106] SD 23/6/82.

[107] SD 16/4/82.

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