1. Presença naval soviética nas cercanias das Malvinas: até onde a
Rússia poderia chegar
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Tropas
argentinas desembarcando nas Malvinas |
Paralelamente à agitação das CEBs, um acontecimento
sul-americano que me encheu de preocupação foi a guerra das Malvinas*.
* Esta guerra
iniciou-se no dia 2 de abril de 1982, quando a Argentina, em operação
militar de surpresa, invadiu o Arquipélago das Malvinas, de lá expulsando
a guarnição inglesa. A Inglaterra reagiu, mobilizando a Real Armada,
iniciando-se assim o conflito nos mares do Sul.
Enquanto pendência estritamente argentino-inglesa,
não nos tocava absolutamente intervir.
Mas em determinado momento ficou claro para mim que a
Rússia comunista havia posto a mão, apoiando um dos lados. Então me senti
obrigado a tomar posição, pois ficava patente que a Rússia tinha um plano,
um proveito a tirar. E nós não queríamos que ela tirasse esse proveito [77].
A presença de uma força naval da Rússia no Atlântico
Sul - tão distante de seus mares
árticos - e precisamente naquela
hora crítica, punha em xeque aqueles dois países (a Argentina e a
Inglaterra), e não só eles como também a toda a América do Sul.
Essa força naval soviética seria provavelmente
solicitada pela Argentina a prestar ajuda contra os ingleses*.
* Dr. Plinio, na
época, ficou especialmente preocupado diante de notícias como esta,
publicada nos jornais El Día, de Montevidéu e El Universal,
de Caracas do dia 6/4/82:
“A superioridade
militar inglesa pode, eventualmente, obrigar os argentinos a solicitar
ajuda à URSS. Ou, melhor dito, a aceitá-la, pois esta já foi oferecida
através da embaixada russa, enquanto submarinos soviéticos se mantêm à
espera no limite das águas argentinas, pondo em evidência a rapidez com
que essa ajuda possa chegar”.
Se tal ocorresse, os soviéticos formulariam
inevitavelmente suas condições: por exemplo, um condomínio russo com a
Argentina nas Malvinas e a participação das esquerdas argentinas no poder
central da nação [78].
* *
*
Essa simbólica presença naval russa, a despertar a
esperança de um apoio pelo menos diplomático e econômico de Moscou e de
seus satélites à Argentina, o consenso geral não teve dúvida em a
relacionar com as sucessivas visitas de embaixadores da Rússia e da China
à chancelaria argentina, e uma ostensiva aproximação, diretamente em
virtude da ocupação das Ilhas, entre o governo até então militantemente
anticomunista do general Galtieri e as esquerdas argentinas de toda sorte [79].
De qualquer um se poderia esperar que aceitasse esse
apoio, menos precisamente do general Galtieri, o qual, desde empossado,
começara uma ativa repressão anticomunista.
Mas ei-lo que agora aparecia de braços dados com o
embaixador comunista e das nações-satélites, em visitas de cordialidade.
Ao mesmo tempo recebia afagos e acenos do governo de Pequim. E reabria
para os terroristas montoneros exilados o caminho de volta, além de
se pôr a cooperar com tudo quanto era peronista e esquerdista na Argentina [80].
Esses grupelhos de extrema esquerda argentinos, até
então perseguidos e contidos, começaram a se mostrar em conchavos na Casa
Rosada e em missões exteriores de relevo* [81].
* Muitos anos
depois, matéria publicada em O Estado de S. Paulo de 1° de abril de
2012, do correspondente em Buenos Aires, Ariel Palacios, revelou que era
plano da junta militar argentina afundar navios ingleses em Gibraltar, sem
reivindicar o ataque. Batizada de “Operação Algeciras” (Algeciras é
uma cidade espanhola próxima a Gibraltar), ela seria realizada por um
grupo de ex-guerrilheiros montoneros e por militares argentinos,
que viajaram à Espanha para este fim. Os explosivos foram até Madri via
mala diplomática, sendo depois transportados de carro pelo grupo argentino
até aquela cidade do sul da Espanha. Mas a polícia espanhola desconfiou
das pessoas, descobriu os explosivos, arrestou-os, e a missão fracassou.
Tudo isso reforçava a minha idéia de que aquela
história das Malvinas era um jogo para facilitar a entrada de tropas
comunistas russas no continente* [82].
* Onze anos mais
tarde, o próprio Fidel Castro viria confirmar que até Cuba tinha oferecido
tropas ao governo argentino. Em entrevista ao jornal Ambito Financiero,
de Buenos Aires (26/7/93), ele disse “que seu país ofereceu enviar
tropas em apoio à Argentina durante a guerra das Malvinas, em 1982, e
sugeriu então que todos os países que quisessem ajudar, que formassem um
batalhão, ‘uma coalizão de latino-americanos’. Explicou que ‘nós lhes
sugerimos que não se rendessem, que fizessem uma coalizão
latino-americana, que mantivessem a guerra’” (apud
Catolicismo
n° 520, abril de 1994).
Também o presidente
Kadafi — que capitaneava e apoiava o terrorismo mundial — prestou
substancial ajuda na ocasião, embarcando secretamente para a Argentina,
durante o conflito, armas num valor superior a 70 milhões de libras
esterlinas, incluindo 120 mísseis soviéticos SAM-7. A informação é do
jornal The Sunday Times (13/5/84), que ouviu o embaixador líbio em
Buenos Aires.
Segundo aquele
embaixador, “o coronel Kadafi ofereceu ajuda incondicional e ilimitada
à Argentina”, acrescentando que “estávamos nos preparando para
abastecer com armas a Argentina enquanto durasse o conflito” (jornal
cit.).
O jornal O
Estado de S. Paulo publicou, em sua edição de 12/11/2006, documentos
secretos liberados pelo governo brasileiro e relativos à Guerra das
Malvinas.
Neles revela-se que
”o governo brasileiro monitorou com preocupação a ajuda militar
soviética prestada à Argentina em 1982”. Os referidos
documentos falavam de abastecimento de armas e de urânio enriquecido à
Argentina e assinalavam a ”intranquilidade das autoridades brasileiras
com a aproximação da Argentina com os países de regime comunista ou
próximos politicamente da União Soviética, especialmente por causa do
abastecimento de armas, disponibilidade de bases aéreas e entrega de
urânio enriquecido”.
O periódico
paulista informou ainda que os russos tentavam disfarçar a origem das
armas soviéticas por meio do fornecimento através de outros países como a
Líbia (cfr. Catolicismo n° 523, julho de 2007).
E o número dois da
KGB, general Nikolai Sergeievitch Leonov, em entrevista ao repórter Igor
Gielow, da Folha de S. Paulo, embora procurando camuflar o vulto
total da participação soviética no apoio aos movimentos insurrecionais
comunistas latino-americanos, a certa altura afirmou: “estávamos
dispostos a ir muito longe, muito mais do que se pensa” (cfr.
FolhaOnline, 13/1/2008).
2. Por cima de direitos nacionais, prevalece o direito de Nosso Senhor
Jesus Cristo
Se as tropas russas desembarcassem na Argentina, sob
pretexto de colaborar em sua defesa, quem obteria que a abandonassem?
Para efetivar agora seus direitos às Malvinas, valia
a pena a Argentina pagar tão imenso preço político? Como católico, como
brasileiro, como sul-americano, eu só podia responder: não valia a pena [83].
O que nós, da TFP, desejávamos era a expulsão dos
russos do cenário sul-americano. E o ponto de nossa luta foi este.
Não tínhamos o direito de ignorar que, perto de nós,
estavam os navios de guerra dessa neta maldita de todas as Revoluções, que
era a seita comunista instalada na Rússia. E este foi o pensamento central
do comunicado que combinamos com a TFP argentina, bem como de toda a nossa
conduta ao longo desses acontecimentos.
Essa conduta consistiu em, por cima de direitos
nacionais legítimos, fazer prevalecer o direito de Nosso Senhor Jesus
Cristo de ser Rei do mundo inteiro, e que os inimigos de Deus fossem
derrotados. Não havia discussão possível sobre este ponto [84].
3. O valente e lúcido pronunciamento da TFP argentina
Em conversa com os dirigentes da TFP argentina, ficou
acertado que era indispensável que ela tomasse uma posição [85]
nessa disputa diplomática entre Buenos Aires e Londres acerca da soberania
sobre as Ilhas Malvinas [86].
E ela a tomou através do documento que La Nación
publicou com um belo destaque no dia 13 de abril daquele ano [87].
Esse documento teve uma repercussão excelente na
Argentina. E mostrava muito acertadamente qual era o jogo que estava sendo
feito [88].
E deixava claro que, se a Argentina viesse a se aliar à Rússia, ou a
aceitar o apoio militar dela, ela iria perder muito mais do que ganhar [89],
pois a sua independência no território continental seria posta em risco,
em troca de uma reconquista de alguns territórios insulares.
Notem bem que a TFP platina afirmava que a soberania
era um direito da Argentina. Mas em seu manifesto ela ressaltava que o
pior inimigo não era o que estava ocupando as Malvinas, mas o que poderia
ocupar o país inteiro, ou seja, a Rússia [90].
E que se a Rússia interviesse do lado argentino, era quase certo que os
Estados Unidos interviriam do lado inglês, desencadeando-se assim o jogo
de todas as alianças.
A III Guerra Mundial ter-se-ia desatado por causa das
Ilhas Malvinas. E a Argentina formando parte do bloco soviético! [91].
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Ao
estourar a guerra das Malvinas, a TFP alerta o país sobre o
perigo da intromissão russa e se esforça patrioticamente
pela obtenção da paz. Na foto, uma das faixas estendidas na
Av. Figeroa Alcorta em Buenos Aires |
4. Erisipela de conflitos: risco da vietnamização da América do Sul
A leitura dos jornais tornava claro que o agravamento
crescente da crise anglo-argentina poderia colocar nosso governo em
circunstâncias de tomar atitudes mais e mais próximas de um envolvimento [92].
Havia o empenho da Rússia soviética em promover
várias guerras simultâneas, que lançassem no caos o bloco populacional
católico maior do mundo [93].
O que por sua vez traria o grave risco de um
reacender do terrorismo, de guerrilhas, agitações e convulsões em todos os
lugares do continente sul-americano em que havia comunistas [94].
Além disso, eu havia recebido um telefonema de
pessoas de nosso Bureau em Washington, dizendo-me que haviam
conversado com personalidades norte-americanas de importância e estas
achavam que os Estados Unidos iriam apoiar a Inglaterra, e que uma ação
bélica era inadiável.
* *
*
Outra série de dados também acabava de me chegar de
nossos irmãos da Venezuela, que apresentavam uma situação com a qual
absolutamente eu não estava familiarizado.
Eles me diziam que a Guiana britânica era
independente, mas fazia parte da Commonwealth. E há nessa Guiana um
pedaço de território que a Venezuela reclama para si.
O Presidente da Venezuela na época, Herrera Campins,
se declarara peremptoriamente favorável à Argentina e contrário à
Inglaterra, deixando entrever que ele queria invadir a Guiana inglesa logo
que pudesse.
De outro lado, a Colômbia tinha uma questão
territorial com a Venezuela, a respeito de uma faixa petrolífera muito
rica. E a Colômbia sempre se considerou dona dessa faixa, sustentando que
a Venezuela a teria ocupado indevidamente. E a Colômbia havia se
declarado, por sua vez, muito contrária à Argentina e favorável à
Inglaterra.
Quer dizer, na eventualidade de a Inglaterra vacilar
nas Malvinas, a Venezuela poderia querer atacar a Guiana. Mas a Venezuela
tinha o problema de que ela poderia ser atacada pela Colômbia.
Obviamente a Inglaterra conhecia todas essas
reclamações da Venezuela contra a Guiana, e sabia bem que, se ela cedesse
nos mares do Sul, enfrentaria outro obstáculo no Norte. E ela corria o
risco de não sofrer apenas isso, porque tinha Gibraltar que é reclamada
pelos espanhóis.
As Malvinas eram então, para a Inglaterra, a chave
que abriria ou fecharia a possibilidade de todos esses outros ataques. E
devia estar fazendo insistências junto aos Estados Unidos para ser
sustentada.
Havia ainda uma roldana contínua de reivindicações
entre nações hispano-americanas: o Equador reivindicava terras que o Peru
ocupa. A Bolívia tinha uma questão com o Chile. Na Argentina havia uma
disputa das Ilhas Beagle também com o Chile.
De proche en proche todas essas
reivindicações podiam pegar fogo [95].
Uma erisipela de guerras poderia se alastrar pela América do Sul, com as
corolárias crises econômicas e revoluções sociais [96].
No fundo ficava aberta a já referida possibilidade de
uma vietnamização da América do Sul.
Vendo tudo isso, compreendia-se o caráter mundial
dessa jogada que se resolvia nos mares da Argentina. Era a política
mundial transplantando seu centro para a América do Sul.
5. Telex ao Presidente Figueiredo
Eu via também que o Brasil, com tantas fronteiras a
sustentar de tantos lados, dificilmente ficaria à margem desse conflito.
Ainda que ficasse diplomaticamente à margem, todos os
esquerdistas brasileiros iam começar a torcer pelo lado comunista dos
outros países, e todos os anti-esquerdistas iriam torcer pelo lado
anticomunista. E o Brasil ficaria dividido.
Eu percebia bem que uma palavra da TFP, jogada no
momento certo e do modo certo, poderia decidir um futuro enorme [97].
Foi então que enviei uma carta ao Presidente
Figueiredo, discorrendo sobre todas essas razões.
Assim, pouco tempo depois que saiu o pronunciamento
argentino, passei um telex ao presidente Figueiredo e mandei texto análogo
ao Ministro das Relações Exteriores, que era então o Sr. Saraiva
Guerreiro, pedindo a ambos que, no balizamento de nossa atuação política,
tomassem em consideração as preocupações da TFP argentina com a entrada da
Rússia no conflito [98].
Nessa carta, eu dizia que uma experiência dolorosa
mostra que quem quisesse resistir à agressão do superpoder soviético teria
de recorrer ao superpoder norte-americano. E seria a
vietnamização
do Brasil e da América espanhola que teria começado [99].
6. Publicação da carta e campanha de rua
A
carta a Figueiredo foi publicada na Folha em
primeira mão, e depois em mais 13 jornais das principais capitais de
Estado*.
* Na Folha de S.
Paulo, essa carta saiu no dia 7/5/82. Poucos dias depois (dia 11), o
presidente Figueiredo viajou para os Estados Unidos, mantendo contato com
o Presidente Reagan e com o secretário de Estado Alexander Haig.
Segundo um
documento secreto do Conselho de Segurança Nacional da época, a que o
matutino O Estado de S. Paulo teve acesso anos depois, Haig e
Figueiredo falaram abertamente sobre o risco de a União Soviética
aproveitar-se do conflito para aumentar sua margem de influência em
relação aos argentinos. E o Presidente Figueiredo afirmou, num desses
encontros, que existia o risco de que o acirramento do conflito fizesse
com que a Argentina pudesse virar o “Vietnã da América Latina”
(cfr. matéria de Marcelo de Moraes / Brasília, in OESP, edição de
3/4/2012).
A TFP lançou em seguida uma campanha de rua
distribuindo um volante que divulgava para o Brasil inteiro essa carta.
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Sócios e cooperadores da TFP brasileira percorrem as
ruas das principais capitais para anunciar ao público, por meio de slogans e
cartazes, a publicação da carta ao Pres. Figueiredo [acima, em pleno
Viaduto do Chá, em São Paulo].
Na hora do almoço já não se encontram mais nas bancas os jornais que
o estamparam em suas páginas. |
E assim os grossos carrilhões da TFP começaram a
tocar [100].
Estive pessoalmente em alguns lugares dessa campanha
em São Paulo. E pude notar a atitude das pessoas em relação ao nosso
pronunciamento. A impressão que me ficou é que estava tendo um êxito
espetacular.
Sintoma disso foi que, em São Paulo, a tiragem da
Folha de S. Paulo com o nosso manifesto se esgotou rapidamente, até a
hora do almoço, em todas as bancas de jornais. O que significava que a
publicação havia impressionado muita gente [101].
7. Balanço de uma campanha providencial
Na tensão a propósito das Malvinas, o que a mim mais
me afetava como católico, como brasileiro e como homem de tradição, não
era a disputa entre a Inglaterra e a Argentina. Mas a constatação da
lamentável fragilidade de todo o Ocidente face ao imperialismo soviético.
Pois a simples presença de uma força naval da Rússia
no Atlântico Sul, naquele momento crítico, punha em xeque,
simultaneamente, a grande e querida potência sul-americana que é a
Argentina, quanto a ilustre e provecta potência européia e mundial que é a
Inglaterra. Isto a prazo imediato.
A prazo mediato, poderia ter convulsionado toda a
América do Sul, inclusive meu Brasil, e lançado à guerra as superpotências
norte-americana e russa.
Era a esse estado de debilidade que havia chegado o
Ocidente, por obra do calamitoso governo Carter e da dupla détente
norte-americana e vaticana em relação a Moscou.
O verdadeiro conteúdo dessas duas détentes, da
Casa Branca e do Vaticano, foi o afrouxamento. E os soviéticos não se
“distenderam”.
Ora, um afrouxamento unilateral só podia redundar na
derrocada dos afrouxados. E este nos conduziu ao que se passou a propósito
da força naval russa perto das Malvinas.
Minhas simpatias não se deviam voltar, pois, para a
Inglaterra ou para a Argentina, mas simultaneamente rumo à Inglaterra e à
Argentina contra a Rússia soviética.
Paradoxo? De nenhum modo.
De um lado, não se podia pedir à Argentina que
renunciasse às suas tradicionais reivindicações.
De outro, pense-se o que se pensar do valor das
alegações inglesas em favor dos direitos da Commonwealth a essa e
outras possessões, uma coisa não se podia pedir ao governo inglês: era que
naquele momento recuasse ante tais reivindicações.
Também não se podia pedir à Argentina, à Venezuela ou
à Espanha que renunciassem a suas tradicionais reivindicações.
Mas era impossível não discutir a oportunidade da
ocupação militar argentina naquele momento. Porque uma força naval
soviética se encontrava na zona. E isto punha em risco grave a própria
soberania da Argentina no seu território continental [102].
A Rússia evidentemente teria fornecido tropas para
desembarcar na Argentina. E teria tomado comodamente as ilhas Malvinas,
tanto mais que contaria com o apoio logístico das Forças Armadas
argentinas à vontade. Mas os russos não sairiam mais.
Eles imporiam à Argentina um governo comunistóide. E
isso teria agravado prodigiosamente a situação da América do Sul inteira [103].
Se a opinião pública argentina, esclarecida por dois
lúcidos e ágeis comunicados da TFP platina, não tivesse rejeitado
bravamente a colaboração comunista, o módico cupinzeiro comunista
existente em terras platinas teria intumescido desmedidamente, tentando
transformar num gigantesco cupim toda a nação [104].
Os comunicados tiveram portanto a intenção de cortar
o caminho [105]
e torpedear a possibilidade de uma ajuda russa* [106].
* Na já citada
entrevista do alto-funcionário da KGB, general Nikolai Sergeievitch Leonov
à Folha Online, este afirma:
“Eles, os
argentinos, precisavam de mísseis terra-ar, ar-mar e mar-mar, mas não se
atreveram a comprar armamento soviético. Então tentamos fornecer imagens
de satélite da movimentação da Força Expedicionária Britânica no
Atlântico, mas acho que eles desconfiaram dos dados que nós enviamos e os
contatos morreram”. E acrescentou: “Havia um fator ideológico, eles
eram uma ditadura anticomunista, não poderiam introduzir armas soviéticas
no cenário de guerra”.
E o repórter da
Folha acrescentou o seguinte comentário: “Efetivamente, à época da
guerra os britânicos localizaram barcos e submarinos soviéticos perto das
águas do conflito, e bastou essa insinuação de apoio, que nada teve a ver
com as negociações secretas em Buenos Aires, para que grupos como a
Tradição, Família e Propriedade argentinos fossem às ruas para criticar o
até então popular governo em guerra” (cfr. Folha Online,
13/1/2008, cit.).
* *
*
Se isso parou ou não pela voz da TFP argentina, se
encontrou ou não obstáculos no pronunciamento e na publicidade feita pela
TFP brasileira e pelas outras TFPs, pelo menos sofreu grave dano. Não se
pode negar [107].
A Rússia saiu do episódio na postura de um batedor de
carteira apanhado com a mão no bolso da vítima. Isto é, em pleno ato de
intervir, por meio de pressões internas e externas, e movida por seu
expansionismo ideológico, em uma nação sul-americana.
Assim se evitou que os “cupinzeiros” comunistas se
intumescessem perigosamente em toda a América do Sul [108].
NOTAS
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